(*) Rinaldo Barros
A conversa de
hoje possui uma forte tendência a se tornar polêmica, a partir do título deste
artigo. Peço a (o) caro (a) leitor (a) que tenha muita calma e tente ler até o
final.
Em nossa
cultura, a violência contra a mulher é aceita; e normas não escritas sugerem
que a mulher é a própria culpada da violência por ela sofrida, apenas pelo fato
de ser mulher.
A origem, o
pecado original, é a idéia falsa de que a mulher deve ser, porque sempre foi,
um ser inferior, uma subespécie humana, incapaz por natureza, pouco afeita aos
fazeres públicos e intelectuais.
Lamentavelmente,
este (pre) conceito cultural, construído historicamente, de que a mulher é um
ser submisso, paradoxalmente, é assimilado, aceito e reproduzido também pela
maioria das pessoas do sexo feminino. Falei “do sexo feminino”.
Aliás, este
preconceito somente se tornou de difícil superação porque a maioria esmagadora
das mulheres não possui condições de compreender esta contradição: pensa e age
como ser submisso.
O outro lado
da moeda, o machismo, igualmente é reproduzido - e até fortalecido - pela
maioria das mães, tias, vizinhas e professoras; ou seja, aqueles segmentos
sociais responsáveis pela educação lato sensu das nossas crianças, em seus
primeiros anos de vida.
A reprodução
do preconceito começa na escolha das roupinhas do bebê, com ele ainda na
barriga da mãe: rosa para as meninas e azul para os novos machinhos. Reproduzem
a ideologia machista, dominante.
Logo que
nascem, seguem as regras para brinquedos e brincadeiras: os meninos jogam
futebol, aprendem lutas marciais, ganham carros, armas e roupas de super-heróis
para brincar, coisas de machos que se preparam para dar porrada e impor suas
vontades numa vida de aventuras, nas ruas, na esfera pública. As mocinhas em
sua maioria, ao contrário, ainda são orientadas para a vida no lar, e ganham
presentes de bonecas, produtos de beleza e cozinha, coisas de quem se prepara
para uma vida dentro de casa, na esfera da vida privada; seguindo as normas do
“bom comportamento”, e pautadas pela opinião da vizinhança.
Ou seja, a
violência exercida pelos homens contra as mulheres, no Brasil como em
qualquer parte do mundo, é autorizada, sancionada, pela sociedade patriarcal,
machista; como um todo.
Sociedade
reforçada pelas religiões judaico-cristãs, nas quais a figura feminina é, e
sempre foi, uma figura subalterna ou de menor poder, a partir da própria ideia do Pai Salvador (relembro que Nossa Senhora não faz, apenas intercede junto ao
seu Filho). Mesma lógica estende-se a sua hierarquia dominada pelo sexo masculino
(o Papa, Cardeais, Bispos, Padres, Pastores, Rabinos, Sacerdotes, todos do sexo
masculino).
Aqui no
patropi, exceção se faça, em respeito à verdade, aos orixás e entidades do
Candomblé, Umbanda, e Quimbanda, os quais se referem e incorporam divindades e
espíritos dos dois gêneros.
Como livre
pensador, ouso sonhar que a “Lei de Deus” deveria permitir que todo ser humano
tivesse sempre condições de exercer seu livre arbítrio. Todavia, isso é negado
à mulher brasileira. Fazer o quê?
Culturalmente,
o espancamento de namoradas, esposas e amantes por seus companheiros é uma
questão da vida privada, na qual a sociedade (patriarcal) “não deve intervir”.
Não deve meter a colher.
Vale lembrar
que somente a partir da Constituição Federal de 1988 - e também do novo Código
de Processo Civil, de 2015; não existe mais hierarquia familiar. Juridicamente,
no patropi, a mulher não se subordina mais ao homem, “são todos
iguais”. Todavia, ainda falta existir a consciência cidadã.
Quantos (as)
brasileiros (as) já leram o texto constitucional e o novo Código Civil?
Diante de
casos de violência contra mulheres, é comum que os comentários machistas
predominem até mesmo sobre a natural rejeição ao ato de agressão. "Alguma
ela fez" ou, na melhor das hipóteses, "melhor não tomar
partido". Sem falar nos casos de estupro, quando, freqüentemente, se
critica a sensualidade excessiva da dança ou dos trajes das mulheres,
responsabilizando-as e “justificando” o estuprador.
Como
propriedade do macho, “a mulher é a culpada”. Se reclamar, apanha!
Essas atitudes
preconceituosas são exercidas também por profissionais de saúde e policiais,
resultando algumas vezes em tratamento inadequado, mas coerente com a cultura
predominante.
Resumo da
ópera: a mulher, premida por circunstâncias que ela própria ainda não
compreende, na maioria das vezes, pensando e agindo como submissa, retira a
queixa-crime contra o seu agressor, perdoa-o, e continua a viver com o mesmo e
a conviver com sua dor. Como se fora normal ou natural.
Como diz o
Chico na canção "Umas e Outras", “o acaso faz com que se cruzem pela
mesma rua olhando-se com a mesma dor”. Até quando?
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.
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