O cangaço
seguia sua ‘estrada’ pelo Sertão nordestino, quando, em certa ocasião
ocasiona-se um grande combate entre grupos cangaceiros. No Pajeú pernambucano.
Na região do
Navio, existia um chefe cangaceiro, Cassimiro Honório, que, segundo os
pesquisadores/escritores, agiu de maneira ‘diferente’ daquela que os
cangaceiros fizeram, principalmente, na época tida como ‘segunda fase do
cangaço’, pós o ataque à cidade de Mossoró, RN.
Naquele tempo,
não só Honório, como muitos outros catingueiros não viviam exclusivamente da
‘espingarda’, apesar de serem cangaceiros. Eram homens rudes, valentes e
corajosos, mas, acima de tudo, tinham palavra.
Alguns
cangaceiros que viveram antes do período lampiônico tinham alcunhas, apelidos,
diferente daquelas que estamos acostumados a ver como “Bigode de Arame”,
“Canela Suja”, “Zé Boi”, "Rajado" e etc.. No entanto, também já
usavam algumas que foram ‘herdadas’ por diversos outros, como exemplo
“Criança”.
Cassimiro
Honório tinha uma filha, Melânia, e um catingueiro de sangue no olho, José de
Souza, por quem tinha se apaixonado, e vice-versa, resolveu “roubá-la”, já que
seu pai não permitira o namoro. Marcaram a data e fugiram. José de Souza era um
desses cidadãos que se envergonham de certos atos. Mesmo tendo fugido com a
moça, a deixa em casa de um amigo a não tem relação sexual com ela. Isso
ficaria para depois que casassem. Mostrando respeito com ela e família.
Esse tipo de
atitudes, roubar uma moça, quando ocorrida nas quebradas do Sertão, não foram
raras, davam uma encrenca da peste. O pai da moça, fugida com José de Souza,
chama seus ‘cabras’ e partem em busca de resgatar sua filha. Entre o ‘ladrão’ e
ele deram-se brigadas, tiroteadas, que ficaram na história. Honório consegue
eliminar familiares de José de Souza, mas, não conseguiu abate-lo. Pelo
contrário, segundo alguns autores, ele referiu que se soubesse que José de
Souza era um homem sem medo e de uma valentia tão grande, o tinha aceitado como
genro. Porém, termina por encontrar sua filha e a leva de volta para casa.
O cangaceiro
“Bigode de Arame”, que, na verdade era Antônio Matilde, irmão bastardo de José
Ferreira, pai de Virgolino, e seu companheiro “Canela Suja”, Antônio Pedro,
certa ocasião, sendo o primeiro a ser nomeado Inspetor de Quarteirão, e o
segundo subdelegado, nomeados pelo Juiz que trabalhava, exercia sua função, na
Comarca de Floresta, PE, tem a missão de irem prender três cangaceiros
perigosos de nomes Generino, “Zé Boi” e Joaquim Gabriel.
Esses três
‘cabras’ prestavam seus serviços para José de Souza. O mesmo não achou nada
engraçado essa ordem das autoridades, e o ‘clima’ escurece para aquelas bandas.
O mundo se fecha e as espingardas 'falam' no lugar dos homens.Tirotearam por
diversas ocasiões ficando uma intriga muito grande. Mais tarde, tanto Matilde quanto
Pedro, largam aquele ‘serviço’, formam seus bandos e, como chefes
independentes, vão assolando o sertão. Após isso, os homens dos bandos, de
Matilde, de Pedro e de José de Souza, começam uma disputa entre eles. A partir
daí, orientado por um tio, José de Souza parte para agressão contra seus
rivais... e seus rivais tramam contra ele uma emboscada na sede da sua fazenda.
Bigode de
Arame e Canela Suja sabedores do que ocorreu entre José de Souza e Cassimiro
Honório, vão tentar a adesão desse na briga contra Souza. O que conseguem.
Então, em pouco tempo, tem-se um embate que durou uma semana inteira. Sete dias
de cercadores e cercados lutando, trocando tiros, sem arredarem o pé.
“(...) Essa
associação de combatentes atuou nos anos de 1909 e 1910 e quase acabou com José
de Souza no combate mais famoso da região (...).’ (“O CANTO DO ACAUÃ – Das
memórias do cel. Manoel de Souza Ferraz (coronel Manoel Flor)” – FERRAZ, Marilourdes. 4ª Edição
Revisada e Atualizada. Edições Bagaço. Recife. 2012).
Essa ‘brigada’
realizou-se na fazenda São Gonçalo, de propriedade de José de Souza. Ela
perdurou por uma semana inteira. Sete dias ininterruptos de sitiados e
sitiantes com únicos objetivos, acabar uns com os outros.
Em toda batalha, combate, conflito e luta entre os seres humanos, por mais
banais que sejam, ocorre, quase sempre, algum fato que retira a razão, a
crueldade e serve como exemplo por estarem praticando atos desnecessários.
Principalmente ferindo-se mutuamente...
Havia, dentre
os sitiantes, um cangaceiro que prestava seus ‘serviços’ para Cassimiro
Honório, alcunhado de “Rajado”, que na verdade era José Davi, que, não sabe-se
o porque, pratica um ato que, acreditamos, seja esse o motivo da famosidade
desse embate ser perpetua.
A palavra
Cangaceiro, ainda hoje, para muitos, ou em muitos, já causa revolta, raiva,
menosprezo e outros adjetivos. Naquele tempo, além destes, havia o pior de
todos, o medo. Porém, já no amanhecer do terceiro dia de luta, onde, tanto
aqueles que estavam dentro da casa, quanto aqueles que a cercavam, não
mostravam nenhuma intenção de desistirem, Rajado escuta um choro vindo de
dentro da casa. Uma criança se despedaçava em gritos sem parar. O cangaceiro
sentiu necessidade de fazer uma coisa a mais para calar aquela inocente. Ergue
os braços, começa a falar para pararem de atirarem todos. A atitude do
cangaceiro Rajado causa espanto em todos, tanto em seus companheiros como em
seus inimigos. Todos cessam o fogo, dão uma trégua para escutarem o que teria a
dizer aquele homem rude, valente e bruto...
Fora feito ali
próximo do local da luta um curral, e nesse, algumas criações. Aos gritos, o
cangaceiro Rajado pede garantia aos de dentro da casa para ir ordenhar algumas
cabras a fim de retirar e trazer o alimento para a criança. Os de dentro da
casa aceitam, José de Souza dá a garantia pedida. Rajado encontra uma vasilha,
entra no cercado retira o leite das cabras, volta e coloca no pé da porta, no
batente da casa, o recipiente com o leite para o bebê. Todos, cercados e
cercadores, assistem aquela ação, aquele ato sem entenderem direito o que
ocorre para fazer o cangaceiro tomar aquela atitude. E após alguém recolher a
vasilha com o leite, em pouco instante ninguém escuta mais a criança chorar.
Então o tiroteio recomeça tão intenso como estava antes do “intervalo”.
José de Souza
a tudo assistiu através da ‘torneira’ em que se encontrava. Rajado ao passar
pelo terreiro da casa com a vasilha com o leite, Souza o observava
detalhadamente, nota que suas vestes estão em farrapos, e quando chega o
momento de retirar-se, após sete dias de batalha, deixa, em agradecimento, no
buraco da torneira em que se encontrava seu paletó, novo e inteiro, em um gesto
de agradecimento ao cangaceiro “Rajado”.
“(...) Na
ocasião, José de Souza constatou que o paletó de “Rajado” estava surrado e
rasgado em muitos pontos... (...).” (Ob. Ct.).
Após muitas
tentativas de ajudar, dos vizinhos socorrem, a fim de furarem o cerco colocado
na residência de José de Souza, chega à ocasião em que se consegue uma
“brecha”, entram e salvam o pessoal sitiado. Esse cerco ocorreu durante a
Semana Santa e ficou conhecido na História como: “O Combate dos Sete Dias”...
Nas quebradas do Sertão do Pajeú das Flores.
PS// FOTO DE
UM CANGACEIRO COM AS VESTE QUE USAVAM ANTES DA ERA LAMPIÔNICA - "Um típico
cangaceiro nordestino na década de 1920" (Bog Ct.)
Fonte: facebook
https://www.facebook.com/groups/545584095605711/?fref=ts
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