Por Marcela
Ferreira Lopes (UFCG) e Valter
Ferreira Rodrigues (UFCG)
Despedida “Por mim, e por vós, e por mais aquilo, Que está onde as outras coisas nunca estão,Deixo o mar bravo e o céu tranquilo:Quero solidão. (...) # EUVOLTAREI
Após a
promulgação da Lei Federal N. 11684,que determinou a obrigatoriedade do ensino
da Filosofia e da Sociologia para o Ensino Médio das escolas brasileiras, observa-se
que o ensino de Filosofia no Brasil é uma realidade presente na maioria dos
estados perpassada por muitos desafios como, por exemplo, o desenvolvimento de ações
pedagógicas que sejam adequadas e consistentes para o alunado tenha um
aprendizado significativo da Filosofia. Um dos maiores desafios com que se
depara essa disciplina na escola diz respeito ao potencial filosófico das ações
pedagógicas realizadas e que envolvem processos de ensino e aprendizagem. O
potencial filosófico de uma ação pedagógica consiste na capacidade que essa
ação tem de levar os sujeitos nela envolvidos a fazerem uma autêntica
experiência do filosofar (RODRIGUES, 2012).A presente comunicação parte de uma concepção
teórica na qual o aprendizado da Filosofia e a experiência do filosofar
correspondem entre si. Nessa perspectiva, a Filosofia além de ser um produto da
cultura, uma obra intelectual, um tipo de saber que reúne em si conteúdos
específicos e que, consequentemente, demanda métodos próprios de se ensinar, também
se constitui como uma experiência, um exercício filosófico, uma ação do pensamento,
um filosofar, propriamente dito. Trata-se de uma concepção que não reduz a
filosofia (e seu ensino) a um conjunto de doutrinas acumuladas durante seus
mais de dois mil anos de existência, mas a concebe, fundamentalmente, como uma
prática (FERRARI, 2011) e que, com isso, resgata a força e ancestralidade do
termo “philia”, sempre associado a uma determinada atividade (HADOT, 1999). Tomando
como base os filósofos Michel Foucault (2011), Gilles Deleuze e Félix Gattari
(2009) e os estudos dos professores Sílvio Gallo (2012) e Valter F. Rodrigues
(2014), a presente comunicação traz uma reflexão acerca do potencial filosófico
do ensino de filosofia na sala de aula que foi desenvolvida em uma pesquisa
acerca desse potencial presente no ensino de Filosofia que é ofertado pelas
escolas de nível médio na cidade de Cajazeiras, localizada no Alto Sertão
paraibano. Os principais objetivos do estudo nas escolas foram: identificar os
principais problemas encontrados pelos professores de Filosofia no exercício da
sua prática docente; identificar e elencar os recursos didático-pedagógicos de
que dispõem os professores para lecionar filosofia; registrar as experiências
de sucesso no ensino filosófico da filosofia, isto é, num ensino que consiste
na prática do filosofar; e, finalmente, identificar os elementos que mais
contribuem para o aumento do potencial filosófico na sala de aula; a
comunicação reflete sobre o ensino de filosofia como experiência
crítico-criativa do filosofar no chão da escola.Uma parte dos resultados
obtidos nesse estudo demonstrou que o potencial filosófico para o ensino de Filosofia
depende em grande parte do professor ao exercer claramente a função de mediador
do conhecimento. Verificou-se que a aula de Filosofia deve preferencialmente
ser um momento em que o aluno entre em contato com situações-problemas, fazendo
com o que se torne um investigador, que procure soluções e com isso desenvolva
uma postura crítica frente ao espaço social no qual está inserido. Outro ponto
importante é o professor não licenciado em Filosofia, ensinando a disciplina no
ensino médio, muitas vezes pode interferir negativamente no modo como a
Filosofia chega até os alunos acarretando que a aula seja um mero “bate papo”
ou até mesmo uma “aula informativa”. Mais uma vez o problema da restrita carga
horária para a Filosofia continua a prejudicar o desenvolvimento da
aprendizagem filosófica, especialmente por não proporcionar uma sequência
satisfatória de ideias e muito menos oportunidade de explorar e fixar os
conteúdos através de leituras em sala. Esses e outros fatores foram identificados
no estudo desenvolvido, resultando em dados que corroboram as conclusões
apontadas por diversos especialistas no assunto.Ao elaborar uma compreensão
sobre o ensino de filosofia como experiência do filosofar, capaz de reunir,
refletir e explicitar quais são as principais características desse ensino; ao
verificarmos qual é o potencial filosófico do ensino de filosofia oferecido nas
escolas de nível médio e identificarmos quais são os desafios encontrados pelos
professores e escolas para tornar o ensino e aprendizagem da filosofia uma
autêntica experiência do filosofar, talvez seja possível ampliar o potencial
filosófico das aulas e programas de filosofia nas escolas, bem como oferecer
elementos que contribuam para a formação dos professores.
Referências
bibliográficas
DELEUZE,
Gilles.; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Tradução Lucia Pereira de
Lucena-Guerra; Ana Bustamante. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2009.
FERRARI, Sônia
Campaner Miguel. Filosofia no Ensino Médio:reflexões a partir da observação e
da prática. In. GOTO, Roberto; GALLO, Sílvio. Da filosofia como disciplina: desafios
e perspectivas. São Paulo, Loyola, 2011.
FOUCAULT,
Michel. A hermenêutica do sujeito. 13 ed. Tradução Márcio Alves da Fonseca,
Salma TannusMuchail. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
GALLO, Sílvio.
Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o Ensino Médio. Campinas:
Papirus, 2012.
HADOT, Pierre.
O que é filosofia antiga? Tradução Dion Davi Macedo. São Paulo: Loyola, 1999.
RODRIGUES,
Valter Ferreira. Considerações sobre o ensino da filosofia e seu potencial filosófico.
In. COLÓQUIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO, VI., 2012, Rio de Janeiro.
Anais eletrônicos. Rio de Janeiro: UERJ, 2012.
______.O
ensino de filosofia como experiência crítico-criativa do filosofar: limites e
possibilidades. (tese – Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Educação).
João Pessoa, PB: UFPB, 2014.
Enviado pela concluinte Marcella Lopez
http://blogdomendesemendes.blogspot.com