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domingo, 27 de outubro de 2019

SCANS: DIÁRIO DE PERNAMBUCO

Em 7 de Julho de 1997 este jornal publicou um especial sobre Cangaço com depoimentos de quatro saudosas personagens








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EIS A QUESTÃO: QUANTOS FÔRO OS "AZULÃO"?

Por Kiko Monteiro

É notório para alguns e confuso para outros, mas no cangaço uma das práticas mais comuns era a de um membro recém chegado escolher ou ser batizado com o vulgo de uma cabra morto ou desertor. "Azulão" foi um destes vulgos que se multiplicou. A pesquisa de Alcides Niceas citada pela pesquisadora Lúcia Gaspar em seu artigo "Cangaceiros: alcunhas e nomes próprios" nos informa que o primeiro Azulão era integrante do bando de Antônio Silvino, o segundo era do bando de Sinhô Pereira, o terceiro e o quarto pertenceram ao bando de Lampião.

Desses dois primeiros só conseguimos dados sobre o comandado por Silvino:
Que se chamava Félix José da Costa, um negro alto, forte e valente, nascido na Fazenda Dominga, localizada nas proximidades da Caverna da Caridade, distrito de Caicó, RN. Após famoso combate ocorrido entre o grupo de cangaceiros de Antônio Silvino e polícia paraibana, na Fazenda Pedreira, do coronel Janúncio Salustiano, no dia 15 de fevereiro de 1901 o cangaceiro Azulão consegui fugir, conhecia a localização da Caverna da Caridade e sabia que no local havia água. A ideia do foragido era “dar um tempo” e procurar os amigos que tinha naquele setor e assim escapar daquela situação. Na caverna, junto com Azulão,  estava o cangaceiro conhecido como Moreninho.
Consta que após o tiroteio na Pedreira, os dois cangaceiros vararam o sertão em direção Norte/Nordeste, passando pela região onde hoje se encontra o Açude Itans, mantendo a cidade de Caicó a esquerda deles. Seguiram então pelas proximidades das Serra da Bernarda e da Formiga, até a região da Serra da Cruz, em um estirão comprido, mas que o desespero ajudava a amenizar a distância.

Antes dos fugitivos chegarem a caverna, passaram na casa de conhecidos, se abasteceram e seguiram para Serra da Cruz, onde passaram cerca de dez dias e noites na cavidade, logo no salão frontal do local.

No dia 25 de fevereiro eles saíram do abrigo rochoso e foram em busca da Fazenda Dominga, do tenente-coronel Gorgônio Ambrósio da Nóbrega, algum apoio. Mas o que encontraram foi bala. A polícia, avisada pelo pessoal da propriedade, deram cabo dos dois homens.
 
 Notícia da morte de Azulão na Fazenda Dominga.
Segundo Seu Nelson Soares de Medeiros, em depoimento ao pesquisador Rostand Medeiros, ele sabe bastante desta história pois um dos um dos homens que participaram da ação foi seu pai. Ele comenta que sabe até mesmo onde os homens estão enterrados a sombra da Serra da Cruz.
Viveiro de Lampião

Mais centrado nas personagens dos domínios lampionicos realizei uma varredura na web e consultei um livro dedicado a nomeclatura da turma, recém lançado. E localizamos (que pretensão, qualquer um poderia) mais um, além dos dois citados por Niceas

No artigo de Lúcia Gaspar há uma relação em ordem alfabética, mas não cita nenhum dos cabras com o vulgo. Este terceiro Azulão - devidamente identificado - ficou ao nosso critério, podendo ser o pernambucano morto em 1927 no Rio Grande do Norte, ou o Sergipano que conseguiu escapar do cerco a Angico em 1938.

Mas o que me intrigou e levou-me a compartilhar este tema com os amigos foi me deparar com uma curiosa matéria de um jornal carioca disponibilizada pelo site DocVirt.com . De repente nossa pesquisa constatou mais um, ou seja um  Azulão no cangaço de Lampião, ou de repente o que fez o terceiro Azulão após sua saída da prisão. Fato ou farsa que lhes apresentarei mais adiante. Vamos tratar por ordem de atuação:
 
O Azulão I

Pernambucano de Serra do Monte, Patrício de Souza era irmão do também cangaceiro "Serra D´umã". Tanto Sérgio Augusto de Souza Dantas, quanto Raul Fernandes e Raimundo Nonato, os principais autores que trataram do ataque de Lampião a Mossoró, nos relatam que no dia 10 de junho de 1927, após o bando do Rei do Cangaço haver cruzado a fronteira potiguar, seguiu em direção norte, visando a cidade de Mossoró.

Próximo à povoação de Vitória, atual município de Marcelino Vieira, atacaram as primeiras casas do sítio conhecido como “Caiçara, ou “Caiçara dos Tomaz”. Travou-se um combate com a volante comandada pelo tenente Napoleão de Carvalho Agra , morreu um soldado o cangaceiro "Azulão" que foi enterrado em cova rasa. Ainda não conseguimos foto que o identificasse.

O Azulão II 

"Mariano" é a única informação que temos sobre seu nome próprio. Baiano de Várzea da Ema, (localidade no centro do Raso da Catarina e não em Sergipe como sugerido por alguns autores), primo do célebre cangaceiro "Balão" foi  um dos "doze mais de Lampião". Dotado de eximia pontaria, mas que no dia 14 de Outubro de 1933 junto com sua companheira Maria, tombaram na Lagoa do Lino, local na divisa entre os municípios de Várzea do Poço e Serrolândia no estado da Bahia, pelas volantes dos sargentos José Fernandes Vieira e Zé Rufino.

O Prof. Lamartine Lima que foi assistente de Estácio de Lima relatou ao  pesquisador e também médico Leandro Cardoso Fernandes aspectos médico-legais da cabeça deste e dos outros. Trechos de entrevistas que colheu, como por exemplo: O soldado que o matou Azulão, conta que após acertá-lo na coluna deixando-o tetraplégico, degolou-o vivo.

No dia 16 de Outubro de 1933 o Diário da Tarde, "de Aracaju" transcrevia a seguinte noticia.

Arquivo pessoal


Sgtº José Fernandes Vieira, comandante de Volante baiana, que participou de 5 combates com grupos de cangaceiros, inclusive, no que dizimou o grupo de "Azulão". 
- Cortesia de Ivanildo Silveira -

Cabeças de Maria e Azulão
 Cortesia de Rubens Antonio -

Túmulo de Azulão e companheiros no cemitério Quinta dos Lázaros em Salvador. 
- Cortesia de Sergio Dantas -

O Azulão III

De acordo com a pesquisa de Bismarck Martins em seu livro Cangaceiros de Lampião – de A a Z. O sergipano Luis José da Silva ou Luis de Maurício, natural do distrito de Serra da Guia no Poço Redondo de Alcino, ingressou no cangaço em 1934 e atuou no grupo de Zé Sereno. Estava em Angico em 28 de julho de 1938. Escapou do fogo, entregou-se a policia na cidade de Jeremoabo em Outubro de 1938. Condenado a 30 anos de prisão cumpriu 19, foi indultado em 6 de novembro de 1957 aos 68 anos. Até aqui temos a segurança de afirmar que foram 5 e não quatro os Azulões do cangaço.

Zé Sereno, Azulão e Mané Moreno
- Foto de Benjamin Abrahão 1936 -

Cangaceiros que se entregaram em Jeremoabo recém chegados capital baiana 
em Novembro de 1938 . Azulão II está entre eles.  
- Cortesia de Rubens Antonio -

Até aqui temos a segurança de afirmar que foram cinco e não quatro os Azulões do cangaço...

E este quarto Azulão?

Já em 19 de Março de 1962 passados pouco mais de 20 anos do fim do cangaço o jornal Ultima Hora do Rio de Janeiro noticiava a morte de outro pássaro inquieto. A matéria é um tanto intrigante, evidente que as informações foram fornecidas por familiares, talvez pelo ex cangaceiro em matéria anterior. Acontece que a reportagem afirma que João Balbino Pereira ou se preferir João Ferreira Filho, 55 anos, teria entrado para o bando de Lampião em "1930" permaneceu por "cinco anos" tendo sobrevivido ao massacre de Angico... como ??? Será que a redação queria se referir à década de 30 ao invés do ano de 30?

Eis a matéria, clique para ampliar.



Já tinham lido sobre este cabra.? Como conceber dois Azulões atuando na mesma época, e correndo da morte em Angico? Quando um recebeu indulto aos 68 anos e o outro morreu aos 55. É notório o excesso de conjecturas e lapsos cometidos pelos próprios cangaceiros em seus depoimentos. Parece exagero, mas julgando uma possibilidade de mascarar a idade, além de preservar a verdadeira identidade o que era comum, e da eterna confusão cronológica da imprensa seria possível concluir que:
O Azulão III e IV são a mesma pessoa?
- Existiu de fato um 4º indivíduo, porém de atuação apagada?
Ou este Azulão foi simplesmente um farsante?
 É possível uma comparação das fotos?

Outros detalhes e ações de "Azulões", que eu localizei, mas não consegui associar:

- Qual destes dois últimos Azulões era primo do ex cangaceiro "Vinte e Cinco", citado por ele em Entrevista para João de Sousa Lima ?

- Qual destes fez parte do Grupo de Corisco, citado pelo cangaceiro "Moreno" em A Saga de Moreno e Durvinha

- Qual destes seria o citado por Frederico Pernambucano de Mello em sua pesquisa intitulada "A castração real no Cangaço: Nota prévia - Estudo de Caso" * Pág. 8, Disponível em: Periódicos da Fundação aponta que em 19 de Maio de 1936 um "Azulão" acompanhava o "sub grupo de Virgínio", tomando a retaguarda no ataque ao arruado Morro Redondo, distrito de Catimbau, do município de Buíque, Pernambuco??? 

Avia macho, ajude aí comentando!
Fontes:

Lúcia Gaspar. - Cangaceiros: alcunhas e nomes próprios -Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em  Disponível em Fundação Joaquim Nabuco
Rostand Medeiros - Caverna da caridade, Caicó, sertão do Rio Grande do Norte – Antigo esconderijo de cangaceiros. Em: Tok de História
Rostand Medeiros - O Grande Fogo da Caiçara e a desconhecida "Missa do soldado" Disponível em: Lampião Aceso

OLIVEIRA, Bismarck Martins de. Cangaceiros de Lampião – de A a Z” Edição do autor, João Pessoa 2012. Págs 48, 49 e 50.

Rubens Antonio "Lagoa do Lino" em seu blog Cangaço na Bahia

O ESTADO DE SERGIPE, 25 DE MAIO DE 1934

Uma excursão à Anápolis
Uma entrevista bizarra com o célebre sargento José Rufino, comandante da volante que exterminou o grupo de 'Azulão'.


 Transcrição de Antônio Corrêa Sobrinho

Afazeres profissionais nos levaram sábado último à linda cidade sertaneja de Anápolis.

Dezesseis horas, aboletados no estreito banco de uma “marinete” rumamos aos solavancos, numa “prize” desabalada, estrada afora, em busca de Itaporanga, etapa que foi vencida numa bela “performance”, por uma bela estrada de esteira empiçarrada e ampla, que se nos abria, interminável, o horizonte à frente.

Salgado às 18 horas, Lagarto às 19 e às 20, afinal, avistávamos as primeiras luzes da “cidade sorriso”.

O domingo em Anápolis, surgiu preguiçoso e friorento, no marasmo amolecido das cidades sertanejas.

Um café confortante e saímos a prosear com amigos do comércio que, a despeito dos raros transeuntes, trazem, àquela hora, abertas as suas portas.

O assunto é sempre o mesmo: - falta de chuvas, política, e... Lampião. A cidade acabava de passar por mais um susto pregado por Lampião. Ao apelo de seus habitantes, ameaçados pelo bandido, o governo de Sergipe havia mandado estacionar na cidade uma volante da nossa polícia que fazia, nas imediações, a caça ao bandido. Soldados baianos da célebre volante do sargento José Rufino que desciam na pista do grupo sinistro, vagavam pela cidade na sua indumentária típica. A dez do corrente haviam tiroteado Lampião na fazenda Jitaí, no sertão baiano e refaziam-se, no momento, das grandes caminhadas.

O sargento José Rufino celebrizara-se no encontro com o grupo de Azulão a 14 de outubro próximo passado, aonde morreu o chefe Azulão e mais três comparsas.

José Rufino

Era o assunto forçado nas palestras aos poucos, talvez pela falta de outros, íamos nos interessando pelos seus detalhes, quando um sertanejo agigantado, abeirando-se do balcão em passadas largas e pesadas, pede ao caixeiro um par de sapatos número 44 que, infelizmente, não é encontrado.
Ombros largos, pescoço hercúleo, bronzeado, cartucheira ampla, pendida ao peso das balas alinhadas, o olhar frio, inexpressivo, traços fisionômicos fortes, o sertanejo dá de ombros e vai sair quando alguém lhe perguntou, quebrando o silêncio feito no momento:
- O senhor pertence à volante José Rufino?
- Sou eu o próprio José Rufino, respondeu com ênfase o sertanejo.
Uma entrevista

Zé Rufino é o primeiro em pé à esquerda.
(A foto não compõe a matéria original)

Assaltou-nos a ideia de uma entrevista com o chefe da volante mais afamada de quantos andam, neste momento, na pista dos bandidos. Notando o meu interesse o homem iluminou o olhar duro, se avizinhando da minha cadeira.
- Há quanto tempo anda o senhor na caça de bandidos? Perguntamos.
- Há três anos que entrei como “Provisório” na força baiana. Estive no encontro da Maranduba onde perdi um primo meu e um irmão do meu companheiro de agora, sargento Vicente Marques. Depois do fogo de 14 de outubro aonde acabei com o grupo de Azulão fui efetivado no posto de sargento.
 Meteu vagarosamente a mão no bolso do casaco, sacou de lá a fotografia sinistra de quatro cabeças decepadas e nos foi fazendo com o indicador, a apresentação mais estranha que temos tido:
- Aqui é Azulão. Este é Canjica, aqui é Maria e este o caboclo Zabelê. Deus me ajudou (em itálico). Foi uma boa caçada. A fotografia não está boa porque foi tirada em Monte Alegre (sertão baiano) depois de termos viajado um dia inteiro com as cabeças deles dentro de um surrão...
 Tudo isto nos ia sendo relatado com uma serenidade impressionante e trágica.
- Quantos homens perdeu neste combate?
- Dois só. Um ligeiramente ferido por três balas de raspão no rosto. Era meu rastejador. Quando se abaixava para examinar um rastro, recebeu uma descarga na cara. Já está bom.
- A sua tropa tem montadas?
- Soldado meu nunca montou. Soldado montado faz muito barulho e só anda na estrada. Na estrada, bandido não anda. Soldado meu não fuma de noite nem fala hora nenhuma. A gente faz tudo por sinal. O tenente Santinho é o que mais me recomenda: - longe de rua e de estrada se quiser encontrar com os bandidos.
- Quantos encontros já teve?
- Oito, contando com o do dia dez, na fazenda Jitaí.
- Por que não teve resultados neste último encontro?
- E eu sei?... Foi a sorte deles.
Nós demos na pista no dia 9 e saímos rastejando. De noitinha, o rastro baralhou-se num intrincado de macambira que a gente perdia de vista. Do fundo, aonde a macambira era mais alta, ouvimos vozes. Lá estava a caça. Meu pessoal se arrepiou e eu cochichei com o sargento Vicente Marques: - se avançarmos mais eles ouvem o barulho e se danam no mundo. Vamos dormir aqui. O sargento Vicente Marques que é um bicho certo no ponto (boa pontaria), esperou um tempão vendo se aparecia alguma cabeça para ele vazar. Mas, nada... De manhãzinha distribuí meu pessoal e lá vai bala. Eles gritaram de lá: - aqui também tem homem, macaco!... Gritaram assim nos xingando, mas arribaram no mundo que nós, sem podermos correr no intrincado da macambira, não encontramos mais ninguém quando chegamos no coito. Vimos lá muito sangue. Parece que ferimos algum dos 22 que estavam acoitados. Deixaram lá muita coisa que carreguei para Coité. Como vê vosmicê, é uma questão de sorte.
- E para onde deram os bandidos?
- Eles estão pra ir pra serra do Capitão.
- Estarão em Sergipe?
- Não creio. Quase que lhe posso garantir que Lampião não está em Sergipe.
"Sanharó"

Passou neste momento um soldado sergipano que, ao dar com o sargento, abraçou-o efusivamente.
- É o rastejador melhor que há neste sertão. Trabalhou comigo muito tempo. Bicho bom. Explicou José Rufino.
O soldado mirou-o com admiração, aparvalhado. Magricela, alto, pescoço fino e comprido, ligeiramente encurvado pra frente, seu corpo mirrava-se ainda mais, apertado à farda que vestia; rosto encarquilhado e vinculado por mil rugas, era o rastejador, o popular Sanharó, da polícia sergipana.

Outro tipo comum de sertanejo forte. Parece incapaz de uma agilidade. Resiste e age, entretanto, com uma capacidade assombrosa. Ao se abraçarem, pareceu-me um tronco de braúna que abraçasse uma vara de candeia. Braúna e candeia, o gigante e o pigmeu, resistem da mesma sorte às inclemências do meio em que vivem.

Estava satisfeita a nossa curiosidade e José Rufino e Sanharó lá se foram pela rua afora a procura dos sapatos número 44 tão difícil de encontrar como os bandidos que eles dão caça.


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AS PISADAS DE JOÃO DE SOUSA LIMA A MORTE DE ANTONIO FERREIRA


Dia 19 de abril de 2015, saí de Paulo Afonso na companhia dos amigos Josué Santana e Leide Soares, para nos encontrarmos com o casal de amigos Marcos de Carmelita e a professora Silvana, residentes na cidade de Floresta, Pernambuco, onde iríamos realizar uma visita técnica para registrar mais um dos pontos históricos que farão parte dos roteiros apresentados durante o evento Cariri Cangaço, encabeçado por seu curador, Manoel Severo. A pesquisa de campo teve como objetivo o mapeamento geográfico e histórico de um dos mais importantes fatos que marcam as histórias do cangaço na região pernambucana.

Um dos pontos mais visitados por Lampião e seus cangaceiros foi a fazenda Poço do Ferro, de propriedade do coronel Ângelo da Gia. A fazenda, na época do cangaço, pertencia a cidade de Floresta e hoje pertence a Ibimirim. A fazenda não teria tanta importância para os pesquisadores do cangaço se lá tivesse sido apenas mais um dos inúmeros coitos dos cangaceiros. Nessa fazenda o Rei do Cangaço perdeu seu irmão Antônio Ferreira. Dirigimo-nos para Poço do Ferro, sendo guiado por Marcos de Carmelita, porém sem conhecermos ninguém da localidade, assim como parentes que ainda residem por lá.

Quando avistamos a pequena placa com o nome da fazenda, paramos em uma cancela, abrimos e seguimos a estreita estrada. Mais a frente encontramos um casebre onde reside o senhor João David da Silva, sua esposa Maria das Graças e os filhos Joaquim e Graziela. O João David nos recepcionou, serviu água e nos levou ao lugar onde foi enterrado o Antônio Ferreira.


Formação de pedras e uma cruz marcam o local

Marcos de Carmelita, João de Sousa e Josué.

Uma pequena formação de pedras e uma cruz marca o local da sepultura. Marcos de Carmelita, João de Sousa Lima e Josué sendo recebidos pelos descendentes de Angelo da Gia.

Fizemos algumas fotos e fomos até a casa grande da fazenda, onde estavam  neta, bisnetos e tri-netos de Ângelo Gomes de Lima, o Ângelo da Gia. Na casa grande fomos recebidos por Washington Gomes de Lima, bisneto do coronel. Um fato interessante é que disseram que não seriamos bem recebidos pela família e confesso que de todos esses anos de pesquisas e entrevistas, nunca tive uma receptividade tão calorosa como a que recebemos da família.

Travamos um diálogo em uma festiva roda de conversas, tendo por depoentes a neta do coronel e matriarca da família, a senhora Eunice Gomes  Lima e suas filhas Ruth Gomes Lima Laranjeira e Maria do Socorro Gomes Lima Cordeiro e ainda, do tri-neto João Vítor Gomes Lima. As histórias foram muitas mais sempre voltávamos ao episódio principal: a morte de Antônio Ferreira e a perseguição sofrida pela família e imposta pelas volantes policiais.

Coronel Ângelo da Gia
Caravana Cariri Cangaço na Casa Grande da Fazenda
Uma das informações importantes nos forneceu Washington que contou que dois dias depois da morte de Antônio, uma volante chegou na fazenda Poço do ferro, descobriu o túmulo do cangaceiro morto, desenterrou-o e cortou a cabeça e colocou em uma estaca da porteira do curral do casarão do coronel. Quando a polícia saiu o coronel mandou enterrar a cabeça no antigo cemitério da família. Antônio Ferreira tem, portanto dois túmulos, sendo um para o corpo e outro pra cabeça.


Antonio Ferreira

Local onde foi morto Antonio Ferreira
 Fala-se que foi ai o juramento que Luiz Pedro fez dizendo que seguiria Lampião até sua morte. Se verdade ou não a promessa, eles morreram juntos na fria manhã do dia 28 de julho de 1938. Na fazenda Poço do Ferro ainda restam as velhas pedras escuras que circundam covas das pessoas de várias gerações da família e duas dessa simbolizam a passagem do cangaço em suas terras.
No final da conversa nos convidaram para um farto almoço regado a galinha cabidela, bode assado, arroz e feijão de corda. Porém o que mais me marcou nessa visita foram os sorrisos dos membros da família, que mesmo tendo sofrido os abusos e as injustiças de uma época tão marcada pela violência, não perderam suas essências de sertanejos valorosos e, sabem como poucos, receber calorosamente, aos que buscam os filetes de suas memórias históricas... Dona Eunice, Washington, Ruth, Maria Socorro e João Vítor, Deus proteja sempre vocês.
João de Sousa Lima, Historiador e escritor Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo AfonsoMembro da SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço Conselheiro Cariri Cangaço
Matéria pescada no Sítio do Coroné Severo