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quarta-feira, 11 de julho de 2012
Pediu o filho de Corisco
*Cortesia e comentários de Ivanildo Silveira
Uma das grandes polêmicas no estudo do cangaço, se tratou da "briga", para que fossem enterradas as cabeças dos cangaceiros, " Corisco ", " Lampião " e outros que se encontravam expostas ao público no museu, em Salvador, tendo como guardião, o professor Estácio de Lima.
O Dr. Silvio Bulhões ( vide foto, logo abaixo), filho de Corisco, foi um dos que lutaram nessa frente, tendo ido a jornais, e a imprensa de um modo geral, além de ter mantido diálogo com o governo e estudiosos, a fim de que a cabeça de seu famoso pai, tivesse um enterro digno.
Abaixo, trecho de uma reportagem da revista " O Cruzeiro " de 02 de janeiro de 1969, que tratava do assunto em tela.. Vejamos.
Abaixo, trecho de uma reportagem da revista " O Cruzeiro " de 02 de janeiro de 1969, que tratava do assunto em tela.. Vejamos.
O Dr. Silvio Bulhões (vide foto, logo abaixo), filho de Corisco, foi um dos que lutaram nessa frente, tendo ido a jornais, e a imprensa de um modo geral, além de ter mantido diálogo com o governo e estudiosos, a fim de que a cabeça de seu famoso pai, tivesse um enterro digno.
Abaixo, trecho de uma reportagem da revista " O Cruzeiro " de 02 de janeiro de 1969, que tratava do assunto em tela.. Vejamos.
Abaixo, trecho de uma reportagem da revista " O Cruzeiro " de 02 de janeiro de 1969, que tratava do assunto em tela.. Vejamos.
Adendo
O leitor sabe que Corisco foi um dos maiores cangaceiros do grupo do rei Lampião. Ele foi assassinado no dia 25 de maio de 1940, tendo sido o último cangaceiro do nordeste brasileiro. Dadá faleceu em 1994 de morte natural. O economista Sílvio Bulhões é filho de Corisco e Dadá.
O leitor sabe que Corisco foi um dos maiores cangaceiros do grupo do rei Lampião. Ele foi assassinado no dia 25 de maio de 1940, tendo sido o último cangaceiro do nordeste brasileiro. Dadá faleceu em 1994 de morte natural. O economista Sílvio Bulhões é filho de Corisco e Dadá.
Abraço a todos
Ivanildo Alves Silveira
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC e Cariri-Cangaço
Natal/RN
Ivanildo Alves Silveira
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC e Cariri-Cangaço
Natal/RN
lampiaoaceso.blogspot.com
Concurso Cultural Caminhos do Cangaço
http://portal2.ifrn.edu.br/natalcidadealta/noticias/concurso-cultural-caminhos-do-cangaco
Inscrições seguem até dia 31 de agosto
O Concurso Cultural Caminhos do Cangaço premiará as três melhores redações sobre o rei do cangaço Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião. O concurso é voltado para estudantes do ensino fundamental e médio de escolas públicas e privadas. O premiação geral do concurso será no valor de 2 mil reais.
As inscrições podem ser realizadas gratuitamente no site do IFRN Cidade Alta até o dia 31 de agosto. O participante deverá entregar a sua redação na coordenação da instituição aonde estuda. A premiação acontecerá no dia 28 de setembro, às 16h, no auditório do campus.
INSCREVA-SE AQUI!
Mais informações entrar em contato pelo e-mail oventofala@gmail.com ou (84) 9653-6360.
REGRAS GERAIS
1- Somente podem participar estudantes matriculados em qualquer instituição de ensino, seja ela particular ou pública.
2- A redação deve ser baseada na Revista LAMPIÃO adquirida junto aos agentes culturais ou diretamente nas escolas juntamente com a ficha de inscrição.
3 - A ficha de inscrição deve ser preenchida corretamente com os dados do aluno e da instituição de ensino. Os três melhores trabalhos de cada instituição de ensino concorrem aos prêmios no valor de R$2.000,00, sendo R$1.000 para o 1º lugar, R$600 para o 2º lugar e R$400 para o 3º lugar.
4 - Os critérios de avaliação são: originalidade, “causos inusitados” e conteúdo histórico. A comissão julgadora será escolhida pela Casa do Cordel, sob sua responsabilidade avaliar os melhores trabalhos. Esse pode ser o começo da sua carreira literária. Participe!
Enviado pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas
NOVO LIVRO SOBRE O CORONEL DELMIRO GOUVEIA
Autor: Gilmar Teixeira
Não deixe de adquirir o seu, leitor!. É um excelente trabalho sobre o coronel Delmiro Gouveia
Edição do autor:
152 págs.
Contato para aquisição
Valor: R$ 30,00 + R$ 5,00 (Frete simples)
Total R$ 35,00
O MEU TIRADENTES
Por: Clerisvaldo B. Dantas - Crônica Nº 817
“A não ser, porém, as histórias e estórias, o que mais me interessava de Seu Araújo era vê-lo fazendo coronhas de espingardas repletas de xilogravuras. Perdia minutos e minutos, os livros debaixo do braço, olhando aqueles desenhos e aquelas caras que iam ficando em cada coronha. E, somente quando ele próprio me advertia com sua severidade, é que o deixava e seguia para a escola”.
Oscar, último de pé à esquerda - cabeça de "Pontaria"
Estamos dentro dos vinte e dois anos da 2º edição de “Fruta de Palma (crônicas sertanejas)” do meu escritor santanense predileto, Oscar Silva. Revendo as saborosas crônicas de Oscar (20), vejo a apresentação de L. Lavenere (Gazeta de Alagoas), o prefácio de Tadeu Rocha (Delmiro, o pioneiro de Paulo Afonso), e citações de pessoas como Câmara Cascudo, Rubem Braga e outros. Tive a honra de constar nas páginas das homenagens e reler o livro mais uma das inúmeras vezes (coisa rara de acontecer). E “Fruta de Palma” puxa pelo seu romance “Água do Panema” (não confundir com o nosso, “Ribeira do Panema”). (Foto acima, volante do sargento Aniceto).
Escritor Oscar Silva
Sargento da elite do 2º Batalhão de Polícia, para combater cangaceiros, Oscar colabora em muito com os nossos livros inéditos “Lampião em Alagoas” e “O boi, a bota e a batina; história completa de Santana do Ipanema”. Eu nem era nascido e o homem já era sargento de Zé Lucena. Morava com a avó defronte a casa de meu pai, à Rua Antônio Tavares. Vim conhecer o meu herói que, fugindo às garras da fome, tornou-se sargento, correspondente de jornal, testemunha da cabeça de Virgolino e de outros cangaceiros e expedicionário do sepultamento do corpo do bandido: “Eu vi os pedaços de Lampião”, já perto do fim. Oscar venceu na vida tornando-se sargento e depois Coletor Federal, encerrando seus dias na cidade de Toledo. O título desta crônica pertence a ele, bem como o trecho frisado que fala sobre Seu Araújo, um ferreiro santanense querido do povo e que nas horas da necessidade também fazia o papel de dentista. Da página 53 à página 56, o escritor descreve o ferreiro, dentista e contador de estórias, acusando sua morte com esse belíssimo final literário:
“O “33” formou todo alinhado e marchou para o cemitério. Os fuzis “Mauser 1895” encandeavam como espelhos com o sol do sertão. O Brigada Ribeiro puxou da espada e comandou:
─ Para funeral, preparar!... Carregar!... Apontar!... Fogo!
Os homens do Tiro de Guerra pegaram o caixão de Seu Araújo, coberto com o Pavilhão Nacional, e jogaram-no dentro da cova. Teotônia e Afonsina soluçavam em pranto. Algumas pessoas espremiam os olhos. E eu dizia comigo mesmo:
─ Lá morreu meu “Tiradentes!”
O homem era alferes da Guarda Nacional.
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2012/07/o-meu-tiradentes.html
De onde vem este Mito Heróico ?
Por: Manoel Severo
Não obstante o fenômeno do cangaço tenha abrangido sete dos nove estados do nordeste, foi o interior pernambucano que deu origem aos mais destacados personagens desta epopéia brasileira; Sebastião Pereira e Virgulino Ferreira. Na verdade ambos nasceram na chamada microrregião do Vale do Pajeú, mas precisamente na cidade de Vila Bela, que a partir de 1942, passou a se chamar Serra Talhada por proposta do interventor de Pernambuco na época, Agamenon Magalhães, filho ilustre do lugar. O Vale do Pajeú é composto por dezessete municípios, tem clima semi-árido na grande maioria de seu território, com exceção da região do chamado “brejo de altitute” onde se localiza a bela Triunfo. Seria ali no Vale do Pajeú, com seus municípios e vilarejos, entre os quais: Afogados da Ingazeiras, São José do Egito, Solidão, Santa Cruz da Baixa Verde, Flores, onde se desenrolariam os primeiros atos da sinfonia cangaceira de Lampião.
Lampião por telaetinta.com.br
Não obstante o fenômeno do cangaço tenha abrangido sete dos nove estados do nordeste, foi o interior pernambucano que deu origem aos mais destacados personagens desta epopéia brasileira; Sebastião Pereira e Virgulino Ferreira. Na verdade ambos nasceram na chamada microrregião do Vale do Pajeú, mas precisamente na cidade de Vila Bela, que a partir de 1942, passou a se chamar Serra Talhada por proposta do interventor de Pernambuco na época, Agamenon Magalhães, filho ilustre do lugar. O Vale do Pajeú é composto por dezessete municípios, tem clima semi-árido na grande maioria de seu território, com exceção da região do chamado “brejo de altitute” onde se localiza a bela Triunfo. Seria ali no Vale do Pajeú, com seus municípios e vilarejos, entre os quais: Afogados da Ingazeiras, São José do Egito, Solidão, Santa Cruz da Baixa Verde, Flores, onde se desenrolariam os primeiros atos da sinfonia cangaceira de Lampião.
Os maiores destaques do Vale do Pajeú, sem dúvidas eram os municípios de Triunfo e Vila Bela. Triunfo, uma bela cidade serrana onde se localiza o ponto mais alto do estado de Pernambuco (1.004 metros), região brejeira, possuia uma economia baseada na agromanufatura de rapadura e no minifúndio, dessa forma possuia uma vida um tanto mais urbanizada e de comércio mais organizado e desenvolvido que Vila Bela, sua elite política e intelectual composta de comerciantes, médicos e juristas se distinguiam da de Vila Bela formada basicamente pelos coronéis do gado; a aristocracia rural; que com o desenvolvimento da pecuária bovina e caprina juntamente com a agricultura eram a base da economia vilabelense. Ali estariam o berço dos irmãos Ferreira, Antônio, Livino e Virgulino, ligados ao clã dos Pereira, que ao lado dos Carvalho, disputavam o poder político local.
Caravana Cariri Cangaço em Serra Telhada: Severo, Jack de Witt, Anildomá, Bosco André e Zé Cícero
Muito se tem estudado sobre o real caráter do cangaço: suas origens, implicações, correlações, enfim. Historiadores, sociólogos, antropólogos, médicos, acadêmicos como um todo; escritores, curiosos, enfim têm se dedicado ao longo dos últimos anos ao estimulante e desafiador estudo sobre o que realmente representou tão emblemático fenômeno nordestino. É natural que as causas principais de tão comentado fenômeno estejam ligadas às condições sociais a que os sertanejos nordestinos do início de século estavam submetidos. As desigualdades sociais inerentes a uma política desastrosa de ocupação da terra; nascida com certeza, desde a colonização e as famosas sesmarias; que privilegia os grandes latifúndios; as constantes épocas de estiagem e pobreza, a ausência de um poder central forte e atuante diante das mais elementares demandas da pobre gente do sertão, concentrando de forma exacerbada o poder dos famosos coronéis de barranco, sujeitos à expropriação e à exploração, às injustiças, à violência, enfim; entretanto, esse seria apenas o pano de fundo de um fenômeno que não se encerra nos pontos acima citados.
Seriam os cangaceiros vingadores dos oprimidos? Seriam os cangaceiros elementos que estavam a serviço da justiça social e de uma melhor distribuição de terra? Seria o cangaço um movimento armado que nasceu para combater o poder dos coronéis, ou seriam apenas indivíduos de natureza condenável que diante de circunstancias desfavoráveis passaram a fazer parte do mundo do crime?
Bando de Lampião enquanto fotografado pela epopéia de Abrahão Benjamim
Podemos nos deter sobre vários correntes de estudo. Uma delas tem como referência o trabalho do renomado historiador britânico; nascido no Egito; Eric Hobsbawm, em seus livros Primitive Rebels, de 1959, e Bandits de 1969. Principalmente neste último, com a tese do Banditismo Social, que é enfocado como uma forma de resistência camponesa, sendo um fenômeno universal, uma vez que segundo Hobsbawm, os camponeses teriam todos eles um modo de vida muito parecido, pela forma como se davam suas relações de trabalho e sociais, deste modo se traçariam as similaridades com os sertanejos do nordeste brasileiro; notamente de formação populacional eminentemente rural. Ainda recorrendo a Hobsbawm definiríamos a delinqüência rural em três tipos de bandidos: o nobre, tipo Robin Hood; os guerrilheiros primitivos; e o vingador. Temos ainda o antropólogo e estudioso holandês Anton Blok que em um artigo de 1972 critica em alguns pontos o modelo do banditismo social de Hobsbawm, quando enfatiza que as populações rurais na verdade foram muitas vezes vítimas dos bandidos, que atendiam na verdade aos interesses das elites dominantes, em detrimento dos mais humildes, elites essas sem as quais não se sustentariam.
Em tese o cangaço poderia até ser compreendido como um movimento criado para combater a dominação dos coronéis; o que vamos observar, no entanto, é que acabaria sendo estabelecida uma relação simbiótica entre as partes; teoricamente de interesses contrários; cangaceiros e coronéis tornaram-se parte de um mesmo corpo, corpo doente e nocivo, um dependendo do outro, e que muito mal acabou causando principalmente aos mais humildes deste lado do Brasil. É interessante pontuar que os cangaceiros não defendiam apenas e unicamente os interesses da elite dominadora, eles próprios tinham seus interesses e motivos; nobres ou não; e lutavam por eles. Já os coronéis absortos em sua sede permanente de poder, precisavam estar sempre atentos ás suas próprias disputas contra famílias e clãs concorrentes, aqui abrimos um parêntese para ilustrar o caso mais emblemático que era a disputa dos clãs Pereira e Carvalho, no Vale do Pajeú. Devido à fraqueza do Estado na época e à dificuldade que este tinha em chegar a regiões mais remotas do país, como o sertão nordestino, os conflitos, nessa região, eram resolvidos de acordo com a lei do mais forte, daí a aliança com os grupos cangaceiros ser vital para a manutenção de poder.
Dentro de meu humilde esforço de curioso sobre o tema; para contextualizar social e antropologicamente o fenômeno do cangaço, acho interessante observar algumas considerações desenvolvidas por outros estudiosos e pesquisadores com relação ao fenômeno, mas me permito deter-me para encerrar esse pequeno artigo, a Carlos Alberto Dória, quando provoca: “o cangaço perpetuou-se na cultura nacional como elemento de nossa mitologia heróica. E Lampião, símbolo de primeira grandeza neste quadro, continua a ser uma individualidade polêmica...”
Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço
http://cariricangaco.blogspot.com
AS CRÔNICAS DO CANGAÇO – 12 (LAMPIONICES)
Por: Rangel Alves da Costa(*)
Lampião falava, Lampião emudecia, Lampião gritava, Lampião sorria. Lampião também entristecia, se afligia, se angustiava e logicamente chorava.
Gente de carne e osso, trazendo nome e sobrenome, raiz familiar na garupa, de juízo na cachola, trazendo guardado no peito um coração, colocado no mundo para viver, então não haveria de pensar que se mantivesse alheio aos sentimentos.
Tanto Virgulino como Lampião, ou ainda o Rei do Cangaço ou o Capitão, fazia aflorar o sentimento que o instante exigisse. Fúria terrível ao saber da traição, da falsidade em quem tanto acreditava, da ordem dada e não obedecida.
Quem quisesse ver o homem virado numa fera, soltando fogo pelas ventas, lhe chegasse contando mentiras, lorotas que ameaçassem atrapalhar seus planos. Também odiava fofocas, disse me disse, conversinha besta sobre a vida dos outros, picuinhas por causa de ciumeiras.
Chegava pros seus comandados e dizia que os problemas deviam ser encarados, resolvidos na sua raiz, e por isso mesmo não admitia que primeiro a fofoca espalhasse a fumaça pra depois o fogo ser apagado. Se algum do bando tivesse problema a resolver com outro, então que se dirigisse diretamente a este, olhasse olho no olho e resolvesse tudo de uma vez. Até mesmo entre as mulheres não gostava de conversinha miúda e de passo torto.
Inimigo da mentira, já tinha cortado mais de uma língua. Agia sempre de modo que todos soubessem dessa sua inimizade com o embuste e a falsidade. No bando todo mundo pensava duas vezes antes de lhe falar alguma coisa que não tivesse certeza. Coiteiro nem se fala. Ele mesmo chamava cada um num canto e dizia que podia se dar como morto a partir do dia que chegasse ali com uma mentira ou que, falseando o bando, fosse abrir a boca pra contar sobre o refúgio com quem não deveria.
Outras vezes se mostrava endurecido demais, fechado em si mesmo e com cara de poucos amigos, mas todo mundo sabia que aquilo não significava enraivecimento, ignorância ou distanciamento dos seus. Pelo contrário, pois sempre solícito e chegado a uma boa prosa, instante em que o jeito duro observado se transformava em contentamento e risadaria.
Certa feita, enquanto estava de caminho pro refúgio da Vereda Morta, recebeu uma missiva do Coronel Titó Laurentino reclamando que o seu desafeto maior, o Coronel Osmundo Merenciano ainda continuava vivo e se passando por gente mandona naquela região onde não cabia dois como ele de jeito nenhum. No fundo do fundo, queria mandar dizer que Lampião ainda não tinha mandado despachar o latifundiário.
Lampião mal passou os olhos na carta, rasgou-a em pedacinhos, colocou-os embrulhados em molambos e entregou ao portador dizendo que ele próprio, o Capitão, tinha mandado dizer ao sem-vergonha do tal poderoso que fizesse o favor de engolir pedacinho a pedacinho o que lhe enviava de volta, por falta de não poder ir lá entregar pessoalmente. O que seria muito pior.
Mas antes que o homem, tremendo dos pés à cabeça, se retorcendo de medo igual vara verde, subisse no animal, chamou-o de volta e disse para esperar um pouquinho enquanto rabiscava a resposta certa. E escreveu num desgastado pedaço de papel:
“Coronel, se pensava que eu ia mandar dá cabo na vida do coronel seu inimigo tá muito enganado. Não fiz qualquer acerto pra isso não. Só mato inimigo meu, e mesmo assim quando me ataca. Inimigo dos outros, que os outros mesmo que cuidem. Pra seu governo, a mesma proposta ele me tinha feito a seu respeito. E que eu saiba você continua vivinho da silva, além de cada vez mais petulante. Sei que é um fraco, um frouxo, pois se tivesse coragem não ia mandar me perguntar tal coisa. Por conta própria já tinha resolvido seu problema com ele. Mas se for fazer que faça logo, sob pena de que ele se adiante e encha sua boca nojenta de bala”.
Depois selou com cuspe nas beiradas e entregou ao portador. O cabra não sabia ler, mas saiu de lá como se estivesse carregando uma bomba que poderia explodir em sua mão a qualquer momento. Enquanto olhava o outro levantando poeira na curva da estrada, Lampião sorria de se acabar, dando gaitada e dizendo que nos próximos dias iam fazer uma visitinha ao Coronel Titó. Se encontrasse ele vivo, acrescentou. E sorria de se dobrar.
Noutra feita, Lampião perguntou ao coiteiro Nego Véio se conhecia algum sanfoneiro por aquelas bandas. Estava muito longe da cidade, nas brenhas da Matinha da Capoeira, e por isso mesmo sabia que seria muito difícil que o amigo sertanejo lhe desse uma resposta animadora. Mas a verdade é que estava com uma vontade danada de ouvir um lamento sanfonado, uma puxada dolente debaixo da luz do luar.
Coitado de Nego Véio. Pra não desapontar o Capitão, ainda que soubesse que não seria possível atender o seu pedido como deveria, pensou e repensou, balançou a cachola de canto a outro, deu passo pra frente e pra trás, para enfim esboçar um sorriso de quem havia encontrado qualquer solução. E disse a Lampião que conhecia um cabra que não era bem um sanfoneiro, mas que tinha sanfona e se animava todo quando ouvia elogio, ainda que mentiroso.
O Capitão gostou do que ouviu e pediu que fosse até lá fazer o convite, e se o sanfoneiro pé-de-bode criasse dificuldades emendasse logo e dissesse a mando de quem estava ali. Nego Véio saiu em disparada. Depois de subir serra e descer serrote, se embrenhar pelos matos para encurtar o caminho, enfim chegou defronte à porteira do homem. E logo o avistou debaixo de um umbuzeiro, sentado num tronco, reparando alguma coisa.
Outra coisa não era o que o sanfoneiro cuidava senão da velha sanfona. Na verdade, fazia remendos e mais remendos com uma agulha que mais parecia anzol. Linha grossa e cordão de náilon, parecendo mais o doutor remendando o seu Frankenstein. Ao avistar a cena, o coiteiro desanimou na hora. Mas logo naquele dia que o Capitão precisava tanto ouvir os acordes daquele fole, disse a si mesmo.
Ao ser indagado sobre o que tinha acontecido pra sanfona estar sendo remendada daquele jeito, o cabra disse apenas que era manutenção de rotina, pois naquela noite havia sido contratado pela volante pra uma forrozança. Ao ouvir o nome da polícia perseguidora do Capitão, o coiteiro se tremeu todo, ficou de cabelo em pé, mas preferiu não puxar do assunto. Não precisava nem perguntar onde a polícia estava, pois sabia muito que era pros lados do Quelemente, onde sempre ficava quando estava naquela região.
Diante do compromisso do homem, Nego Véio foi logo ao ponto e disse por que tinha ido ali. Ao ouvir o nome de Lampião, o cabra deu um pulo que deixou a sanfona cair. Fanático pelo Capitão, devotado ao cangaço como ninguém, sonhando sempre em um dia se ver diante do maior dos sertanejos, nem pensou duas vezes em firmar o compromisso de estar lá na hora marcada, e acompanhado de zabumbeiro e um cabra bom no sopro do pífano.
Assim, bastou o sol descambar e a noite começar a sombrear que o trio de tocadores foi recebido num lugar combinado pelo coiteiro. Entraram na mata e não demorou muito para chegarem ao coito. Que festa da cangaceirada, que alegria estampada no rosto do Capitão, que contentamento nas faces enrugadas do velho coiteiro. Debaixo da pouca luz, semiescuridão, ninguém nem percebeu o fole furado, todo remendado do sanfoneiro agrestino.
Mas antes que a coisa esquentasse, que o gole de pinga passasse de mão em mão, Nego Véio chamou Lampião num canto e disse da presença da volante nas redondezas. Com a mesma euforia que estava o Capitão ficou, sem demonstrar qualquer preocupação. Mas na sua mente já sabia muito bem o que fazer. Deixaria que todo mundo brincasse a valer, mas antes do dia clarear já deveriam estar tomando outro rumo, cortando mais uma vez as veredas espinhentas. Era sempre assim no cotidiano cangaceiro.
Depois do pio do passarinho da meia-noite a sanfona emudeceu. O trio recebeu seu vintém e todos retomaram o caminho. Lampião anunciou sobre a inesperada partida e ordenou o breve fechar de olho. No pio do passarinho da madrugada já deveriam estar de pé na estrada. E não deu outra.
Sorte melhor não teve o coitado do sanfoneiro do fole furado. Havia marcado com a volante e saiu sem avisar aonde ia. Agora já era tarde demais pra se explicar. Tomou um balaço entre os olhos que caiu por cima do fole. Um triste gemido dos dois.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
http://blograngel-sertao.blogspot.com.br/2012/07/as-cronicas-do-cangaco-12-lampionices.html
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