Por José Romero Araújo
Cardoso
Tive primeiros
contatos com a obra de Benedito Vasconcelos Mendes através de títulos da
Coleção Mossoroense que eram-me regularmente enviados pelo grande mecenas
Jerônimo Vingt-un Rosado Maia. Na época, meados da década de noventa do século
passado, residia em João Pessoa, capital paraibana.
Despertou-me
interesse em conhecer o autor dos trabalhos magistrais, cujo enfoque
centrava-se em busca de tecnologias que permitissem melhor convivência do homem
com as adversidades apresentadas pela região que elegi como prioritária para
meus estudos, bem como, ainda, significativa ênfase à importância da escolha
certa com relação a animais domésticos que permitissem melhorias econômicas
significativas para o plantel regional.
Quando de
aprovação em concurso para docente realizado pela Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, lotado no Departamento de Geografia do Campus Central, tive o
prazer de conhecer Benedito Vasconcelos Mendes e firmarmos sólida amizade, pois
também foi aprovado em concurso público para a mesma unidade funcional da
supramencionada instituição de ensino superior.
Professor e escritor Benedito Vasconcelos Mendes
Durante dois
anos, Benedito Vasconcelos Mendes esteve à frente da direção da EMBRAPA-Meio
Norte, servindo com galhardia ao povo sertanejo, em Teresina-PI, assumindo cátedra
somente no ano 2000.
Regressando a
Mossoró, reencontrei-me com o grande sábio do semiárido nos corredores da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Sorriso largo no rosto, sempre
disposto a tratar bem seus semelhantes, simples, humilde e humano ao extremo,
indaguei-lhe se gostaria que fosse meu orientador no mestrado em
desenvolvimento e meio ambiente, o qual estava submetendo-me à seleção.
Respondeu-me, sem titubear, que sim, pois há tempos imemoriais tinha o desejo
em desenvolver trabalho conjunto, tendo em vista que também recebia minhas
publicações da Coleção Mossoroense, tendo pleno interesse na área que me
fascina, qual seja, o estudo do Nordeste brasileiro, com ênfase à porção
semiárida.
Tornamo-nos
amigos particulares, respeitosos com total reciprocidade, pois passamos a nos
encontrar com frequência em razão do trabalho docente, encontrando-nos a
ministrar disciplinas para alunos do curso de licenciatura em geografia do
campus central.
Benedito
Vasconcelos Mendes é um ser humano formidável, fácil de fazer amizade, aberto
ao diálogo, amante das coisas do sertão, amigo extraordinário e um magistral
democratizador de conhecimento, de raros dotes, na expressão literal do termo.
Aprovado na
seleção para o mestrado em desenvolvimento e meio ambiente, cujo projeto de
pesquisa enfatizou a importância da caprino-ovinocultura em assentamentos
rurais de Mossoró, tive a grata satisfação de tê-lo não apenas como orientador,
mas também como professor em algumas disciplinas, sendo profícuo o acúmulo de novos
conhecimentos, tanto em sala de aula como em viagens de estudo de campo.
Realizamos
ainda viagem ao núcleo caprino-ovinocultor baiano, pois convidado para
participar de evento no município de Jussara, localizado na região de Irecê,
levou-me consigo a fim de que eu pudesse dimensionar a importância da atividade
pecuária de pequeno porte no Nordeste brasileiro.
Defendida com
nota excelente, minha dissertação de mestrado tornou-se título da Coleção
Mossoroense para orgulho de Benedito Vasconcelos Mendes, o grande sábio do
semiárido.
Avançamos nos
estudos sobre o Nordeste, resultando em proposta extensionista sobre o
pensamento do cientista brasileiro Josué de Castro, cujo legado ainda se
encontra obliterado pelos ditames da ditadura militar.
Produzimos e publicamos
diversos trabalhos em conjunto sobre a atualidade do grande legado do saudoso
pernambucano que fez história e se tornou uma das mais importantes
personalidades do planeta.
Enfatizando a
história regional, trabalhamos a seis mãos, em parceria com a professora
Susanna Goretti Lima Leite, aspectos da vida conturbada do cangaceiro Virgulino
Ferreira da Silva, o Lampião. O resultado de nossas pesquisas também foi
publicado pela Coleção Mossoroense.
Padrinho de
Jerônimo Vingt-un Menandro, Benedito Vasconcelos Mendes e Susanna Goretti Lima
Leite são compadres queridos por quem nutro amizade, respeito e consideração
infinitos.
Inúmeras vezes
nos encontramos na residência das 17 tamarineiras, localizada na Rua Jorge
Coelho de Andrade, para visitarmos o saudoso mecenas mossoroense Jerônimo
Vingt-un Rosado Maia e sua grande e eterna companheira Professora América
Fernandes Rosado Maia. Nas ocasiões, as conversas descontraídas geralmente
descambavam para assuntos referentes ao Nordeste brasileiro, paixão de todos
que se encontravam naquelas rodas de amigos.
Possuidor de
visão larga e clarividente, Benedito Vasconcelos Mendes dimensionou a
importância da preservação da luta árdua do sertanejo a fim de fomentar o que
ficou conceituado como Civilização da Seca, sendo responsável pela estruturação
do museu do sertão da fazenda Rancho Verde.
O museu do
sertão é a mais impressionante experiência de preservação da engenharia
empírica sertaneja, a qual foi criada a fim de viabilizar a sobrevivência
perante a inclemência das secas dilacerantes que atormentam imemorialmente a
gente sertaneja.
Escritor,
possuidor de um estilo ímpar e direto, Benedito Vasconcelos Mendes vem
contribuindo significativamente à busca de soluções para problemas que afligem
a região. Nos últimos tempo, seus livros vem enfocando aspectos socioculturais
da denominada civilização da seca, a exemplo de arte e cultura no sertão e
culinária sertaneja, importantes documentos que enfatizam a grandeza da
produção humana no semiárido.
Ser convidado
por Benedito Vasconcelos Mendes para proferir palestras para professores e
alunos de escolas que regularmente visitam o museu do sertão, transformou-se em
um dos mais significativos momentos de minha vida acadêmica, tendo em vista que
as atividades desenvolvidas são realizadas em conjunto com o Departamento de
Geografia.
Admirador
incondicional da sublime arte do sobralense Belchior, conterrâneo e amigo de
infância de Benedito Vasconcelos Mendes, não canso de ouvi-lo falar sobre o
gênio cearense que conquistou o mundo e que, assim como Benedito Vasconcelos
Mendes, levou o nome da cidade natal a patamares elevados do respeito mundial.
Benedito
Vasconcelos Mendes, grande sábio do semiárido, pessoa da minha mais alta
estima, compadre, amigo particular e colega dos quadros da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte, destaca-se, acima de tudo, por ser uma figura
humana com poucos precedentes nos anais da história sertaneja, pois ao lado de
Jerônimo Vingt-un Rosado Maia, Nilo Coelho, Felipe Guerra, Paulo Guerra,
Guimarães Duque, Joaquim Osterne Carneiro e outros, vem notabilizando-se pela
luta sem trégua em prol da região e da grande gente sertaneja.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial
(UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente (PRODEMA/UERN).
http://blogdomendesemendes.blogspot.com