Meses depois
de Antônio Ferreira matar covardemente o velho Zé Nogueira, Lampião e seus
cabras atacam novamente a Serra Vermelha, desta vez estão no alvo de Lampião e
seus cabras os vinhos do velho Nogueira, Raimundo e Luís.
Um ataque
enfurecido e uma resistência heróica, assim se dá mais uma triste e emocionante
história nas hostes cangaceiras.
Em setembro de
1931 Lampião, sequestra o escrivão cartorário da, Vila de Capim Grosso, atual
Curaçá, Bahia e pede um resgate de quatro contos de Reis, o pagamento e feito
porém Lampião, o deixa a própria Sorte, nas mãos de seus cangaceiros, lugar
TNT, Corisco que exige, novo pagamento, que a esposa do cartorário se vira pra
pagar, existe várias, publicações, que afirmam, que o cartorário, Domiciano
Pereira da Silva, teria sido morto, por Corisco, espedaçado, coisa não foi
verdade, pois ele aprece no dia 16/09/1931 dando uma entrevista, ao jornal a
Noite, tem até vídeo que diz que, Zé Baiano a pedido de um casal o teria
trucidado, e muita mentira e invenções.... Adelso Mota, Historiador contador de
história do Cangaço na Bahia e na nossa região
Sou de uma família que foi vítima da ação de cangaceiros, através de um assalto ocorrido no dia 1 de fevereiro de 1927, na zona rural do município de Acari, na região do Seridó do Rio Grande do Norte. Sou bisneto de Joaquim Paulino de Medeiros, o conhecido “Coronel Quincó da Ramada”, proprietário da gleba Rajada, atacada nesse dia pelo bando do paraibano Chico Pereira e seus homens.
Desde tenra idade esse tema foi algo muito presente em diálogos familiares e em momentos de recordações sobre a nossa história familiar. Mas em 1991 o meu conhecimento sobre o Cangaço, esse tema tão específico da história do Nordeste, se limitava a alguns filmes, matérias televisivas e alguns poucos livros, que até hoje se encontram na estante da minha casa.
Nessa época, como até hoje, eu buscava aprender mais sobre o Cangaço e tentava compreender porque meus antepassados foram atacados. Mas era então tudo muito limitado.
Foi quando em 1991 aconteceu algo que chamou muito a minha atenção – A notícia da ocorrência de um plebiscito na cidade pernambucana de Serra Talhada, onde a sua população deveria decidir sobre a colocação, ou não, de uma estátua para o cangaceiro Lampião, em uma área pública do município.
A ideia partiu de uma fundação local, que desejava com isso prestar uma homenagem ao maior bandoleiro nordestino, nascido na antiga Vila Bela, atual Serra Talhada. Mas as famílias das vítimas de Lampião, algumas delas das mais tradicionais da cidade, rejeitaram a proposta.
Com toda a polêmica que se seguiu, a prefeitura local buscou promover uma consulta pública para que a população decidisse sobre o caso.
Morando em Natal em uma época onde a internet ainda era limitada, tentei acompanhar da melhor maneira todo o desenrolar do processo, inclusive através dos jornais, TV e rádios. Mas as informações eram difíceis. Logo surgiu outra surpresa – O alcance da repercussão e de todas as polêmicas do caso junto à imprensa nacional!
Os principais jornais, revistas e emissoras de televisão no Brasil colocaram o tema na pauta e a cidade de Serra Talhada foi alçada as manchetes dos principais meios de comunicação.
No dia 7 de setembro de 1991 houve o processo de votação. Ao final a Justiça Eleitoral, que se envolveu no plebiscito, declarou que 76% dos eleitores votaram pelo “sim”, contra 22% do “não” e 0,8% de abstenções. Mas a estátua de Lampião, da forma como foi pensada em 1991, nunca foi construída.
Para alguns essa votação buscou criar o uso mercadológico da memória de Lampião e do Cangaço naquela cidade. Entretanto foi inegável que para alguém como eu, que vivo há quase 600 km de Serra Talhada, aquele processo despertou em mim um maior interesse por estudar e conhecer mais sobre esse tema. Desejava sair urgentemente da simplória questão “-Lampião foi herói, ou bandido?” Um amigo sociólogo já tinha me dito que “Para entender o Cangaço eu precisava fugir desse discurso rasteiro e polarizado e sair pelas estradas do sertão”. Tinha razão!
Não foi a toa que um dos primeiros lugares que viajei para fora do Rio Grande do Norte com esse intuito tenha sido a área de Serra Talhada e Triunfo. Lugares para onde voltei muitas vezes, continuo com vontade de retornar e fiz ótimas amizades. E nem me chateei quando descobri que toda essa onda de plebiscito para colocação da tal estátua, foi inicialmente uma ideia da fundação para vender turisticamente a cidade de Serra Talhada. Parece que os resultados positivos extrapolaram muito o que se desejou.
Nessa busca por conhecer mais e mais sobre o Cangaço eu não perdi nada. Acabei descobrindo muito além das polarizadas polêmicas que tratam das sangrentas lutas dos cangaceiros.
Descobri as belezas e os problemas da minha região. Descobri a força da nossa gente, do colorido do Nordeste, bem como as histórias de Padre Cícero e de Leandro Gomes de Barros. Descobri Canudos, o belo Rio São Francisco, muito mais do Seridó e das minhas raízes. Descobri também Luiz Gonzaga e Exu, o Beato José Lourenço do Caldeirão, o Pajeú, o Piancó, a Missa do Vaqueiro de Serrita. Descobri Clementino Quelé, Jesuíno Brilhante e Patu, o Saco dos Caçulas em São José de Princesa, a rota de Lampião no Rio Grande do Norte para atacar Mossoró e muito mais.
Independente das polêmicas envolvidas em 1991, do resultado final da votação, da ideia de quem ganhou e de quem perdeu com o pleito, ou se a imprensa manipulou negativamente o plebiscito, ou das consequências para a política local, para o turismo da região e para a identidade da cidade de Serra Talhada, eu acho que aquele evento eleitoral, que logo completará 30 anos, teve como maior mérito colocar toda uma comunidade nordestina debatendo sobre uma determinada figura histórica e sobre um período de sua história.
Não sei se esse tipo de situação ocorrida em Serra Talhada foi um episódio inédito no Nordeste e nem sei dizer se houve nessa parte do Brasil outros debates sobre temas históricos que tenham gerado tanta movimentação. Por isso acho que vale a pena comentar e recordar o que ocorreu no sertão de Pernambuco em 1991.
Concordo quando dizem que a memória de um lugar não é para se tornar mercadoria barata e nem ser mercantilizada de qualquer jeito. Mas não posso esquecer que não foi só na cidade de Serra Talhada que Lampião se transmutou de bandido para patrimônio cultural e turístico. Um exemplo está no meu Rio Grande do Norte. Mesmo sem plebiscito, a cidade potiguar de Mossoró também buscou uma utilização cultural e turística em relação a memória do ataque que sofreu do bando de Lampião em 13 de junho de 1927. Essa iniciativa até hoje é um sucesso!
Por esses dias, mexendo nos meus antigos, amarelados e preciosos papéis sobre história da minha região, encontrei uma página do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, que muito chamou a minha atenção na época. Adianto para os que conhecem mais sobre o tema Cangaço que a jornalista Letícia Lins cometeu deslizes em relação à história de Lampião. Mesmo assim eu decidi transcrever para os leitores do TOK DE HISTÓRIA esse texto, para trazer um pouco da efervescência que envolveu aquele plebiscito em 1991.
ESTÁTUA DE LAMPIÃO DESPERTA AMOR E ÓDIO NO SERTÃO
Texto – Letícia Lins
JORNAL DO BRASIL, domingo. 11 de agosto de 1991, 1º Caderno, página 17.
S E R R A T A L H A D A. PE — “Nem herói, nem bandido, é história. Diga sim a Lampião”. Petista, fã de Karl Marx. Che Guevara e Fidel Castro, o ator Anildomá Williams, autor da inscrição pichada nos principais muros de Serra Talhada, já decidiu: com roupa azul, adornada com lenço vermelho no colarinho, embornal, cartucheira, chapéu de couro e rústicas sandálias, vai fazer boca de urna para ninguém menos que Virgulino Ferreira, o famoso Lampião, em plebiscito no próximo dia 7 de setembro, nesta cidade sertaneja, a 497 quilômetros do Recife.
O plebiscito, coordenado pela Casa de Cultura de Serra Talhada, tem um objetivo simples: consultar a população para saber se Lampião, o filho mais polêmico da terra, tem direito a estátua em Praça Pública, na cidade de onde partiu quase menino para o cangaço e a fama. A iniciativa movimenta gente como Anildomá, divide os 100 mil habitantes de Serra Talhada, desperta controvérsias nas cidades vizinhas, provoca irados editoriais em jornais de Pernambuco, Bahia, Alagoas e fez chegar uma enxurrada de cartas à Casa de Cultura, algumas de estados distantes, como o Pará. Não é Para menos: agitador do início do século, homem destemido que enfrentou a polícia e os coronéis de sete estados nordestinos, entre caminhos trilhados a pé no meio dos espinhos da caatinga, Lampião ainda hoje desperta ódios e paixões. É tido como um justo pelos sertanejos, às vezes, como um demônio. Outras, como um deus.
Cinquenta e três anos após sua morte seus conterrâneos falam dele como uma lenda viva, e não escondem a expetativa diante do plebiscito, do resultado ainda imprevisível, com muita gente a favor, muitos contra e quase ninguém neutro. Pesquisa do jornal mensal Correio do Vale, na qual não foram computados os votos brancos nem nulos, mostrou que 55,06% da população se posicionam a favor da estátua, enquanto 4,94% se colocam contra. Não é preciso apelar para os números. Uma circulada pelo Fórum, igreja, praças e sítios mostra que a divisão está em todos os lugares, até mesmo na prefeitura. “Tenho oito secretários e só dois são contra a estátua, porque suas famílias foram perseguidas por Lampião”, diz o prefeito Ferdinando Feitosa (PFL), sem esconder um elogio rasgado ao cangaceiro: “Mais do que um bandido, ele foi um produto do seu tempo, espezinhado e maltratado por seus ricos vizinhos fazendeiros”. Ardoroso defensor da colocação da estátua em praça pública, o vice-prefeito Giovani Santos de Andrade Oliveira diz que os motivos que empurraram Lampião para o cangaço ainda hoje fomentam inimizades no Nordeste; “Terra e honra no sertão viram questão”, justifica. Os dois receberam sinal verde do principal líder político da cidade, deputado federal Inocêncio Oliveira (PFL-PE), para apoiar o pleito.
De fuzil em punho — Lampião é história, só que fez a história de forma diferente, de fuzil em punho — afirma Tarcísio Rodrigues, presidente da Casa de Cultura e organizador do plebiscito. A consulta popular já despertou o protesto do juiz José Machado de Azevedo, que promete lavar as mãos; — Uma estátua de Lampião é uma apologia do crime. — Diz que sua atuação se limitará a fenecer urnas virgens para o pleito, de consequências imprevisíveis, segundo ele.
É ruim exaltá-lo numa terra onde andar com revólver na cintura ainda é simbolo de status e demonstração de machismo. 0 promotor Euclides Ribeiro de Moura Filho, um cearense que anda com uma cópia da certidão de nascimento de Lampião na bolsa, discorda do juiz: — Não se pode olhar a figura de Lampião apenas à luz do direito. É necessário considerar-se o momento histórico em que ele viveu, quando as volantes da polícia que desbravavam o sertão também despertavam o medo na população — encerra o representante do Ministério Público.
Lampião – Da briga com os Nogueira ao cangaço
“Cabra macho, que merecia morrer na ponta do fuzil, e não na covardia”, para o ex-volante Luís Flor, que lutou contra o cangaço durante quatro anos; “menino bom. Mas doido”, para o padre Cícero Romão, e um “príncipe”, para Antônio Silvino, cangaceiro que durante quase duas décadas reinou absoluto no sertão, Virgulino Ferreira era o terceiro de uma prole de oito irmãos, cinco homens e três mulheres. Nasceu na localidade de Serra Vermelha, antigo município de Vila Bela, Hoje transformado em Serra Talhada.
Como todos os pequenos proprietários do sertão do Pajeú, o patriarca José Ferreira e sua mulher viviam do plantio de milho, feijão e de algumas cabeças de gado. A produção era alternada; colhia-se nos anos de bom inverno e se perdia tudo durante a seca. Mas isso não chegava a desanimar os Ferreira, principalmente Virgulino. Ao ver o roçado esturricado, ele juntava 14 burros e saia cortando as estradas poeirentas do sertão, vendendo mercadorias de cidade em cidade, voltava com os caçuás (cestos de cipó) vazios, mas de bolsos cheios. A profissão, ainda hoje, é conhecida no Sertão e tem dois nomes: tropeiro ou almocreve.
Por esse motivo, desde menino Lampião começou a chamar a atenção dos pais, dos vizinhos e dos sete irmãos. Pouco a pouco foi mostrando outras habilidades, não só de bom mercador. Confeccionava artesanato em couro, principalmente arreios de montaria, e vendia nas feiras. Foi um pequeno episódio, comum no sertão, onde qualquer besteira se transforma em questão de honra, que fez tudo mudar, segundo lembram, hoje, não só os Ferreira, como os Nogueira, o clã inimigo.
Chocalhos — Ferreira e Nogueira eram vizinhos. Um parente dos Nogueira, José Saturnino, se mostrou “despeitado” quando viu que o gado dos Ferreira andava na caatinga com uns chocalhos bonitos, dourados, comprados em Juazeiro do Norte, no Ceará. Até então, todos os chocalhos que chegavam à fazenda Serra Vermelha eram negros e sem graça. No sertão — onde o gado é criado sem cercado — o chocalho funciona como um meio de o vaqueiro localizar bois, vacas e cabras. Saturnino amassou o chocalho do gado dos Ferreira, que perderam bois e vacas. Para não ficar por baixo, os Ferreiras deram o troco, amassando chocalhos do seu gado. Saturnino não gostou; capou o cavalo de Virgulino. Virgulino cortou os rabos das vacas de Saturnino. A briga cresceu e o juiz de Vila Bela obrigou os Ferreira a se mudarem. Foram morar no distrito de Nazaré, hoje Carqueja, com uma condição; nem visitavam Serra Vermelha, nem Saturnino entrava em Carqueja. Saturnino quebrou o acordo e os Ferreira não gostaram.
Começaram a fazer arruaças em Carqueja. Foram obrigados a se mudar, desta vez para Alagoas, onde um amigo de Saturnino — a pedido deste — matou o pai de Virgulino e feriu um irmão. Virgulino decidiu vingar-se. Integrou-se ao bando do cangaceiro Sinhô Pereira e depois começou a agir por conta própria, com seu próprio bando. Seu poder cresceu, ele passou a ser temido até pelos governadores. Em 1926, chegou a propor ao governo de Pernambuco dividir o estado em dois: à capital caberia a administração do litoral, enquanto ele reinaria, sozinho, no Sertão. De cangaço em cangaço, Lampião terminou por ter a cabeça colocada a prêmio por 50 contos de réis. Em 1938, seu bando foi desarticulado, ele e seuscompanheiros foram degolados e suas cabeças exibidas em praça pública.
Voto a favor do compadre
Ela tem 92 anos, quase não anda, não gosta de falar muito, mas há um assunto que sempre a empolga e sobre o qual, dependendo da disposição e da saúde, discorre horas seguidas: a vida e morte do compadre Virgulino Ferreira, seu querido Lampião. Ela quer mais é ver a estátua dele na principal praça da cidade, ou no topo da montanha mais alta da serra que dá nome ao município.
— Não botaram a estátua do padre Cícero no Juazeiro? Por que não Lampião aqui? Ele não era tão bom quanto o padre Cícero — diz Especiosa Gomes de Luz, que nunca apareceu em jornal, revista, nem foi ouvida por sociólogos, antropólogos, que costumam derramar ciência e erudição sobre o Cangaço. Para ela, Lampião não passou de um justiceiro: “Ele tirava de quem tinha muito para dar a quem não tinha nem um pouco”. Conta que costumava costurar para o bandido e o bando, e que ele nunca se utilizou da amizade para pedir abatimento no preço das roupas: “Ele pagava muito e bem, e ainda dava os retalhos para fazer calções para os meninos”.
Especiosa guarda boas recordações do Cangaço: “Quando Lampião chegava com seu bando, era uma festa, os pais confiavam, davam as moças para os rapazes dançarem com elas, e Lampião nunca descasou nenhuma”. Ela mostra que as volantes – forças policiais do governo que combatiam o cangaço – despertavam mais medo e eram mais violentas que cangaceiros; “Quando eles vinham, faziam incêndios, acabavam com tudo”. Relata que muitas vezes Lampião deu dinheiro a quem não tinha – Para festa de casamento, batizado e até compra de terra – e diz que não chorou quando soube da morte dele: “Já estava degolado, não adiantava chorar. Só fiz rezar por ele”.
Marca de bala depõe contra
Luís Alves Nogueira tem 86 anos, anda com dificuldade, com auxílio de UMA bengala, já não enxerga por um olho e tem alguns lapsos de memória. Mas há um fato que presenciou a 65 anos que ele recorda com a nitidez de um filme em cores; a invasão da Fazenda Serra Vermelha por Lampião e seu bando, quando os Nogueiras reagiram a tiros contra os cangaceiros, em uma luta sangrenta que durou sete horas.
— Eles bandalharam tudo, queimaram a casa da fazenda, incendiaram o gado ficou tudo uma carniça só — conta, na casa grande da Fazenda Serra Vermelha, que ainda hoje ostenta nas paredes as perfurações de bala daquele tempo, e que guarda como troféus de resistência os torrões de barro que sobraram do ataque a fogo a sua residência. Domingos, filho de Luís, é contra a estátua de Lampião cm Serra Talhada: “Por que não a de padre Cícero? Indaga ele, que costuma visitar com o pai a cova do avô, morto por Lampião dia 26 de fevereiro de 1926.
Aquele foi o resultado da volta do cangaceiro às terras da qual praticamente havia sido expulso por influência do fazendeiro José Saturnino, na década de 10. O patriarca José Ferreira e os oito filhos foram obrigados a se mudar para a localidade de Nazaré hoje distrito de Carqueja, município de Floresta. Depois, mais vez foram tangidos para Alagoas, onde o tenente José Lucena – amigo de Saturnino – matou o pai e feriu um amigo de Lampião. Foi a gota d’água. Virgulino, que já havia se integrado ao bando de Sinhô Pereira, outro histórico cangaceiro, e jurado por ter a pistola como advogado — por não ter encontrado um que o defendesse nas questões de terra de Serra Talhada, resolveu se vingar. Pescado no Tok de História
Um trabalho de cerca de dois anos de pesquisa, para um resultado documentado da história do município de Aurora. Importantes momentos são contados no livro "Venda Grande D´Aurora", do professor João Tavares Calixto Júnior. O autor é natural da cidade e pretende, com o livro de 300 páginas, deixar para os pesquisadores e estudantes uma fonte que mereceu um trabalho exaustivo.
A descrição de grandes acontecimentos de forma exaustiva, como a invasão da cidade por cangaceiros, promovendo uma verdadeira carnificina e a morte de grandes personalidades, como o da mártir Francisca, venerada por uma grande parcela da população como santa, estão descritos no trabalho. Os assassinatos que repercutiram e marcam a história da cidade, em alguns casos, têm até registros dos processos.
O autor destaca a importância de levar às novas gerações os registros dos principais acontecimentos, no sentido de contribuir para engrandecer a cidade. "Quero deixar essa mensagem, de que não precisamos ficar no ostracismo", afirma. Resgatar essas passagens históricas, muitas vezes fez o autor se deslocar para outras cidades, à procura de documentos. "Um mergulhar nos acervos para resgatar, de forma mais abalizada, todo o processo de construção da cidade e suas grandes personalidades", diz o escritor.
O livro, segundo ele, traz os principais apanhados históricos da cidade, de forma cronológica, desde a data da concessão da 1ª sesmaria, de 1702, até o ano da comemoração do primeiro centenário do município, em 1983. O trabalho, enfatiza o professor, é um traçado baseado em documentos histórico. "É um livro científico, em que se pretende trazer questões, não dentro de um registro oral ou apenas voltado ao aspecto folclórico, misticismo ou populismo", explica. Para João Calixto, Aurora é um município que contribuiu em vários segmentos para o cenário cearense e mundial, com as atividades do seus filhos ilustres, e tem a história contada de forma fragmentada.
A morte do filho de Bárbara de Alencar, padre Carlos José dos Santos Alencar, aconteceu em uma área que hoje é território do município de Aurora, no Sítio Serra dos Macacos. A hecatombe de 1908, conhecida como uma das maiores tragédias do coronelismo em nível de Nordeste, foi registrada na cidade. Aurora foi invadida por 600 cangaceiros, onde houve uma verdadeira carnificina. Segundo o autor, os cangaceiros vieram a mando de diversos coronéis, que se juntaram com armamentos e homens para a derrubada do coronel de Aurora, Teixeira Neto, em virtude de uma vingança política provocada pela morte de um filho de Marica Macedo. Essa história era contada antes de forma fragmentada, conforme Calixto. Na obra, há a transcrição de muitos historiadores, mas de forma detalhada.
O livro também traz autos de inventários de diversas personalidades, autoridades antigas, os primeiros moradores, as atas das sessões da Câmara, os livros de tombo das paróquias, registros de batismos e casamentos. Todo esse material foi pesquisado, no intuito de se deter a uma análise da genealogia dos primeiros moradores do município.
Outro crime de repercussão detalhado no livro, além da morte da mártir Francisca, em 1958, conhecida como santa popular em Aurora, aconteceu em 1874, quando o padre Joaquim Machado da Silva foi acusado de assassinato na Vila das Lavras. Ele chegou a ser preso e condenado por tirar a vida de um homem, com um golpe de faca no peito. O assassinato está detalhado no livro, com base no processo original, encontrado no arquivo público do Estado. As páginas foram fotografadas, com transcrição para o livro. O lançamento contará com a presença de escritores, personalidades de Aurora, amigos familiares e entusiastas dessa história da cidade.
"Venda Grande D´Aurora", de João Tavares Calixto Júnior. Para adquirir este livro entre em contato com o autor através do email: joaojrbio@gmail.com ou dos fones (88) 3511-2430 / 9906 - 3789.
Antônio Silvino foi o primeiro Rei do Cangaço, pernambucano de Afogados da Ingazeira, aderiu à vida de bandoleiro para vingar a morte do pai. Homem temido no Nordeste, principalmente nos Estados do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
O cangaceiro Antônio Silvino não gostava de cobradores de impostos, através de amigos tomou conhecimento que no povoado de Parelhas seria instalado um posto de coleta de impostos.
Não gostou nada da notícia, e logo que pode se dirigiu ao lugar para se inteirar da novidade. Naqueles dias o povoado estava com seu policiamento mais reduzido que o normal, estando no local um cabo e três soldados. Silvino invadiu a cidade e se dirigiu a delegacia, encontrando no local, somente um soldado, que não o conhecia pessoalmente.
Perguntou pelo comandante, o soldado respondeu que seu chefe estava em casa. O cangaceiro mandou chamá-lo, pois quem estava ali era o capitão Antônio Silvino e desejava vê-lo urgentemente.
O soldado tomando conhecimento de quem se tratava, foi correndo chamar seu superior, voltando logo em seguida acompanhado do cabo Alfredo de Souza. Com o militar na sua presença o cangaceiro perguntou áspero e arrogante:
- Não me esperava?
- Não senhor. Respondeu o cabo sem titubear.
- E se soubesse iria me esperar?
O cabo demonstrando uma coragem impressionante respondeu:
- Sim, esperaria junto com os meus soldados, porque esse é o meu dever.
O Cangaceiro Antônio Silvino gostou da franqueza e coragem do cabo, encerrou a entrevista. Entretanto disse que precisava de dinheiro, conseguisse junto aos comerciantes da localidade uma , determinada quantia.
Não houve alteração no povoado, depois de feita a coleta, o cangaceiro e seu grupo retiraram-se para outras paragens. A coragem do cabo Alfredo, talvez tenha evitado uma tragédia, aquele lugar livrou-se de presenciar atos de barbaridade e violência.
A polícia no sertão também era formada de homens corajosos e valentes.
*Escritor e pesquisador do cangaço, atual Presidente da SBEC (Soc. Bras. Estudos do cangaço).
"Vamos sambar minha gente até o sol raiá, que já mataram Corisco e balearam Dadá"...
Não poderia deixar passar em branco uma data como essa, muito importante para a história de Barra do Mendes.
Em 25 de maio de 1940, há exatamente 75 anos, era capturado na Fazenda Pacheco, distante 10 km da sede do município de Barra do Mendes, o Cangaceiro Corisco e sua mulher Dadá. Corisco, Dadá, Rio Branco, Florência e a menina Zefinha, chegaram na Fazenda do Velho Zé Pacheco, dia 23 de maio, uma quinta-feira e nessa mesma noite faleceu Leogera, filha do dono da casa.
Na sexta-feira, dia 24, Corisco e Dadá acompanharam o cortejo fúnebre até a Vila de Barra do Mendes, onde Leogera foi sepultada no “Cemitério Novo”.
No sábado, dia 25, Corisco, que estava arranchado na casa de farinha da propriedade, encomenda a Zé Antonio Pacheco, um homem, já de 41 anos de idade, e não um rapaz como contam, que lhe trouxesse da feira livre do Arraial de Barro Alto, os mantimentos necessários para seguirem viagem, pois dizia ele que eram romeiros com destino a Bom Jesus da Lapa. Acontece que no Barro Alto, Zé Antonio se depara com a volante do Tenente Zé Rufino, que indaga acerca dos “romeiros, e ao receber informação precisa de onde estavam, intimida Zé Antonio e outros a o levarem a dita localidade. Já chega atirando, sem dar chance de fuga. Dadá é baleada no pé e Corisco alvejado por uma saraivada de tiros, ficando imobilizado no local.
Corisco agoniza gravemente ferido.
Não morreu na hora. O outro casal, Rio Branco e Florência, estavam na Lagoa do Soldado lavando roupa, por isso ao ouvirem a “pipoca” aproveitam a distância e fogem, indo parar em...
A volante leva Corisco e Dadá, mas o cangaceiro morre na estrada e é sepultado em Miguel Calmon. Dadá é operada e levada para Salvador, onde morreu já idosa.
Durante muito tempo, se ouviu muitas histórias acerca da permanência de Corisco em Barra do Mendes, o que na verdade não passam de invencionices do nosso povo sertanejo. Ora, se eles não ficaram nem 72 horas por aqui, como daria tempo para tantas aventuras contadas? E como fugitivos, o que mais queriam eram garantir ao máximo o anonimato, dariam tanta chance para estarem em evidência?
O certo é que, em terras de Barra do Mendes, teve fim um dos mais avultados movimentos do nordeste brasileiro, O CANGAÇO. Aqui tombou o vingador de Lampião, o Diabo Loiro. No entanto, não obstante a importância do fato, o local onde tudo isso aconteceu, a Fazenda do Velho Zé Pacheco, continua lá, sem nenhum marco, sem nenhuma identificação. Não existe mais vestígio algum da casa de farinha. Os atuais donos da propriedade, uma neta do Velho Zé Pacheco e seu esposo, sempre recebem muito bem as pessoas que lá vão em busca de conhecer o local, mas nada mais podem fazer além disso.
Um retrato artístico de José Pacheco
Ao longo desses 75 anos, nada fora feito por nenhuma esfera governamental afim de preservar e de garantir as futuras gerações o direito ao acesso daquilo que lhe é garantido por Lei. Nossa história carece de mais estudo, merece mais atenção! Liandro Antiques