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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

ATÉ TU COITEIRO MANÉ FÉLIX, QUE COMIAS NO MEU PRATO QUERES DESONRAR A MINHA RAINHA MARIA BONITA?

Por José Mendes Pereira.
Nenê do Ouro, Luiz Pedro e Maria Bonita

Pensando bem, é verdade o que afirma o escritor Rostand Medeiros que muitas histórias sobre o cangaço são motivos de piadas, mesmo por depoentes que tentaram enfeitar o que aconteceu no movimento social dos cangaceiros e principalmente no dia que os cangaceiros foram chacinados.

As respostas do cangaceiro Balão ao repórter da Revista Realidade em novembro de 1973 foram mais do que fantasiadas, muito embora, existem outras que têm fundamentos.


Capitão João Bezerra

Existem informações que quem armava Lampião era o tenente João Bezerra da Silva, mas na minha humilde opinião não há fundamento, uma razão é que: qual é o inimigo que arma o seu próprio adversário para depois arriscar a vida? Só em vídeo game quando muitos morrem e depois voltam a viver novamente para darem inícios aos ataques.


Coiteiro de Lampião Mané Félix

O coiteiro Mané Félix pessoa de alta confiança do rei do cangaço capitão  Lampião disse coisa com coisa, e eu acredito que ele deu uma deslizadinha quando afirma que Luiz Pedro meteu uma palmadinha meio forte nas nádegas de Maria Bonita, e o capitão Lampião que assistia de camarote não disse nada. Isso aconteceu no coito da Grota do Angico no Estado de Sergipe nas terras de Poço Redondo, quando Lampião estava com a sua cabrueira e sua central administrativa armada, e lá mesmo foram chacinados 11 cangaceiros e um volante.

Leia o que disse o coiteiro Mané Félix:

"Nessa tarde - dizia o coiteiro Mané Félix ao reporte da Revista Realidade - por sinal, depois de "caçoar" com Luiz Pedro, deixando de fazê-lo somente no momento em que se dirigia para o riacho, o bandoleiro que estava sentado sobre uma pedra, deu-lhe uma palmada mais ou menos forte nas nádegas (de Maria Bonita), fazendo-a correr na direção do pequeno córrego, enquanto Lampião que a tudo assistia, sorriu como se nada tivesse acontecido".

Quando se respeita alguém não há brincadeiras. O respeito de todos os cangaceiros com Maria Bonita e com Lampião era preservado. Lampião era na verdade um empresário, pois se contratava alguém tinha a sua empresa, muito embora para ele, do bem, e para nós, do mal.

Qual é o patrão que se mistura com os seus funcionários? Nenhum! Do contrário perderá o respeito e não saberá mais como contornar. 

Por que era que no acampamento Lampião se isolava dos seus comandados armando a sua central administrativa um pouco longe dos asseclas? Justamente para que eles o respeitassem. Se ele vivesse misturado com os cangaceiros, salvo uma reunião, chegaria o dia em que perderia por total o seu respeito.

Em relação à Maria Bonita não sou eu que estou criando, foi dito por cangaceiros remanescentes do capitão Lampião a alguns repórteres, os cangaceiros respeitavam tanto Maria Bonita que: quando falavam diretamente a ela chamavam-na de dona Maria, e quando se referiam a ela diziam dona Maria do capitão. 

Sobre como era Maria Bonita fisicamente o coiteiro Mané Félix acertou, descreveu para o repórter a fiel e corajosa companheira de Virgulino Ferreira da Silva, assim à vontade como uma: "mulher baixinha, toda redondinha, uma carinha bonita e com dois olhos pretos e grandes, morena clara, cabelos negros e lisos, quadris relativamente largos, cintura fina, tendo os braços e pernas roliços e muito bem feitos". Muito "prosista e conversadeira" - disse ele ao entrevistador - brincava bastante com alguns dos bandoleiros e pelos quais era respeitada, apesar de muitos deles levarem essa brincadeira mais além, como Luiz Pedro, por ela chamado de “Caititu”, e que gozava da maior confiança e intimidade da mesma e do próprio Lampião seu compadre.

Eu não estava andando com os cangaceiros na caatinga, mas acredito  plenamente na honestidade de Maria Bonita. O seu homem, após Zé de Neném, não passou do capitão Lampião.

Essas informações para mim são meio pruéticas como dizia o humorista coronel Ludugero. Mas isso é a minha opinião que poderá nem ter nenhum sentido, e nem ficarei chateado se algum dos amigos discordar. Cada um tem a sua visão, e sou apenas um estudante do cangaço sem rumo e sem muito conhecimento sobre o tema, e algumas vezes a gente conversa mais do que deve. 

Qualquer um dos pesquisadores que achar que eu estou conversando muito não tem problema de afirmar isso. Sou estudante do cangaço e aceito qualquer discórdia, por amigos que também são estudantes sobre o tema. O estudo do cangaço nada me faz ficar chateado se alguém apontar os meus erros. O que mais me interessa é a verdade.

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EM N. S. DA GLÓRIA, SE DONA NAIR VIU LAMPIÃO


Por Antonio Correia Sobrinho

Toda vez que boto os pés em Nossa Senhora da Glória, cidade do sertão sergipano, lembro que ela foi visitada por Lampião e asseclas em 1929, e fico a imaginar, em cima do que nos conta a história, como isso se deu.

Estou de novo na antiga Borda da Mata, e agora lembrei da matéria que há dois anos aqui publiquei, sobre a entrada de Lampião nesta, à época, minúscula localidade do sertão sergipano, hoje cidade progressista e porta de entrada do nosso sertão.



 N S. da Glória, provavelmente na década de 50 mantendo o 
mesmo aspecto das décadas de 20/30.
Acervo de Airles Almeida dos Santos

Leiam o texto até o fim, para saberem de dona Nair, a senhora que me disse que viu Lampião; ela que já se aproxima de um século de vida.

Em busca de Lampião

Demorar um pouco mais na sertaneja e progressista cidade sergipana de Nossa Senhora da Glória, antiga Borda da Mata, onde estou nestes dias, a trabalho, foi a disponibilidade de tempo que eu precisava para ir a lugares que Lampião e seus asseclas Luiz Pedro, Volta Seca, Quinta Feira, Ezequiel (Ponto Fino), Virgínio (Moderno), Corisco, Arvoredo, Ângelo Roque (Labareda), Mariano, Delicado e Zé Fortaleza (Fortaleza II), no dia 20 de abril de 1929, nesta cidade estiveram em razia.
Fui ao local da feira, onde Lampião e os seus amigos cangaceiros fizeram-se presentes, até assistiram à morte de um bode, ali mesmo, na feira; feira onde ele, quieto, tranquilo e bem humorado, deu esmolas, agradou a crianças, conversou com pessoas. Tirei foto onde funcionava o salão de Zé Besouro, onde Lampião fez a barba.

Também da Intendência, hoje a Prefeitura, cujo gestor João Francisco de Souza (Joãozinho), também comerciante de tecidos, tratou Lampião muito bem e atendeu a todas às suas reivindicações: bom dinheiro, lauto almoço e animais de montaria. E a Cadeia, segundo consta, xadrez sujo e fedido, onde ficaram presos enquanto Lampião agia, sem antes entregarem as armas, o sargento Alfredo e os soldados Osório, João e Zé Rodrigues.

Nada, porém, foi mais interessante do que o encontro que eu tive com a senhora Nair Aragão Feitosa, de 95 anos, viúva do ex-escrivão Pedro Alves Feitosa, ofício que ela também exerceu; dona Nair que foi uma das centenas de pessoas que naquele dia, estiveram a mercê do mais temível bandoleiro das terras sertanejas.

Embora convalescendo de uma cirurgia ortopédica, mas lúcida como poucos na sua idade, dona Nair me disse coisas a respeito desta presença de Lampião, confirmando o que disseram os pesquisadores. Informações que, considerando a sua pouquíssima idade em 1929, ela, em boa parte, deve ter obtido de terceiros, no correr dos seus anos.

Porém, o que eu mais queria dela, era saber se ela realmente viu Lampião.

Quando lhe fiz a pergunta, ela respondeu imediatamente, sem pestanejar, que sim.

Disse dona Nair que naquela manhã estava em casa, uma edificação situada na praça da feira, e ouviu quando o seu pai bradou: “Lampião entrou, Lampião entrou!” Portas e janelas foram fechadas, e de uma fresta na janela, a uns 20 metros de distância, ela com alguns da família viram claramente quatro cangaceiros, juntos, em pé, parados, segurando o fuzil fora de posição, na vertical, cano pra cima, coronha no chão. Tinham chapéus grandes na cabeça, que brilhavam muito, reluziam, contou ela.
Num momento, seu pai lhe disse: “Lampião é aquele mais alto, o de óculos”.
Ela voltou a dizer, também com gestos de mãos, sem eu perguntar: Os chapéus deles brilhavam muito...

Perguntei se seu pai teve medo. Ela disse que não.


 Policiais diante da antiga delegacia
Acervo de Airles Almeida dos Santos

Nossa conversa durou pouco, não quis cansá-la, em razão de sua idade e de seu estado de saúde, mas o suficiente para, atento às suas palavras, ao tom de sua voz e, principalmente, ao seu olhar que parecia vivenciar aquele inesquecível instante, aquele misto de medo, apreensão, curiosidade e expectativa, eu saí transbordante de satisfação. Agora eu posso dizer que estive com alguém que, muito provavelmente, viu Lampião, o rei do cangaço, este que fez dona Nair recordar e contar essa história durante toda a sua vida.

Nossa Senhora da Glória/SE, 22/01/2015.


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BANDO DO CANGACEIRO GATO 1935


BANDO DO CANGACEIRO SANTILHO BARROS ( GATO O TERRIVEL) O QUARTO DA ESQUERDA PARA A DIREITA MORTO EM PIRANHAS AL.EM 1936 PELO TENENTE JOÃO BEZERRA.


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O NOSSO LIVRO “LUGARES DE MEMÓRIA” ENTRE OS MAIS VENDIDOS NA UFRN

Rostand Medeiros – IHGRN.
Fiquei muito feliz essa semana quando soube através de amigos e do pessoal da Livraria do Centro de Convivência do Campus Universitário, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, que nosso novo livro “Lugares de Memória – Edificações e estruturas históricas utilizadas em Natal durante a Segunda Guerra Mundial” está entre os dez mais vendidos na conhecida Livraria do Campus, uma das maiores no estado, entre os meses de novembro e dezembro de 2019.
Ainda tive a grata surpresa de ter o nome do nosso livro lembrado pelo jornalista Vicente Serejo, que na sua coluna do dia 17 de dezembro, no do jornal Tribuna do Norte publicou a seguinte nota:::
Como foi dito pela imprensa, em suas 170 páginas “Lugares de Memória” traz informações, curiosidades e imagens de edificações e estruturas existentes na capital potiguar durante a Segunda Guerra Mundial, encerrado em 1945.
O livro apresenta informações e imagens (atuais e antigas) de 27 locais de Natal que possuem ligação com a participação do Brasil no conflito, incluindo quartéis, hospitais, sedes de companhias aéreas, bares, cabarés, hotéis, clubes militares, residências de oficiais e do cônsul norte-americano, entre tantos outros pontos que ainda mantêm as características de sete décadas atrás, ou cujos prédios originais deram lugar a novas edificações.
Publicado pelo Caravela Selo Cultural, o prefácio de “Lugares de Memória” é do jornalista e escritor Carlos Peixoto e o texto abre com a palestra do ex-governador Juvenal Lamartine, proferida em 1939 – sete meses antes da deflagração da guerra – e que já previa não só o conflito, como o envolvimento da capital potiguar. Já os 27 locais foram divididos em cinco partes, conforme os bairros: Santos Reis, Rocas, Ribeira, Petrópolis e Tirol.
O livro continua sendo vendido na Livraria do Campus, ao preço de R$ 40,00.
Segue a relação dos dez livros mais vendidos na Cooperativa do Campus entre novembro e dezembro de 2019.

O JOVEM BAIANO QUE FOI DE SALVADOR ATÉ NOVA YORK DE BICICLETA NA DÉCADA DE 1920



Cruzar diferentes países de bicicleta é uma aventura para poucos. Se hoje em dia uma façanha dessas ainda impressiona, imagine na década de 1920. Pois ela foi realizada por um jovem baiano que pedalou de Salvador até Nova York. 

Em 1927, às vésperas de completar 18 anos, Rubens Pinheiro pegou sua bicicleta Opel e partiu em direção à Big Apple. A ideia para a viagem surgiu durante uma aventura anterior. Quando ia a pé da capital baiana até o Rio de Janeiro, aos 16 anos, ele topou com o pernambucano Mauricio Monteiro, que viajava de bicicleta de Recife até Buenos Aires. O ciclista propôs que Pinheiro o acompanhasse, mas o adolescente recusou. Isso fez com que Monteiro o provocasse, dizendo que baianos não tinham coragem. Foi aí que Pinheiro prometeu realizar uma façanha ainda maior.

O jovem conseguiu juntar dinheiro para a viagem por meio de doações de comerciantes. Em sua bagagem, levou dez mil réis, algumas roupas, uma arma e um caderno com capa de couro de cobra que serviria de diário de bordo. "Quero conhecer Nova York sem ser em fotografia", disse ao jornal Diário de Notícias quando partiu, em 15 de março de 1927.

Apesar de a jornada ter começado com um pequeno acidente que danificou sua bicicleta, Rubens não desistiu. Para se manter durante a viagem, o jovem arrecadava dinheiro fazendo malabarismos sobre duas rodas e pedindo ajuda a políticos. Além disso, ele sabia a importância da autopromoção: a cada cidade que chegava, logo procurava a imprensa para contar a sua história.


Em sua aventura, Pinheiro percorreu mais de 18 mil quilômetros e passou por 11 países. Na Venezuela, conseguiu uma contribuição de 5 mil bolívares do ditador Juan Vicente Gómez. Na Nicarágua, viajou ao lado do revolucionário Augusto César Sandino. No México, teve uma audiência com o presidente Emilio Portes Gil, que também contribuiu financeiramente para a viagem, além de facilitar a emissão do visto de entrada para os EUA.

Pinheiro chegou a Nova York no dia 1º de abril de 1929, dois anos depois de sair de Salvador. "Agora estou quebrado. É bom ver Nova York!", afirmou o jovem aos jornalistas. Na cidade, o ciclista foi recepcionado pelo cônsul-geral do Brasil, Sebastião Sampaio, e recebeu um banquete de brasileiros residentes no Brooklyn. Depois disso, trabalhou lavando pratos e na General Motors, até que seu visto expirasse, em junho do mesmo ano.


O jovem voltou ao Brasil no navio Southern Cross. Seu desembarque no Rio de Janeiro foi ofuscado pela recepção à Miss Brasil Olga Bergamini de Sá, que estava na mesma embarcação, retornando do concurso de Miss Universo, nos Estados Unidos. Na então capital do Brasil, Pinheiro teve um breve encontro com o presidente Washington Luís. Ao retornar a Salvador, reuniu uma multidão em uma missa organizada por ele. Na ocasião, impressionou o público ao pedalar de costas na escadaria e na ladeira do Bonfim.

Nos anos seguintes, Pinheiro teve diversas atividades, como piloto do globo da morte em um circo e dono de um hospital de bonecas. Em 1979, quando sua viagem completou 50 anos, foi homenageado com uma nova missa e uma comemoração na Praça Municipal. No mesmo ano, publicou um livro contando suas façanhas ciclísticas. O aventureiro morreu em 1981, aos 71 anos. 

Fontes: BBC e Tripedal.net
Imagens: Arquivo pessoal, via Tripedal.net


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LUIZ LORENA ENTREVISTA SINHÔ PEREIRA


Do acervo do Anildomá Willans

Seu nome na pia batismal deve-se ao fato de ter nascido no dia de São Sebastião, 20 de janeiro de 1896.

Sebastião Pereira nasceu em Vila Bella, em meio a uma áspera guerra entre as famílias Pereira (a sua) e Carvalho. Foi chefe dos cangaceiros e das suas mãos, Lampião recebeu o bando.

Sinhô Pereira foi embora para Goiás no ano de 1922 e só voltou a beber das águas límpidas e saborosas do Pajeú no ano de 1971 (mês de junho), quando veio visitar a família em Serra talhada.

Naquela oportunidade, Luiz Lorena e Sá, a maior expressão da família Pereira nas últimas décadas, travou o seguinte diálogo com o seu brioso parente, que fora no passado o braço armado do clã:

- Lorena: “Qual o momento que marcou sua vida de maneira indelével?”
Sinhô: “foram tantos os momentos em meu trajeto que seria impossível descrever um.”

Lorena: “Qual seu dia de maior alegria?”

Sinhô: “Chegar à Serra Talhada cinquenta anos depois e ser recebido por todos os parentes com o carinho e atenção que me dispensaram, foi na verdade, motivo de muita alegria.”

Lorena: “Qual seu dia de maior tristeza?”

Sinhô: “Estando em Lagoa Grande, distrito de Presidente Olegário, em Minas Gerais, recebi a notícia do falecimento de Luiz Padre, em Anápolis, Goiás. Nem ao sepultamento compareci.”

Ex-cangaceiro Luiz Padre

Lorena: “Você tem alguma grata satisfação do seu tempo de guerrilheiro?”

Sinhô: “Não. Nasci para ser cidadão, casar-se e constituir família, Fui namorado da moça mais bonita do Pajeú.”

Lorena: “Por que se envolveu nessa tragédia?”

Sinhô: “A impunidade em Vila Bella teve seu auge em minha juventude; do assassinato de seu Zé - meu irmão – nem inquérito policial foi aberto.”

Lorena: “Você reconhece o que seus contemporânios dizem sobre o seu espírito guerreiro e de ser você o mais valente entre esses?”

Sinhô: “Do outro lado havia homens valentes até quase à loucura; entretanto, brigavam para matar. Na hora de morrer, até fugiam do campo de luta. Naquelas circunstâncias, matar ou morrer para mim seria a mesma coisa; daí a diferença.”

Lorena: “Desses confrontos, qual o que você teve mais proveito:”

Sinhô: “A família Pereira (a minha) vivia atormentada em face de minhas ações.

Lorena: “quais os fatos que mais perturbavam você?”

Sinhô: “Vários. No começo, quase tudo o que eu fazia errado dava certo. Com o passar do tempo, tudo o que eu fazia certo dava errado.”

Lorena: “Entre estes, você poderia destacar um?”

Sinhô: “Sim. A morte de João Bezerra, em Bom Nome. Na forma como eu procedi, acelerou minha decisão. O meu estado de espírito estava de tal forma desajustado que não tinha condição de conduzir as ações do grupo que comandava.”

Lorena: “Em que circunstância Lampião apareceu na sua vida?”

Sinhô: “Ele e os irmãos chegaram de Alagoas, depois do assassinato do pai, dispostos a confrontar com José Saturnino, seu inimigo comum. Não tinham condições financeiras nem experiências. Procuraram-me e participaram com muita bravura de alguns combates."

Lorena: “Por que Virgolino Ferreira da Silva ganhou o apelido de Lampião?”

Sinhô: “Num combate, à noite, na fazenda Quixaba, o nosso companheiro Dé Araújo comentou que a boca do rifle de Virgolino mais parecia um lampião. Eu reclamei, dizendo que munição era adquirida a duras penas. Desse episódio resultou o Lampião que aterrorizou o Nordeste.”

Lorena: “Você não quis Lampião em sua viagem para Goiás?”

Sinhô: “Ao despedir-me dele, no município de Serrita, pedi para não molestar ninguém da família Pereira. Ele prometeu e cumpriu. Não quis, entretanto, seguir viagem comigo.”

Lorena: “Depois de se instalar em Goiás, você convidou Lampião para ir morar naquela região"?

Sinhô: “Sim. Quincas (meu irmão) foi o portador da carta. Ele respondeu verbalmente, dizendo que não aceitava o convite para não me criar embaraço.”

Lorena: “Você recebeu o convite de alguém para atacar Antonio da Umburana em Quixada (Mirandiba)?

Sinhô: “Não. Tudo aconteceu por minha conta e risco.”

Lorena: “E o seu problema com Isnero Ignacio. Como aconteceu?”

Sinhô: “Naquele tempo, chegou para agrupar comigo o meu parente Luiz Pereira Nunes (Luiz do Triângulo), acompanhado dos primos Chiquito e Teotônio do Silveira, valente ao extremo. Depois de várias refregas, explicou-me que estavam comigo porque foram escorraçados da sua propriedade na região de Santa Rita pelo primo Isnero Ignacio. Estavam se preparando para a desforra e esperavam o meu apoio.”

Lorena: “Qual foi sua reação?”

Sinhô: “Ponderei que já bastavam as inimizades existentes e que Sinharinha, mãe de Isnero, era filha de tia Donana, figura considerada sagrada pela minha mãe.”

Lorena : “E Luiz do Triângulo, como reagiu?”

Sinhô: “Ficou contrariado, sem aceitar minhas ponderações. Entretanto, concordou que eu fosse com Luiz Padre pedir a interferência de Antonio Inácio de Medeiros, também primo de Isnero, e Sr. Sebastião Inácio de Oliveira também concordou. Isnero e Mãe Sinharinha foram radicais demais, não aceitando qualquer forma de reconciliação, inclusive proibiram o parente Luiz do Triângulo de voltar à sua propriedade.”

Lorena: “E daí, o que aconteceu?”

Sinhô: “Foi uma estupidez o que fizemos. Ateamos fogo na fazenda Santa Rita, deixando em cinzas o roçado, o canavial, o engenho, os currais e a casa da fazenda.”

Lorena: “Dos oficiais da polícia militar que o combateram, qual o de maior respeito?”

Sinhô: “O capitão José Caetano era um bravo. Intrépido e leal no mais duro da refrega.”

Lorena: “Qual o combate mais dramático que você participou?”

Sinhô: “Foi na Serra da Forquilha, numa semana em que estávamos repousando. Éramos doze homens, cercados num casebre por cento e vinte policiais. Sem outra alternativa, bradamos para que segurassem as armas porque iríamos para a luta de corpo-a-corpo e de corpo a punhal.”

Lorena: “O que aconteceu?”

Sinhô: “O que aconteceu? Saltamos e fugimos ilesos.”

Lorena: “Por que a ideia de avisar aos sitiantes, nessa e em outras oportunidades, que continuariam a luta, mas na verdade abandonavam o refúgio?”

Sinhô: “Enquanto aqueles procuravam entrincheirar-se, nós fugíamos.”

Lorena: “Você viajou para o Planalto Central desprovido de recursos financeiros?”

Sinhô: “Não. Isnero Conrado e Zé da Carnaúba financiaram a viagem com dinheiro que compraríamos duzentos bois.”

Lorena: “Em Dianópolis, onde se instalaram, correu tudo bem?”

Sinhô: “Vivemos uma epopeia mais dramática que aqui, expressar numa entrevista nem vale a pena...”

Lorena: “Por que essa expressão “minhas navegações”, quando sabemos que navegar é próprio do oceano?”

Sinhô: “Ouvíamos dizer que o mar é uma imensidão de água, e com a extensão de nossa desgraça não tinha limites, usávamos a expressão “nossas navegações”.

Lorena: “É verdade que você anteviu a genialidade de Lampião?”

Sinhô: “Dos homens que deixei em armas no Pajeú, só Lampião poderia chegar à celebridade. Os demais eram formiga sem formigueiro. Minha profecia foi cabalmente comprovada. Lampião nada aprendeu comigo. Já nasceu sabendo.”

Sinhô Pereira faleceu numa manhã no final do ano de 1972, em Lagoa Grande – estado de Minas Gerais -, deixando para trás uma vida e uma história marcadas de angústia, dores e vontade de viver feliz com sua família e amigos.

Sinhô Pereira era uma baraúna!


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SEPULTAMENTO "AÉREO" INDÍGENA


Por Roberto Beraldo

OFICIAIS DA NWMP NO LOCAL ONDE UM GUERREIRO LAKOTA FOI FERIDO NA BATALHA DE LITTLE BIG HORN RECEBENDO UM TRADICIONAL SEPULTAMENTO AÉREO.

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LAMPIÃO - O CANGAÇO E SEUS SEGREDOS"


Por Manoel Severo

"Caríssimo amigo José Sabino Basseti. Que conversa agradabilíssima acabamos de ter... Acabei ler "Lampião - o cangaço e seus segredos" e, com toda sinceridade, da minh'alma, como gostava de dizer meu querido e amado mestre Alcino... eu adorei, gostei demais, mesmo!!! Graças a Deus, o amigo revogou sua decisão de não mais escrever. Na minha opinião, este livro tem a mesma qualidade do anterior, sendo que, a mim, parece mais uma boa conversa, entre leitor e o autor, ou seja, a sensação é de estarmos ouvindo o autor falar com toda segurança e conhecimento sobre o assunto.

Sem adoração, sem condenação injusta, sem leviandade... Apenas e tão somente, usando da sinceridade e do conhecimento... Em síntese, O livro é fantástico!!! Só não vou dizer que estou surpresa, por eu já esperar que fosse tão bom quanto o é!!! Em algumas passagens, rolei de rir de suas tiradas, suas impressões. Amigo, destes uma aula sobre cangaço. É o tipo de livro que atende as expectativas desde o pesquisador/estudioso mais experiente ao iniciante no assunto.

Parabéns!!! E receba um abraço de admiração... Estou realmente festejando, feliz e animada por este trabalho tão bom, de excelente qualidade e sério. No mais, faltam-me palavras para exteriorizar quão feliz e agradecida estou por teres dedicado seu trabalho ao mais sensível, sério e dedicado pesquisador do cangaço, meu amado mestre e querido amigo Alcino Alves Costa... Agradecida estou, por certo, Ele deve tá lá no céu com aquele sorrisão doce dele, feliz por você ter concluído o livro e agradecido pela lembrança.

Além de ser um dos maiores conhecedores do fenômeno Cangaço, Alcino era de uma elegância singular. Respeitava todas as opiniões, sem se curvar a elas. Tinha convicções declaradas, muitas delas incontestáveis, em meio a outras que ele só confidenciava a pessoas muito próximas... Diferente de muitos algures... Foi um grande amigo dos amigos. Hoje, conta seus causos no sertão celestial... Parabéns pelo excelente trabalho, amigo Bassetti. Um abraço fraterno.



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