Por Everton Dantas
Jararaca, cemitério São Sebastião, Mossoró. Arte: Keops Ferraz/OP9
Conheça a
história de José Leite Santana integrante do bando de Lampião que renasceu no
imaginário popular como santo capaz até de fazer uma pessoa ganhar na loteria.
Em 19 de julho
de 1927, numa noite clara, José Leite Santana na época com 26 anos, foi
retirado de uma cela onde estava preso na cidade de Mossoró. A informação que
lhe deram foi que ele seria transferido para Natal, onde receberia cuidados
médicos: ele havia sido baleado próximo ao pescoço e na perna.
No caminho,
coincidentemente, o veículo quebrou em frente ao cemitério São Sebastião. José
então foi conduzido por soldados armados até uma cova aberta. Lá, foi baleado e
jogado no buraco.
Em algumas
versões dessa história, teria sido enterrado vivo. Em outras, antes de morrer,
fez questão de afirmar que era “um dos homens mais corajosos que já havia
pisado no…”. A frase jamais foi terminada, pontuada por um tiro na cabeça ou
uma coronhada.
Há ainda
outras versões nas quais ele próprio teria cavado sua cova e que além dele
também pensaram em matar o coveiro, que viu tudo.
De um modo ou
de outro, todas as histórias têm em comum o relato da crueldade com a qual foi
morto. E isso acabou semeando sua história num terreno ocupado por poucos,
o dos milagreiros nordestinos.
Imagem da
prisão de Jararaca, feita em 1927. Foto: Reprodução/J. Otávio
Mas isso não
seria possível se José fosse só mais um, sem carinho ou discurso. José
floresceu santo na morte porque em vida foi um dos cangaceiros mais temidos de
Lampião, o Jararaca, preso durante a tentativa do bando de invadir Mossoró, em
1927.
Há relatos de
que ele foi baleado quando tentava despojar outro cangaceiro, Colchete, esse
sim morto durante o conflito. Depois de ter sido ferido, foi capturado e ficou
para trás após o grupo de cangaceiros ser derrotado pelos moradores de Mossoró.
A forma cruel
como foi morto e sua coragem diante da cova aberta – esse relato – ganhou credibilidade
graças a uma entrevista dada por um dos policiais que participou do
assassinato. Diante da valentia do cangaceiro, a ação policial acabou sendo
tachada de covarde.
Com o tempo, a
tradição oral e a imprensa escrita espalharam os feitos de sua vida e o relato
de sua morte. Quando esse efeito encontrou-se com o das orações feitas por sua
alma, erigiu-se o culto.
Em 1976 túmulo
de Jararaca já era o mais procurado
Há muitos
anos, seu túmulo, destaque no cemitério de São Sebastião, é o mais visitado. O
registro mais antigo dessas visitações encontrado no acervo do extinto jornal
Diário de Natal é do dia 5 de novembro de 1976. Foi feito numa reportagem sobre
o Dia de Finados em Mossoró, com o título “Muita gente foi rezar no túmulo do
cangaceiro”.
No texto é
relatado que das cerca de 20 mil pessoas que foram ao cemitério São Sebastião,
milhares visitaram o túmulo do cangaceiro. E que “de alguns anos pra cá” a
popularidade da sepultura teria crescido “depois das primeiras manifestações
tidas como milagreiras”.
Nos dias
atuais, nos dias de Finados, são tantas pessoas orando, pagando promessa e
pedindo graças que o local se tornou ponto obrigatório para qualquer jornalista
que trabalhe no dia dos mortos.
Há relatos de
que algumas vezes foram tantas velas colocadas acesas que o Corpo de Bombeiros
precisou ser chamado. Literalmente, Jararaca ainda arde em Mossoró.
Jornal de 1976
é um dos primeiros registros do culto a Jararaca. Foto: Reprodução/Diário de
Natal
Cangaceiro
apareceu em sonho e disse os números da loteria
As pessoas que
passam por lá trazem suas histórias de graças atendidas para si ou para outras
pessoas. Há inclusive histórias de riqueza obtida.
Uma delas foi
contada à pesquisadora Eliane Tânia Freitas, doutora em Antropologia pela UFRJ.
Ela é autora da tese “Como nasce um santo no cemitério: Morte, memória e
história no Nordeste do Brasil” e, em 2000, entrevistou aos pés do túmulo do
cangaceiro uma mulher de 46 anos identificada como Terezinha de Jesus.
De acordo com
o relato dela, Jararaca lhe apareceu num sonho. “Eu pedi um teto a ele, que eu
não tinha. Morava em casa alugada há muitos anos. E ele foi e me mostrou assim
um letreiro de luz. ‘Tá aqui! Agora, você não diga a ninguém’. Ele atirava
assim com o revólver, aí eu via numa pedra os números da loteria”, contou.
Ao acordar,
ela anotou os números, jogou e ganhou. “Deu pra mim comprar um carro, uma casa
boa. (….) Ele é bem moreno. Fiquei em choque, porque eu queria falar, mas não
podia, só podia escutar”, contou, há 18 anos.
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