Por José
Mendes Pereira
A inveja está
presente em todas as classes sociais, e até mesmo em todas as espécies de
animais, que quando um ver outro capturar uma presa, quer tomar de imediato,
como se dissesse: “- Você pegou, mas é meu!”. E parte para o ataque do toma.
Se
você observar o comportamento de um animal, por exemplo, uma rês, que geralmente
tem ao seu lado uma amiga ou amigo, o ciúme está presente, que não quer nem que
outra rês fique perto do amigo ou da amiga. E assim caminha os seres vivos
completamente tomados pelo ciúme.
A inveja nasce até mesmo por coisas que não
têm valor nenhum. E o ser humano é assim mesmo, pior do que os animais. Inveja
até o lugar que o outro se senta, se deita, frequenta...
O difícil é
saber o que leva um sujeito ter inveja de um simples objeto chamado chocalho, que
só serve mesmo para ser colocado no pescoço de uma rês, e com o seu som,
indicar ao vaqueiro em que direção está ruminando o animal.
Mas, todos os chocalhos de fabricação artesão são dourados. Chocalhos são preparados com chapas comuns, e em seguida, eles passam por um banho de metal ou cobre, e a sua finalidade é para formar o som. Ele feito sem esta cobertura, não dará som de forma alguma.
Como são preparados: Faz-se o chocalho com chapas de ferro comum, usa-se a chapa 20. Em seguida, cobre-se com barro de várzea molhado. Coloca-se pedaços de casca de bala ou cobre dentro do chocalho. Coloca-se pó, chamado de oxidante. Leva-se ao fogo. Tem que ficar em pezinho dentro do fogaréu, do contrário, derramará o oxidante e o cobre. Quando o cobre dilata causado pela temperatura do fogo, ele sobe pelas abas do chocalho e derrama entre o barro e o chocalho, porque com a quentura do fogo, o barro desprendeu um pouco do flande, deixando fendas por onde o cobre irá cair dentro. Então, o chocalho agora tem som quando badalado.
Eu afirmo isso, não por ter trabalhado fabricando chocalhos, simplesmente porque, quando eu tinha serralheria, um ferreiro fazia isso na minha oficina, mas todos eram dele. Apenas usava as minhas ferramentas para este fim.
Mas ainda não entendi a inveja do fazendeiro Zé Saturnino com os chocalhos de Virgolino Ferreira da Silva o futuro capitão do Lampião. Chocalhos novos são dourados sempre.
O historiógrafo
e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros escreveu o que segue sobre a grande
inveja do fazendeiro José Saturnino, que teve dos Chocalhos dos animais
dos filhos de seu José Ferreira da Silva, pai dos famosos cangaceiros Lampião, Antonio,
Livino e Ezequiel.
Rostand Medeiros
Vamos apreciar
o que diz ele:
Ferreiras e
Nogueiras eram vizinhos. Um parente dos Nogueiras José Saturnino se mostrou
“despeitado” quando viu que o gado dos Ferreiras andava na caatinga com uns
chocalhos bonitos, dourados, comprados em Juazeiro do Norte, no Ceará. Até
então, todos os chocalhos que chegavam à fazenda Serra Vermelha eram negros e
sem graça. No sertão, onde o gado é criado sem cercado, o chocalho funciona
como um meio de o vaqueiro localizar bois, vacas e cabras. Saturnino invejando,
amassou o chocalho do gado dos Ferreiras, que perderam bois e vacas.
Para não ficarem
por baixo os Ferreiras deram o troco, amassando chocalhos do seu gado.
Saturnino não gostou; capou o cavalo de Virgulino. Virgulino cortou os rabos
das vacas de Saturnino. A briga cresceu e o juiz de Vila Bela obrigou os
Ferreiras a se mudarem. Foram morar no distrito de Nazaré, hoje Carqueja, com
uma condição; nem visitavam Serra Vermelha, nem Saturnino entrava em Carqueja. Mas
José Saturnino quebrou o acordo e os Ferreiras não gostaram.
Começaram a
fazer arruaças em Carqueja. Foram obrigados a se mudar, desta vez para Alagoas,
onde um amigo de Saturnino, a pedido deste, matou o pai de Virgulino e feriu um
irmão. Virgulino decidiu vingar-se.
Integrou-se ao
bando do cangaceiro Sinhô Pereira e depois começou a agir por conta própria,
com seu próprio bando. Seu poder cresceu, ele passou a ser temido até pelos
governadores.
Em 1926,
chegou a propor ao governo de Pernambuco dividir o Estado em dois: à capital
caberia a administração do litoral, enquanto ele reinaria sozinho, no Sertão.
De cangaço em cangaço, Lampião terminou por ter a cabeça colocada a prêmio por
50 contos de réis.
Em 1938, seu
bando foi desarticulado, ele e seus companheiros foram degolados e suas cabeças
exibidas em praça pública.
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