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quinta-feira, 9 de maio de 2013

REVERENCIA​NDO E REFERENCIA​NDO OBRA E AUTOR.


 Por: Archimedes Marques

Voltar a prefaciar um livro do escritor paraibano, José Romero Araújo Cardoso, para mim é uma honrosa incumbência, pois além de estar reverenciando uma grande obra, também estou ao mesmo tempo referenciando um verdadeiro homem na expressão da palavra, além de culto, ícone inconteste da densidade e da maturidade acadêmica, um homem que pela sua história de vida, dentre os tantos percalços, pedras e espinhos na sua caminhada, sempre se faz vitorioso.
          
A presente obra literária como um todo, composta de textos diversos, trata-se de abordagens consistentes, substanciais e, por que não dizer, textos vivos (como sugere o título do livro), acerca de assuntos históricos e populares não repetitivos e cansativos, muito pelo contrário, contados com a maestria própria daqueles que nasceram para a imortalidade cultural, embora entenda o autor, seja a sua obra uma modesta contribuição para o debate. Discípulo da formação humanística, pacificadora, mas também guerreira própria dos grandes homens nascidos nas terras nordestinas, Romero Cardoso, neste livro, transita com destreza em áreas interdisciplinares como a História Contemporânea Mundial ingressando, assim, na questão da sua Globalização, revivendo posteriormente a questão inicial da dolorosa tragédia no Cone Sul ocorrida no Chile, entretanto, seu pico maior em tais escritas e interpretações ora abalizadas, está na área dos eternos e constantes problemas da seca e do sertão nordestino brasileiro, em vários dos seus aspectos, lendas e fatos vividos e vivenciados pelos seus bravos componentes, suas alegrias e tristezas, em destaque para o sofrimento desse povo, principalmente quando exalta o grande escritor Josué de Castro no cenário do Nordeste brasileiro com excelentes artigos pertinentes à sua valorosa obra “Geografia da Fome”. O leitor dotado de observação sutil não deixará de perceber sua capacidade magistral de retratista da paisagem humana e social do povo sertanejo ao sofrer todas as agruras de uma época mais remota até a atual.

          
Misto de escritor, professor, pesquisador, estudioso e empreendedor, Romero Cardoso, consegue transmitir às páginas de seu livro o entusiasmo e o gênio que se fazem necessários em todas as áreas das suas escritas. Detentor de grande capacidade criativa, interpretativa e de inteligência aguçada que alia teoria com operacionalidade até mesmo investigativa com diversas e importantes entrevistas para excelentes conteúdos culturais, o autor é extremamente feliz nas abordagens dos temas relacionados aos seus textos, pautando-se por um mesclado de abstração em pequena parte deles e realidade na sua grande maioria, mas, ao mesmo tempo, sem perder de vista sua aplicação prática no labor passado, presente e futuro, desempenhando também seu sentido vital no cotidiano de nossa gente.
          
A contextura da obra traz à baila discussões oportunas, pertinentes e necessárias gerando uma ampla compreensão ao leitor, por mais leigo que seja, visto ser patente que intrínseca e simetricamente o autor designa na maioria dos textos como pontos de apoio à verdadeira história, sem invencionices ou extravagâncias, mas contadas a seu modo, um modo gostoso de ler.
          
Passear na região de Patú e suas cercanias, no Rio Grande do Norte, junto com o protetor dos fracos e oprimidos, o cangaceiro gentlemam Jesuíno Brilhante, é reviver momentos brilhantes dentro de uma época de extrema seca no mundo dos considerados “coronéis” que se achavam donos do poder e do povo, verdadeiros “semideuses” na então “vida de gado” do sertanejo tão morto de sede quanto de fome, tão sedento de justiça quanto faminto por direitos.
          
Analisar e vivenciar a literatura de cordel em defesa do lado bom do nordeste é algo gratificante. Melhor entender desse gênero literário popular escrito freqüentemente na forma rimada, originado em relatos orais e impresso em folhetos pelos poetas e escritores do meio do povo, além de gratificante é emocionante, principalmente quando ainda vemos em feiras livres das pequenas cidades do interior esses poetas recitarem tais versos de forma melodiosa e cadenciada, por vezes acompanhados de viola. São os nossos grandes e humildes poetas populares também raízes da nossa cultura. Em resumo, é tudo isso e muito mais que o autor pretende incutir quando do texto relacionado à importância do cordel em sala de aula.     

   
Tomar conhecimento da lenda do Poço Feio para saber que, de geração a geração, o povo entende que em noites de lua cheia uma linda e fogosa mulher encantada atrai e afoga os homens que se atrevem a banhar-se naquelas águas é algo encantador, faz parte da cultura imaginativa do nosso povo, dos mistérios da crença popular.
          
Viajar de volta ao passado, em espécie de túnel do tempo, para melhor conhecer a linda e estonteante Cabocla Maringá e seus amores arrebatadores, é um verdadeiro deslumbre que faz bem aos olhos, mente e coração até mesmo do leitor mais cético que seja.
          
Seguir sertão adentro, nas terras áridas, no rastro das alpercatas de Virgulino Ferreira da Silva, o poderoso bandoleiro Lampião, símbolo de coragem e determinação de um povo tão sofrido quanto orgulhoso, saber de maiores detalhes sobre a sua vida, sua biografia, algumas das suas andanças, sua vingança contra o “Coronel” Zé Pereira - antes seu protetor - é sem dúvida viver um tempo de verdadeiros cabras-machos.
          
Melhor saber sobre a entrada de Sabino das Abóboras para o cangaço, sobre a história inusitada e corajosa do cangaceiro Meia Noite e o fogo da casa de farinha do sítio Tataíra, assim como sobre o covarde trucidamento de Jararaca em Mossoró, faz qualquer leitor imaginar a época de sangue e lágrimas que viveram os nossos antepassados. A história cangaceira é muito rica e é enriquecida mais ainda quando é contada por um grande pesquisador como Romero Cardoso.
          
Comprovando que Romero Cardoso é um estudioso e grande pesquisador do tema cangaço, no ano de 1998, fora convidado a escrever a introdução na produção fac-similar à edição de 1926, da obra “Lampeão Sua História”, do escritor paraibano Érico de Almeida, ou seja, um dos livros pioneiros relacionado a esse assunto. Como bem disse o próprio autor introdutor: “Reeditá-la significa, antes de tudo, resgatar uma preciosidade da nossa historiografia esquecida nas brumas do tempo”. E tem toda razão o autor com tal assertiva.
          
Ainda dentro desse prisma, relacionado ao tempo do cangaço de Lampião, o quão faz bem ler sobre o fotografo e cinegrafista Benjamim Abraão Botto que deixou gravado na história as tantas imagens dos cangaceiros, provas inequívocas dos seus gostos, usos e costumes.
          
Espetacular também é reviver e vivenciar a linda história de amor entre Xanduzinha e Marcolino Pereira Diniz (protetor de Lampião) ocorrida entre as batalhas da época, casal imortalizado através da arte musical do grande e inigualável Luiz Gonzaga, nosso eterno Rei do Baião, por sinal também dos mais exaltados pelo autor, com honras e méritos, noutros textos da presente obra que canta e encanta todo e qualquer leitor. Aliás, nada poderia ser diferente partindo das escritas de Romero Cardoso, pois o grande homem de Exu, dos mais importantes pernambucanos da história, Luiz “Lua” Gonzaga do Nascimento, a maior personalidade musical que o Nordeste brasileiro deu para o mundo, cantou alegrias, cantou tristezas, chorou o choro dos mais necessitados, aboiou junto com os vaqueiros, idolatrou e penou os seus amores perdidos, amou os seus familiares e amigos, denunciou as injustiças dos homens, louvou a devoção aos Santos (em especial a São João), exaltou o fenômeno “Padinho Ciço” do nosso povo crente e carente e, de uma maneira toda especial e somente sua narrou em embutidas lágrimas o triste problema da seca dos nossos sertões que se arrasta a passos curtos por anos a fio sem solução governamental, com programas ineficientes que ganharam até a nomenclatura de “Indústria da Seca”. Suas imortalizadas canções que rodam o mundo comportam a essência mais autêntica de que realmente viveu aquilo que cantou, por isso nos encantou, por isso também continua encantando os mais jovens. Sua vida era sua obra e sua obra foi eternizada no seu ofício de louvar a vida do seu povo de uma maneira simples, direta e verdadeira, dizendo aquilo que por experiência carregava na memória e perpetuava no que cantava. Sem dúvida de todos os verdadeiros nordestinos, a sua obra é nossa eterna adoração musical que com certeza sobreviverá sem fim.
          
Relacionado à questão da chamada “Indústria da Seca” anteriormente citada, que de uma maneira indireta, ou quase direta, é pauta também de alguns textos da presente obra, o dito fator artificial tem sido o modelo utilizado pelos políticos há décadas no Nordeste - desde o tempo do Império para ser mais preciso - cujos atos de corrupção tem como causa a incompetência, a leniência e o descaso principalmente do governo federal passando também pelo crivo dos governos estaduais, sem esquecer a inércia do próprio Poder Judiciário, que diante dos desmandos e desvios de verbas públicas, bem como da sua utilização para servir de moeda de troca eleitoral, tem ceifado vidas de crianças, adultos, idosos e animais, aniquilado famílias, arrasado plantações, sendo a principal causa do êxodo rural dos nossos sertanejos que terminam por virar marginais nas favelas dos grandes centros.
          
Em análise ao teor de mais dois artigos da obra em pauta, em tempos de relações líquidas e efêmeras vividas pelo povo sertanejo, ao sofrer a violência da natureza, dos cangaceiros e do próprio Estado via das já citadas más ações governamentais, bem como das arbitrariedades e crimes praticados pela polícia volante - que em tese seria sua protetora - o autor também se preocupou em mostrar o outro lado da moeda através das narrativas muito bem pesquisadas, arquitetadas e montadas relacionadas aos textos sobre os Coronéis Manuel Benício e Manuel Arruda de Assis, este último em entrevista pessoal falando sobre os métodos de sangramento utilizados tanto pelos cangaceiros quanto pelas volantes, ou seja, comprovando que a polícia e o bandido estavam sempre no mesmo patamar.
          
O autor vislumbra outros textos não menos importantes a respeito de Leandro Gomes de Barros; do navegador João de Calais; dos Tropeiros de Borborema; sobre a região de Mossoró que hoje é a sua morada e terra amada, questões diversas ligadas a esse município como a caprinovinocultura em assentamentos rurais, a bem pensada e merecida exaltação às parteiras tradicionais, em especial, à parteira das mulheres pobres da localidade, Senhora Maria Joaquina de Souza, pessoa que merece os aplausos de todos os brasileiros; também sobre a importância da Cera de Carnaúba na economia regional dos seus cultivadores e produtores.
          
De volta ao passado, o autor passeia galhardamente com artigos pertinentes a personalidades como João Pessoa, Gilberto Freyre, Delmiro Gouveia, Ariano Suassuna, dentre outros nomes não menos expressivos que emergem e imergem nas suas concatenadas escritas; bem discorre sobre Vingt-Um Rosado e sua batalha em defesa da pesquisa de petróleo na Bacia Potiguar; analisa a insurreição de Princesa, então liderada pelo “Coronel” Zé Pereira; entra no mérito do boom econômico nordestino depois da primeira Guerra Mundial. Tudo em comprovação de que o seu conhecimento é vasto e muito bem pesquisado, também um grande e exímio professor.
          
Pode-se destacar, ainda, a relevância da preocupação do Romero Cardoso que em consonância com sua trajetória de excelente professor e pesquisador, debruça-se em rápidas e excelentes pinceladas de cores vivas sobre as questões controversas relacionadas ao Padre Cícero Romão Batista, assim como também sobre Canudos, a guerra desumana e cruel quando verdadeiros exércitos federais dizimaram os comandados de Antonio Conselheiro. Nesses termos o leitor também pode apreciar a história do bravo Pajeú, que sem dúvida foi o maior estrategista da resistência de Canudos, então transformada em ruínas e cinzas pelos vencedores, se é que houve vitoriosos, vez que foi uma guerra totalmente desigual e desproporcional entre grandes exércitos bem treinados, bem armados e municiados, com fuzis, canhões e tudo mais, contra pessoas do povo com armamento obsoleto, muitos armados com enxadas, foices, facas, facões e até paus e pedras.
          
Enfim, o livro oferece ao leitor um relato das vicissitudes dessa viagem ora denominada de textos vivos e reverenciados, textos conscientes de seu próprio valor, textos que certeza tenho terão a anuência de todos, pois retratam acima de tudo a alma do autor, põem em devido relevo o ser sertanejo, o ser nordestino, o ser cabra-macho, não somente por ter nascido, crescido, amadurecido e continuar morando nesse rincão brasileiro, mas principalmente por possuir as qualidades da inteligência arguta, hospitalidade franciscana e valentia obstinada, um imortal na arte das letras.
          
Ao finalizar, conclamo a todos procederem à leitura de obra tão valorosa, culminância de um trabalho de pesquisa de anos a fio dedicados pelo autor em artigos separados com publicações imediatas ou periódicas em inúmeros sites, blogs, portais, jornais impressos e revistas e, agora organizados em livro pela consagrada Escritora, Professora e Doutora em Filologia Românica, Marinalva Freire da Silva.

Aracaju, 25 de março de 2013

Archimedes Marques

Delegado de Polícia em Sergipe e Escritor.

Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço: Romero Cardoso

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Luiz Gonzaga e Jorge Amado: Dois grandiosos artistas brasileiro​s são homenagead​os pela Revista COFI

Por: João de Sousa Lima

A Revista COFI - Correio Filatélico homenageou Luiz Gonzaga e Jorge Amado. Os dois artistas que comemoram 100 anos de nascido em 2013 foram eternizados em selos e a revista trouxe reportagens sobre os dois. Luiz Gonzaga foi capa da revista em desenho que foi vinculado em selo.


O centenário do rei do Baião nas páginas da COFI.


Daniel Gonzaga, neto do Rei do Baião, deixou um excelente texto sobre o incomparável sanfoneiro.


Mais uma das páginas da Revista COFI.


O lançamento do selo como referência.


O selo em comemoração ao centenário de Luiz Gonzaga.


Selo em homenagem ao centenário de Jorge Amado, um dos maiores e mais famosos escritores do Brasil.


Jorge Amado em destaque na Revista COFI. --


Postado por João de Sousa Lima no João de Sousa Lima em 5/09/2013 09:49:00 AM

Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima

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A Turma do Xaxado - HQMix 2013 na categoria PUBLICAÇÃO INFANTOJUVENIL


A Turma do Xaxado está concorrendo novamente ao troféu HQMix na categoria PUBLICAÇÃO INFANTOJUVENIL
com o livro IMAGINAÇÃO E OUTRAS HISTÓRIAS
editado pela editora Martin Claret.

Se você é um dos votantes e puder nos dar o seu voto, ficaremos agradecidos.


Antonio Cedraz – Turma do Xaxado
www.xaxado.com.br
https://www.facebook.com/antonio.cedraz
http://livrosxaxado.blogspot.com.br/

Fone: (71) 3233-2223 e (71) 8860-2224


Enviado pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço: 
Kydelmir Dantas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Chamada Geral


Ajudem-me a identificar esses dois cangaceiros

Essa foto, foi retirada do filme que Benjamim Abrahão fez sobre Lampião e seus cangaceiros, em 1936.
 Analisem as características físicas e tentem "identificar", os aludidos  cangaceiros, (um cabra e uma cabrocha) pois, tenho lá minhas dúvidas.....
Comentem !!! Desde já, agradeço aos participantes.

Abraço a  todos
Ivanildo Alves Silveira
Colecionador do cangaço
Membro do Cariri-cangaço e da SBEC
Natal/RN

http://lampiaoaceso.blogspot.com

Sinal de Cangaceira

Por: Maria Alice Amorim(*)

Sila, companheira de Sereno, passou dois anos no bando de Lampião e diz que valeram por uma vida

Tinha Ilda 14 anos quando Sereno raptou-a para casar-se com ela. O leito de núpcias foi o mato. Vida de cangaceira só tem glamour nas telas, é o que comprova Ilda Ribeiro de Souza - Sila, viúva de José Sereno,  remanescente do bando de Lampião e autora do livro, recém-publicado, Sila Memórias de Guerra e Paz.

O cangaceiro Zé Sereno

"A vida no mato era muito difícil para a mulher", recorda-se, sem nenhuma saudade. Acostumada ao conforto da casa dos sete umbuzeiros, Sila amargou a vida austera e nômade do cangaço, a aridez do Raso da Catarina e do marido mulherengo, a saraivada de balas logo a partir do segundo dia no grupo.

As mulheres - privilégio de quem era chefe - recebiam um punhal, uma mauser e lições de tiro ao alvo, mas normalmente não participavam dos tiroteios. "Quando cheguei no cangaço, a primeira coisa que José me ensinou foi desmontar o parabellum e colocar as balas", relembra Ilda Ribeiro. Quem não tinha índole de guerreira, tinha de guerrear do mesmo jeito.

Cozinhar era tarefa dos homens. O cardápio não podia ser variado e com frequência se comia carne de bode assada, farinha e rapadura. Não havia ritual de cozinheira, panelas para limpar, nenhum trato feminino no preparo das refeições. O que faziam, então, as cangaceiras, se não cozinhavam, nem participavam das estratégias guerrilheiras?

Costurar e bordar eram as atividades a que se dedicavam. Sila, exímia bordadeira de Poço Redondo, Sergipe, adorava o ofício. Bordava com todo gosto os bornais, preparava roupas com tecidos ofertados pelos fazendeiros amigos, em máquinas de costura portátil. O difícil era transportar a máquina. Nas fugas, era escondida às pressas, nos coitos, para posterior resgate.

A cangaceira era, antes de tudo, uma fortaleza. Engravidava, corria léguas, abordava, paria, ia embora, sem um pio, sem um ai. Os filhos nascidos no cangaço eram entregues a alguém que tratava de criá-los. "Maria Bonita entregou Expedita a um coiteiro, Dadá deu o filho a um padre de Maceió, eu entreguei meu João do Mato a Galdino Leite", dis Sila, acrescentando que o seu primeiro filho morreu com dois dias de nascido e somente muitos anos depois é que veio a saber.

"Nos últimos meses da minha gravidez, a força sergipana perdeu nosso rastro, pude descansar um pouco". Maria Bonita acompanhou Sila durante o trabalho de parto, e nasceu um garoto "forte e bonito", ao qual a mãe coruja teve que renunciar. Os cangaceiros padeciam fome e sede, não tinham nenhuma esperança de escapar com vida. Crianças numa rota desgraçada dessas era um complicador a mais.

Se o vigor físico era testado a todo o momento, o moral ainda mais. Não se podia chorar, não se podia criar os filhos, muito menos trair os maridos. " Não se aceitava traição nem de coiteiro, nem de macaco, avalie da própria esposa", arremata Sila. 

O cangaceiro Zé Baiano

Lembra-se do caso de Zé Baiano que marcou a ferro o rosto da mulher.

Mulher ferrada pelo cangaceiro Zé Baiano em 1935

Apesar de todos os reveses, ainda havia lugar para o companheirismo, a dança e a música, o laser. "A gente vivia como uma família, não havia maldade nenhuma, a gente se respeitava", avalia Ilda. E aí, nesse reduto familiar, a mulher tinha que ser forte, fiel, desprendida. A cangaceira transcendia a qualquer cardápio ou costura. Não se podia recuar ante a dureza daquela vida bors la loi. Mas o grupo tinha suas próprias leis, onde a mulher era indispensável aos que gozavam desse privilégio.

Muitas foram as cangaceiras que Sila conheceu e com quem conviveu. Dinda, Sebastiana, Maria de Juriti, Adília, Maria de Pancada, Verônica, Dadá, Dulce de Criança, Enedina de Cajazeiras. O que não a faz, entretanto, sentir falta desses "dois anos que valeram por uma vida" Tão pouco lambe os beiços ao lembrar-se de jacuba (rapadura). "Era uma vida muito triste, era uma vida de cão, mesmo", recorda a ex-bandoleira de Lampião.

A autora deste artigo é jornalista(*)

Fonte:

Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano IX
Julho de 1995

Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com