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quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A MORTE DO SARGENTO DELUZ – PARTE FINAL

Por José Mendes Pereira

Como pai, filhos e genro combinaram assassinar o sargento Deluz por último, era só esperar a grande oportunidade. Quem iria vigia o militar quando chegasse da empreitada para matar o assassino da sua mãe e irmão? Seria o Jonas Marinho que ficaria de olho nele, acompanhando todos os seus passos assim que chegasse da missão prometida.  O executor seria o João Maria Valadão homem destemido ao estremo. 

Como nós sabemos que o Deluz iria viajar para Pernambuco na finalidade de executar o assassino da sua mãe e irmão e segundo ele, quando retornasse para Sergipe viria consigo um irmão tido como um grande e sanguinário pistoleiro, para chacinar aquela gente do Brejo,  que eram os familiares da sua esposa Dalva, isto é João Marinho, Maria Gomes esposa deste, Jonas e o João Maria Valadão. 

O mano do Deluz que segundo o sargento Deluz era pistoleiro de boa marca  chamava-se Otávio, e este talvez não viria só, com ele, chegaria em Sergipe mais uns pistoleiros. Estes eram os comentários que desfilavam em bares, bodegas naquela região do rio São Francisco. Finalmente a data chegou. O sargento Deluz sairia da sua fazenda Araticum pela manhã cedo, e de lá, até o rio São Francisco rumo Pernambuco, em busca do local da sua missão, que teria que cumprir, vingar a morte dos seus entes queridos. 

Diz Alcino Alves Costa que esta taperinha e esta cruz estão esquecidas, mas são elas quem marcam onde foi assassinado o corajoso e vingativo Amâncio Ferreira da Silva o Deluz no dia 30 de setembro de 1952.

O Jonas Marinho estava vigiando o jovem militar sem perdê-lo das suas vistas um só instante. João Maria Valadão já estava sabendo que ele tinha saído da sua propriedade. Por volta da noite anterior Valadão acompanhado de um senhor chamado Vicente da Mata Grande, outro, Mané Vigia e outro de nome Cícero Cupira saíram da fazenda que moravam e foram para fazenda do Deluz Araticum, vão tocaiar o valentão sargento de Canindé Deluz.

O dia vem chegando devagar e os primeiros raios solares foram estendidos sobre o solo terrestre. Nesse dia era uma terça-feira do dia 30 de setembro de 1952. O sargento estava se preparando para a viagem. Seu animal terminou de comer a ração, mas já estava selado. Ao seu lado, estava o seu cunhado Rosalvo Marinho, o único que ainda se relacionava com ele, e que ficaria para cuidar da sua fazenda enquanto ele retornasse de Pernambuco.
Minhas inquietações:

"Este Rosalvo Marinho foi aquele que havia amparado em sua casa o Manoel Pereira de Azevedo o famoso e perverso cangaceiro Juriti, e ele findou sendo preso e assado em uma coivara na localidade chamada Roça da Velhinha, nas proximidades da fazenda Cuiabá ordenado pelo famoso Deluz.

Fico metido nas minhas inquietações.

Por que o Rosalvo Marinho que era filho do João Marinho irmão da Dalva que vinha sofrendo nas mãos do sargento Deluz mantinha amizade? Somente o Jonas, João Marinho e o Valadão sentiam tamanhas dores pela Dalva?"

Continuando a nossa história:

O sargento montou em seu cavalo. O seu cachorro quis segui-lo, mas ele não deixou. Em seguida, cruzou o seu fuzil sobre a sela e deu partida. Ali bem perto, menos de um quilômetro  estavam os homens que tocaiavam o miserável delegado comandado pelo seu concunhado João Maria Valadão, e assim que o bruto sargento Deluz colocar a cara na estrada ele vai sentir o peso de uma, duas ou mais balas no seu corpo.

Os vingativos estão fortemente armados. O Valadão vai dominar a ação com um 44 (papo amarelo como o chamavam). Os outros estão abraçados com bacamartes e bem preparados para matar. Todos eles estavam escondidos em moitas bem enramadas. O infeliz tinha que aparecer por uma curva da estradinha e mais à frente, um limpo. Os verdugos estão bastante atentos e não podem falhar. Se não der certo o plano poderão pagar caro mais tarde. Eles estão bem divididos e com certeza, não falhará. Deluz iria receber o castigo que merecia, mas diziam que ele tinha o corpo fechado. Ou corpo fechado ou não o Deluz estava marcado para morrer pelos familiares da sua esposa Dalva.  

O infeliz apareceu na estrada. O cavalo trota vagarosamente como se estive adivinhando algo. Deluz alcançou o limpo e foi neste momento que dois estampidos estrondam soando forte na imensidão do sertão. O homem que antes era um valente agora despenca do seu animal. Seu corpo desaba como se fosse um pesado fardo e se misturou no meio de um rio de sangue escarlate. Quando os seus matadores viram o corpo percebem que ele já estava muito longe do nosso planeta. Mais uma vida por vingança se foi.

Assim chegou ao fim a vida de uma autoridade militar Amâncio Ferreira da Silva o temido, odiado e perverso sargento Deluz, o covarde matador do cangaceiro Juriti. 

Informação:

Diz à história que João Marinho foi o mandante, chegando até ser preso; e seu genro João Maria Valadão, casado com Mariinha, irmã de Dalva, portanto concunhado de Deluz. Afirmaram os estudiosos que O João Maria Valadão que em 2011 ele ainda estava vivo, com seus 96 anos de idade, completados no mês de dezembro, foi quem tocaiou e matou o célebre militar e delegado que aterrorizou Canindé e o Sertão do São Francisco. A partir desta data não se tem mais informação, pelo menos nós aqui de Mossoró.

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VÍDEO SOBRE CANGAÇO

https://www.youtube.com/watch?v=-cqGSki32EU

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TEXTO SOBRE O CANGACEIRO ANTONIO SILVINO


Do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho

TEXTO que extraio do jornal "A República" (RN), de 28.01.1907, sobre o cangaceiro ANTÔNIO SILVINO, quando ele ainda em atividade criminosa.

O “Jornal Pequeno”, do Recife, publicou os seguintes interessantes episódios e anedotas, que circulam no interior deste e dos vizinhos Estados do Sul, acerca da personalidade do célebre bandido Antônio Silvino, cujas façanhas constituem verdadeiras lendas.

Eis alguns dos mais notáveis:

José Paulo, vaqueiro do fazendeiro Luna, foi encontrado na estrada por Antônio Silvino e seu grupo. – Levas aí dinheiro? – Pergunta Antônio Silvino.

O vaqueiro mostrou-lhe uma bolsa contendo vários contos de réis, que levava para o seu patrão.

Antônio Silvino pediu-lhe 200$ ao que não acedeu o vaqueiro, dizendo que era melhor levar todo o dinheiro, pois ninguém acreditava que ele, Antônio Silvino, tivesse levado apenas tão diminuta importância.

Não aceitando a proposta, o vaqueiro quis dar-lhe 20$000, dinheiro seu que levava a parte.

Antônio Silvino aceitou apenas 10$000, ficando José Paulo com a metade.

Outro: - Quando Antônio Silvino esteve em Pilar, Paraíba, em casa do coronel Napoleão Duarte, este deu-lhe 250$000 em cédulas, sendo uma de 200$000 falsas.

O comendador fez propalar pela imprensa e por toda parte que Antônio Silvino lhe extorquira importante quantia, de muito superior à que realmente lhe dera.

Chegando o fato aos ouvidos do célebre cangaceiro, este mandou o seguinte recado:

“Diga ao comendador Napoleão que eu um dia voltarei ao Pilar para trocar a cédula falsa e buscar o resto da quantia que ele diz ter-me dado. ”

Escusa dizer que o comendador Napoleão, devido a este recado, esteve bastante tempo intranquilo.

Ainda outro: Há poucos dias chegando a uma venda, Antônio Silvino gritou para o dono desta:

“Se aqui chegasse Antônio Silvino o que lhe fazia?

- Dava-lhe um copo de cerveja, exclamou o vendelhão, que o não conhecia.

- Então bote, concluiu Silvino, pois está falando com ele.

Mais outro: Quando, há poucas semanas, esteve Silvino em Alagoa Nova, em companhia das principais autoridades do lugar, como sejam o juiz municipal, o delegado de polícia e o promotor público, angariou entre os moradores a importância de 500$000.

Dias depois, um deputado estadual paraibano, com quem andara Antônio Silvino angariando espórtulas naquele lugar, informou que jornais da capital que o célebre bandido lhe levara 5:000$000 e cometera desatinos.

Consequência: Silvino mandou-lhe um recado dizendo que fizesse a retificação, ou então iria buscar o resto do dinheiro.

No outro dia, no “Comércio”, da Paraíba, apareceu a retificação pedida, dizendo-se que o dinheiro adquirido por Antônio Silvino foram apenas 500$000 e que o famoso quadrilheiro se portara corretamente, não ofendendo a pessoa alguma.

Não sabemos ao certo se foi este deputado ou um outro influente chefe político do mesmo lugar que deixou a família em sua fazenda, convicto de que nada lhe sucederia visto estar garantida por Silvino.

Imagem que trago do Blog de Carlos Costa.
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ONDE ESTARÁ EXPEDITA?

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de novembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.017
                    
              O mês dos ventos vai chegando ao fim rompendo forte. Vem o sol, vem à chuva, embaça a neblina, sobe o nevoeiro.  E no cair da tarde sopra na brisa leve o nome de Expedita, minha querida babá por certo tempo. Revejo o passado ouvindo sem ouvir o som do Guerreiro que norteava o bailado das folclóricas dançarinas, cadenciado pelo mestre invisível:
(FOTO: AGÊNCIA ALAGOAS/DIVULGAÇÃO).
“O avião
Subiu
Se alevantou
No ar se peneirou
Pegou fogo e levou fim...”

A rede vermelha rangia para lá e para cá, embalando meus sonhos de criança. Expedita, mulher alta, bonita, bem feita e educadíssima, não cansava a voz, entre um pigarro e outro. Era figura de Guerreiro e sabia com sua voz agradável também guerrear a minha alma. Plantava os pés no chão e no espaço pequeno fazia-me calado a escutar:

“Ia passando
Com um cacho de uva
Uma viúva pediu pra comprar
Olhei pra ela
Com olhar penarioso
Espiei só tinha ouro
Dentro da boquinha dela...”

E a minha babá, tão bela e tão doce, cativava a minha inocência dentro do humano e das tradições que se aninhavam na Rua Antônio Tavares. Papai no trabalho, mamãe na feira dos sábados somente meus e de Expedita:

“Sou devoto
De Nossa Senhora
Sou alagoano
Onde o Guerreiro mora...”

Ah, Expedita! Você floriu minha existência.
Onde andará Expedita?

NAQUELES TEMPOS (A VIDA E OS OFÍCIOS DE MINHA GENTE)

*Rangel Alves da Costa

Dona Alice Feitosa fazia sabão em pedra num fogão de lenha do quintal. Misturava sebo, cinzas e outras essências da terra, mexia e remexia o tacho grande com um pano amarrado na cabeça e o suor também virando sabão. E nas beiradas das fontes as seriemas, as nambus e as codornas, saciavam suas sedes ao entardecer. Um tempo de sertão ainda sertão...
Zé de Bela era alfaiate sem igual, com cortes, costuras e recortes, aprimorados no sul e trazidos para o seu ateliê num canto de casa humilde. Como um Clodovil sertanejo, a sua moda era refinada e exigente, bem costurada e alinhavada, pronta para ir aos salões, missas e procissões, da Festa de Agosto. E mais ao longe, pelas paisagens mistas de verdor e acinzentado, a bela flor do mandacaru deitava ao chão sertanejo o último respirar de sua beleza durada apenas uma noite, pois dura apenas uma noite a linda e sublime flor do mandacaru. Um tempo de sertão ainda sertão...
Maninho, ora pois pois, era o chef mais famoso e requisitado do lugar. Vindo das beiradas dor rio e depois alcançando larga experiência na gastronomia carioca, trouxe na bagagem os melhores cozidos, as melhores massas, as comidas de nome esquisito, mas de uma gostosura que só. Depois de preparados os pratos, e cheio de trejeitos e euforias, assenhorava-se de um pé de balcão e mandava botar mais uma. E de repente já estava dançando, dobrando os quartos, cantarolando um velho e apaixonado bolero: “Quem eu quero não me quer, quem me quer mandei embora...”. E pelos arredores, quando o tempo dava para ser assim, as mulheres na debulha do feijão de corda, os homens botando feijão pra secar, o milho seco sendo ensacado. Um tempo de sertão ainda sertão...


Chegava o tempo de festa e com a festa também o sapato novo pelas mãos do engraxate Manezinho Tem-tem, o tripé de retrato de Seu João Retratista, o parque ecoando no alto-falante O Milionário, de Os Incríveis. Tempo de festa também tempo de pintar a casa, de comprar corte de pano e flores de plástico novas. Panelas e louças lavadas nas águas do Tanque Velho, e depois os panos estendidos em cadeiras para tomar sol por cima das calçadas. Mas as más línguas diziam que era apenas para se amostrar. Eita povinho! Um tempo de sertão ainda sertão...
Delino tinha banana, Zé de Iaiá tinha farinha, Mané Azedinho e Joãozinho de Neusa o feijão. A cozinha sertaneja quase num lugar só, pois os vendeirim entrelaçados na vizinhança. Um jogo de sinuca na mercearia de Ermerindo, e de vez em quando também um encontro de repentistas. Um jogo de bilhar no salão de Angelino. Uma cachaça da terra no Bar de Zé de Lola. E de repente o sertão inteiro se enchia de graça com a forrozança que não faltava: Zé Aleixo, Dudu Ribeiro, Zé Goití, Dida, Agenor da Barra. E o forró comia no centro e só parava quando João Valentim virado em rato entrava pelos salões em fuzuê. E bem acima de todos aquele sol maior do mundo sol e a lua mais bela da vida, os horizontes de seca e de chuva, retratos tão sertanejos. Um tempo de sertão ainda sertão...
Maria do Piau Duro aparecia na esquina com rodilha na cabeça e um cesto de peixe miúdo salgado. Não dava pra quem queria. A bala de mel de Tonho Bioto era boa, mas era perigoso de um vendedor estar sem juízo na hora da venda e jogar na cabeça do comprador toda pirulitada. Mariá descambava pra beira do riacho com uma trouxa de roupas na cabeça. Quem vai querer arroz-doce de Baíta? Eu quero. Eu quero. Eu quero e não consigo afastar a saudade! Tudo num tempo diferenciado de sertão. Um tempo de sertão ainda sertão...
Hoje as memórias estão encharcadas nos lenços das saudades. Alguns ainda lacrimejam as ausências e as distâncias, mas outros desejam apenas estender os lenços nos varais e a tudo fazer esquecimento. E restará apenas um retrato na parede de uma vida e de um tempo, de um povo e de seu fazer, nalgum sertão do passado.

Escritor
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A MORTE DO SARGENTO DELUZ – PARTE V

Por José Mendes Pereira

Continuando a nossa história que ficamos na parte IV, sendo que a família dos Marinhos estava marcada, assim prometeu o famoso e arrogante sargento Deluz.

O José Maria Valadão que também era genro do fazendeiro João Marinho, tendo ele casado com uma das suas filhas de nome Mariinha, é um rapaz descente, jovial e bom amigo. Mas era um homem que não tinha medo de nada e nem era covarde.

Aquela exigência do sargento Deluz que queria que o Valadão desse uma surra na esposa não encaixou bem na cuca do Valadão. A resposta do Valadão veio o mais rápido possível dizendo ele que o Deluz parecia ter enlouquecido, porque em toda sua vida de casado, jamais levantou o braço para sua esposa, imagine, surrá-la. E ele não ficasse pensando que iria bater na sua esposa só porque ele estava mandando. Dada a resposta Valadão se mandou em busca de casa. Como não pôde convencer para surrar a sua esposa Deluz dizia por aonde chegava que iria matar todos lá do Brejo. Um, era o sogro João Marinho, o Jonas Marinho seu cunhado, a sogra Maria Gomes, e entre os marcados para morrer também estava o Valadão.

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Aquele sujeito metido à valente iria saber quem era o sargento Deluz, dizia o delegado na bodega de um senhor chamado Mestre Cícero. O sargento Deluz e a esposa Dalva mesmo morando na mesma casa estavam separados sexualmente.

O inesperado aconteceu. Havia chegado de Pernambuco uma notícia ruim que a mãe e um irmão do sargento Deluz haviam falecido em um acidente automobilístico. O Delegado enlouqueceu e fez promessa que iria encontrar o responsável pela morte dos seus entes queridos, e o matará sem nenhuma compaixão. Os quatro lá do Brejo os seus nomes já estavam registrados em sua caderneta do cérebro.

O sargento Deluz nem sabia que as suas palavras desaforadas e além do mais destorcidas poderiam chegar aos ouvidos do sogro, cunhados e concunhado. O sogro o João Marinho não mais suportava com tanta ameaça feita pelo sargento Deluz, e agora a solução seria tomar uma decisão e acabar de uma vez por toda com aquele suplício. E a só tinha uma solução, o sargento Deluz teria que morrer, caso contrário quem seriam dizimados eram eles lá do Brejo.

E como ficariam Dalva sua esposa e as suas filhas? O patriarca João Marinho tinha certeza que elas três iriam sofrer muito, mas não pelas mãos daquele infeliz que de momento a momento tentava desrespeitar um deles. Nenhuma morreria por falta de alimento. Tinha muito para lhes dar, e Deus não deixaria faltar nada. O Deluz irá viajar para cumprir o que prometera. Matar o responsável pela morte da sua mãe e irmão.

Continuarei amanhã que será: A morte do sargento Deluz – Parte Final.

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O FOGO DAS GUARIBAS E O TRISTE FIM DE NÊGO MARROCOS


Antônio Marrocos de Carvalho – Fonte: Acervo de Antônio Marrocos Anselmo. — em Brejo Santo.

Em 1927, Macapá, hoje Jati, era distrito de Jardim, que ainda englobava Baixio do Couro, hoje Penaforte. Assim, Jardim era um município de extensa área territorial.

Havia em Macapá um jovem cobrador de impostos da renda estadual, muito popular, liderança emergente no Município, já incômodo para as velhas raposas políticas de Jardim: seu nome era Antônio Marrocos de Carvalho.

Antônio Marrocos e Raimunda Piancó (Mundinha) – Fonte: Acervo de Antônio Marrocos Anselmo. — em Brejo Santo.

As circunstancias do assassinato do líder político Antônio Marrocos de Carvalho caracterizavam, a exemplo de tantas outras ocorrências funestas, a época sombria do apogeu do coronelismo. A morte comovente desse cidadão, concomitante à chacina dos homens do Salvaterra e o cerco a Chico Chicote, mostrava como o regime de dominação dos poderosos sul-cearenses, nos derradeiros anos da década de 1920, prosseguia desenvolto, alardeando o prestígio soberbo do bacamarte, que se disparava pelo banditismo político, da polícia e o banditismo dos homens do cangaço.

Àquele tempo, o mais torvo plano foi concertado entre potentados do extremo sul cearense e a polícia militar, para a eliminação de vidas humanas. O desgraçado projeto resultaria, realmente, em várias mortes. E a polícia militar far-se-ia, marcadamente, responsável por um dos capítulos mais sombrios da sua crônica e escreveria uma das páginas mais negras da história do banditismo nos sertões nordestinos.

Os dias eram para o Ceará, principalmente para o Cariri, de perseguições políticas, insegurança e intranquilidade.


Antônio Marrocos foi surpreendido, certa noite, pela visita de Lampião, levado à sua casa por Manuel (Né) Pereira, que exercia cargo de subdelegado daquele povoado. Como é sabido, Lampião era ligado à família Pereira por forte amizade.


Fiel à tradição sertaneja e por ser parente e amigo de Né Pereira, Marrocos recebeu a visita com bastante cordialidade.

A partir de então, tendo fracassado em duas emboscadas contra Marrocos, no caminho entre Macapá e Jardim, os seus adversários políticos denunciaram-no ao Chefe de Polícia como coiteiro de Lampião, razão pela qual ele passou a ser fortemente perseguido.


Meses depois, novamente à meia-noite, Né Pereira bateu à porta de Marrocos. Ao abri-la, verificou a presença de Virgulino. Sem convidá-los a entrar, Marrocos explicou-lhes o que lhe vinha ocorrendo. A seguir, dirigindo-se a Lampião, sugeriu-lhe que, embora contasse com sua atenção, não voltasse a visitá-lo, afim de não confirmar as acusações que lhe estavam sendo feitas pelos chefes situacionistas de Jardim.
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Em resposta, Lampião pediu-lhe que telegrafasse ao Chefe de Polícia comunicando que ele, naquela noite, passava em Macapá com destino ao Cariri. Tal sugestão foi ratificada na manhã do dia seguinte, quando Marrocos, dirigindo-se a Brejo dos Santos (atual Brejo Santo), de onde enviaria o despacho, passou pelo grupo estacionado no local Barra-de-Aço, a 01 km de Macapá.


Apesar de tudo isso, quando o tenente José Bezerra chegou a Macapá, no rumo de Brejo dos Santos, foi à casa de Antônio Marrocos e sugeriu-lhe que, para desmentir as acusações de que estava sendo alvo, deveria unir-se à sua tropa na perseguição ao bando de Virgulino.

Logo de início, alegando de tratar-se de uma calúnia já desmentida, Marrocos recusou a sugestão. Mas, após prolongada polêmica, para não demonstrar covardia, ele resolveu incorporar-se à volante. Com isso, no dia 28 de janeiro de 1927, procedente de Jardim, chegava a Brejo dos Santos uma volante policial sob o comando do Primeiro-Tenente José Gonçalves Bezerra, com o objetivo – segundo era comentado e confirmado pelo citado oficial – de perseguir e combater o grupo de Lampião.


Capitão José Gonçalves Bezerra – Fonte: Jornal do Cariri, n° 2524, de 06 a 12 de março de 2012, pág. 05. — em Brejo Santo.




Reafirmando sua falsa missão de dar cabo ao Rei do Cangaço, o tenente José Gonçalves Bezerra saiu de Brejo dos Santos na madrugada de terça-feira, 1° de fevereiro de 1927, comandando uma volante com 70 praças, como auxiliar o Sargento-Tenente Veríssimo Alves Gondim e como guia e agregado à tropa, voluntariamente, João Gomes de Lucena, sobrinho de Chico Chicote, filho do então prefeito de Milagres e ex-prefeito de Brejo dos Santos, coronel Manoel Inácio de Lucena e sobrinho do então prefeito de Brejo dos Santos, o coronel Joaquim Inácio de Lucena, conhecido como Quinco Chicote, além de cabras do coronel Nozinho Cardoso.

Logo após a chacina dos homens do Salvaterra e a fim de não provocar reação em Guaribas e concluir o plano elaborado para eliminar Antônio Marrocos, o tenente José Bezerra, antes de lá chegar, manteve longa conversa com Marrocos, manifestando a certa altura, o desejo de conhecer o mencionado sítio e travar relações amistosas com seu proprietário. A seguir, referindo-se à sua missão e expondo razões de ordem tática, pediu-lhe que fizesse um desenho da casa-grande, das habitações vizinhas e das elevações e depressões do terreno em seu redor. E para que Marrocos não pusesse em dúvida suas intenções, afirmou-lhe que deixaria a tropa distante do sítio e somente ele, o tenente Veríssimo, o sargento Antônio Gouveia (Antônio Pereira de Lima) e o corneteiro Louro Galo Velho iriam à residência de Chico Chicote, tendo à frente o próprio Marrocos, a fim de não haver desconfiança e possível reação à sua presença ali.

Amigo de Chico Chicote, de quem havia recebido, uma semana antes, um rifle de presente, que conduzia a tiracolo, Marrocos traçou a lápis, num pedaço de papel de embrulho, um ligeiro croqui de Guaribas.


A casa-grande da fazenda Guaribas, município de Porteiras, era uma verdadeira fortaleza, aboletada numa dobra da Serra do Araripe, ao lado do povoado Simão, e meio a uma plantação de café, com muitas fruteiras. As paredes tinham quase meio metro de largura, feitas de tijolos dobrados, com buracos abertos por todos os lados (chamados “torneiras”), por onde os atiradores poderiam mirar e fulminar eventuais invasores.
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Com efeito, pelas 07 horas da manhã, ao aproximar-se do sítio, a tropa fez alto e Zé Bezerra pôs em execução o que havia planejado com o seu colega Veríssimo (Esses detalhes foram dados pelo cabo Pedro Alves à viúva de Marrocos, Mundinha (Raimunda) Piancó, bem como outros pormenores sobre o seu fuzilamento).


Percebida a aproximação do reduzido grupo, umas das mulheres que faziam colheita de café, naturalmente para esclarecer Chi

- É o Nêgo Marrocos!


Imediatamente, o tenente Veríssimo disparou um tiro de revolver nas costas de Antônio Marrocos, que tombou de frente, abaixo de um pé-de-café, atingido no pulmão direito, vindo a falecer três horas depois. Naquele momento o segundo “acerto” da empreitada seria efetivado (o primeiro acerto foi a chacina de Antônio Gomes Grangeiro, seu sobrinho João Grangeiro (Louro Grangeiro) e dois moradores, Aprígio Temóteo de Barros e Raimundo Madeiro Barros (Mundeiro). Quando foram preparar o sepultamento de Antônio Marrocos, Mundinha Piancó, viúva de Marrocos estranhou que, embora ele estivesse de frente com a casa-grande das Guaribas, o tiro que o vitimou entrou pelas costas.

Confirmando as suspeitas sobre a causa de fuzilamento, o coronel Francisco de Sá Roriz, a Mundinha, ao visita-la em Macapá, que os situacionistas de Jardim haviam subornado Veríssimo com Cinco Contos de Réis para eliminar Marrocos. Para termos uma noção hipotética, 01 Conto de Réis (Mil Mirréis), equivale hoje a R$ 123.000,00 (cento e vinte e três mil reais).


Mundinha Piancó ficou viúva aos 26 anos e com 06 filhos para criar. Faleceu aos 92 anos no estado de São Paulo.

A perversidade insana dos velhacos tenentes José Gonçalves Bezerra e Veríssimo Alves Gondim estremunharam, mais ainda, a aversão popular à polícia. O tempo, contudo, se encarregaria de revidar, nas pessoas deles, as mortes bárbaras de Antônio Marrocos, Antônio Grangeiro, Chico Chicote e dos demais que foram trucidados covardemente na hecatombe do começo de fevereiro de 1927.


Decorrido um decênio, na verdade, aos 10 de maio de 1937, José Bezerra, já com a patente de Capitão, seria trucidado, no Cariri ou, mais precisamente no sítio Conceição, próximo às comunidades Mata dos Cavalos e Curral do Meio, no município de Crato, por ocasião de luta com fanáticos remanescentes do beato José Lourenço Gomes da Silva, dentre os quais morreram alguns. A golpes de facões, roçadeiras, foices, cacetes e a tiros de espingardas e pistolas, tombaram o sanguinário oficial, um filho (1º Sargento Anacleto Gonçalves Bezerra), um genro e mais dois policiais subalternos. Dentre os comandados, outros saíram feridos. Mesmo assim, à morte do Capitão seguiu-se o bombardeio na Serra do Araripe, autorizado pelo Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra. Entre 700 a 1.000 pessoas foram mortas. E, assim, se findava um

Um lustro antes do capitão José Bezerra, já havia embarcado seu comparsa, tenente Veríssimo Alves Gondim.
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Em Lavras da Mangabeira, metera-se o tenente Veríssimo a afrontar e humilhar o coronel Raimundo Augusto Lima, filho do coronel Gustavo Augusto Lima e neto de Fideralina Augusto Lima, destronado pela Revolução de 30. Lá chegara, inclusive, com ordem de, a todo custo, conduzi-lo, algemado, a Fortaleza. A vingança, porém, não tardaria muito.




Com efeito, aos 26 de junho de 1932, o oficial era alvejado, nas costas, pela arma do coronel, tal como fizera ele próprio a Antônio Marrocos, minutos antes do Fogo das Guaribas, havia cinco anos. Pôde, ainda, o militar moribundo balbuciar: “Que homem falso!” Estas palavras doridas, que tão bem se ajustavam a seu autor, o malogrado tenente Veríssimo, muito antes, poderiam ter sido articuladas pelo desventurado Marrocos, também, no lance derradeiro.



E quem sabe se as não teriam pronunciado?

Quem sabe?

Bastante comentado, na época, o assassinato do tenente Veríssimo Alves Gondim. Sob os céus de Lavras da Mangabeira, todavia, nada de novo acontecera, senão a repetição da história.

Bruno Yacub Sampaio Cabral
A Munganga Promoção Cultural
O Brejo é Isso!


Fontes Bibliográficas:

• Separata da Revista Itaytera, A Tragédia das Guaribas, Otacílio Anselmo e Silva, Instituto Cultural do Cariri, 1972, págs. 14 e 15;
• Império do Bacamarte, Joaryvar Macedo, 1990, págs. 239 e 247; 
• Cariri: Cangaço, Coiteiros e Adjacências, Napoleão Tavares Neves, 2009, pág. 63;
• Lampião: A Raposa das Caatingas, José Bezerra Lima Irmão, 2014, pág. 234;
• Jornal do Cariri, n° 2524, de 06 a 12 de março de 2012, pág. 05;


Fontes Iconográficas: 
• Acervo de Antônio Marrocos Anselmo;
• Jornal do Cariri, n° 2524, de 06 a 12 de março de 2012, pág. 05.


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REPORTAGEM DA VEJA DESSA SEMANA. TEM ALGUNS ERROS, INCLUINDO A FOTO




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ANGICO E A MORTE DE LAMPIÃO - FINAL


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Segunda parte da entrevista com o Escritor e Pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo, uma das grandes autoridades ao que se refere aos estudos e pesquisas sobre o cangaceirismo. Autor de inúmeros trabalhos sobre o tema e atualmente é o pesquisador/escritor com maior longevidade e ainda em atividade. São aproximadamente sete décadas de sua vida dedicadas ao resgate do fenômeno cangaço e responsável por trabalhos brilhantes que serviram e ainda servem como base para a formulação de livros, documentários, filmes, entre outros.

Essa entrevista, que será apresentada em partes, foi realizada no dia 04/08/2016 na residência do doutor Antônio Amaury Corrêa de Araújo, na cidade de São Paulo/SP, onde reside.

As perguntas direcionadas ao estudioso não obedecem uma ordem cronológica dos fatos e visam originalmente documentar o conhecimento do entrevistado sobre o episódio que envolveu a morte do temível e sanguinário Rei do Cangaço. Lampião.

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Grato Cabroeira.
Geraldo Antônio De Souza Júnior

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