Por José Mendes Pereira
Bem cedinho,
antes da chegada do lençol que envolve o sol para acordá-lo o pajé Yathagan da
tribo indígena Monxorós saiu de oca em oca comunicando a todos os índios que o
cacique "Pai Cauê" amanhecera acamado. E com a triste notícia todos
os habitantes da aldeia se levantaram das suas redes, aparentando formigueiro
quando incomodado com a presença de estranhos, e cuidaram de preparar um ritual
em forma de pedido a seu Deus para levantar o cacique o quanto antes possível.
O ritual foi feito ao redor da aldeia. Pai Cauê pouco conversava, porque sentia
uma forte dor de cabeça e um aperto no coração. O pajé Yathagan ficou o tempo
todo ao redor do cacique.
Lá pela tarde
o cacique deu sinal de melhora, e olhando para o pajé, disse-lhe:
- Cacique Pai
Cauê quer pitar...
- Cacique Pai
Cauê não deve pitar, atalhou o pajé Yathagan, está doente e poderá causar
complicações piores.
- Mas cacique
Pai Cauê quer pitar.
- Se o cacique
Pai Cauê exige pitar Cacique Pai Cauê vai pitar, mas pajé Yathagan não se
responsabiliza por complicações que possam aparecer.
E pegando o
cachimbo do cacique Pai Cauê colocou fumo, acendeu e o entregou para pitar.
Cacique Pai Cauê pitou até matar o desejo de pitar.
O ritual lá
por fora da aldeia continuava com todos os índios e índias dançando e fazendo
os seus pedidos ao superior, para que devolvesse a saúde do cacique Pai Cauê.
Ao anoitecer, toda aldeia parou as atividades.
O dia seguinte
o cacique Pai Cauê amanheceu com uma pequena melhora. Mas sem escrúpulo, disse
ao pajé Yathagan:
- Cacique Pai
Cauê quer comer carne de tamanduá assada.
- Carne de
tamanduá cacique Pai Cauê, é carregada (no sentido de causar complicações) e
poderá lhe fazer mal...
- É carregada,
mas para casa. - Disse cacique Pai Cauê.
- Se cacique
Pai Cauê deseja comer carne de tamanduá assada cacique Pai Cauê vai comer, mas
pajé Yathagan não se responsabiliza por complicações que possam aparecer.
Pajé Yathagan
chamou os melhores caçadores e os mandou pegar um tamanduá pelas matas. Às
pressas foram e voltaram com dois. E logo os tamanduás foram cuidados e assados
nas brasas do fogão à lenha. Assim que um tamanduá foi assado pajé Yathagan o
recebeu para ser entregue ao cacique Pai Cauê, mas antes lhe disse:
- Cacique Pai
Cauê vai comer a carne de tamanduá, mas pajé Yathagan não se responsabiliza por
complicações que possam aparecer.
No dia
seguinte vendo que pajé Yathagan estava fazendo as suas vontades cacique Pai
Cauê disse-lhe:
- Cacique Pai
Cauê quer beijar, namorar e depois transar.
- Esta não,
cacique Pai Cauê! É um dos piores pedidos para quem está doente. Mas se é isso
que cacique Pai Cauê quer, cacique Pai Cauê vai beijar, namorar e transas, mas
pajé Yathagan não se responsabiliza por complicações que possam aparecer.
E vendo
Marinêz a índia velha do cacique Pai Cauê no meio da aldeia, Pajé Yathagan a
chamou. E ao chegar, disse que cacique Pai Cauê queria beijar, namorar e
transar. E lá se foi a índia velha do cacique Pai Cauê com o pajé Yathagan.
Logo disse-lhe:
- Pajé
Yathagan trouxe uma índia para cacique Pai Cauê beijar, namorar e transar.
Assim que
cacique Pai Cauê viu a sua velha índia, disse:
- Pajé
Yathagan está querendo que cacique Pai Cauê morra muito antes da hora, tendo um
infarto. Esta já não mais serve para o cacique Pai Cauê. Cacique Pai Cauê quer
flor nova.
- Cacique Pai
Cauê pode me dizer com quem deseja ter um romance amoroso antes de morrer?
- Antes de
morrer cacique Pai Cauê quer ter um romance amoroso com mulher do Pajé
Yathagan...
- É isso que
cacique Pai Cauê quer, é? Vou na oca chamar minha índia. Volto já.
A índia
companheira do pajé era formosa, com pernas e braços torneados, sorriso e olhar
atraentes, reboculosa assim como dizia o humorista coronel Ludugero, e não
tinha sangue do cacique. Ela fora tomada de uma outra tribo de índios lá pela
chapada do Apodi. E já que não tinha sangue do cacique Pai Cauê fez com que ele
a desejasse.
Ao chegar na
oca o pajé Yathagan nada disse à sua companheira Yara o que lhe dissera o
cacique Pai Cauê. E apoderando-se de um facão foi até à mata para tirar umas
tiras de cascas de um mororó. Ao retornar, cuidou de fazer uma trança longa.
Terminado o trabalho convidou a companheira para ir visitar o cacique Pai Cauê,
pois ela ainda não tinha feito a visita ao chefe índio.
E ao chegar à
central administrativa do cacique Pai Cauê, o pajé Yathagan disse-lhe:
- Pajé trouxe
a minha índia para cacique satisfazer os seus desejos, mas antes de transar tem
que levar umas boas lapadas desta trança longa. - Dizia o pajé Yathagan
mostrando a trança da casca do mororó ao cacique Pai Cauê.
Ao ver o
tamanho e a grossura da trança cacique Pai Cauê disse:
- Se para
transar com a sua índia Paj cacique Pai Cauê tem que apanhar primeiro pajé
Yathagan, sendo assim, cacique Pai Cauê prefere morrer.
Ali fez o pelo
sinal completo, de lá mesmo benzeu toda aldeia, levantou-se do seu repouso,
ficou em pé, e numa distração do pajé Yathagan, o cacique Pai Cauê atirou-se
nas matas em gritos dizendo:
- Fiquem aí,
cambada de índios!
Ainda hoje se
tem notícias que cacique Pai Cauê continua correndo pela chapada do Apodi.
Sem cacique na
tribo o pajé Yathagan foi coroado cacique, dando a sua função de pajé curador a
outro índio.
Cacique não
estava doente. Era esperteza para conseguir namorar a índia do pajé Yathagan,
já que ele vinha fazendo todos os seus gostos.
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