Por Alcino
Alves Costa
Certa vez, por
e-mail, Alcino Alves Costa me disse que gostaria de ser lembrado através desta
foto
José Mendes
Pereira
Era agosto de
1937, um bando de cangaceiros congrega-se. O numeroso grupo obedece às
lideranças de Corisco, Mariano, Zé Sereno e Mané Moreno. O coito foi armado no
riacho das Quiribas. A turba desordeira está alegre e descontraída. Estes
encontros são acontecimentos especiais, momentos em que todos se abraçam e
demonstram a grande afinidade existente entre os que vivem debaixo do cangaço e
enfrentam as maiores provações e ilimitados sofrimentos. As Quiribas é uma das
Fazendas de Manoel do Brejinho. É assentada na parte vermelha das terras de
Poço Redondo, numa distância de légua e meia (9 km).
No povoado,
desde algum tempo, havia sido instalado um serviço de rádio. A novidade não
incomoda os bandidos que julguem ser aquele aparelho uma peça absolutamente
inofensiva.
Faz parte do
destacamento do arruado um soldado, filho de Porto da Folha, chamado Miguel
Feitosa. Este buraqueiro se casa com Maria, uma mocinha dali mesmo, filha de
seu Luquinha, vaqueiro da Fazenda Badia.
Maria sente
falta dos pais. Ansiosa, resolve ir visitá-los. Na fazendona de um dos Britto
demora alguns dias. Com extremada saudade, Miguel vai à sua procura.
No primeiro
cantar do galo inicia a viagem. No amanhecer chega ao Mulungu, à fazenda de
Caduda. A vacaria está no curral. Aproveita e bebe leite saído dos peitos da
vaca naquela mesma hora. Após uma sorridente prosa, segue estrada fora.
Deixa as
terras do Mulungu e alcança as das Quribas. Seu pensamento está com Maria. Não
vê à hora de abraçá-la com ternura e carinho. Sobe uma ladeira. Ao descê-la
toma um susto. Avista, lá em baixo, no riacho, um número muito grande de
pessoas. Medroso, se esconde nas folhagens. Não tem nenhuma dúvida. Aquela
gente só podia ser cangaceiro.
Acovardado e
morrendo de medo, com infindo cuidado, retorna apressando para Poço Redondo. A
primeira providência que toma ao chegar é avisar ao seu comandante- sargento
Ernani.
O destacamento
do povoado não tinha obrigação de adentrar às caatingas caçando cangaceiros.
Mas, mesmo assim, uma patrulha é formada e segue para a fazenda de Manoel do
Brejinho.
O grupo está
animado. Imagina que no riacho estão os asseclas que saíram daquela povoação
para ingressarem “na vida”. “Os meninos do poço Redondo” viviam rondando o
lugarzinho de suas origens, praticamente ao lado de seus familiares e
adolescência. Puro engano. No coito estava uma caterva da mais alta
periculosidade. Verdadeiros monstros do mosquetão e do crime. Dentre outros ali
estavam Corisco, Mariano, Moita Brava, Mormaço e Juriti.
A pequena
tropa militar é composta de oito homens: João Santana, Maranhão, Pedro Tatu,
Laudelino e seu filho José que não era militar, Zé Paulino e o próprio Miguel
Feitosa.
Até o Mulungu,
o destacamento segue pela estrada. Dali deixa o caminho e adentram à mataria.
Conhecem aquele mato e as serras daquela fazenda. Estão cautelosos. Podendo-se
mesmo dizer com medo.
O riacho lá
está do outro lado do morro. Vão chegando. Vão chegando. Lá embaixo está o
coito. O medo aumenta. Não se aproximam. Ficam distantes, protegidos pelo
socavão da serra. Confabulam. Trocam ideias. Chegam a uma covarde conclusão.
Recuar. O número de bandido é muito grande e não tinha com enfrenta-lo.
Recuam e ao
perceberem que estavam fora do alcance da súcia, livres de qualquer ameaça,
João Santana e Pedro Tatu atiram na direção do coito. Disparam suas armas e
correm. Não querem se arriscar a um confronto com os bandoleiros.
Um cangaceiro
(Pau-Ferro, um dos homens de Mané Moreno e irmão de Colchete, um dos que
morreram em Angico) é mortalmente ferido. Uma bala estraçalhou a sua cabeça.
Ao ver o
companheiro caído, os “cabras” arrancam destemeremos, na direção dos disparos.
Querem cercar os atiradores e vingar o companheiro.
Os soldados
fogem espavoridos. Os bandidos perseguem-nos com vigor redobrado. Gritando e xingando-os tentam com muito
esforço alcança-los. Na correria se aproximam das casas do Mulungu. Chegam à
cerca do quintal. Acham um chapéu deixado pelos fujões.
A cabroeira
está enlouquecida. Estraçalha o chapéu, pepinando-o de punhal. Esbarra nas
casas. Os soldados não estão. Caduda informa que eles seguiram para Poço
Redondo.
Caduda era um
mestre na lida com cangaceiro e soldado. Não disse aos bandoleiros que na outra
casa, que ficava além do pequeno capão de mato que dividia as malhadas, estava
João Santana, cansado, sem condições de seguir viagem.
O soldado teve
sorte. Os bandidos abandonaram a perseguição. Também estavam cansados.
Receberam algumas informações do coiteiro e retornaram. Enterraram o
companheiro e viajaram para a solta da Cuiabá.
Em Poço
Redondo a medrosa e fugitiva soldadesca mente e conta pabulagem. Histórias a
grande aventura. Diz que o tiroteio foi forte. Com certeza haviam matado ou
ferido cangaceiro. Cada soldado fanfarronava mais do que o outro. A conversa
era tanta que no outro dia os soldados, acompanhados de homens do povoado,
resolvem ir até o local do falso combate.
O coito está
abandonado e deserto. Apenas os sinais da passagem da turba sangrenta. O local e
seus arredores são inspecionados. Encontram macambiras arrancadas. No pé de um
imbuzeiro. Curiosos, cavam o local, lá estava, o corpo do cangaceiro.
Tonho Biôto
corta a cabeça do bandido, colocando-a em uma lata de querosene e levando-a até
o povoado, onde é exibida como se fosse um extraordinário troféu.
Fonte: “livro
Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico”
Autor: Alcino
Alves Costa
Páginas: 287,
288 e 289
Edição 2ª.
Edição
Ano: 2011
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