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domingo, 1 de setembro de 2013

Memória (ainda) viva do cangaço - Moreno e Duvinha - Viagem aos tempos de Lampião

Por: Jotabê Medeiros - Belo Horizonte

Casal de pistoleiros dos anos 30 fugiu a pé para Minas Gerais e foi reencontrado na semana passada.

Matou 21 - 1 deles com uma só facada. Pôs para correr três policiais na saída de um baile. Viajou de carona em trem de boias-frias, pendurado do lado de fora, e afogou dezenas de bicho-de-pé com querosene. Andou três meses do sertão de Pernambuco até Montes Claros, em Minas, comendo miolo de xique-xique e casca de árvore. Na mão de um benfeitor de beira de estrada deixou a estimada pistola alemã Mauser. As balas, uma lata cheia, escondeu num tronco.

Isso tudo foi há 70 anos. Hoje, o antes temido cangaceiro usa camisa muito branca de mangas compridas com abotoaduras de plástico brilhante nos punhos, chapéu de feltro e sapato mocassim. Está afundado no sofá do andar superior do modesto sobrado no Jardim Tupi, bairro simples de Belo Horizonte. Não tem mais de 1,60 m de altura. Tenta levantar para cumprimentar o visitante, mas logo volta a seu posto compulsório no sofá, mal resignado. Aos 96 anos, sua saúde parece muito boa, danada de boa, mas ele guarda apenas como lembrança incômoda a memória espantosamente nítida daquele rapaz de 20 e poucos anos que ele foi, e que corria das volantes, se esquivando das balas e, eventualmente, extorquindo, matando e roubando.


José Antonio Souto, ou Zé Pernambuco, como é conhecido no bairro mineiro, foi o cangaceiro Moreno, do bando de Virgílio (cunhado de Lampião, um dos mais cruentos cangaceiros dos anos 30).

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Virgínio está sentado ao lado de Lampião

Sua mulher, Durvalina Gomes de Sá, a Duvinha, foi do bando de Lampião, companheira primeiro de Virgílio e, após sua morte numa tocaia, de Moreno. Se o leitor viu o filme Baile Perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas (com imagens do raríssimo documentário do libanês


Benjamim Abrahão sobre Lampião e seu bando, feitas nos anos 30), Duvinha é aquela cangaceira bonita de cabelos compridos que brinca com uma pistola entre os homens de Lampião, apontando-a para a câmera e dançando.
Moreno lembra-se com precisão da data em que os dois deixaram o cangaço: 2 de fevereiro de 1940. Desde então, Moreno e Duvinha nunca mais falaram sobre seu passado, sobre os anos em que as balas ricocheteavam à sua volta e estavam entre os fora-da-lei mais procurados do País. Adotaram um código de silêncio. Nem os filhos sabiam de algo. Mas o segredo durou até a semana passada.

Moreno e Duvinha foram localizados há alguns dias pelo cineasta cearense


Wolney Oliveira (de Milagre em Juazeiro), em campo para colher depoimentos para seu novo documentário, Lampião, o Governador do Sertão.

Neli e o cineasta Aderbal Nogueira

Uma das filhas do casal, Neli, ajudou o cineasta - a chave foi um filho que Duvinha e Moreno deixaram com um padre, em Tacaratu, no sertão pernambucano, enquanto fugiam. Moreno só contou sobre o passado por medo de jamais reencontrar o filho,

 Inácio e Rostand Medeiros

Inácio, antes de morrer (eles o reencontraram, ele vive hoje no Rio de Janeiro e opõe-se à ideia de que os pais deem entrevistas sobre seu passado). "Na idade que estou, achei que morria logo. Não queria deixar eles enganados."

Existem pouquíssimos ex-cangaceiros vivos. Mais raro ainda é encontrar um casal do cangaço, testemunhas privilegiadas da organização social, afetiva, militar e estratégica daquele tipo de movimento que atravessou o século 19 e chegou à metade do século 20. Um movimento mitificado pelas esquerdas como uma experiência autônoma de guerrilha (e exemplo da insurreição do povo contra as injustiças dos poderosos) e definido pela direita apenas como grupos de saqueadores, estupradores e oportunistas explorando duplamente a população. O sobrado do Jardim Tupi já está ficando pequeno para tanta gente que está vindo fazer o refino da história.

É o único casal de cangaceiros sobrevivente que existe. “O mais importante é que eles têm fatos novos, que podem esclarecer muito sobre a história do cangaço e, por consequência, do Nordeste”, diz o escritor.

Moreno e João de Sousa Lima

João de Sousa Lima, recém-chegado de Paulo Afonso (Bahia), anotando e fotografando tudo. "É uma beleza!", diz apenas.

 Vera Ferreira -Neta de Lampião

Expedita Ferreira, filha de Lampião, que foi a Minas com a filha Vera para ver e ouvir Moreno e Durvalina.

Ouvindo a palavra de Moreno, sempre minucioso nos detalhes, sempre passando ao largo da emoção, esquematizando sua vida apenas como uma sequência de fatos definidos por forças alheias à sua vontade, tanto as teses da esquerda e da direita sobre o cangaço não parecem sólidas. "Matei para não morrer", diz Moreno, antes de começar a contar sua história. "Nasci em Tacaratu, Pernambuco, fui batizado em Mata Grande e criado em Brejo Santo (Ceará). Nunca tive documento, mas, pelas minhas contas, tenho 96 anos." Tinha muita vontade de ser polícia, e foi a Juazeiro para tentar um posto, mas só tinha 17 anos e não lhe deram atenção. Empregou-se então em uma propriedade rural em Cajazeiro do Rio do Peixe, na Paraíba.

Era o fim dos anos 20. Ali, em Cajazeiro, em sua versão, uma mulher chamada Antônia lhe atribuiu uma calúnia, sevícias numa sobrinha, o marido da mulher veio para cima dele e ele o matou com uma facada só. Foi quando seu caminho começou a entortar. Teve de ir para longe, viajou muito. Em Camela, Pernambuco, pegou uma febre tremedeira que o deixou seis meses doente. Quando sarou, envolveu-se em briga com três policiais em Santo Amaro e, em vez de conseguir inimigo, um sargento no qual bateu lhe arrumou um emprego num quartel. Mas não foi efetivado na polícia. Foi barbeiro, cavoqueiro e marreteiro e, um dia, trabalhava de segurança para um pequeno fazendeiro quando o lugar se encheu de cangaceiro.

Queriam 200 mil reis do fazendeiro, Moreno teve de intermediar a negociação. O chefe dos cangaceiros era Virgílio, que gostou da coragem do negociador. Convidou Moreno para tomar café no acampamento e a seguir com eles. Ele ficou de pensar. "Deu oito dias e eles voltaram para me buscar. Deu-me rifle, bala, cartucheira. Ficou aquele bobo lá no meio daquela homarada", conta.

Durante alguns dias, tudo parecia tranquilo e bom na vida iniciante do cangaço. Mas um dia Virgílio chegou para Zé dizendo que trazia um presente para ele. "O presente era um homem. Eu entendi logo que era para eu matar", conta. Era o teste definitivo. Zé não tinha uma Mauser, eles lhe deram uma. Disse que não sabia atirar. Ensinaram a manobrar. Ele pensou e disse a Virgílio, sem angústia. "Seu expediente será feito." Caminhou até o sujeito. "Apertei o gatilho e o homem tombou para o lado. Nunca fiquei sabendo quem era e quem não era."

Deram-lhe então o chapéu e a roupa azul de couro, ensinaram a apagar o rastro no bico da alpercata, e a não passar por ramo de árvore sem deixar o ramo para trás. O apelido Moreno foi o cangaceiro Luís Pedro, do bando de Lampião, quem lhe aplicou. "Não tive caderneta, mas não foi pouco não", ele responde, quando indagado sobre o número de homens que matou. "Entre polícia e paisano são 21, que tenho certeza. Mas tinha muito coiteiro que avisava a polícia quando a gente ia para a cidade fazer compras. Aí a gente matava", lembra.

Só não fez judiação com ninguém, garante. "Urubu comeu muito cangaceiro. Mas eu nunca cortei a cabeça de ninguém. Já tá morto, para que fazer mais? Isso aí é uma brutalidade", diz. E quanto à castração de lavradores, crueldade também atribuída ao cangaço? "Essa conversa de capar eu assuntei, mas não assisti não."

"Por que a senhora entrou para o cangaço?" Dona Duvinha, que foi a mais bonita daquele bando de Lampião - bem mais formosa que Maria Bonita, Moça Velha ou Inacinha. Ela responde de bate pronto: "Porque eu gostava de um cangaceiro (Virgílio). Eu era medrosa. Tinha a Mauser, tinha rifle, tinha punhal. Mas era só de boniteza", lembra Duvinha. Do cangaço, a bela mulher de Virgílio traz, além do atual marido, um terrível ferimento de rajada de metralhadora na perna esquerda e um pé semi-paralisado, consequência de picada de jararaca. Essa doeu. "No mesmo instante, eu fiquei cega. Urinava sem parar, puro sangue."

E Lampião, era mesmo aquele sujeito de ruindade pura que diziam? "Era bom. Ele andava na razão dele. Grosseria foi o que fizeram com ele, com a família dele, a mãe, os irmãos."

Sentados na sala do seu sobrado em Belo Horizonte, cercados pelos filhos João Batista, Murilo e Neli, Duvinha e Moreno assistem às imagens que mostram o bando de Lampião em seu acampamento. Vão reconhecendo velhos companheiros de cangaço. Moreno lembra-se de como teve de se opor a que Corisco matasse uma das mulheres do grupo, Maria de Pancada, e quase teve de enfrentar em duelo o terrível cangaceiro. Mas Corisco lhe deu razão e ele salvou Maria, que foi mandada embora.

Mas o momento-chave é quando Durvalina reconhece a si mesma, dançando e brincando com as armas. A filha Neli chora. "Como era bonita, minha mãe! E como era feliz!" O irmão João Batista a consola: "Não chora, minha irmã. O que passou, passou. Temos de viver no presente." João Batista diz que errado seria esconder esse passado, que é parte da história do País, que pode ajudar a esclarecer fatos importantes da vida da Nação. "Temos orgulho dos nossos pais."

Moreno, que detestava fotos recusa a tese de que sua figura aparece também nas imagens mostradas na TV. Segundo ele, trata-se de um outro cangaceiro também chamado Moreno, diz, só que este era paraibano. "Meu cabelo era grande, meu chapéu muito bem-feito. E eu não carregava a arma desse jeito. Nunca estive do outro lado da Bahia. Declarei hoje coisas que deveria ter guardado silêncio. Agora, um cangaceiro que não sou eu vou dizer que sou eu?", reage indignado.

Observação: Este trabalho foi publicado no dia 24-06-2006

http://www.orkut.com/CommMsgs?tid=2472124285136916734&cmm=176758&hl=pt-BR

 Gentilmente cedido pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço Kydelmir Dantas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A LOCOMOTIVA ALEMÃ DA ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Publicado em 31/08/2013 por Rostand Medeiros
Rostand Medeiros, Manoel Severo e Múcio Procópio

Autor – Rostand Medeiros

Tenho percebido que ultimamente várias pessoas em Natal estão com uma positiva preocupação em relação ao que sobrou do antigo patrimônio ferroviário em solo potiguar. Decidi dar aqui a minha contribuição.

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Foi em 1881 que foi inaugurado o primeiro trecho de linhas férreas no Rio Grande do Norte. Esta linha ligava Natal a São José de Mipibu e em 1883 os caminhos de ferro chegavam a cidade de Nova Cruz, ao sul de Natal e não muito distante da fronteira paraibana. Anos depois esta linha chegaria a capital paraibana e a Recife. Depois esta linha férrea passou a pertencer a companhia inglesa “The Great Western of Brazil Railway Company”.

Já uma linha férrea em direção oeste, ao alto sertão potiguar, só ocorreu em 1904 um ano de grande seca. Foi quando o Governo Federal deu início a construção de uma linha férrea que ligava a capital potiguar ao município de Ceará-Mirim. Em 13 de junho de 1906, o trecho de 34 quilômetros de extensão foi inaugurado e a nova Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte (E.F.C.R.G.N.) estava entrando em operação.

A instalação desta ferrovia tinha como grande objetivo econômico a interiorização comercial do Rio Grande do Norte. E a ideia deu certo! Logo ocorreu um crescente aumento no volume de mercadorias transportadas pela linha e na intensificação dos trabalhos de expansão da mesma. Já em 1911, a linha férrea havia se expandido 100 quilômetros e outros quase 100 quilômetros estavam em trabalho de construção. Neste mesmo ano a empresa transportou mais de 16 mil toneladas de mercadorias.

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Com esta expansão de linhas e da quantidade de material transportado, em 1912 o Governo Federal autorizou a aquisição de materiais, sem cobrança de impostos, conforme podemos ver na nota de “A República” daquele ano, pela Companhia de Viação e Construções, arrendatária da ferrovia.

No ano seguinte era fabricada a locomotiva mista que aqui trazemos em foto. A empresa que fabricou foi a Hannoversche Maschinenbau Actien-Gesellschaft vorm. Georg Egestorff, Linden vor Hannover, cuja fabrica ficava localizada em Linden, uma localidade próximo a cidade alemã de Hannover. A empresa era conhecida comercialmente como Hanomag e atualmente, após inúmeras mudanças de proprietários é a atual Komatsu Hanomag GmbH.

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Através de um decreto lei nº 1.475, de 3 de agosto de 1939, a “Great Western” foi encampada pela Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, que passou a se chamar Estrada de Ferro Sampaio Correia, engenheiro responsável pela construção da estrada. Em 1957, a Estrada Sampaio Correio passa a fazer parte da Rede Ferroviária Federal.

Hoje, infelizmente, praticamente tudo que foi desenvolvido para a Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte está abandonado.

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História do Rio Grande do Norte e marcado Alemanha, Caminhos de ferro,Ceará-Mirim, Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte (E.F.C.R.G.N.), Estrada de Ferro Sampaio Correia, Ferrovias, Hannover, Hannoversche Maschinenbau Actien-Gesellschaft vorm. Georg Egestorff, Hanomag, Komatsu Hanomag GmbH, Linden, Linden vor Hannover, NATAL, Rede Ferroviária Federal, RIO GRANDE DO NORTE, São José de Mipibu, The Great Western of Brazil Railway Company,


Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros


http://tokdehistoria.wordpress.com/2013/08/31/a-locomotiva-alema-da-estrada-de-ferro-central-do-rio-grande-do-norte

FLOR DO CANGAÇO

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

FLOR DO CANGAÇO

Qual a mais bela dentre todas aquelas mulheres que por desejo ou amor, ilusão ou suposta inocência, um dia acabou tecendo bordados, empunhando armas, inventando vaidades ou sendo apenas mulher com seus afazeres, no mundo cangaceiro? Qual aquela que poderia ser chamada exemplo maior da beleza cangaceira?

Muito menos que os homens, mas foram muitas as mulheres que também enveredaram pelas veredas catingueiras naqueles tempos de vinditas, perseguições e desassossego. Algumas saindo de casa ainda meninas, na flor da adolescência; outras já mocinhas, já sabendo compreender as durezas da vida, mas ainda assim muito jovens; e ainda outras motivadas pela paixão ao cangaceiro ornado de encanto e sedução.

E de repente a bela flor campesina, o doce lírio agrestino, estava deixando ao esquecimento seus sonhos sertanejos, sua vida em segurança, uma existência sem tantas e tão desagradáveis surpresas, e seguindo caatinga adiante. Quando já na companhia de seu companheiro, o laço desfeito até que era compreendido pelos familiares e conhecidos. Contudo, muitas vezes a pequena flor era arrancada de seu leito enquanto ainda brotava.


Bela flor saía de casa e com a mesma feição continuava dia após dia. Verdade que a vida difícil, o sol queimando a pele, o cansaço e a falta de tempo para maiores cuidados, logo endurecia a feição, envernizava a seda escondida no rosto bonito. Mas quem beleza possui assim continuará, mesmo que o tempo pincele insensivelmente aquele retrato. E vaidosas como eram, chegadas demais a espelhos, perfumes, penteados e joias, certamente que as cangaceiras não se afastavam muito da formosura própria que possuíam.

Mas dentre elas, em meio a todas que um dia sentiram na face o beijo do sol causticante e por todo o corpo a carícia do espinho de mandacaru e o afago da urtiga, qual pode ser considerada a verdadeira flor do cangaço? Qual delas, gestada e florescente na beira das veredas carrasquentas e em meio a tufos de mataria, pode ser denominada flor da caatinga?

Maria Bonita de Lampião, Adília de Canário, Adelaide de Criança, Dadá de Corisco, Enedina de Cajazeira, Sila de Zé Sereno, Mariquinha de Ângelo Roque, Lídia de Zé Baiano, Dinda de João Mulatinho, Rosinha de Mariano, Naninha de Gavião, Catarina de Nevoeiro, Aristéia de Catingueira, Durvinha de Moreno, Dulce de Criança, Maria de Juriti ou Maria de Pancada? Ou outras e outras e outras?

As opiniões são diversas. Os estudiosos e pesquisadores diferenciam suas escolhas. Para uns, indubitavelmente foi Lídia a mais bela e encantadora; outros opinam acerca da incomparável beleza da descendente de índios Catarina; muitos apontam a reconhecida formosura de Sila e a morenice brejeira e fascinante de Adília. Para o saudoso Alcino Alves Costa, inigualável era a beleza de sua conterrânea Enedina.

Em artigo intitulado “A beleza da mulher cangaceira“, Alcino assim defende sua escolha por Enedina, e o faz com base numa fotografia que, de alguma forma, estava apreciando enquanto escrevia. Mas alonga seus elogios a muitas outras que com sua beleza arrefeceram as durezas daqueles dias. Diz Alcino:

“Vejam meus companheiros o quanto Enedina era bela. Uma menina-moça que carregava em seu corpo e em seu espírito uma lindeza incomparável. E saber que uma jovem e linda mulher como Enedina, no fulgor de sua mocidade, perdeu a vida, com a sua cabeça esbagaçada por uma infeliz bala, na subida de uma das serras de Angico, é um acontecimento que ainda hoje, após tantos anos, nos deixa tristes e desconsolados. Olhem devagar e com muito carinho esta foto. O que é que vocês acharam? Que tal! Aí está a prova do quanto a mulher sertaneja era e é bela, linda, maravilhosa.

A beleza da mulher cangaceira era realmente invulgar. Além de Lídia, considerada a mais bela de todas, não podemos desconhecer a beleza de Maria Bonita, de Maria de Pancada, de Dulce, a segunda companheira de Criança; de Sila de Zé Sereno, o jeito trigueiro e belo de Dadá de Corisco e Inacinha de Gato e tantas outras que com sua beleza e seu fascínio alucinavam os jovens cangaceiros que tinham naquelas lindas flores campestres, flores em forma de gente, a essência do amor e do desejo se derramando aos dengos em seus másculos braços, alucinadas de desejos, dominadas por uma volúpia incontrolável, dando e recebendo quase que divinais momentos de felicidade e prazer, mesmo que em um ambiente quase que perene de sofrimento e gravíssimos perigos da própria vida.”

Foto

Difícil, pois, apontar qual delas pode ser considerada a mais bela. Mas não precisaria. Num alento a todas, mais justo afirmar que cada uma possuía seu jeito próprio de ser bela. O encanto da face ou do corpo era apenas um aspecto a ser considerado. Daí que Maria, a Bonita do Capitão, possuía um feitiço próprio que fazia fervilhar aquele coração cangaceiro. De rosto e de corpo certamente que não era a mais vistosa. Mas não se pode duvidar de outros encantos.

Todas foram flores e belas flores. E todas flores do campo, colhidas nos jardins ressequidos das terras sertanejas. E tão belas foram que nem a guerra consumindo suas forças teve o poder de murchar a força do sorriso, a magia do olhar, a beleza da pétala em cada face. Os retratos estão aí e não deixam mentir.

Houve esse tempo de jardim catingueiro, de vergel cangaceiro, e canteiros floridos em meio a uma tempestade sem fim.

Poeta e cronista
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