Por: Geraldo Maia do Nascimento
Instrumentistas
se reunir para tocar em bando é uma prática antiga e corriqueira. Digo isso
literalmente, pois desde a antiguidade grupos instrumentais acompanhavam as
tropas em campanha para levantar-lhes o moral. A prática de grupos se apresentarem
com nome de “banda”, parece ter surgido na França, mais precisamente em Paris,
logo depois da queda da Bastilha (1789). Segundo os pesquisadores, era com esse
termo que os parisienses se referiam aos bandos de “rapazes alegres” que se
tornaram populares na região.
A
banda, tal qual conhecemos hoje, teve este nome adotado na Itália. Foi dado o
nome aos grupos militares compostos de instrumentos de sopro e percussão, que
juntamente com a bandeira nacional, marchava à frente dos exércitos, conduzindo
os mesmos ao local desejado.
Quando
D. João VI chegou ao Brasil (1808), trouxe uma banda em seu séquito, o que
modificou a música no Brasil. Como um país católico, ligado ao romanismo
português e em pleno apogeu do Barroco, a música aqui executada era de caráter
religioso como “Antífona”, “Te Deum”, “Ave Maria”, “Ladainha”, etc. Havia até,
nas importantes igrejas, o “Mestre Capela”, que era uma espécie de coordenador
e regente, além de compositor encarregado da música nas cerimônias religiosas.
Foi
através da Igreja que a música chegou a Mossoró. Consta que o Vigário Antônio
Joaquim, desejoso de ter um conjunto vocal e orquestral que o ajudasse, por
ocasião das funções litúrgicas da Igreja Matriz de Santa Luzia, fez vir da
Bahia o barítono João Lopes Bastos, exímio tocador de violoncelo, que também
exercia, com igual êxito, a profissão de marceneiro, como nos informa a
musicista D’Alva Stella Nogueira Freire em seu livro “A História da Arte
Musical em Mossoró” – Coleção Mossoroense, série B, nº 40, editado em 1957 pela
Editora Comercial S/A.
Ao
chegar a Mossoró, João Lopes instalou-se como marceneiro na cidade, sendo ele o
responsável pela confecção das portas da nossa Matriz, hoje Catedral de Santa
Luzia. No mesmo período João Lopes organizou um coral masculino, que ele
próprio dirigia, e que era acompanhado por seu conjunto orquestral.
Encontramos
no Boletim Bibliográfico da Biblioteca Pública de Mossoró, editado em junho de
1954, referências a João Lopes: “João Lopes Bastos foi diretor de uma Banda de
Música em 1859. Nessa banda Joca Soares era clarinete, Xico Lopes, clarinete,
Francisco Gamelo, baixo e José Piston, piston, como informou Romão Filgueira”.
Mas tudo leva a crer que essa banda referida no Boletim Bibliográfico, não
passava da orquestra que ele organizou e dirigiu por muito tempo, a serviço do
Vigário Antônio Joaquim.
Em
1865 por aqui chegou um pernambucano, Justino de Tal, que se instalou no Centro
da Cidade com uma casa de jogos de diversão, para os quais cobrava entrada, e
cuja prática era acompanhada por números musicais. Tocando alguns instrumentos
de sopro, tentou organizar uma Banda de Música com os discípulos que lhe
ocorriam, pela frequência dos jogos, mas essa banda teve curta duração. Ao que
parece, essa foi à primeira iniciativa do gênero.
Por
volta de 1870/72 José Lopes Bastos, que era filho de João Lopes Bastos,
organizou sua Banda de Música, que era composta de 15 a 20 figuras. Confirma
essa informação o escritor Raimundo Nonato da Silva em seu livro “A Charanga e
a Fênix”. Porém, um fato curioso aconteceu envolvendo esse maestro: durante a
comemoração da festa da padroeira Santa Luzia, José Lopes foi convidado para
animar os festejos com sua banda. Esse, porém, cobrou a avultada soma de
600$000 por seus serviços musicais, o que não foi aceito pelo pároco, que em
seguida convidou o maestro cearense João Venâncio para tal empreitada. Com este
vieram os músicos João Marcolino, Clementino Ribeiro e José Augusto Nogueira,
que era exímio cantor e pistonista de classe. Consta que esses, ao chegarem a
Mossoró, trouxeram um hino de Santa Luzia, cuja letra foi atribuída a João
Venâncio, que por muito tempo foi entoado nas procissões. Dizia a letra:
“Bendita Luzia/ que no céu estais/ pondo vossos olhos/ nos tristes mortais”.
Infelizmente esse hino não consta mais do livro de cânticos da festa de Santa
Luzia.
Dado
o êxito da festa, no tocante à perícia musical dos visitantes, o Vigário
convidou o João Venâncio para vir dirigir a banda musical de Santa Luzia, que
outra não era senão a de José Lopes, que muito auxiliou e estimulou o mestre
cearense.
Continua...
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Autor:
Jornalista
Geraldo Maia do Nascimento
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