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quinta-feira, 27 de junho de 2019

DESTINOS DIFERENTES A FAMÍLIA DE LAMPIÃO EM JUAZEIRO DO NORTE, CE

Por: Leandro Cardoso

Muita gente não sabe, mas a família de Lampião viveu em Juazeiro do período de 1923 a 1927, com a permissão do Padre Cícero. Na segunda década do século passado, por duas vezes, a família Ferreira teve que se mudar em razão dos entreveros com o vizinho José Alves de Barros, o Zé de Saturnino. Na primeira vez, obedecendo a um pacto de acomodação arbitrado pelo Coronel Cornélio Soares de Vila Bela, mudaram-se para a Vila de Nazaré (hoje Carqueja–PE).

Na segunda vez, demandaram à cidade alagoana de Mata Grande, ocasião em que morreram os genitores de Lampião, José Ferreira (vítima da volante de José Lucena Maranhão) e Dona Maria (vítima de um ataque cardíaco).

Em 1922, o jovem cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, já definitivamente com o pé fincado no cangaço, assume a chefia do bando do célebre Sinhô Pereira, que deixava o Nordeste em fuga para Goiás.

A família Ferreira, sem possibilidade de retornar para Vila Bela, procura abrigo em Juazeiro do Norte. Com a morte dos pais, João Ferreira (o único dos irmãos que não entrou para o cangaço), assume a chefia da família. Após conversa com o Padre Cícero, recebe permissão para se estabelecer em Juazeiro com as irmãs, cunhados, primos (os Paulo) e sobrinhos.

Lampião e familiares em Juazeiro do Norte

Na passagem de Lampião por Juazeiro do Norte, em 1926, foram tiradas várias fotografias da família. Na célebre foto da família reunida (que é vista acima), vemos na extrema esquerda sentado, Antônio Ferreira e na extrema direita, Lampião; a segunda sentada da direita para a esquerda é Dona Mocinha (tendo seu marido, Pedro Queiroz, atrás de si); ao lado direito de Pedro está João Ferreira; do lado esquerdo de João está Ezequiel (que depois entraria para o cangaço com o vulgo de Pente Fino); e, finalmente, o segundo da direita para a esquerda, em pé, é Virgínio (seria o futuro cangaceiro Moderno, chefe de grupo), casado com uma irmã de Lampião, que logo morreria de parto em Juazeiro.

Na ocasião da foto, Dona Mocinha (Maria Ferreira de Queiroz) estava recém-casada com Pedro e, nas várias ocasiões em que a entrevistei, ela sempre externou a enorme benevolência do Padre Cícero, e que todos da família se sentiam seguros em Juazeiro. Dona Mocinha, hoje com 96 anos, única remanescente viva dos irmãos e irmãs de Lampião, mora em São Paulo e foi diversas vezes entrevistada por mim. Contou-me que aprendeu a dançar com Virgulino tocando “harmônica” no terreiro da fazenda “Passagem das Pedras”, em Vila Bela, e que o irmão vivia na casa da avó, Dona Jacosa Lopes. Refere-se aos irmãos sempre com muito carinho, dizendo que o mais fechado era Antônio e o mais brincalhão era Livino Ferreira. E, em todas as vezes que conversamos, sempre externou a excelente acolhida que a família teve em Juazeiro, e gratidão de todos ao Padre Cícero. Tanto é que seu primogênito é afilhado do Padre Cícero.

Rememora com muita satisfação dos familiares de João Mendes de Oliveira, de quem se tornaram amigos. Dona Mocinha casou em Juazeiro com Pedro Queiroz e só deixou a Meca nordestina quando a polícia pernambucana intimou seu marido em Vila Bela, e o prendeu arbitrariamente. Então, Dona Mocinha (e parte da família), teve que deixar Juazeiro em 1927 para residir em Serra Talhada.

Para finalizar, deixo minhas homenagens à Dona Mocinha, que hoje, quase centenária e lúcida, é um repositório vivo da história recente do Brasil e de Juazeiro do Norte, uma vez que foi expectadora de camarote de um dos períodos mais interessantes e polêmicos da nossa história recente, além de ser testemunha inconteste do desprendimento e da bondade incondicionais do Padre Cícero Romão Batista.

 O autor com Dona Mocinha

O autor é médico, cordelista, escritor, residente em Teresina, PI – Foto

PALAVRA DE UM INIMIGO LAMPEÃO, SEGUNDO OPTATO GUEIROS

Transcrição fiel à época, de Rubens Stone de trechos do texto introdutório ao livro "Lampeão - Memórias de um Oficial Ex-Comandante de Fôrças Volantes" (3ª edição - São Paulo - 1953), do Major da Polícia Militar de Pernambuco, Optato Gueiros.

*

Podemos considerar Lampeão enquadrado no rol das vítimas da política do seu tempo.

... Política dos "coronéis" armados que se degladiavam de quando em vez sob as vistas complacentes dos aulicos do tempo que interferiam quase sempre não para fazer justiça, mas para tirarem partido que falassem mais alto às conveniências pessoais.

Colocou-se Virgulino Ferreira ao lado da antiga família Pereira, do Pageú, que contendia, pelas armas, com a não menos tradicional família Carvalho.

Surgiram as primeiras desavenças entre a autoridade local e o futuro Lampeão que, vocacionado para as armas, crescia em meio aos bandos armados. Mui cedo deu provas de admirável capacidade tática e estratégica que assombravam os inimigos.

Todos os "coronéis-barões" foram humilhados por Lampeão e, quase todos, com o mesmo, firmaram acordos ditados pelo cangaceiro. Para que tivessem as suas propriedades em segurança, sujeitaram-se ao triste papel de moços-de-recados de Virgulino.

Podemos dizer também, sem errar: Lampeão foi um instrumento nas mãos de Deus para executar uma justiça que nem a polícia nem os juízes poderiam fazê-lo. Centenas de facínoras foram expulsos da terra natal por Lampeão, enquanto igual número era atraído para as fileiras lampeonescas, onde encontravam a morte ou a prisão. E assim é que, somente em Pernambuco, foram mortos e prêsos mais de mil cangaceiros pertencentes às hordas de Virgulino.



E, por esta forma, a destruição dos tarados existentes no Nordeste foi total. Lampeão matou mais indivíduos maus que já deveriam ter desaparecido do cenário dos vivos desde há muito, do que mesmo inocentes. Por outro lado, as fôrças-volantes abatiam impiedosamente elementos que se incorporavam aos grupos do rei do cangaço.

Somente os que perseguiram Lampeão podem dizer algo a respeito da refinada astúcia, inteligência, resistência física e bravura do mesmo. Pressentia a aproximação das fôrças como um cão de caça. Muitas tropas, ansiosas por um encontro, passavam às vezes, mais de um ano sem poderem fazer contato com o bando por Lampeão comandado.

O seu grupo oscilava de 60 a 100 bandoleiros, fracionado em pequenos bandos de 8 a 12 homens que agiam num raio de 50 léguas (...)

Lampeão era homem de uma índole cruel, verdadeiramente tigrina. Assassinou para mais de 1.000 pessoas, incendiou umas 500 propriedades, matou mais de 5.000 rezes; violentou mais de 200 mulheres e tomou parte em mais de 200 combates, aqui no Pernambuco e nos seis Estados nordestinos. Foi ferido seis vezes em Pernambuco. Em 1928, atravessou para a Bahia.


Com seis homens sòmente, chegou à Bahia extenuado e descarnado.

(...)

Foram muitos os atos de bravura que praticou, assim como inúmeros também os feitos de covardia e os de revoltantes vilezas e crueldades inomináveis. Revelava-se admirável no comando e com rara energia dominava as feras humanas que compunham os seus bandos, como se fossem tenros cordeiros.

Fisicamente era Lampeão insuperável. Esgotou centenas de perseguidores enquanto que ele aparecia, ao fim de cada jornada, sempre mais disposto.

Desvendou os segredos das caatingas desabitadas de seis Estados, a pé, e procurou devassar o imenso Raso da catarina, na Bahia, e por pouco não morreu de sêde com os seus cabras nesse Saara baiano.


Na intimidade da sua gente, nada tinha que se parecesse com a fera descoraçoada e bravia, tal como se apresentava em suas eternas rázias em busca de mais e mais dinheiro, que acumulava em suas bolsas e bornais.

Para Lampeão, a vida de um homem nada significava. Fez, entretanto, muitos prisioneiros - soldados, cabos e até mesmo um coronel da Polícia Militar de Pernambuco - e os soltou, deixando-os ir em paz.

Era Lampeão um mundo de contrastes, um complexo enigmático e um gênio ao repontar na vida.

Major Optato Gueiros, 1953.

http://lampiaoaceso.blogspot.com/2019/06/palavra-de-um-inimigo.html

CASA DA FAZENDA PATOS.

Local em que no dia 02 de agosto de 1938 aconteceu um dos crimes mais perversos e macabros de todo o ciclo do cangaço nordestino.

Foi nos arredores da antiga casa da Fazenda Patos (Foto), que na época pertencia ao senhor Antônio Brito, localizada no município de Piranhas no estado de Alagoas, que o cangaceiro Corisco "Diabo Loiro", julgando estar assassinando os delatores do esconderijo de Lampião, fato que veio a causar a morte deste, de sua companheira Maria Bonita e outros nove cangaceiros, matou e degolou seis pessoas inocentes da mesma família.

As cabeças das vítimas foram enviadas para a cidade de Piranhas dentro de um saco, acompanhadas por um bilhete escrito por Corisco e endereçadas ao Tenente João Bezerra da Silva. O então Prefeito de Piranhas/AL, João Correia Brito, recebeu a macabra "encomenda" e tratou logo em seguida de providenciar um sepultamento digno para aquelas vítimas inocentes.

Fotografias gentilmente cedidas pelos escritor e pesquisador José Sabino Bassetti.

Geraldo Antônio De Souza Júnior

Casa da Fazenda Patos. Onde Corisco assassinou o vaqueiro Domingos Ventura,
sua esposa dona Guilhermina, três filhos e uma filha do casal.

Detalhes das paredes da sala da casa, onde podemos observar um armador de redes.

Antigo fogão a lenha localizado na cozinha da casa. Onde, possivelmente, dona Guilhermina preparou o café que fora servido aos cangaceiros, poucos instantes 
antes de sua morte.

PERSONAGENS DA HISTÓRIA CANGACEIRA.

Soldado Antônio Vieira.

Foi um dos soldados que atuaram sob as ordens do Tenente João Bezerra da Silva, durante o ataque ao coito de Lampião em Angico, local que na época pertencia ao município de Porto da Folha em Sergipe, na manhã do dia 28 de julho de 1938. Antônio Vieira era membro efetivo da Força Volante que tinha o comando do Aspirante Francisco Ferreira de Melo “Chico Ferreira”, na ocasião do ataque.

Antônio Vieira faleceu no dia 20 de dezembro de 2010, aos 98 anos de idade, na cidade de Delmiro Gouveia no estado de Alagoas.

Fotografia gentilmente cedida pelo escritor e pesquisador José Sabino Bassetti.

Geraldo Antônio De Souza Júnior


GROTA DO ANGICO. LOCAL DA MORTE DE LAMPIÃO E PARTE DE SEU BANDO.

Essa fotografia de autoria do escritor José Sabino Bassetti, que em parceria com o também escritor mineiro Carlos Megale, escreveu o indispensável “Lampião – Sua morte passada a limpo”, um dos livros mais completos já escritos sobre os acontecimentos de Angico, mostra o local exato por onde vários integrantes do subgrupo liderado pelo cangaceiro Zé Sereno (José Ribeiro Filho) conseguiram escapar da saraivada de balas disparadas pelos soldados da Força Policial Volante alagoana comandada pelo então Tenente João Bezerra da Silva, na manhã do dia 28 de julho de 1938.

Geraldo Antônio de Souza Júnior



MINHAS ANDANÇAS PELAS TRILHAS DA HISTÓRIA CANGACEIRA.

Durante minha caminhada em busca da história do cangaço tenho conquistado várias amizades importantes com gente envolvida no assunto e convivido com pessoas de mentes brilhantes, que assim como eu, também se interessam pelas pesquisas e estudos sobre o fenômeno cangaço.

Uma dessas figuras ilustres que tive o prazer e a honra de conhecer foi o Professor de Jornalismo (FMU - Faculdades Metropolitanas Unidas), comentarista da Rádio CBN (Nacional) e autor do livro "O outro olho de Lampião", Arthur Aymoré, com o qual tive a grande satisfação de debater o assunto no Programa Panorama (TV Cultura), apresentado por Andresa Boni, no dia 27 de julho de 2018, véspera do aniversário de oitenta anos da morte de Lampião.

Embora durante o programa tenhamos discordado sobre alguns fatos históricos referentes ao cangaço e seu principal personagem, continuo sendo admirador de seus trabalhos e o vejo como um dos grandes nomes do jornalismo nacional, por conhecer a sua trajetória.

Ao professor Arthur Aymoré meu respeito e consideração.

Geraldo Antônio De Souza Júnior 

Com o Jornalista Arthur Aymoré (Direita)

Na sala VIP (TV Cultura) com o Jornalista Arthur Aymoré (Direita)
http://cangacologia.blogspot.com/

NAZARENOS. A MAIS AGUERRIDA FORÇA VOLANTE NO COMBATE A LAMPIÃO.

Filhos do então povoado de Nazaré (Pernambuco), atual Nazaré do Pico. Terra que cedeu vários de seus habitantes para o combate ao cangaceirismo/banditismo, durante a época do cangaço. Uma terra de valentes que se destacaram na luta contra Lampião e seus seguidores e que foram sem dúvida alguma a grande pedra na alpercata de couro do famigerado rei cangaceiro.

Na fotografia iniciando da esquerda vemos os Nazarenos: Manoel Flor, Pedro Gomes de Lira, David Jurubeba e Quincas Pedro. Destaque para David Jurubeba que foi um feroz inimigo de Lampião e tinha com esse uma dívida de sangue. David Gomes Jurubeba teve seu irmão Olímpio Gomes Jurubeba morto no dia 20 de novembro de 1924, durante um tiroteio entre os Nazarenos e o bando de Lampião na Fazenda Baixas, localizada no município de Floresta/PE. Nesse dia, ainda durante o tiroteio, David Jurubeba, inconformado com a morte do irmão, deixa a trincheira de onde combatia e desafia Lampião para um duelo de facas. Em resposta o cangaceiro pede para que David Jurubeba retorne para seu lugar para continuar o combate, pois não briga com quem está querendo morrer.

Fotografia registrada pela escritora Marilourdes Ferraz​, autora do livro "O canto da Acauã" e gentilmente cedida pelo pesquisador e escritor Antônio Amaury Corrêa de Araújo.

Geraldo Antônio De Souza Júnior


CACIMBINHAS: MERGULHO NO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.133
(FOTO: ASCOM/SEINFRA)
Em toda a região sertaneja nordestina é incessante a luta pela sobrevivência.  Cada fonte d’água descoberta ou construída, alivia, renova e aumenta a esperança que recusa morrer. Lá em Cacimbinhas, sertão alagoano, registra-se uma dessas batalhas em busca do precioso líquido. Trata-se da barragem Gravatá que está sendo construída e projetada para atender a 4.700 moradores. Segundo o site TribunaHoje, a obra foi iniciada no mês de abril, está com 35% concluída e em breve chegará ao final. Os recursos vêm do Fundo Estadual de Combate a Erradicação da Pobreza – Fecoe. Cacimbinhas estar localizada na zona sertaneja da Bacia Leiteira e faz vizinhança com Dois Riachos, Major Izidoro e Minador do Negrão.
A barragem Gravatá será alimentada pelo riacho Gravatá e quando pronta deverá ser a solução hídrica para centenas de pessoas, para o criatório e para a agricultura familiar. 
Em nosso romance (inédito) “Fazenda Lajeado”, descrevemos em várias páginas, uma construção de açude por multidão de retirantes. Tudo feito sem máquina alguma. Hoje são ao contrário, duas ou três pessoas na obra, manejando alguns tipos de tratores fortes e modernos. Esses reservatórios – de extrema necessidade para o sertanejo – não custam barato. A barragem de Gravatá, mesmo, tem investimento de mais de um milhão e ocupará uma área de 99 mil metros quadrados. Quando concluída deverá acumular 280 mil metros cúbicos de água.
  Com uma barragem, os habitantes se livram do caminhão-pipa, o governo também se livra das despesas daquela forma de abastecimento. Em Santana do Ipanema, perto de Cacimbinhas, foi anunciada a construção de uma barragem no sítio Barra do João Gomes, que será alimentada pelo riacho João Gomes. Temos a impressão de que o projeto ainda não foi realizado. Barra no Sertão, geograficamente falando, significa foz, desaguadouro, lugar onde um riacho, um rio, despeja em outro. Podemos até chamar Sertão das Barragens, pela quantidade e importâncias que elas exercem sobre seus moradores.
Sem água não tem doce.
Doce só com água.
               

A HISTÓRIA NÃO TEM CULPA (AS PESSOAS SIM)


*Rangel Alves da Costa


Embasado em fontes históricas, leituras e demais pesquisas, hoje eu postei um texto onde eu falava de duas eleições municipais ocorridas num mesmo mês, num recém-emancipado município sertanejo, e todo num entremeado de política, artimanha eleitoreira, poder e violência.
Não narrarei aqui os acontecimentos pela escolha da síntese. Apenas dizer que o texto tratava de eleições municipais e onde os candidatos pleiteantes tiveram tratamento diferenciado da justiça eleitoral de então. Resultado: um dos candidatos, sentindo-se aviltado pelo tratamento que lhe fora concedido, simplesmente não deixou que o primeiro pleito acontecesse, pois roubou as urnas.
Após a postagem feita nas redes sociais, então uma chuva de críticas e até de ameaças começaram a recair sobre o texto e minha pessoa. E tudo, num esbaforimento danado, vindo de familiares de um dos personagens da história relatada. Uma dizendo que eu precisaria pesquisar melhor antes de escrever, outra dizendo que eu procurasse o que fazer, e ainda outra dizendo que queria ter uma conversinha pessoalmente.
Ainda aguardo a visita da parenta do personagem relatado. E aguardo para dizer que na história não há escolha pessoal do narrador, elegendo um como bom moço e ou outro como simples algoz. Na história não há como modificar os fatos para transformá-los em outra realidade. Ou relata ou acontecido - e como aconteceu - ou se estará incorrendo em julgamento pessoal.
Fato é que a história não tem culpa de nada. A história é a realidade, mesmo passada, na sua mais ampla inteireza. Mesmo que haja recortes de situações por falta de informações mais precisas, os dados obtidos devem refletir uma realidade sem disfarces. Não é possível à seriedade histórica que o pesquisador se atenha, por exemplo, apenas a determinados fatos que possam desvirtuar a fidelidade dos acontecidos.
Forjar a história para agradar alguns é não ser fiel ao fato histórico. Ao enveredar por paixões pessoais, certamente que o historiador estará produzindo uma deslavada mentira. Ao elaborar um estudo, por exemplo, para dizer que Lampião foi apenas um bandido ou foi somente um herói, logicamente que o pesquisador já tenciona pela inverdade, eis que com pretensão de apenas opinar ante um contexto histórico.
Como dito, a história não tem culpa se os seus personagens são, muitas vezes, desconcertantes, brutais ou violentos. A história não tem culpa se Hitler dizimou milhões, se Genghis Khan passou o fio do punhal em milhares de cabeça, que Stalin tenha mandado para a morte milhões de desafortunados. A história não tem culpa porque fizeram isso. Culpados são tais personagens históricos, mesmo assim a julgamento do leitor.
Tome-se por exemplo a vida dos santos. Muito biógrafo se volta apenas para o lado santificado de tais personagens e sem a menor análise de suas vidas pessoais, tantas vezes mundanas ou desregradas. É como se o santo já fosse santificado de nascença, sem jamais ter passado pelo cruel e rude mundo dos homens. Estaria cometendo uma falácia aquele que se voltar apenas para o lado bonzinho e humanista de cada um. Ou se relata a verdade ou será melhor nada relatar.
Eis, neste sentido, o teor do inconformismo de alguns pelo que escrevi. Ora, eu não inventei, eu não distorci a realidade, eu não criei situações inexistentes. Os testemunhos ainda são muitos dos acontecidos. E por que, então, dizer que faltei com a verdade? Será que a minha verdade viria somente se eu moldasse a história segundo o desejo de alguns?
Como diz o ditado, as ações e atitudes das pessoas servirão como espelho para toda a vida. Ninguém vai ser apenas bonzinho mais tarde só porque seus familiares assim desejam. Basta saber que são humanos, e como tal propensos aos erros e aos acertos.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

ESTÁVAMOS COM PROBLEMAS DE INTERNET

Nós estávamos com problema. Desculpem-nos pela falta de portagens.