Filha do líder
comunista e de Olga Benário vai à Justiça para barrar leilão de 320 cartas
escritas para ele nos anos 30 e 40 e achadas no lixo
S11 ARQUIVO
20/11/2018 PRESTES/CARTASCADERNO2 Cartas endereçadas a Luís Carlos Prestes e
escritas por sua mulher, mãe, filha e irmãs entre 1936 e 1941 vão a leilão na
5a feira no Rio FOTO Escritório de Arte Soraia Cals.
Encontradas no
lixo, 320 cartas escritas pela família ao líder comunista Luís Carlos Prestes
(1898-1990) nos anos 1930 e 1940 integram um leilão a ser realizado quinta, 22,
à noite, no Rio. O lance mínimo para o lote é R$ 350 mil.
Mas a venda
pode acabar suspensa caso seja bem-sucedida uma ação judicial proposta pela
filha de Prestes e Olga Benário, a historiadora e escritora Anita Leocádia
Benário Prestes. Ela defende que a correspondência fique num arquivo
público,aberta a consultas, e não seja comercializada.
O conjunto
chegou a Prestes na cadeia, após o fracasso do levante comunista durante o
primeiro governo Getúlio Vargas. Partiu da mulher, da mãe, da própria Anita
Leocádia e de outros parentes. Prestes não leu os originais agora à venda; ele
só teve acesso a cópias feitas pela polícia política do governo.
Olga Benário
Em bom estado,
o material tem marca de catalogação, o que indica que pertencia a um arquivo
público. Em parte, o conteúdo já é conhecido; foi publicado pela própria Anita
e na biografia Olga, de Fernando Morais, de 1985.A mais surpreendente talvez
seja a missiva em que Olga, presa, conta ao marido estar grávida. “Enfim, nós teremos
uma expressão viva de todo o bom e doce que existe entre nós”, ela
escreveu.
O caminho dos
documentos até aqui é uma incógnita. Um coletor as encontrou numa mala
descartada numa rua de Copacabana. Sem saber do que se tratava, as ofereceu a
um vendedor de antiguidades. Este pagou R$ 500 por elas; ao se dar conta do
tesouro que tinha, procurou a organizadora de leilões Soraia Cals. As cartas
teriam sido guardadas por causa dos selos antigos – o coletor não sabia da
importância de Prestes.
Publicada no jornal O
Globo, a notícia do leilão desagradou a Anita, que falou ao Estado por
intermédio de seu advogado, João Tancredo, na terça. Segundo ele, existe
uma“quase certeza” de que as cartas são do Arquivo Público do Estado do
Rio.
Ficha de Olga
Benário, ou Maria Prestes, conforme ela assinava.
“Anita não
quer nada para si. Esse é um patrimônio da sociedade, não é para ficar com uma
pessoa só. Quem acha algo na rua não é proprietário. A história está mal
contada”, acredita Tancredo. O Arquivo Público também deverá recorrer à Justiça
para tentar barrar a venda.
Soraia Cals
disse que o leilão acontecerá “sob reserva de direitos”. O dono das cartas terá
60 dias para se manifestar e provar que o material lhe pertence. “Ainda vamos
clarear quem é o verdadeiro proprietário. As cartas só serão entregues depois
disso. Esperamos que alguma instituição compre, ou que alguém compre e doe para
uma. É um arquivo riquíssimo, valioso, todo original.”
Do blog Tok de História administrado pelo historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros.
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