JOÃO FERREIRA reviu
terras que não pisava havia 37 anos, O único irmão de "Lampião" que
não ingressou no cangaço vive hoje na cidade de Propriá, no Estado de Sergipe,
levando a vida honesta que sempre levou. Sofreu bastante por ser irmão de
"Lampião".
PARA OS OUTROS
A MORTE DE "LAMPIÃO" FOI UM BEM, UM ALIVIO.
ESTA REVISTA
proporcionou a João Ferreira uma viagem de automóvel que ele jamais sonhara
realizar.
NO ALTO SERTÃO de
Pernambuco João abraçou parentes que não via desde os seus quinze anos de
idade.
NÃO HAVIA choro
quando partia. Estivera ausente 37 anos. E ausência é madrasta de apego.
JOÃO FERREIRA mandou
cortar um galho de árvore e fazer urna cruz. Fincou-a no local onde jazera o
corpo do mano. Foi recolher flores silvestres e veio depositá-los ao pé da
cruz. Para homenagear o irmão.
A iniciativa de
O CRUZEIRO proporcionou a João Ferreira uma jornada sentimental que ele jamais
sonhara realizar Esse homem alto, careca, desconfiado, das fotografias ao lado,
passou seis dias em cima dum automóvel, varando 2.000 km de Pernambuco, Sergipe
e Alagoas. Vocês precisavam ver que arroubos de entusiasmo o alto sertão
arrancava de João. Como seus olhos brilhavam. Como o semblante irradiava
alegria, pelo menos enquanto ele podia esquecer as razões que o haviam afastado
das terras de seu bem-querer.
No município de
Serra Talhada, em Pernambuco, ele abraçou parentes que não via desde os seus 15
anos de idade. E ele agora está com 52 anos. Levado à Fazenda Serra Vermelha,
onde nasceu, e onde também nasceu "Lampião", João Ferreira encontrou
xique-xique brotando nas ruínas do casarão de sua infância. Voltou-se para mim
e disse com desalento: "A vida é assim mesmo..." Há 37 anos não
pisava ali. Pensava que ia morrer sem voltar. Conversava (incógnito) com os
novos donos da terra, fazia perguntas sobre a vida na fazenda. Tudo agora lhe
parecia diferente. Não havia mais aquela atmosfera dos seus tempos de menino,
dos seus tempos de rapaz. Não havia mais.
O ADVOGADO pernambucano
Antônio Ferreira Magalhães, primo de "Lampião".
"LAMPIA0"
- MOÇO
Virgulino
Ferreira do Sirva aos 26 anos de idade, numa fotografia rara que se encontrava
em poder do umas tias, em Pernambuco. Foi nessa época que ele recebeu a
"patente" de capitão das mãos de Padre Cícero, do Juazeiro do Norte.
Reparar o olho direito cego.
João VIAJANDO
de barco, ouvia histórias sobre os últimos dias de
"Lampião". À direita, deitado, o primo Manuel.
EM ANGICO desembarcou
para ver a local onde, há 15 anos, o seu mono foi traído, morto e
decapitado.
EM DELMIRO, na
casa da mana Mocinha, tomou leite no pé da vaca (com farinha).
EM SERRA
Talhada, João Ferreira viu xique-xique brotando nas ruínas do casarão onde
"Lampião" nasceu.
"O
CRUZEIRO" DESCOBRE EM ARACAJU A FILHA E O NETO DE MARIA BONITA. NUNCA
FORAM FOTOGRAFADOS.
A FILHA, O
NETO, E O GENRO DE LAMPIAO, Expedita, ao lado de seu esposo Manuel Messias
Neto, segura o filhinho Dejair, de 9 meses de idade, neto de
"Lampião". Pela primeira vez a família posou para o objetiva de um
repórter.
A FILHA DE
"LAMPIAO"
Expedita
Ferreira Nunes, que a família Ferreira aponta como única filha deixada por
"Lampião" com Maria Bonita, foi localizado pelo repórter em Aracaju.
É uma jovem esposa e mãe, com 21 anos de idade. Normal. Bonita. De tez morena.
Foi educada por João Ferreira e, seguindo o exemplo de seu tio, não gosta de
falar sobre "Lampião". Mas lê tudo que se publica sobre seu pai e até
mesmo o filme "O Cangaceiro" ela foi ver e não gostou. Ela guardava a
edição de O CRUZEIRO com a reportagem de João Martins sabre
"Lampião". Expedita revê uma fotografia usado por Martins naquela
reportagem.
DIZIA-SE que
"Lampião" e Maria Bonita haviam deixado um filho. João Ferreira nega,
assinando a declaração cujo "facsímile" estampamos abaixo:
"Declaro
ao repórter Luciano Carneiro que a senhora Expedita Ferreira Nunes, de 21 anos
de idade, esposa do sr. Manoel Messias Nunes, 4 filhas de meu irmão Virgolino
Ferreira da Silva, vulgo Lampeão, e de sua companheira Maria Bonita.
Quando ela nasceu Virgolino me pediu que eu a fizesse uma mulher de bem. Ele
não estava em condições de fazê-lo. Não me consta que alem de Expedita, tivesse
havido qualquer filho da união de Virgolino e Maria Bonita. Se houve, se há, eu
nunca soube."
RECIFE, 19 de Agosto
de 1953
CONTINUA...
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