O jornalista e
escritor Vicente Serejo – Foto: Alex Régis/ Tribuna do norte
Vicente Serejo
Jornalista e
escritor
Publicado
originalmente na Tribuna do Norte, edição de 8 de julho de
2019.
Nenhuma
instituição cultural do Rio Grande do Norte cuida para valer da história do seu
povo. Nenhuma. Para citar uma exceção, seria a Universidade Federal que, embora
sem muito fulgor, tem pelo menos editado e reeditados livros e estudos
indispensáveis ao registro do nosso pensamento intelectual, ontem e hoje. As
demais, lustram com o verniz da vaidade o bestunto e os egos, e nem notam que
se transformaram em capitanias quando deveriam ser usinas de idéias.
Quase sempre
louvaminheiras, levadas à feérica distribuição de berloques e medalhões, nossas
instituições aceitaram viver como se tivessem donos, e hoje estão mergulhadas
em velhos vícios. Perdemos o bonde de tudo quanto tem renovado o movimento
cultural do Nordeste e do Brasil. O que conquistamos no passado, em
cosmopolitismo, perdemos nas últimas décadas, ressalvadas as iniciativas
individuais e pessoais de alguns teimosos no ofício da resistência.
Fomos
arrojados, sim. Uma cidade do mundo. Desde as travessias marítimas e aéreas.
Com Augusto Severo. Nos direitos da mulher, com Nísia Floresta. Na poesia de
Ferreira Itajubá e Jorge Fernandes. Nas idéias de Henrique Castriciano para a
educação feminina. No sertão de Eloy de Souza e Felipe Guerra. No olho
antecipador de Joaquim Inácio de Carvalho. No gênio de Cascudo estudando o
povo. No grito das vanguardas – a poesia concreta e o poema processo.
Como
pensadores, mesmo numa província cercada destes morros, deste rio e deste mar,
estivemos nas maiores e mais importantes coleções do pensamento intelectual
brasileiro com os nossos nomes. Na Brasiliana e na Coleção Documentos
Brasileiros, para citar as duas maiores: Rodolpho Garcia, Aurélio
Pinheiro, Câmara Cascudo, Jayme Adour, Garibaldi Dantas, Peregrino Júnior.
Hoje, estamos confinados às nossas editoras particulares ou financiando a
própria glória.
Nossa única
biblioteca pública estadual está fechada há mais de dez anos. Nosso Teatro, tão
nobre no afrancesamento de suas grades e seus lustres magistrais, fechou as
portas há mais de cinco anos. A Fortaleza dos Reis Magos corre o risco de
perder a solidão de sua beleza colonial cercada de um parque turístico
modernoso. Não temos museus. Não temos casarões restaurados, nem monumentos
preservados. E os que fazem o turismo dito cultural são jejunos intelectuais.
Sequer temos
merecido o protesto genial, nascido, qual Fênix, das nossas próprias
cinzas. Teria sua beleza e espantaria o mundo. Perdemos a vida pacata,
tangidos pelo falso progresso, e ganhamos a pasmaceira. Os improvisos
substituíram as idéias e os sabidos tomaram o lugar dos sábios. Rasos em tudo,
perdemos o engenho e a arte. Não somos usina. Somos de novo aquela aldeia de
vaqueiros e pescadores, como um dia advertiu Edgar Barbosa. Sem ouro e sem
fortuna.
NOTA – Meus
sinceros agradecimentos ao jornalista Vicente Serejo pela cessão do texto de
sua autoria para publicação em nosso TOK DE HISTÓRIA. Rostand Medeiros
Fonte da foto
da moldura –
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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