Rostand
Medeiros – Escritor e pesquisador
Amigos e
amigas que gostam do tema Cangaço, História do Nordeste e Ariano Suassuna, trago
a vocês o texto - o pai de Ariano Suassuna - quem foi João Suassuna, como se
deu a sua morte e como este fato influenciou a vida e a obra do seu filho
Ariano.
João
Suassuna, pai de Ariano
Diante da
recente morte do escritor Ariano Suassuna, muito de sua vida foi trazida ao
conhecimento de milhares de brasileiros. Entre os muitos aspectos da biografia
deste paraibano que marcou a história do Nordeste, um dos principais pontos
abordados foi a importância da figura de seu pai, João Suassuna, em sua vida.
Ariano
Suassuna 1927 – 2014
Em inúmeros
textos foi comentado, normalmente de maneira bem básica, que João Suassuna
havia sido governador da Paraíba e que ele foi assassinado no ano de 1930, em
meio às repercussões ocasionadas pela morte de João Pessoa e os acontecimentos
políticos daquele período tumultuado da história do Brasil. Mas ao observamos
com mais detalhes a figura do pai do grande escritor, que morreu quando Ariano
tinha apenas três anos de idade, descobrimos uma história muito intensa,
interessante e trágica!
O BACHAREL
SERTANEJO
Há dez anos,
com a ajuda do amigo Sérgio Dantas, autor de três maravilhosos livros sobre o
cangaço, eu dei início a uma inacabada pesquisa por quatro estados nordestinos
sobre a vida e morte do cangaceiro paraibano Chico Pereira. Esta motivação
vinha do fato de ser imputado a este cangaceiro e seu bando, em fevereiro de
1927, o assalto a fazenda Rajada, em Acari, na região do Seridó Potiguar. Na
época esta fazenda pertencia a Joaquim Paulino de Medeiros, meu bisavô e
durante grande parte da minha juventude escutei inúmeras vezes os relatos deste
episódio através de vários parentes queridos.
No desenrolar
das pesquisas vi que a história de Francisco Pereira Dantas, o verdadeiro nome
de Chico Pereira, possuía ligações com a trajetória política de João Suassuna.
Até mesmo a sua morte, ocorrida em 1928 na zona rural de Currais Novos, em um
rumoroso caso de violência estatal, que manchou a biografia do então governador
potiguar Juvenal Lamartine de Farias, também possui ligações com o pai de
Ariano.
Mas de maneira
totalmente independente do fato de João Suassuna ser pai do autor de “Auto da
Compadecida”, busquei conhecer mais sobre sua vida.
João Suassuna
no início de sua carreira
Nascido João
Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna, veio ao mundo em Catolé do Rocha,
Paraíba, no dia 16 de janeiro de 1886. Anos depois estudou na conceituada e
tradicional Faculdade de Direito de Recife, onde se bacharelou em 1909. O
início de sua carreira como advogado foi em Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Depois João Suassuna assumiu o posto de juiz nas cidades de Umbuzeiro e Campina
Grande, ambas na Paraíba. Na sequência foi Procurador da Fazenda Nacional no
seu estado natal.
Em 1 de
dezembro de 1913, quando tinha 27 anos, casou com Rita de Cássia Vilar
Suassuna, então com 17 anos, a quem chamava carinhosamente de Ritinha. Quando
Castro Pinto esteve a frente do executivo paraibano (1912-1915), João Suassuna
assumiu cargos de importância na máquina governamental.
Em 1917, após
este período de governo, voltou a ser juiz, desta vez na cidade de Monteiro
(PB). Foi nesta época que João Suassuna adquiriu uma propriedade chamada
“Malhada da onça”, pra onde seguia ocasionalmente. A fazenda ficava em
Desterro, local de nascimento de sua mulher, na época uma comunidade
pertencente à cidade paraibana de Teixeira. Em 1919 deixou a magistratura e foi
trabalhar no antigo Instituto Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS. Foi
neste período que ele adquiriu a Fazenda Acauã, na época localizada na zona
rural de cidade de Sousa[1].
No começo da
década de 1920, João Suassuna foi convidado pelo então governador Sólon de
Lucena para assumir a Inspetoria do Tesouro do Estado, depois foi eleito
deputado federal. Estava no exercício do mandato parlamentar no Rio de Janeiro,
então Capital Federal, quando foi eleito “Presidente da Parahyba”, o que
corresponde hoje ao cargo de governador.
O mandato de
João Suassuna se caracterizou em grande parte por uma valorização das ações
desenvolvidas pelos grandes latifundiários de terras do interior, possuidores
de grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na pecuária. Estes
“coronéis” atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia
entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupo de jagunços armados,
da conivência com grupos de cangaceiros e outras ações.
Foi nesta
época, no palácio do governo da Paraíba, que servia de residência oficial do
chefe do executivo daquele estado, mais precisamente no dia 16 de junho de
1927, que nasceu um dos nove filhos do casal João e Rita. Foi batizado como
Ariano.
João Pessoa
João Suassuna
entregou o cargo em 22 de outubro de 1928 a João Pessoa Cavalcanti de
Albuquerque e assumiu novamente uma das vagas de deputado federal pela Paraíba.
PROBLEMAS À
VISTA!
João Pessoa
discordava da forma como o grupo político que o elegera conduzia a política do
seu estado e logo surgiram sérias divergências com os latifundiários. Um dos
maiores embates estava na cobrança de taxas de exportação do algodão. Por esta
época os coronéis exportavam o produto principalmente através do porto de
Recife, provocando enormes perdas de divisas tributárias para a Paraíba.
Procurando evitar esta sangria financeira e efetivamente cobrar os coronéis,
João Pessoa implantou diversos postos de fiscalização nas fronteiras da
Paraíba, irritando de tal forma estes caudilhos, que pejorativamente passaram a
chamar o governador de “João Cancela”.
Os embates
políticos entre o governador e os coronéis foram crescendo. A maior liderança
entre estes poderosos foi sem dúvida o coronel José Pereira Lima. Verdadeiro
imperador da região oeste da Paraíba, na área da fronteira com Pernambuco,
tendo como base, a cidade de Princesa e este discordava com veemência das ações
de João Pessoa. Do embate entre estes dois homens, resultou um dos maiores
conflitos armados do Brasil Republicano.
Sentado vemos
Marcolino Diniz, um dos líderes de Princesa e seus “cabras”
A contenda
teve início em 28 de fevereiro de 1930, quando ocorreu a invasão da cidade de
Teixeira por parte da polícia paraibana, com o aprisionamento dos membros da
conceituada família Dantas, ligada por profundos laços de parentescos e
interesses ao coronel José Pereira. Apesar de governador João Pessoa não contar
com o apoio do Palácio do Catete, onde o titular, Washington Luís não
viabilizou uma efetiva ajuda às forças policiais paraibanas, o governador
paraibano foi à luta.
Em meio aos
conflitos da chamada “Guerra de Princesa”, no dia 26 de julho de 1930, um
sábado, João Pessoa estava na Confeitaria Glória, em Recife, quando foi
atingido por dois disparos desfechados pelo advogado paraibano João Duarte
Dantas.
Da mesma
família Dantas da região de Teixeira, consta que João Dantas após realizar uma
viagem, encontrou seu escritório na capital paraibana violado. Entre os objetos
roubados estavam cartas e poemas eróticos, além de fotografias sensuais
trocados com a sua amante, a poetisa Anayde Beiriz. Estes materiais teriam sido
roubados por membros da polícia paraibana, sob as ordens de João Pessoa, sendo
publicados e colocados em locais públicos. Diante dessa exibição João Dantas
foi à confeitaria vingar a sua privacidade violada[2].
João Duarte
Dantas
Após o crime,
João Pessoa se tornou um grande herói para o povo paraibano e seu assassinato
foi o estopim da conhecida Revolução de 1930. Neste meio tempo cresceu
descontroladamente o radicalismo na Paraíba e muito sangue correu[3].
A PARTIDA
Por ser João
Suassuna casado com uma prima de João Dantas, ter sido eleito deputado federal
com o apoio dos Dantas da cidade de Teixeira e do coronel José Pereira, o pai
de Ariano ficou na mira dos familiares, amigos e correligionários do falecido
João Pessoa.
No dia da
morte do então governador paraibano na Confeitaria Gloria, João Suassuna se
encontrava no Recife. Já sua família, inclusive o menino Ariano de três anos,
estava na capital paraibana, em uma casa alugada ao Dr. Mariano Falcão, na Rua
das Trincheiras. Diante do aumento da tensão na capital, Rita Suassuna e seus
nove filhos vão se refugiar no 22º Batalhão de Caçadores, ou 22º BC, atual 15º
Batalhão de Infantaria Motorizada. Em pouco tempo João Suassuna conseguiu apoio
do rico empresário Frederico João Lundgren e consegue apoio do Exército para
trazer sua família para uma casa mobiliada, pertencente a este empresário e
localizada na cidade pernambucana de Paulista. Um dado interessante foi que a
escolta da família Suassuna era comandada pelo tenente Agildo Barata[4].
João Pessoa
morto
O deputado
João Suassuna recebeu a comunicação que havia sido denunciado como cúmplice no
assassinato de João Pessoa e teria que ir ao Rio de Janeiro para se defender na
Câmara dos Deputados. No Porto do Recife ele embarcou no paquete “Zelândia” e
lá estava toda a sua família para as despedidas. Mesmo tendo naquela ocasião
apenas três anos de idade, Ariano Vilar Suassuna sempre relatou ao longo de sua
vida que jamais esqueceu a partida do seu pai para a Capital Federal. Pois
aquela foi a última ocasião que o viu com vida.
João Suassuna
chegou a Capital Federal no dia 22 de outubro de 1930, se apresentou a Câmara
Federal. Lá soube que tramitava na comissão de constituição e justiça um pedido
do deputado estadual pernambucano João Paes de Carvalho Barros, para que fosse
concedida uma licença para abrir uma investigação sobre a participação de
Suassuna como cúmplice no assassinato de João Pessoa. Logo o pedido foi
indeferido pelo presidente da casa, o deputado federal João Santos[5].
TEMPO DE
REVOLTA
Não tarda e a
convulsão política eclode. A conhecida Revolução de 1930 teve seu início em 03
de outubro de 1930, uma sexta feira, com movimentos sincronizados que foram
levados a efeito no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Paraíba.
João Suassuna
(com papéis e na mão), tendo ao seu lado esquerdo Washington Luís no Porto de
Cabedelo, Paraíba
Mesmo diante
desta situação, o deputado João Suassuna se coloca ao lado do presidente
Washington Luís, junto com mais de uma centena de políticos. Todos se
encontraram na tarde do dia 4 de outubro no Palácio da Guanabara, atual sede do
Governo do Estado do Rio de Janeiro, onde morava o mandatário que em breve
seria deposto[6].
Os dias
seguiam com mais notícias preocupantes vindas da Paraíba e de Pernambuco. Na
capital paraibana, na madrugada do dia 4 de outubro, poucas horas após o
movimento ter-se iniciado, os revolucionários atacaram o 22º BC e ali morreu o
general legalista Alberto Lavenère Wanderley, comandante da 7ª Região Militar.
Já o 23º BC da cidade de Sousa, opôs resistência aos revolucionários. Logo em
seguida sublevaram-se o 25º BC de Teresina, o 24º BC de São Luís e o 29º BC de
Natal.
Revolucionário
de 1930 – Fonte – ultimosegundo.ig.com.br
Em Recife o
movimento encontrou uma resistência maior por parte das forças legalistas, que
haviam se colocado de prontidão ao surgirem notícias da revolução. A vitória
dos revolucionários, contudo, foi garantida pelo apoio popular à insurreição,
tendo ocorrido, inclusive, distribuição de armas aos populares. Já na manhã do
dia 5 de outubro, o movimento havia triunfado em Pernambuco, antes mesmo que os
reforços provenientes da Paraíba chegassem a Recife. No dia seguinte a posição
dos revoltosos se consolidou quando o presidente do estado, Estácio Coimbra,
abandonou o governo[7].
TIRO MORTAL
Enquanto as
notícias das sublevações e lutas pelo Brasil afora preocupavam os cariocas e o governo
Washington Luís seguia para seus últimos dias, João Suassuna se dividia entre
saber notícias de sua família e a atividade parlamentar.
Nesta época o
deputado paraibano morava no quarto 63, do Novo Hotel Belo Horizonte,
localizado na Rua Riachuelo, 130, no bairro de Botafogo.
Suassuna tinha
o hábito de sempre descer ao “hall” principal para ler os jornais ainda pela
manhã. Naquela quinta feira, 9 de outubro de 1930, ele estava nesta atividade
quando apareceu uma visita. Era o farmacêutico paraibano Caio Gusmão, que há
quatro meses residia no Rio. Eram cerca de oito e quarenta da manhã, quando o
deputado decidiu seguir junto com seu visitante para o Palácio Tiradentes, sede
da Câmara Federal. Estava vestido de paletó de casimira cinza e sapatos pretos[8].
Os dois
caminharam um bom trecho pela Rua Riachuelo, quando Suassuna olhou para o
céu e comentou…
- Parece
que vai chover e vou buscar minha capa no hotel!
Deu meia
volta, avançou alguns passos, mas nesse momento foi atingido por um disparo de
arma de fogo. Suassuna tentou sacar um revólver “Colt” que conduzia, mas caiu
no chão já morto por apenas aquele único tiro. O fato ocorreu na altura do
número 111, próximo a esquina com a Rua dos Inválidos[9].
Caio Gusmão
nada pode fazer, o corpo ficou em decúbito dorsal, com o revólver do falecido
ao lado e a sua mão manchada de sangue[10].
Logo encheu de
gente. Rapidinho se espalhou a notícia sobre quem havia sofrido aquele atentado
e o espanto dos transeuntes foi geral. Populares chamaram a “Assistência”, o
SAMU da época, que logo chegou, mas nada puderam fazer em favor de João
Suassuna.
Em pouco tempo
o delegado do 12º Distrito Policial, o Dr. Eunápio Hardman Castello
Branco, em companhia do comissário Antônio Pizarro de Morais, chegou ao local e
depois vieram várias outras autoridades policiais. Das primeiras investigações
descobriram que o assassino fugiu pela Rua Paula Matos, em direção ao Morro de
Santa Tereza. Foi comentado aos policiais que o atirador possuía estatura
mediana, vestia paletó branco, usava boné de casimira negra e calçava “tennis”[11].
Desde os
primeiros momentos que os jornais cariocas apontavam que a razão do assassinato
de João Suassuna era vingança pela morte de Joao Pessoa e mesmo com revoltas
pipocando no país, os revolucionários de 1930 ainda não tinham conquistado a
Capital Federal. Começou então a caçada ao assassino.
Inicialmente
em uma vila, um policial encontrou um revólver de grosso calibre do tipo
“buldogue” e uma pistola modelo “Liberty”. Além de toda a roupa utilizada pelo
pistoleiro na hora do crime. Logo os investigadores perceberam pelas pistas
deixadas que um cúmplice estava dando apoio ao matador.
Fosse pela
importância de João Suassuna, ou por eficiência (ou uma soma destes dois
fatores), o certo é que ás onze e meia da noite do dia 9 de outubro, policiais
da 2ª Delegacia Auxiliar capturaram o assassino.
Este se
chamava Miguel Alves de Souza e havia sido preso no grande sobrado que
pertencia ao engenheiro Joaquim de Souza Leão, localizado na Rua São Clemente,
261, bairro de Botafogo, a poucos metros da tradicional Igreja e Colégio Santo
Inácio. Assim foi preso Miguel Alves confessou o crime[12].
Este era
paraibano de Alagoa Grande, tinha 30 anos, havia chegado ao Rio pelo vapor
“Itapuy” no dia 18 de julho de 1929, trabalhava como tratador de cavalos de
cavalos e depois se tornou empregado do engenheiro Joaquim de Souza Leão.
Em uma
entrevista concedida ao jornalista Ricardo Farias, publicada no caderno
especial do jornal paraibano “A União”, edição de 12 de fevereiro de 2013,
página 3, Ariano Suassuna comentou que o assassino de seu pai foi preso na casa
do concunhado de João Pessoa[13].
Provavelmente
os algozes de João Suassuna tinham a ideia que a polícia carioca jamais
concluiria que na casa de gente tão graúda, como a Dr. Joaquim de Souza Leão,
encontrariam um elemento que havia matado covardemente um homem pelas costas.
TRAMA ASSASSINA
No dia 10 de
outubro, enquanto as autoridades “apertavam” Miguel para ele dar conta do
assassinato, no Senado Federal, para onde seguiu o corpo de João Suassuna,
ocorreram várias homenagens.
O
ex-governador potiguar, então senador, José Augusto Bezerra de Medeiros,
proferiu um interessante discurso sobre a vida do falecido político paraibano.
Houve uma missa de corpo presente, várias autoridades estiveram no velório e
foram colocadas muitas coroas de flores. João Suassuna foi enterrado no tumulo
número 611, no cemitério São João Batista, em Botafogo. Mas nem sua mulher e
nenhum de seus nove filhos estiveram presentes!
Enquanto isso
na delegacia, Miguel Alves de Souza confessou que recebeu o apoio de outro
paraibano chamado Antônio Granjeiro. Este era carteiro dos Correios e
Telégrafos no Rio, lhe forneceu as armas e apoiou na sua fuga. Granjeiro foi
logo preso[14].
Os dois
comparsas entregaram então Octacílio de Lucena Montenegro, um funcionário do
Tribunal de Contas, como a pessoa que procurou Granjeiro, lhe deu o dinheiro
para a compra das armas do crime e a ordem para procurar alguém disposto a
apertar o gatilho.
E quem era
Octacílio de Lucena Montenegro?
Na entrevista
concedida ao jornalista Ricardo Farias, do jornal paraibano “A União”, em
fevereiro de 2013, Ariano Suassuna comentou que foi Octacílio quem intermediou
junto a Granjeiro o assassinato de seu pai e que Octacílio era sobrinho do
então coronel do Exército Aristarco Pessoa, irmão de João Pessoa[15].
Demorou mais
alguns dias para prenderem Octacílio, mas ele foi finalmente detido na Tijuca.
Para dirimir dúvidas, o investigador Silvio Terra fez uma acareação na 2ª
Delegacia Auxiliar entre Octacílio, Granjeiro e Miguel Alves e para o policial
ficou patente a participação de Octacílio. Mas este negou peremptoriamente sua
participação.
Para os
policiais Antônio Granjeiro, homem pobre e com numerosa família (tinha onze
filhos), era considerado “doentio e muito sugestionável” e as preleções de
Octacílio, que entre outras coisas dizia “-Será que não existe um paraibano que
seja capaz de vingar a morte de João Pessoa?” surtiram efeito desejado.
Granjeiro foi atrás de Miguel e o crime ocorreu.
Entre outras
acusações Granjeiro foi apontado como o homem que seguiu João Suassuna,
conheceu sua rotina, comprou as duas armas usadas no crime e chegou a enviá-las
para um armeiro quando foram detectadas defeitos nelas. Foi ele quem adquiriu a
munição e no dia 7 de outubro, dois dias antes do crime, foi com Miguel Alves
praticar tiro ao alvo nas margens da hoje superpovoada lagoa Rodrigo de
Freitas, próximo ao Jóquei Clube do Rio.
Os três
acusados, entre estes um carteiro e um tratador de animais, foram defendidos
pelo ninguém menos que advogado Clovis Dunshee de Abranches, considerado um dos
maiores criminalistas do Brasil na época e famoso pelo rumoroso caso Sylvia
Seraphin Thibau[16].
Mas nesta
época nem foi tão necessário a participação de um jurista tão renomado para
defender estes homens, pois logo os revolucionários chegaram ao Rio de Janeiro,
depuseram o presidente e assumiram o poder. No vácuo institucional, em meio às
alegrias da vitória, os três homens responsáveis pela morte de João Suassuna
foram soltos[17].
EM BUSCA DE
JUSTIÇA
Foi Rita
Suassuna que não deixou a morte de seu marido cair no esquecimento.
Tempos depois
ela enviou uma carta extremamente intensa e emocionada ao então Presidente
Getúlio Vargas e este mandou reabrir o caso. Em pouco tempo a morte de João
Suassuna voltou às páginas dos periódicos cariocas.
Antônio
Granjeiro, esposa e filhos em 1933
Foram
decretadas as prisões de Antônio Granjeiro e Miguel Alves. O primeiro foi preso
em casa, no Rio. Já o segundo foi capturado na Paraíba e recambiado de navio
para a Capital Federal[18].
Já os autos do
processo simplesmente haviam sumido. Para completar o quadro os jornais
noticiaram que novos depoimentos alteraram a situação de Octacílio de Lucena
Montenegro e ele sequer prestou mais algum depoimento[19].
O promotor
Francisco Belizário Velloso Rabello se preparou para o julgamento acusando os
réus de “assassinato premeditado e sem direito a defesa”. Apoiando a
promotoria, a pedido de Rita Suassuna, estava o advogado e ex-senador paraibano
José Gaudêncio[20].
Já o advogado
Clovis Dunshee de Abranches apresentou em favor dos réus a alegação que o crime
por eles cometido “ocorreu em um período de intensa perturbação política devido
à morte de João Pessoa” e isso gerou nos assassinos de João Suassuna “uma forte
perturbação dos sentidos e da inteligência”[21].
O advogado
Clovis Dunshee de Abranches
Visando
reforçar a defesa, o advogado Dunshee de Abranches conseguiu do “Centro
Paraybano” no Rio de Janeiro, entidade de apoio aos paraibanos que viviam na
Capital Federal, mas também servia de local de encontros políticos, uma carta
em defesa dos réus. Produzida por Arthur Victor, presidente da instituição, a
carta é uma longa peça acusatória contra João Suassuna, que mostra bem os
processos da política radical daqueles tempos.
Entre outras
coisas está descrito que Irineu José do Nascimento, padrasto de Miguel Alves e
um 1º sargento reformado da polícia paraibana, havia sido “fuzilado por ordem
de João Suassuna”, deixando sua mãe e três irmãos no desamparo. Sua família foi
obrigada a fugir para Pernambuco, onde sofreram “sérias perseguições” por parte
de Estácio Coimbra, então governador daquele estado.
Já Antônio
Granjeiro nasceu em 1888, chegou ao Rio em 1912, entrou nos Correios e
Telégrafos e foi transferido para Diamantina. Depois de retornar para o Rio
começou a participar das atividades do “Centro Paraybano” e na época que
iniciou os movimentos políticos contra o governo Washington Luís, o destemido
Granjeiro era uma espécie de segurança e forte entusiasta pela causa liberal.
A carta do
presidente do “Centro Paraybano” menciona um episódio envolvendo Granjeiro, na
época que o corpo de João Pessoa chegou para ser enterrado ao Rio de Janeiro.
Quando da passagem do féretro por uma grande avenida, em meio à multidão, o
carteiro gritou a pleno pulmões um “De joelhos!” e docilmente se ajoelhou
diante do caixão do governador assassinado e seu gesto seguido por muitos
presentes. Aparentemente isso o tornou uma figura de destaque do “Centro
Paraybano”[22].
O julgamento
começou ao meio dia de uma quarta feira, 18 de novembro de 1931, sob a
presidência do juiz Nelson Hungria. O corpo de jurados era formado por sete
homens e, apesar da atenção que aquele júri despertava entre os cariocas, os
dois réus foram absolvidos por 5 a 2 e a promotoria recorreu[23].
NOVO
JULGAMENTO
Em 8 de
janeiro de 1933 houve um novo julgamento, desta vez sendo presidido pelo juiz
Antônio Eugenio Magarinos Torres, tendo como promotor Rufino de Loy e novamente
a frente da defesa o competente Dr. Clovis Dunshee de Abranches. Percebemos
que, tal como o julgamento ocorrido em 1931, este segundo embate jurídico
atraiu a atenção dos cariocas, sendo francamente noticiado na imprensa local.
O promotor
Rufino fez uma longa acusação. Já o advogado de defesa, com enorme
desenvoltura, busca destruir todos os argumentos da promotoria. Mostra com
extrema eloquência a sofrida história de vida dos réus, apontando-os como
“nordestinos pobres”. Trás para o tribunal o clima de revolta e instabilidade
política de outubro de 1930, torna a ler a carta do “Centro Paraybano” e coloca
os réus fora da “classe dos criminosos vulgares”. Cita vários juristas,
psiquiatras e médicos para explicar o que as emoções políticas tinha haver com
o assassinato de João Suassuna. Ele relembrou a epopeia dos “18 do Forte”,
fazendo uma relação deste caso para justificar o clima emocional dos réus
diante da morte de João Pessoa[24].
Dunshee de
Abranches fez até mesmo considerações para o crime de regicídio. Em determinada
hora, como era praxe no tribunal no Rio, houve a parada para o “chá”[25].
Depois do
retorno e finalização dos debates, os jurados se recolheram para decidir o
futuro dos réus. Em 30 minutos trouxeram para o juiz Magarinos Torres o
“Veredictum”, condenando Miguel Aves de Souza há seis anos e Antônio Granjeiro
a quatro anos de detenção[26].
O julgamento
teve outros desdobramentos. A família Pessoa, através do filho de João Pessoa,
o jornalista Epitácio Pessoa Cavalcante de Albuquerque, abriu fogo com suas
baterias jurídicas, processando o promotor Rufino de Loy. Entre outras coisas,
consideradas um acinte pela família e ditas pelo promotor na tribuna, estava
que “os réus eram conhecidos da família Pessoa”. Não sei o resultado deste
processo.
A TROCA
Evidentemente
que para Rita Suassuna o resultado do julgamento foi decepcionante, uma
verdadeira lástima. Mas o pior foi a viúva de João Suassuna saber que Antônio
Granjeiro passou pouco mais de um ano na cadeia e ainda conseguiu que os seus
“serviços” pela causa liberal fossem “plenamente recompensados” com a sua
liberdade. Mesmo condenado no tribunal, este verdadeiro “alpinista político”,
que queria ascenção com o sangue alheio, foi reincorporado aos Correios e
Telégrafos em junho de 1934 e voltou a sua primitiva função de carteiro no Rio
de Janeiro.
Já o assassino
Miguel Alves de Souza se perdeu no “oco do mundo”!
Na época a
família Pessoa foi muito eficaz em criar em torno da morte de João Pessoa, toda
uma condição de perpetuação da memória desta família na Paraíba. Começa que a
atual denominação da capital paraibana é “João Pessoa”, fato único entre as
capitais estaduais brasileiras. Depois basta fazer uma pequena pesquisa no
Google e se percebe o alto número de ruas e logradouros com nomes e sobrenomes
ligados a família do governador morto na Confeitaria Glória.
Foto
provavelmente da década de 1960, onde mostra Rita Suassuna e seus filhos, da
esquerda para direita, Ariano, Saulo, João, Lucas e Marcos – Fonte – Foto via
Dorgival Macedo Junior
Já Rita
Suassuna, depois de várias mudanças e provações, levou seus filhos para a
cidade de Taperoá, no sertão paraibano. Ali, em uma região onde isso era a
praxe, lutou para que seus cinco filhos homens jamais partissem para vingar a
morte do pai. Entretanto a família de João Suassuna sempre perpetuou a memória
de João Suassuna e isso se incorporou no jovem Ariano, mesmo com tão pouca
idade na ocasião da morte de seu pai.
Mesmo sem
saber mensurar o quanto o peso da morte de João Suassuna contribuiu para moldar
o Ariano Suassuna escritor, eu creio que de certa maneira ele realizou a sua
“vingança” através dos seus escritos.
Se a família
Pessoa buscou se perpetuar em nomes de ruas e logradouros na Paraíba,
certamente Ariano se imortalizou na mente e nos corações de milhões de
brasileiros com as suas obras. O autor deste trabalho acredita que por muitas
décadas e séculos no futuro, o nome e as obras de Ariano Suassuna serão
obrigatórias para o entendimento do Nordeste.
Contudo eu
tenho certeza que ele, Ariano Vilar Suassuna, trocaria tudo o que conseguiu com
as letras para ter tido a oportunidade de ter visto seu pai conhecer seus
filhos, ter acompanhado a sua vida e estar ao lado de João Suassuna no dia de
sua morte.
NOTAS
[1] Em
1945 o antigo IFOCS passou a se chamar Departamento Nacional de Obras Contras
as Secas – DNOCS. A Fazenda Acauã é um importante patrimônio histórico
rural paraibano. Com 300 anos de história, é a mais antiga fazenda de gado e
algodão do Sertão da Paraíba. Está localizado a 409 quilômetros da capital,
atualmente se localiza na zona rural da cidade de Aparecida. Ariano Suassuna
morou no casarão, durante parte de sua infância, e se inspirou em Acauã para
escrever suas obras. Verhttp://sednemmendes.blogspot.com.br/2013/05/visitando-o-sitio-historico-da-fazenda.html
[2] Segundo
material existente no site www.http//pb1.com.br ,
o vereador Fernando Milanez, sobrinho-neto de João Pessoa, afirmou que a versão
de que o assassinato teria sido um crime passional é um “absurdo”, porque, segundo
ele, João Pessoa nem conhecia João Duarte Dantas. Para a família de João
Pessoa, o ex-presidente foi vítima de ambição e mentira, e a causa do
assassinato teria sido política. Independente do motivo, João Dantas, junto ao
seu cunhado, Augusto Caldas, que não havia participado do crime, foram presos
na Casa de Detenção do Recife. Em 6 de outubro de 1930, nos primeiros dias da
Revolução de 1930, os dois teriam sido assassinados. A versão oficial indicou
suicídio. Ver –http://pb1.com.br/noticias_dentro.php?pt1=898
[3] No
início de 1929 ainda estava em vigência a conhecida “política do café com
leite”, em que políticos de Minas Gerais e de São Paulo se alternavam na
presidência da república. O então Presidente Washington Luís, indicou o
governador São Paulo, Júlio Prestes, como seu sucessor. Apenas três estados
negaram o apoio a Prestes: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Os três
se uniram a políticos de oposição de diversos estados e formaram, em agosto de
1929, um grupo de oposição denominado Aliança Liberal. No dia 20 de setembro do
mesmo ano foram anunciados os candidatos oposicionistas às eleições
presidenciais. Getúlio Vargas seria candidato a Presidente do Brasil e João
Pessoa seria o candidato a vice-presidente. Após perder as eleições, que foram
realizadas em março de 1930, a Aliança Liberal alegou que a vitória de Prestes
era decorrente de fraudes. Ver –http://pb1.com.br/noticias_dentro.php?pt1=898
[5] Ver
jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro, edição de 4 de outubro de 1930, página 4.
[6] Ver
jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro, edição de 5 de outubro de 1930, na 1ª página.
Apesar do Palácio do Catete ser a antiga residência dos Presidentes da
República, quando tomou posse Washington Luís decidiu residir no Palácio da
Guanabara.
[8] Este
hotel não existe mais, entretanto a estrutura ainda existe, está conservada e o
local ainda é utilizado como hotel. Trata-se do Hotel Monte Alegre e fica
localizado na mesma Rua Riachuelo, esquina com a Rua Monte Alegre.
[9] Este
local fica bem próximo a atual sede da renomada Editora Folha Dirigida.
[10] Os jornais listam que além de sua
aliança, de 200 mil réis em dinheiro, um relógio e abotoaduras de ouro, João
Suassuna levava a licença para portar sua arma e alguns papéis. Entre estes uma
carta fechada para a esposa.
[11] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro,
edição de 9 de outubro de 1930, 1ª página e o jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro,
edição de 10 de outubro de 1930, página 2. Desde os primeiros momentos as
investigações ficaram a cargo do investigador Silvio Terra, figura lendária da
polícia investigativa carioca, cujo nome atualmente batiza a Academia de
Polícia Civil do Rio de Janeiro.
[12] Joaquim Souza Leão era um puro exemplo
de um membro oriundo da mais alta elite agrária açucareira pernambucana. Era
sobrinho de desembargador, de senador do Império, do Visconde de Campo Alegre e
filho de Antônio de Souza Leão, rico fazendeiro pernambucano da região de
Moreno e que havia recebido do Imperador Pedro II o título de Barão de Morenos.
Um de seus filhos foi embaixador. Ver – http://morenoengenho.blogspot.com.br/
[14] Ver o jornal “O Paiz”, Rio de Janeiro,
edição de 11 de outubro de 1930, página 2 e o jornal “Diário carioca”, Rio de
Janeiro, edição de 7 de janeiro de 1933, 1ª página.
[15] Segundo Ariano Suassuna, na década de
1950, quando ele entrou na Faculdade de Direito de Recife, conheceu o filho do
Joaquim Pessoa Cavalcante de Albuquerque, irmão de João Pessoa, que isentou o
pai da morte de João Suassuna. Mas não o tio Aristarco Pessoa e nem a
participação de Octacílio de Lucena Montenegro no crime. Ver –http://issuu.com/auniao/docs/caderno_especial_parte_1
[16] Sylvia Seraphin Thibau era uma
jornalista, escritora e poetisa, era casada com o médico João Thibau
Júnior e mãe de dois filhos. Sylvia foi acusada pelo jornal carioca “A
Crítica” de ter traído o marido, mantendo um caso com o também médico Manuel
Dias de Abreu, mais tarde inventor da abreugrafia. Irritada, ela foi à
redação do jornal armada, para matar o editor, Mario Rodrigues, no dia 26 de
novembro de 1929. Como Mário não estava no jornal, Sylvia acabou atirando no
filho dele, o também jornalista Roberto. No local, assistindo ao crime, estava
o irmão da vítima, Nelson Rodrigues, então com 17 anos. O processo criminal foi
acompanhado por uma feroz campanha promovida pelo jornal, que chamava a ré de
“literata do Mangue” e “cadela das pernas felpudas”. Seu julgamento foi o
primeiro no Brasil a ser transmitido ao vivo pelo rádio. O advogado Clovis
Dunshee de Abranches alegou que Sylvia havia se descontrolado por ter sido
caluniada e conseguiu a sua absolvição. Ela suicidou-se em 1936, depois de abandonada
por um tenente-aviador por quem havia se apaixonado. Verhttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADlvia_Serafim_Thibau
[17] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro,
edição de 4 de novembro de 1930, página 9. Neste jornal temos uma longa
declaração de Silvio Terra, se defendendo de acusações feitas por Octacílio de
Lucena Montenegro através dos jornais. As acusações de Octávio apontam que este
havia sido torturado pelos policiais para confessar sua participação na morte
de Ariano Suassuna. Não encontrei a edição de jornal com a publicação de
Octávio contra Silvio Terra. Mas encontrei a carta de defesa do investigador
aos seus superiores e publicada nos jornais do Rio. Este investigador é muito
claro, direto e contundente em suas afirmativas, além de negar veementemente o
uso de tortura contra os detidos. O então coronel Bertoldo Klinger, líder
revolucionário, elogiou o posicionamento do policial. Ver também “A Noite”, Rio
de Janeiro, edição de 11 de julho de 1931, página 3.
[18] Miguel Alves estava incluso no crime
previsto no Artigo 294, parágrafo 1º, com agravantes do Artigo 39, parágrafos
2º, 7º, 8º e 13º. Já Granjeiro era acusado nos mesmos artigos, acrescentando o
artigo 18, parágrafo 3º. Lembrar que estas acusações faziam parte Código Penal
anterior ao que atualmente está em vigência. Ver jornal “Diário de Notícias”,
Rio de Janeiro, edição de 7 de janeiro de 1933, 1ª página.
[19] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro,
edição de 11 de julho de 1931, página 3. Os jornais da época não informam quem,
quando e onde ocorreram estes depoimentos que livraramOctacílio de Lucena
Montenegro deste processo. Nem comentam nada mais sobre o sumiço dos autos
e sequer é mais comentado por qualquer razão o nome do Joaquim de Souza
Leão como presumidamente envolvido no crime. Ver jornal “A Noite”, Rio de
Janeiro, edição de 11 de julho de 1931, página 3.
[20] Ver jornal “A Esquerda”, Rio de
Janeiro, edição de 21 de setembro de 1931, página 4.
[21] Ver jornal “Diário de Notícias”, Rio
de Janeiro, edição de 19 de agosto de 1931, página 2.
[22] Ver jornal “A Noite”, Rio de Janeiro,
edição de 11 de setembro de 1931, página 3. Por mais estranha que esta história
de ficar de joelhos diante do caixão de João Pessoa possa parecer, naquela
época, naquelas circunstâncias, isso aconteceu de verdade. Na capital paraibana
o nível de fanatismo em 1930 era tal, que se alguém tocasse em um local público
uma certa música criada para homenagear o morto ilustre, e alguém gritasse um
sonoro “De joelhos!”, aí de quem não cumprisse a ordem. Ou era surrado, ou
preso.
[23] Ver jornal “Diário Carioca”, Rio de
Janeiro, edição de 19 de novembro de 1931, página 3. É interessante comentar
sobre o juiz Nelson Hungria Hoffbauer. Este nasceu em Além Paraíba, Minas
Gerais, em 1891, iniciou sua vida pública como promotor de Rio Pomba, em seu
estado natal. Nomeado juiz em 1924, foi magistrado por 46 anos, tendo sido
nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal em 1951, do qual chegou à
presidência e se aposentou em 1961. Hungria é tido como um dos luminares de
nossa cultura jurídico-penal, onde deixou escrito 17 obras e 150 monografias.
Foi considerado o líder intelectual da redação do Código Penal de 1940, além de
ter participado da elaboração do Código de Processo Penal, da Lei de
Contravenções Penais e ainda da Lei de Economia Popular. Seus Comentários ao
Código Penal (8 volumes) influenciaram gerações de juristas brasileiros e
constituíram referência obrigatória para a compreensão de nosso sistema
jurídico penal. Ver – http://www.memorial.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=114
[24] A Revolta dos 18 do Forte de
Copacabana foi uma revolta tenentista ocorrida na cidade do Rio de Janeiro em 5
de julho de 1922. Foi a primeira revolta tenentista da República Velha. Teve a
participação de 17 militares e um civil. Suas causas principais estão no
descontentamento dos tenentes com o monopólio político do poder no Brasil por
parte das oligarquias (principalmente ricos fazendeiros) de Minas Gerais e São
Paulo. Embora o movimento tivesse sido planejado em várias unidades militares,
somente o Forte de Copacabana e a Escola Militar se levantaram no dia 5 de
julho de 1922. O forte foi bombardeado e a rendição dos rebeldes foi exigida.
O tenente Siqueira Campos e um grupo de militares rebeldes pegaram armas
e marcharam pelas ruas em direção ao Palácio do Catete (sede do governo federal
na época). Durante a marcha alguns militares desistiram, ficando apenas 17 que
receberam o apoio na rua de um civil, totalizando 18. Os rebeldes foram
cercados pela tropa do Governo Federal. Após forte tiroteio em frente ao posto
3 da praia de Copacabana, somente Siqueira Campos e Eduardo Gomes sobreviveram
e foram presos. Os outros dezesseis integrantes do movimento foram mortos no
combate.
[26] Ver o periódico “Diário de Notícias”,
Rio de Janeiro, nas edições de 7 e 8 de janeiro de 1933, sempre nas 1ª páginas.
Igualmente ver o jornal “Diário Carioca”, Rio de Janeiro, edição de 7 de
janeiro de 1933, 1ª e 5º páginas.
Enviado pelo historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.com.br/
Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com