Por Beto Rueda
Queimadas,
cidade baiana, estação da estrada de ferro que ligava Salvador a Juazeiro.
Pacata e estratégica, era composta de colinas baixas e vegetação pobre com casa
brancas e em tom pastel com telhados vermelhos que alegravam a paisagem
monótona.
A visita de
Lampião a essa cidade, domingo, 22 de dezembro de 1929, transformou-se em um
dos episódios mais marcantes na sua trajetória.
O grupo era
formado por Luiz Pedro, Antônio de Engrácia, Mariano, Mourão, Azulão, Ângelo
Roque, Gato, Gavião, Ezequiel, Arvoredo, Virgínio, Fortaleza, Revoltoso, Zabelê
e Volta Seca(Zé Baiano e Zé Sereno que faziam parte do bando não foram).
Atravessaram o rio Itapicuru em uma canoa de tolda, provenientes do município
de Cansanção, Bahia.
Algumas
pessoas do lugar assistiam aqueles homens vestidos como cangaceiros,
acreditaram ser um destacamento da polícia de Pernambuco. Quando tiveram
consciência do seu engano, o bando já tinha tomado posse da cidade.
Lampião
encarregou dois cabras para tomarem a estação do trem e cortarem os fios do
telégrafo enquanto os outros chegaram a praça central em direção a cadeia
pública. Os oito soldados da cidade foram pegos de surpresa. Uns jogavam
baralho, enquanto o comandante, sargento Evaristo Carlos da Costa, estava
deitado em uma rede.
Os policiais
foram jogados na cela e os presos que cumpriam pena, foram soltos. O sargento
Evaristo seguiu com eles, sofrendo humilhações e xingamentos.
Na sequência
do ataque, Lampião prendeu o juiz municipal e exigiu um tributo aos cidadãos
mais proeminentes de Queimadas. Arrecadaram uma alta quantia.
Visitaram a
mercearia e o armazém de Umbelino Santana e levaram vários produtos: meias,
sabonetes, perfumes e outros. Também remédios para um cangaceiro que estava
doente.
Antes do pôr
do sol, Lampião e seus homens voltaram a cadeia pública. Começou o que foi
lembrado mais tarde como uns dos atos mais selvagens de todos os tempos do
cangaço. Tiraram um soldado do cárcere, escoltaram até a porta da cadeia e, do
lado de fora, na calçada em frente ao prédio, despedaçaram sua cabeça com dois
tiros e sangraram. Buscaram um outro e repetiram a cena. E assim, continuaram a
matança. Ao último, Aristides Gomes de Souza, disseram para levantar a cabeça
porque ia morrer. Em resposta, o valente soldado chamou-os de covardes. Então,
além de atirarem, também o esfaquearam. Por fim, os sete soldados nada mais
eram do que um monte de corpos ensanguentados para a exibição pública.
Queriam também
matar o carcereiro mas Lampião não deixou, dizendo que era civil e não um
"macaco". As mortes era supostamente uma vingança pela morte dos
cangaceiros nas Abóboras, tempos atrás, pela policia baiana.
O sargento
Evaristo que com certeza também iria morrer, escapou por sorte do destino. Sua
vida foi salva por um trancelim de ouro pertencente a dona Santinha, de família
tradicional da cidade que "presenteou" Lampião e esse, em
retribuição, concedeu a ela um pedido. Ela pediu pela vida do sargento, a quem
muito estimava. Lampião cumpriu o acordo.
Saindo da
cadeia, sem remorso, os cangaceiros foram até o hotel da cidade e jantaram. A
noite preparararam uma comemoração alegre, haveria baile, festa e dança. Muitas
moças compareceram e metade dos homens do grupo também, os outros montaram
guarda.
Depois da
folgança, Lampião juntou o bando para a partida. Antes, deixou um recado
insultuoso e sarcástico escrito na parede da sala, dirigido ao governador do
Estado. Dizia que viera a Queimadas para se divertir e que a perseguição da
polícia o estava engordando e que pensava em se casar. E assinou: "Seu
superior Cap. Virgulino Ferreira Lampião."
As quatro da
manhã o bando saiu de Queimadas deixando um rastro macabro de vingança,
assassinatos, rapina e prazer.
REFERÊNCIAS:
GÓIS, Joaquim.
Lampião, o último cangaceiro. Aracaju: Sociedade de Cultura Artística de Sergipe
- SCAS: Regina, 1966.
PRATA,
Ranulfo. Lampião. 2.ed. São Paulo: Piratininga, 2010. (Fac-símile de 1934).
CHANDLER, Billy Jaynes. Lampião,
o rei dos cangaceiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
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