Por Sálvio
Siqueira
O pai dos
terríveis cangaceiros Lampião, Esperança, Vassoura e Ponto Fino, Virgolino,
Antônio,Livino e Ezequiel, respectivamente, José Ferreira é tido pelos
pesquisadores como tenha sido uma pessoa de respeito, honra e digna. Que sempre
procurou cumprir com seus deveres sem ir à busca de brigas e/ou desavenças com
quem quer fosse, era uma pessoa pacífica.
Falar da
descendência, dos ancestrais, de alguma personagem histórica relacionada ao
Fenômeno Social Cangaço é quase impossível. A falta de registros nos faz penar
em pesquisas bibliográficas que ao serem confrontadas não ‘batem’, não
concordam entre si. Distorcendo até mesmo nome e sobre nomes dos pesquisados.
Documentos importantes como o Registro Civil e o Batistério, da mesma, não
batem em suas informações quanto aos nomes dos pais do registrado e batizado.
Usaremos como
exemplo a Certidão de Nascimento e o Batistério de Virgolino, o futuro cangaceiro
que aterrorizou sete Estados da Região Nordeste na época do seu reinado
sangrento, 1916/17 a 1938.
Certidão de Nascimento: Cartório Oficial do Registro Civil de São José do Barro
Vermelho, ¨º distrito de vila Bela, Serra Talhada, PE. São José do Barro
Vermelho hoje é Tauapiranga.
As informações sobre a Certidão de Nascimento foram retiradas do livro de
registro de nascimento “Nº 2-A, foljas 8v – 9.
As informações
retiradas sobre o Batistério foram colhidas na Paróquia Senhor Bom Jesus dos
Aflitos, na cidade de Floresta, PE. Contidas no livro nº 13, folhas 145v e 146,
assento nº 462, do ano de 1898.
Em ambos os documentos notamos apenas o nome, e nenhum sobrenome da criança:
Virgolino.
Obs.: Com “o”, e não com “u” como tantos escrevem.
A data de nascimento diverge entre os dois documentos no dia, mês e ano:
Certidão de
Nascimento: 7 de julho de 1897
Certidão de Batistério: 4 de junho de 1898
O nome do pai também tem diferença, em um há dois sobrenomes, no outro apenas
um:
Certidão de Nascimento: José Ferreira dos Santos
Certidão de Batistério: José Ferreira
O nome da mãe muda completamente seus sobro-me de u para o outro:
Certidão de Nascimento: Maria Sulena da Purificação
Certidão de Batistério: Maria Vieira da Solidade
Quanto aos avós só constando na Certidão de Nascimento
Paternos:
Antônio Ferreira de Barros e dona Maria Francisca da Chaga
Maternos:
Manoel Pedro Lopes e dona Jacoza Vieira da solidade
Os padrinhos são citados apenas na Certidão de Batistério:
Manoel Pedro Lopes e dona Maria José da Solidade
Obs.: No livro “O Espinho do Quipá”, de Vera Ferreira e Antônio Amaury, consta
o nome de José Ferreira como ‘José Ferreira da Silva’. Numa nova edição do
mesmo livro, porém, com o título mudado: “De Virgolino a Lampião”, o nome vem
‘José Ferreira dos Santos’. Esse sobrenome, “Santos”, é o que consta na
Certidão de Nascimento de Virgolino. Na Certidão do Casamento Religioso do
casal pais de Virgolino está assim escrito, registrado, José Ferreira dos
Santos.
Segundo o
pesquisador/historiador José Bezerra Lima Irmão em seu livro “Lampião – A
Raposa das Caatingas” – 2ª edição, 2014, a árvore genealógica do pai de
Virgolino é assim: “Os ancestrais de Virgulino pelo lado paterno – família
Ferreira Lima – eram de uma região entre Surubim e Timbaúba, no agreste
setentrional pernambucano, com ramificações pela Paraíba. Descendiam do “Alves
Feitosa”, da povoação de Inhamuns, à época município de Tauá, no Ceará,
família antiga, dos primeiros povoados do sudeste do Ceará. A Sesmaria de um
dos patriarcas da família, Lourenço Alves Feitosa, ficava onde hoje é Cococi,
atual distrito de Parambu. Seu irmão Francisco Alves Feitosa era dono da
fazenda barra do Jucá, no Vale do Jaguaribe. Vários membros da família Alves
Feitosa debandaram do sertão dos Inhamuns em virtude de questões com a família
Monte, da região do Riacho do Jucá, afluente do Jaguaribe. Para não serem
localizados pelos inimigos, muitos mudaram de nome, trocando o “Feitosa” por
“Ferreira”, acrescido, ora de “Barros”, ora de “Lima”.
O bisavô de paterno de Virgulino, José Alves Feitosa, passou a identificar-se
como José Ambrósio Ferreira Lima. Tinha dois filhos: Antônio Ferreira Lima e
João Ferreira Lima.
Antônio
Ferreira Lima é o avô de Virgulino. Seu nome antes era Antônio Alves Feitosa,
porém passou a se identificar ora como Antônio Ferreira Lima, ora como Antônio
Ferreira de Barros, ora como Antônio Ferreira da Silva, ora como Antônio
Ferreira Magalhães. Natural da Serra do Surubim, ele andou pela Paraíba, voltou
para Serra do Surubim, indo residir em Lagoa Seca (atual Upatinga), município
de Aliança, na zona da mata de Pernambuco, e depois se mudou para o sertão,
indo fixar-se nas fertilíssimas terras da Serra da Baixa Verde, onde comprou um
sítio, duas léguas a sudeste de Triunfo, pouco acima de Medéia (atual Jatúca).
Mudou-se mais tarde para Carrapicho, nos arredores de Vila Bela. Casou com uma
moça do lugar Peru, na ribeira do São Domingos, chamada Maria Francisca da
Chaga (dona Maria Chaga), tecedeira, crida pelo grande fazendeiro Manoel gomes,
do São Miguel, e foi morar por algum tempo lá, no Peru, e depois na Situação.
Tiveram três filhos e duas filhas, retornando depois para Carrapicho e em
seguida para região da Baixa Verde, passando a morar num sítio na Serra da
Bernarda, ao poente de Triunfo.
O filho mais velho de Antônio Ferreira e Maria Chaga chamava-se João Ferreira
Sobrinho, alcunhado de João Rola. Não se conhece maiores detalhes sobre ele,
sabendo-se apenas que era almocreve.
O segundo filho foi José Ferreira (pai de Virgulino), nascido na serra da
Bernarda. O terceiro chamava-se Venâncio Ferreira. Este, já adulto, se mudou
para Juazeiro do Norte, onde botou uma venda (mercearia). Por motivos de
doença, gastou tudo que tinha no tratamento e foi para Picos, no Piauí.
Além desses três filhos legítimos, Antônio Ferreira Lima teve ainda um filho
bastardo com uma bela jovem de olhos azuis e cabelos ruivos, chamada Matilde,
filha de José Ambrósio, um fazendeiro residente no Poço do Negro. Antônio
Ferreira e Matilde se conheceram em São Francisco, ao tempo e que ele morava
ele mora na fazenda Peru e fazia a feira naquela vila. Conversa vai, conversa
vem, tiveram um filho, que recebeu o nome de Antônio José Ferreira e ficaria
conhecido como Antônio de Matilde , ou simplesmente Antônio Matilde. Esse personagem
viria a ter enorme influência na vida de Virgulino, seu sobrinho (...)”.
(Transcrição na íntegra)
Bem, as
informações constante no livro citado nos trazem uma José Ferreira de estatura
mediana para baixa, que usava bigode aparado, tinha uma conversa mansa, meiga,
porém sincera e direta. Nasceu em 1872 e foi batizado na capela de São
Francisco tendo como padrinho Manoel Pereira da Silva Jacobina, o conhecido por
Padre Pereira.
Os pais de Lampião
Reza a
historiografia de José Ferreira ter sido um apaixonado por sua mulher muito
antes de terem se casado. Para ver seu amor, José sempre passava na casa dos
pais dela, como desculpa, e pedia água. Ela, claro, sabia disso e era quem
corria em levar água para ele. Sabendo que Maria estava havia ficado noiva do
rapaz chamado Venâncio Barbosa Nogueira alcunhado de Venâncio da Mutuca. Não
tendo outra solução em vista, a ‘sede’ de José acaba e ele deixa de passar no
terreiro da casa, e pedir água de Manoel Pedro, pai de Maria...
Um dia como
outro qualquer, José por acaso encontra-se com Maria Lopes e ela cita o
desaparecimento dele.
“- Zé
Ferreira, o que foi que aconteceu que você nunca mais passou lá em casa?”
“- Nada não... – ele desconversou. – Eu soube que tu vais casar...”
“- Ia, Zé. Eu estou grávida, mas Venâncio não quer casar. Sabe como é: ele é
filho de gente rica. Não sei o que vai ser de minha vida... Meu pai, quando
souber, vai matar-me.”
Diálogo retirado do livro citado acima, com modificação na grafia.
Além de ser um cabra honesto, José Ferreira estava arriado os quatro pneus mais
o de suporte pela cabocla do Pajeú. Não pensou duas vezes. Prontifica-se no
mesmo instante em assumir ela e a gravidez. Sem se importar com o futuro. O que
importava realmente, o que era importante naquele momento, era estar ao lado
daquela mulher que balançou seu coração. E sem pensar diz:
“- Olha Maria, se você quiser caso contigo.” (modificação na grafia do
monólogo)
Não deu outra.
Naquele tempo, uma filha aparecer ‘buchuda’, grávida na casa de seus pais era
uma desonra muito grave. Sabemos de casos ocorridos aqui mesmo, na Terra da
Poesia, São José do Egito, PE, aonde os pais da moça a desprezaram e ela só
teve o baixo meretrício como saída, para exercer a profissão mais antiga do
mundo afim de sobreviver e dar assistência ao filho(a), exemplo: a poetisa
“Severina Branca”. Severina, muito nova tinha um corpo bem feito, era muito
bonita de rosto e tudo o mais. Vai que um rapaz da alta sociedade egipciense
“transa” com ela e a engravida. Ela, com o desprezo que teve da família,
procurou o cabaré local, usando seu corpo para servir de ganha pão e moradia e
assim poder alimentar uma filha que nasceu.
Pois bem, voltando ao assunto de José Ferreira, o casamento ocorreu na Paróquia
Senhor Bom Jesus dos aflitos, em Floresta, PE, aos 13 dias de outubro de 1894.
Quem fez o casamento foi o cônego Joaquim Antônio de Siqueira Torres.
Com isso vimos, a saber, que o primeiro filho de Maria Lopes não era filho de
José Ferreira. Portanto, o irmão mais velho de Virgolino, Antônio Ferreira, era
só seu irmão por parte de mãe. Alguns autores citam esse fato como sendo o
próprio fazendeiro a ter tido relações com Maria Lopes. Citam ainda que ela
ganhou, pela gravidez inesperada e não assumida, uma parte de terra, sítio,
denominado Passagem das Pedras, local aonde viveram os primeiros dias de
casados e berço do nascimento de todos os filhos de Maria Lopes.
Com a
continuação, os filhos cresceram e começaram as desavenças com o vizinho de
propriedade. José Ferreira um homem do bem, como sempre, um apaziguador, vai à
casa do pai de José Alves de Barros, o Zé Saturnino tido como primeiro inimigo
de Lampião, o Sr. Saturnino Alves de Barros, pedir providência sobre o sumiço
de algumas criações e que a pele das mesmas foram encontradas enterradas
próximos a casa de um de seus moradores chamado Zé Caboclo.
As relações entre as duas famílias sempre foram bem, tanto que a esposa do
velho Saturnino, dona Alexandrina Honório Dantas, conhecida por todos como
“Dona Xanda”, era madrinha de apresentação de Virgolino. As consequências sobre
o desaparecimento das criações acabou dando no que deu. Uma briga de sangue.
Com todos os Ânimos acirrados, vendo a hora uma desgraça maior ocorrer entre
seus filhos e o filho caçula de Saturnino Alves de Barros, José Ferreira
resolveu mudar-se. Vende o sítio Passagem das Pedras por um valor bem abaixo do
de mercado ao senhor Manoel Justino do Nascimento, o conhecido Néo das
Barrocas, não chega nem a receber a quantia no total, e compra um sitiozinho no
lugar chamado Poço do Negro.
As encrencas
entre seus filhos e Zé Saturnino em vez de pararem, fazem é aumentar e este,
agora, tendo o apoio de outras pessoas residentes próximos à próspera povoação
chamada Nazaré, obrigam ao pacífico José Ferreira, mais uma vez, vender o que
tem e partir novamente. Desta vez o patriarca daquela família destinou-se a
procurar terras mais distantes, pensando assim em poder seguir sua vida e criar
sua família na paz. Porém, o destino reservou outro destino para José Ferreira.
“(...) José
Ferreira pensou inicialmente em mudar-se para a Baixa Verde. Porém, dona Maria
Lopes considerava que o melhor seria mudarem para mais longe. Havia parentes
dela em alagoas, na região de Inhapi, na Serra do Sobrado e em Santa Cruz do
Deserto. Além disso, Antônio Matilde, irmão por parte de pai de José Ferreira,
depois dos problemas com Zé Saturnino, tinha fugido para Alagoas e estava
vivendo em Matinha de Água Branca sob a proteção do coronel Ulisses Luna. José
Ferreira concordou com a mulher: iriam para Alagoas (...).” (Lima Irmão, pg 91,
2014)
Assim, mais
uma vez, o velho roceiro arruma as tralhas em cima de um carro de bois, no
lombo dos burros que fazia almocrevia, e parte em busca de um novo destino em
terras alagoanas. Já tinham andado um bom pedaço de chão quando, já em terras
da fazenda Poço Novo, “na ribeira do Riacho dos Mandantes, município de
Floresta”, PE, a caravana se assusta a verem uns rapazes conhecidos das
encrencas com Zé Saturnino. Eles dizem aos rapazes que não estão mais a ‘serviço’
e Zé Saturnino. Que estava indo pedir proteção a um dos coronéis acoitadores
daquela região, Ângelo da Jia.
Depois de dias
e noites de viagem, José Ferreira, ao chegar à fazenda Olho D’água de Fora,
propriedade de Manoel Francelino, porém, alcunhado por Antônio Porcino, ergue
as mãos para o alto e com seus olhos voltados para o céu, agradece a Deus.
Ferreira não tinha mais a burrada completa para fazer seu serviço de almocreve,
mas, mesmo com o pouco dinheiro que restava, pensava em retornar aos serviços e
tocar sua vida pra frente, alugando, por enquanto, alguns animais... No
entanto, precisava de grana urgentemente. Procura por pessoa conhecida, menos
os parentes de sua esposa, para ver se conseguia fazer um empréstimo. Aos
poucos começa a colocar suas atividades em dia.
Segundo alguns autores a primeira pessoa que José vai a procura e o padre
Manoel Firmino, vigário de Mata Grande. Esse sacerdote era padrinho de crisma
de seu filho Virgolino. Para vermos como são as coisas desse mundão de meu
Deus: tenho certeza que a maioria das pessoas, sertanejas, nordestinas,
brasileiras, não sabem o que é a Confirmação da Apresentação. Tão pouco seus
pais, ou os idosos, preocupam-se em, pelo menos, lhes dizerem do que se trata,
a época, amaneira de viverem e conviverem, não permite mais, infelizmente.
Bem, Ferreira
recebe do vigário uma carta de apresentação que deveria entregar ao coronel
Gervásio Luna, conhecido naquelas redondezas como Capitão Sinhô, que tinha como
propriedades as fazendas Piedade e Chupeta. Esse dito cujo, o Capitão Sinhô,
diz não poder dar cobertura a José Ferreira. Então escreve outra carta de
recomendação para que o patriarca peregrine em busca do coronel Zezé Abílio.
Esse coronel os acolhe e lhes dar total proteção.
Porém, como o destino é pré-marcado, as coisas, que iam de vento em popa,
recebem um grande choque. Zé Saturnino, sabedor de onde estava José Ferreira e
família, escreve uma carta com um conteúdo pesado:
“Quando Zé
Saturnino soube da mudança de seus desafetos para Olho D’água de Fora, escreveu
várias cartas para as autoridades e pessoas importantes de Água Branca,
denunciando os irmãos Ferreira e Antônio Matilde como bandidos perigosos,
assassinos e ladrões. Pelo menos quatro pessoas receberam tais cartas: o
coronel Ulisses Luna e seu irmão Sinhô, a Baronesa de Água Branca e o
comissário de polícia de Água Branca, Amarílio Batista Vilar (...).” (Lima
Irmão, pg 93, 2014).
Ao tomar
conhecimento do conteúdo da carta, ou das cartas, José Ferreira procura o
delegado de Água Branca e expõe ao mesmo os ocorridos em Pernambuco. O
delegado, vendo que Ferreira era homem de respeito, aceita e concorda, porém,
avisa que nada pode fazer em relação ao comissário de polícia. O coronel
Ulisses, que era um protetor de jagunçes, pistoleiros e cangaceiros, não deu
tanta importância. Porém, a Baronesa começa a aperta o coronel e o comissário
para que ambos tomem uma providência quanto aos ‘bandidos’.
Ocorrem vários
incidentes depois de esses fatos acontecerem. Antônio Matilde perde a proteção
do coronel Ulisses e o comissário, em “28 de abril de 1921”, começa a caça as
bruxas terminando por prender João Ferreira, quando esse foi a Água Branca,
para comprar remédios para sanar uma otite contraída por uma de suas sobrinhas,
Lica, filha de sua irmã Virtuosa Ferreira que era casada com Luís Marinho. A
coisa engrossa e os irmãos mais velhos de João, Antônio, Livino e Virgolino, ao
saberem, veem para casa dos pais e terminam por darem um ultimato ao comissário
de polícia. Por fim, depois de muita conversa e ameaças João foi liberado.
Depois desse ocorrido, muito triste, José Ferreira, depois de analisar o que
aconteceu recentemente, sabe que não pode mais ficar naquela ribeira. Deixando
a maioria dos filhos naquela casa, o casal, José e Maria Ferreira, levando com
eles seu filho João, saem ainda na noite para procurarem um lugar aonde
pudessem viver em paz. Segundo algumas informações de pesquisadores, a
tendência de José Ferreira seria voltar para Pernambuco e irem morar em seu
sítio na Baixa Verde. Ao ir fazer as contas com o dono da fazenda, Manoel
Francelino, José Ferreira recebe a proposta de que ele seguisse até a fazenda
de seu pai, Fazenda Engenho, mandasse os filhos mais velhos para algum local, e
ficassem ali até resolverem com calma, seu destino. José aceitou de bom grado
aquela sugestão.
No caminho,
ainda próximo à fazenda Olho D’água de Fora, dona Maria Lopes tem um mal súbito
e passa instantes desacordada à beira do caminho. Esse mal vinha ocorrendo com
frequência de uns dias para aquela data, 30 de abril, num sábado.
Os donos da
Fazenda Engenho, “Sinhô Fragoso e dona Totonha”, os recebe como manda o
figurino. Diz dono da fazenda dizem que há três casas, uma ele mora, outra
estava ocupada por um de sues filhos e a outra estava vazia. Que na vazia poderia
se arranchar. Esqueceu, ou não quis dizer, que um dos filhos estava sendo
procurado pela Força Pública das Alagoas por ter cometido um crime de morte e
que o mesmo estava na fazenda.
José Ferreira
deixa a fazenda e segue para Mata Grande a fim de comprar mantimentos. João
segue para amarrar os animais no roçado. Nesse momento, após ter armado algumas
redes, dona Maria Lopes vai até a casa sede prosear um pouco com dona Totonha.
De repente, cai no chão da casa e o pessoal dana o grito pedindo que João corresse
para acudir a mãe. Porém, quando o filho chega, mesmo botando o que tinha nas
pernas, já encontra a mãe morta. Um dos moradores da fazenda passa a perna no
lombo de um animal e sai em disparada para avisar José Ferreira que distava uma
faixa de três quilômetros, meia légua. Sua esposa morreu, segundo o pesquisador
José Ferreira Lima Irmão, aos 48 anos de idade, em 30 de abril de 1921, na sede
da fazenda Engenho.
Os demais
filhos veem para o sepultamento da mãe. Após esse, cada um volta para seu lugar,
porém, José Ferreira e João tinham que permanecerem naquela fazenda, pois José
estava a esperar um almocreve com seus animais, Zé Dandão, que deveria vir da
Bahia. Para depois tomar outro destino, provavelmente, retornar ao Leão do
Norte, para sua terra na Baixa Verde, onde já estavam alguns de seus filhos.
Os acontecimentos que narraremos a seguir, divergem de um autor para outro.
Em busca de uma narrativas sensatas, com altivez e de melhor compreensão fomos
ao ‘açude’ de vários pesquisador , Antônio Amaury, Rual Meneleu no seu blog
Caiçara do Rio dos Ventos, Clerisvaldo B. Chagas no seu blog clerisvaldobchagas.com e etc... E pescamos essas
transcrições:
“MORTE DE JOSÉ
FERREIRA (29 de junho de 1920)
Penúria...
O pobre do
José Ferreira, com tanta coisa amarga e trágica sem trégua se sucedendo, ficou
desatinado, abatido, sem gosto pra nada na vida, curtindo os penares da dor e
da saudade e os sobressaltos de uma desgraça ameaçadora e iminente. Chamou os
três filhos que continuavam ocultos, e lhes disse: — "Vocês aqui não podem
mais ficar. Vão para Pernambuco que depois eu tomo o mesmo caminho". Não
podia, de súbito, se afastar de perto da sepultura da finada esposa. Seguiram
os três filhos para Espírito Santo do Moxotó, onde ficaram; trabalhando na
propriedade de seu Terto. José Ferreira vendeu os dois burros para comprar
roupa de luto para todos de casa.
A diligência
do diabo...
Cartas do
delegado de Água Branca — comprado por Zé Saturnino — ao Chefe de Polícia de
Alagoas, carregando em cores os assucedidos mais recentes: a revolta dos
Porcinos; a invasão de "perigosos bandidos" vindos de Pernambuco,
onde cometeram "muitos crimes"; o caso do soldado Jagunço em Mata
Grande; a desfeita à polícia em Água Branca quando ela, "com bons
modos", procurou desarmar aqueles "criminosos bandidos", os
quais ao depois desfeitearam o comissário de Paricônia;. um "bandido,
ainda jovem, comprando armas"; "a ameaça e o terror ganhando as
populações"... Alarmado diante de tudo isso, resolveu o Governo cortar
pela raiz todos esses males. Para tal, determinou ao delegado de Viçosa, 2°
Tenente José Lucena, famoso por excessos de severidade, fazer uma diligência
por aquelas bandas conflitadas. Ao chegar em Água Branca, foi Lucena inteirado
de tudo o que ocorrera. Inclusive por carta de Zé Saturnino tivera conhecimento
do nome dos "três perigosos bandidos e criminosos": os irmãos
Virgulino, Antônio e Livino, além de Antônio Matilde, que, armados, haviam descido
do Navio para aquele município alagoano. De primeiro, dirigiu-se Lucena à
fazenda Chupete, para perguntar ao Capitão Sinhô pelos irmãos Ferreiras. —
"Despachei eles para o Coronel José Abílio, de Bom Conselho; não costumo
ter bandido comigo" — descartou-se o capitão. Carecia não se inocentar.
Lucena não ofendia coronel e protegido da política de cima. Mas somente cabra
solto, isolado ou de grupo. Seguiu, então, Lucena, na pista deles, em direção
de Santa Cruz do Deserto.*
* Da fazenda
Chupete seguiu Lucena no sucaro dos Ferreiras guiado por Zé Batista Quirino e
outros mais da mesma família. Zé Batista sabia exatamente paro onde se havia
mudado o velho José Ferreira. Tinham os Quirinos transações com os Ferreiras em
razão do carguejamento de mercadorias. A aproximação dos Ferreiras com os
Marcos, inimigos dos Quirinos, levou estes à denúncia de traição. Além de seus
soldados, compunham a tropa de Lucena alguns cachimbos, juntamente com Amarílio
e os Quirinos.
O assassínio...
Na casa de
José Ferreira, só tristeza. Tinha ele ido ao cemitério e não compreendia por
que desta vez chorara muito mais do que das outras. Revelara aos filhos o que
dissera à falecida, já na cova enterrada, que não havia mais sentido para ele
continuar a viver. Queria ir pra de junto dela. Repassou, de minúcia e
fagueiro, os bons tempos de antanho, de paz e ternura. Recordou particularmente
a última festa; do Senhor São João, há dois anos atrás, em que a finada, tão
bonita e saudável, tão vistosa e alegre, dançara com ele... Hoje, era ele mais morto
do que ela morta! No dia seguinte, 29 de junho, terça-feira, precisamente 38
dias depois da morte de D. Maria Lopes, de manhãzinha, o tempo chuviscoso, ele
com mais João e as três meninas fora adjutorar, como alugados, os trabalhos de
um roçado vizinho, a modo de trazer para casa alguma coisa de ganho para o
de-comer carecente. Voltara logo para casa José Ferreira, cansado e escanchado
em Condave, trazendo dependurados, de cada lado das ancas do velho burro, dois
sacos contendo quatro mãos de milho plantado em São José e colhido agora para o
São João.*
* A mão de
milho em Alagoas: 25 espigas não debulhadas; em Pernambuco: 50.
Ao chegar no
terreiro de frente da casa, bem perto do lugar em que a esposa falecera,
apeiou-se. Correram pressurosos e choramingando de fome os dois menores e lhe
tomaram a bênção. Abraçou-os o pai, afetuosa e longamente, acarinhando e
beijando. Em seguida tirou os sacos e derramou as espigas num balaio. De
cócoras, apanhava as espigas, tirava a palha, que avoava para Condave comer.
Debulhava o milho numa gamela para depois fazer xerém no pilão, facilitando
assim o trabalho das meninas que, ao regressarem, era só preparar o angu. O
qual dessa vez não seria comido puro. Tinha ele comprado um bom taco de carne
de bode e um litro de farinha. O "café" (almoço) seria sustancioso.
Estava José
Ferreira dessa maneira entretido quando, escornetando a concha da mão na
orelha, ouviu um tropel. Com mais, estava sua casa cercada de soldados. A uma
distância de três braças gritou Lucena para o velho José Ferreira: — "Cadê
os seus três filhos bandidos?" Ferido em seus brios e honra, José Ferreira
retrucou, com todo o desassombro e altivez, alto, firme e pausadamente: —
"Não, sinhô! Bandidos, não! Meus filhos não são bandidos. Querem forçar
eles a ser. Mas eles são é home!..." — "É assim que responde a um
oficial, velho malcriado, cachorro da mulesta" revidou furioso Lucena.
E, sem mais,
descarregou ele próprio a pistola no peito daquele pobre velho, pacifico e
indefeso, que caiu, por estranha coincidência, ali, no mesmo chão onde falecera
sua esposa. Na queda, de chofre e de bruços, por cima do balaio, o corpo
esparramado, o braço direito estirado segurando na mão um cabucé, torceu o
rosto de lado e balbuciou:
—
"Coma... coma..."
Pareceu, nessa
única palavra, que a derradeira preocupação de seu coração paterno era
desafaimar 'as crianças. Elas, as crianças, apavoradas, dispararam, aos berros,
por dentro do mato. Um soldado para agradar ao comandante deu na direção delas
um tiro de fazer medo, provocando gargalhadas nos seus companheiros de
selvageria. Lucena vasculhou a casa de Zé. Ferreira, encontrando de arma apenas
um quicé!
Ao retirar-se notou dois homens ,vindo, desconfiados e irriquietos, na sua
direção. Sem saber nem perguntar quem eram, ordenou uma descarga de fuzil,
matando um e ferindo o outro, que correu. Uma senhora e u'a moça que vinham a
certa distância ficaram levemente feridas. Não era ele o senhor absoluto da
vida e da morte?!
Os dois eram o
velho Fragoso e seu irmão Zequinha. Aquele, viúvo e dono da fazenda Engenho,
onde, por caridade, cedera uma humilde casa de morador para José Ferreira ficar
até que resolvesse seu destino. A senhora era a dona da casa e a moça sua
filha. Atentando nos disparos, tinham ido ver, desarmados, o que acontecia,
sendo seguidos pelas duas mulheres.*
* É
absolutamente autêntica, _ com todos os seus pormenores, a descrição.
'assassínio doi. pobre; manso e indefeso velho José Ferreira., assim como das
outras circunstâncias. Em vez de debulhando milho, alguém fantasiou José
Ferreira tirando leite de uma vaca ...
Vezo da
polícia, para justificar seus crimes: alegar que houve "resistência".
Assim fez Lucena: O cúmulo do grotesco: o alquebrado velho José Ferreira
enfrentando sozinho uma formidável volante e "tiroteiando" com uma
quicé, isto é, com um toco do facas Quando João Ferreira, filho da vítima, em
entrevista, usou a palavra "tiroteio", entendeu dizer que houve tiros
de um lado, o da volante.
Quase
profético o Padre Epifânio Moura, vigário de Água Branca: — "Esse crime
vai trazer muita desgraça para o sertão". O povo: — "Mataram dois
cidadãos de bem só pru gosto de matar!" — "É do esperar que não fique
nisso, não". E, de fato, o povo não se enganou. Tão revoltante crime
lançou Virgulino e seus irmãos no cangaço. Criou Lampião! A situação piorou.
Diante do ressurgimento do cangaceirismo, agora em forma diferente,
recrudescido e desafiador. Chamou o Governador alagoano aquele homem de sua
confiança, o único, a seu ver, que enfeixando poderes absolutos e
indiscriminados, poderia liquidar, de um golpe, todo aquele mal, muito embora
enegrecendo o seu nome e o da História. Este homem: — Segundo Tenente José
Lucena de Albuquerque Maranhão. Esteve confabulando no Palácio do Governo, em
Maceió, no dia 4 maio de 1921. Depois destituído da delegacia policial de
Viçosa, iria com carta branca, acabar com o banditismo em todo o estado. E
assim e vexado com uma poderosa volante de vinte e quatro homens, deixaria no
dia 10 de maio, a cidade de Palmeira dos Índios “na direção do sertão.” A ação
repressiva de Lucena chegou a ser "desumana", conforme ele próprio
reconheceu. (Cfr. Adendo ao capítulo 45.)
A desolação da
abominação! *
Alarmados
pelos tiros, João Ferreira e as três irmãs abalaram para casa.
No maior desespero reviraram o cadáver, fecharam-lhe os olhos e o conduziram
para dentro de casa. — "Mas, cadê Ezequiel e Anália?" — "Onde
estavam escondidos?" — "Ou será que foram roubados?" —
perguntavam-se angustiados uns aos outros, noutro desespero somado. . Feito
loucos, saíram João e Angélica às procura deles, chamando-os repetidamente com
toda a força dos gritos. Encontraram, enfim, os coitadinhos, com bem cem
braças, num estado horrível, assombrados e atordoados, rasgados dos espinhos e
tocos de pau, sujos de terra, quase sem mais falar de tão roucos, caídos no
chão, semimortos de fome e pavor! Tragédia de rara concepção ou de difícil
visualização nesse quadro desumano de miséria e barbaridade! — "Pareciam
(as crianças) dois filhotes de ema perdidos no mato, piando de fome!..."
Atirados os irmãos aos ombros, retornaram às pressas. No entanto, o grave da
situação era que ninguém cia vizinhança, com medo de Lucena, queria se
aproximar, para amortalhar e sepultar as vítimas. João Ferreira mandou
comunicar o triste acontecido ao delegado de Mata Grande, Maurício de Barros**
que atendeu prontamente e pessoalmente veio ao local, providenciando, por sua
conta e risco, o enterro, mas de um modo tão atabalhoado, dadas as circunstâncias
de terror, que João Ferreira nem viu quando os corpos, altas horas da noite,
candeeiro aceso na frente, foram levados! - "José Ferreira também era
filho de Deus e não bicho para os urubus..." — dissera Maurício, essa
destemida autoridade e mais tarde integrante da polícia pernambucana. Sem que,
ninguém da família assistisse, José Ferreira foi sepultado numa cova do
cemitério de Mata Grande, na manhãzinha do dia 30 de junho de 1920, a última
quinta-feira do mês.***
Unidos à mesma
gleba do Pajeú, que os viu nascer, unidos numa vida de vinte e seis anos de
amor conjugal; unidos ao mesmo chão do Moxotó em que expiraram o último alento,
deveriam seguir o mesmo destino de continuar diante de Deus.
* Naquela
época, culto sacerdote-vigário, corajosamente vergastou do púlpito e censurou
severamente, condenando esses abomináveis fatos, tomando por tema de confronto
as Sagradas Escrituras no famoso texto, cap. 9, v. 27, do profeta Daniel":
— "O maldito Coronelismo, simbolizado no deus pagão-político, prepotente,
cruel e desumano foi erigido sobre o altar da Justiça — divina por natureza —
sob à qual procuravam se abrigar os humildes e ofendidos, os pobres e fracos,
cuja vida é um perpétuo holocausto de seus direitos sagrados! Profanação, na
linguagem bíblica chamada de "abominação da desolação" ou desoladora
e horrorosa abominação".
**. Maurício Vieira de Barros. Lampião, a 29 de novembro de 1930, o prendeu
juntamente com um soldado, nas Negras (Aguas Belas), quando ainda estavam
deitados e dormindo. Levou-os presos até Pau Ferro (hoje Itaíba) município de
Águas Belas. A porta da casa de Maurício, disse Lampião: — "Vou matar o
soldado. Você não, porque lhe devo um grande favor: enterrou meu pai! Lhe
poupando a vida, paguei a dívida. Se continuar a me perseguir e eu lhe pegar
você não tem jeito, não. Morre, visse?!" Apesar das súplicas de Maurício,
Lampião matou ali mesmo o soldado e soltou o prisioneiro. Maurício havia
verificado praça na Polícia Militar de Pernambuco, chegando a ser sargento. Foi
comandante de volante. Era perverso, cometendo muitos crimes. Etelvino Lins,
Interventor do Estado, expulsou-o da polícia. Chamava a atenção seu bigodão,
Ainda vive com seus noventa anos.
*** Defronte da igreja de Santa Cruz do Deserto visitou o autor deste livro um velho,
em sua casa, o qual ajudou no enterro e, sem registro de óbito, no sepultamento
de José Ferreira em Mata Grande, território da jurisdição policial do delegado
Maurício Vieira de Barros. O nome do velho, o autor não guardou, mas tem como
testemunhas o Dr. Tarcísio de Freitas então engenheiro chefe do DNOCS, emt
Palmeira dos Índios.”
Em uma versão
um tanto diferente, Antônio Amaury e Clerisvaldo narram assim a morte do
almocreve:
“Quem matou
José Ferreira, pai de Virgolino, foi o volante Benedito Caiçara,
intempestivamente, sem saber nem quem ele era, na hora da invasão a casa. (Essa
versão é sustentada por uma das maiores fontes do cangaço que nos pediu para
que não colocasse o seu nome, por motivo de amizade com a família de Caiçara).
Por essa digna e insuspeita fonte, confirmada pelo saudoso batedor da tropa de
Lucena, Manoel Aquino, homem de bem, que ouvira de seus colegas de farda. Como
era um homem de princípios, Lucena recriminou duramente a Caiçara, mas assumiu
a morte do senhor José Ferreira, uma vez que se achava responsável pelos atos
dos seus comandados.
Existe uma versão que diz que o volante Caiçara fora duramente recriminado pelo
comandante, teve sua farda rasgada, levado uma surra e expulso da polícia. A
mesma fonte inicial, que tinha fácil acesso a ambos, diz não conhecer essa
versão. E que o soldado Caiçara era perverso, mas Lucena gostava muito dele.
Depois da polícia, Caiçara passou a ser sacristão do padre Bulhões e não antes.
Ainda como volante Benedito matou a pedradas um dos irmãos Porcino (José)
ferido, em uma das diligências de Lucena, e que nunca pertencera ao bando. (Ver
adiante e no último capítulo, o fim de Caiçara).
Quanto à morte
de Luís Fragoso, é sabido por todos, que Lucena não gostava de colecionar
prisioneiros. Ladrões em geral, especialmente ladrões de cavalos, assaltantes,
desordeiros, perturbadores da ordem pública, muitos foram executados em cova
aberta. A ordem para limpar o Sertão já vinha de cima (Autores).
Na morte de José Ferreira não houve combate. Os três filhos mais velhos não
estavam presentes. O depoimento de João e de Virtuosa são bem claros,
explanados por Vera e Amaury.
Na versão de Bezerra e Silva, houve forte tiroteio na fazenda Engenho. Além da
morte de José, ficou ferido Antônio Ferreira, na perna. Os Ferreira juntaram-se
aos Porcino, conduziram Antônio numa rede e com um grupo de 25 homens, partiram
para Pernambuco, pernoitando na vila Mariana. Pela manhã viajaram.
Lucena chegou à vila, tachou seus habitantes de coiteiros; os soldados ocuparam
as ruas praticando absurdo e o comandante ainda andou seviciando pessoas
(...).”
·Do livro “Lampião em Alagoas”, pág. 98-99.
Na Referências
e Notas de seu livro “Lampião, Entra a Espada e a Lei”, o autor Sérgio Dantas
se refere assim ao acontecimento:
“(1) Já Antônio
Amaury e Vera Ferreira, in “De Lampião a Virgolino”, atestam, com base
unicamente em depoimentos de João Ferreira e Maria Ferreira de Queiroz, ambos
irmãos de Virgolino Ferreira e filhos da vítima fatal – que a morte de José
Ferreira se deu por que José Lucena e Amarílio Batista estavam apenas
perseguindo o bandido Luiz Fragoso. Assim, ainda segundo os autores citados, a
polícia teria ido procurar o fugitivo na casa de seu pai, e, por azar, José
Ferreira ali se encontrava, sendo friamente assassinado. O que nos chama
atenção é que – segundo a tese defendida pelos autores acima referidos – a
vítima fora arrastada a um cômodo da casa e executado pelo tropa do sargento
José Lucena. Neste ponto, é importante por em relevo as informações no
processo-crime instaurado em 1921, na Comarca de Água Branca. O documento
judicial, em vários pontos, refere-se à perseguição policial a Antônio Matildes
e seus homens, dentre os quais Virgolino e irmãos. A perseguição feita a Luiz
Fragoso é citada nos autos apenas de passagem, e como consequência de uma pista
obtida por Lucena durante a perseguição ao bando de Antônio Matildes. De
efeito, ainda hoje, os habitantes mais velhos da localidade sustentam
integralmente a versão contida no processo judicial.”
E assim,
procuramos relatar e transcrevermos as narrativas sobre a morte de José
Ferreira, O Pai de Lampião.
As imagens do
monumento, pedestal e placas, em homenagem a tão ilustre pessoa, José Ferreira,
uma pessoa que sempre procurou a paz, o bem e a harmonia vemos abaixo. Capturas
realizadas pelo olho afiado atrás das lentes do pesquisador, historiador autor
de inúmeras obras literárias sobre a saga cangaceira, principalmente no que diz
respeito ao cangaço lampiônico, nosso amigo, Sérgio Dantas.
Sérgio Dantas
nos informou que a cruz, o monumento, não fica exatamente aonde era a casa da
fazenda Engenho, local do assassinato de José Ferreira. Ele, o monumento, foi
erguido distando uns 50 a 60 metros do local exato onde ficava a casa que se
deu o fato. Colocaram-no na beira da estrada, acreditamos para melhor ser
visualizado pelos transeuntes.
Foto
Blog Caiçara do Rio dos Ventos
Pesquisador/historiador Sérgio Augusto de Souza Dantas
https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/permalink/1006910576184553/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com