Postado
por Oscar Mendes Filho - no dia 30 de
maio de 2018
Depois da
lenda do Rougarou na última semana…
Existem muitos
lugares na cidade de São Paulo que merecem ser mencionados quando se trata de
locais assombrados e essa certamente não é a primeira matéria sobre o já famoso
Castelo da Rua Apa.
Mas por que
então escrever sobre ele?
Porque o texto
a seguir é fruto das pesquisas que realizei para criar o livro Sombras do Castelo, que retrata um causo que me foi contado
por meu tio, hoje já falecido, que dizia ser verdadeiro.
Realizei a
pesquisa para poder entender o que aconteceu no local e, assim, retratar com
maior riqueza de detalhes essa história que me foi contada.
Capa – Sombras
do Castelo
Vamos
então entender um pouco do que ocorreu no castelo.
A História do
Crime:
No dia 23 de
julho de 1988 faleceu Maria Cândida Cunha Bueno a dona Baby, última pessoa a
falar abertamente sobre o fatídico acontecimento ocorrido na Rua Apa nº 236,
esquina com a Avenida São João, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, local
onde ainda hoje está localizado o famoso Castelo da Rua Apa.
http://www.fiamfaam.br/momento/?pg=leitura&id=351&cat=1
Dias antes de
sua partida ainda era possível vê-la, mesmo já com 97 anos, homenageando a
memória do seu namorado, Álvaro, que para a polícia foi o autor do crime
ocorrido naquele local, em 12 de maio de 1937, batizado pela imprensa como “O
Crime do Castelinho da Rua Apa”.
Mas a primeira
pessoa a tomar ciência do crime foi Elza Lengfelder, cozinheira da rica família
dona do castelinho, que morava em um anexo da residência junto com seu marido
Rodolpho e outra empregada, de nome Maria Aparecida Martins (que não se
encontravam no local na fatídica noite). Elza, ao ouvir tiros no interior da
grandiosa residência, saiu às ruas para chamar um policial. Este, ao entrar no
castelinho, viu os corpos dos irmãos Álvaro e Armando, e da mãe, Maria Cândida
estendidos entre o escritório e a sala.
Por serem
pessoas muito importantes na cidade, no dia seguinte o caso ganhava as
manchetes dos jornais, já sob o título pelo qual ainda hoje é
conhecido.
Mas quem eram
essas pessoas cuja morte atraiu tanto a atenção da imprensa?
Maria
Cândida dos Reis (a primeira à esquerda), o pai (ao volante do automóvel),
Armando (sem camisa, sentado no estribo do carro) e, ao lado dele, Álvaro (com
trajes de banho e encostado no pára-lama).
Álvaro de 45
anos, era advogado e esportista e vivia cercado sempre de belas mulheres, o que
hoje costumamos chamar de “playboy”. Já com um perfil mais discreto o irmão,
Armando César dos Reis, também advogado, tinha 43 anos.
Maria Cândida
Guimarães dos Reis, então com 73 anos, era uma senhora dedicada à prática
religiosa e viúva do médico Virgílio César dos Reis, que faleceu em 1934, três
anos antes do crime, ao contrário do que se publica por aí.
Após uma
viagem feita à Europa, Álvaro estava empolgado com alguns novos e arriscados
projetos, com os quais o irmão Armando não concordava e o assunto provocara o
desentendimento entre eles, que segundo a polícia, culminou com o famoso
crime.
O curioso é
que nenhum dos irmãos morava no castelinho, ali funcionava apenas o escritório
de advocacia da família e, na noite do crime, Álvaro estava na casa de sua
namorada, dona Baby. Ele fora até o local após receber um telefonema informando
que havia um problema que tinha que ser solucionado urgentemente. O autor desse
telefonema permanece um mistério até hoje.
Ali
Álvaro encontraria a morte. Perto dos corpos, dispostos paralelamente,
inclusive com Armando de olhos abertos, foi encontrada uma pistola alemã
Mauser, calibre 9mm, registrada em nome de Álvaro, o que só veio a reforçar a
hipótese da polícia.
Havia,
entretanto, circunstâncias que atrapalhavam a tese das autoridades: Álvaro fora
morto com dois tiros, fato bastante incomum em casos de suicídio, e mais, o
calibre das balas encontradas nos corpos eram diferentes, sendo que a segunda
arma, uma Magnum Parabellum, jamais foi encontrada.
Com as
investigações posteriores foram descobertas promissórias assinadas por Álvaro
que o deixariam em situação financeira bastante delicada, mais um fato que
levou a polícia, após um ano, a dar por concluído o caso, apontando-o
definitivamente como o autor dos disparos.
Descobriu-se,
ainda posteriormente, que tais promissórias haviam sido adulteradas pelos
credores, que lhes teriam acrescentado um zero para aumentar-lhes o valor, mas
misteriosamente esses “sócios” de Álvaro jamais foram
identificados.
Os institutos
que periciavam o caso tinham grandes divergências quanto às conclusões
apresentadas, ainda quando se deu o arquivamento do caso, de forma que o que
realmente aconteceu naquela noite no Castelinho da Rua Apa permanece como sendo
um mistério até hoje.
No intuito de
preservar a imagem de Álvaro, amigos encarregaram-se de apresentar uma versão
mais amena para os fatos: a de que ele apenas empunhara a arma, talvez, sem
mesmo pretender usá-la contra Armando e que a mãe, apavorada, ao tentar separar
os filhos, fizera-o acionar o gatilho, provocando também sua própria morte.
Diante do acontecido Álvaro não teria cogitado outra alternativa, senão o suicídio.
Para dona
Baby, nenhuma das duas hipóteses eram verdadeiras. Ela tinha certeza de que
Armando era o verdadeiro vilão da história e morreu defendendo a inocência do
seu amado Álvaro.
O castelinho
começou a ser construído por arquitetos franceses em 1912 a pedido do Sr.
Virgílio e ficou pronto em 1917 sendo um presente do marido à esposa, Sra.
Maria Cândida.
Até a data do
terrível acontecimento a vida no local era normal, no entanto, após o ocorrido,
várias pessoas passaram a relatar que ele apresentava fenômenos
inexplicáveis.
Um ano após o
crime e o caso ser dado por encerrado foi realizado um leilão de todos os
móveis da casa e a construção ficou para o Departamento do Patrimônio da União
até 1951, quando a Receita Federal o ocupou, visto que na época parentes
colaterais, como sobrinhos e primos, não tinham direito de receber
heranças.
Chegando à
década de oitenta o castelinho ficou abandonado, transformando-se em um
depósito de sucatas e ferro velho. Jornais de 1988 anunciavam o abandono do
local e o filme “Fogo e Paixão” com Fernanda Montenegro, foi o último “momento
de glória” da edificação.
Maria Eulina
dos Reis, na época uma moradora de rua e sonhadora, dizia: “Um dia esse
castelinho vai ser meu” e vendo todo aquele prédio sendo destruído pelo tempo e
esquecido pelas autoridades, começou a lutar pelo imóvel.
No ano de 1990
ela decidiu entrar com processo de tombamento e pedido de restauração e em 1997
conseguiu o que tanto sonhava. O prédio continuava pertencendo à União, mas foi
cedido a ela para que utilizasse o espaço, concretizando o seu sonho de ajudar
moradores de rua continuar lutando para a reforma do seu tão sonhado castelo.
Apenas em 2004 o castelinho foi tombado, mas pelas péssimas condições em que
ele estava, foi comprado um imóvel ao lado do castelinho para que Maria Eulina
pudesse dar vida ao seu projeto: o “Clube de Mães do Brasil”, que conta com a
ajuda de empresas voluntárias.
Maria Cândida
dos Reis (a primeira à esquerda), o pai (ao volante do automóvel), Armando (sem
camisa, sentado no estribo do carro) e, ao lado dele, Álvaro (com trajes de
banho e encostado no pára-lama).
Desde o
fatídico episódio todos os que se atreveram a passar a noite no castelinho
relataram ter presenciado fenômenos assustadores.
Presença
Paranormal:
O comediante
Ankito (considerado um dos cinco maiores nomes das chanchadas) morou no
castelinho em 1944 e relatou que era comum à noite ouvir pessoas andando nas
escadas, as portas e janelas se abrirem e ao amanhecer encontrar as torneiras
abertas. Ainda assim era um apaixonado pelo local e dizia não sentir medo
diante de tais fenômenos. Logo após sua mudança outra família morou no
castelinho por cerca de vinte anos, e também relatava a vizinhos o fato de
escutarem passos e muitos barulhos misteriosos, sem que esses fenômenos os
impedissem de permanecer no local.
Maria
Eulina (Fundadora do Clube de Mães do Brasil) também relatou ter presenciado
eventos sobrenaturais, como a presença de um rapaz dentro do castelinho, além
de sentir que o lugar possui uma energia negativa, que inclusive a impede de
conseguir interessados em restaurá-lo.
Maria Eulina
estranhamente não fala mais sobre o assunto hoje em dia.
Essa
dificuldade em que se consiga restaurar a edificação poderia ser obra dos
atormentados espíritos que insistem em permanecer no local? Difícil dizer.
José Mojica
Marins (o famoso Zé do Caixão) ao filmar nas dependências do castelinho sofreu
um princípio de acidente, o que levou os bombeiros a derrubarem todo o assoalho
do andar superior da construção.
Teria o
temível Zé do Caixão sido vítima dos espíritos que ali se
encontram?
Pessoas que,
durante a madrugada, atravessam defronte ao castelinho relatam ouvir choros e
sons como os de correntes sendo arrastadas vindos do interior da
construção.
Até que ponto
esses relatos podem ser verdadeiros?
O relato que
deu origem ao meu livro, Sombras do Castelo, nunca foi mencionado anteriormente em
reportagens, provavelmente por seu protagonista já ser falecido e, quando vivo,
não possuir qualquer vínculo com o local e morar em uma distante cidade no
interior do Estado.
Se o
Castelinho da Rua Apa já lhe imprime sensações ruins, acredite: ao conhecer o
relato contido no livro seu temor aumentará ainda mais.
Há quem diga
que o ato tresloucado de Álvaro tenha sido consequência de tormentos impostos
por criaturas malignas que por ali permeiam, principalmente em virtude de o
castelinho se encontrar em uma encruzilhada. Sim, há a possibilidade de Álvaro
ter matado sua mãe e seu irmão, e em seguida se suicidado, devido à entidades
obsessoras.
Mas seria
mesmo Álvaro o autor das mortes? Se não foi ele, quem foi?
Seriam todos
esses fenômenos relatados recentemente obra dos espíritos da família que ainda
hoje permanecem ali encarcerados? Estariam eles ainda em busca da solução para
o crime que lhes arrancou a vida?
Ainda hoje
ninguém sabe, ou ao menos não deseja dizer, o que aconteceu na noite de 12 de
maio de 1937 e a versão oficial aponta como sendo Álvaro o autor das mortes,
ainda que diante de muitos fatos que colocam em xeque essa versão.
De qualquer
forma o castelinho ainda resiste, entregue aos seus fantasmas e às suas
lembranças, guardando em seu interior os mistérios que fazem dele um dos
lugares mais assombrados da cidade de São Paulo.
Arquivo
do Horror, toda quarta-feira, às 20h, no BDI.
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para o colunista: oscarmendes@bastidoresdainformacao.com.br
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