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sábado, 24 de fevereiro de 2024

AS SETE MORTES EM QUEIMADAS

Por Beto Rueda

Queimadas, cidade baiana, estação da estrada de ferro que ligava Salvador a Juazeiro. Pacata e estratégica, era composta de colinas baixas e vegetação pobre com casa brancas e em tom pastel com telhados vermelhos que alegravam a paisagem monótona.

A visita de Lampião a essa cidade, domingo, 22 de dezembro de 1929, transformou-se em um dos episódios mais marcantes na sua trajetória.

O grupo era formado por Luiz Pedro, Antônio de Engrácia, Mariano, Mourão, Azulão, Ângelo Roque, Gato, Gavião, Ezequiel, Arvoredo, Virgínio, Fortaleza, Revoltoso, Zabelê e Volta Seca(Zé Baiano e Zé Sereno que faziam parte do bando não foram). Atravessaram o rio Itapicuru em uma canoa de tolda, provenientes do município de Cansanção, Bahia.

Algumas pessoas do lugar assistiam aqueles homens vestidos como cangaceiros, acreditaram ser um destacamento da polícia de Pernambuco. Quando tiveram consciência do seu engano, o bando já tinha tomado posse da cidade.

Lampião encarregou dois cabras para tomarem a estação do trem e cortarem os fios do telégrafo enquanto os outros chegaram a praça central em direção a cadeia pública. Os oito soldados da cidade foram pegos de surpresa. Uns jogavam baralho, enquanto o comandante, sargento Evaristo Carlos da Costa, estava deitado em uma rede.

Os policiais foram jogados na cela e os presos que cumpriam pena, foram soltos. O sargento Evaristo seguiu com eles, sofrendo humilhações e xingamentos.

Na sequência do ataque, Lampião prendeu o juiz municipal e exigiu um tributo aos cidadãos mais proeminentes de Queimadas. Arrecadaram uma alta quantia.

Visitaram a mercearia e o armazém de Umbelino Santana e levaram vários produtos: meias, sabonetes, perfumes e outros. Também remédios para um cangaceiro que estava doente.

Antes do pôr do sol, Lampião e seus homens voltaram a cadeia pública. Começou o que foi lembrado mais tarde como uns dos atos mais selvagens de todos os tempos do cangaço. Tiraram um soldado do cárcere, escoltaram até a porta da cadeia e, do lado de fora, na calçada em frente ao prédio, despedaçaram sua cabeça com dois tiros e sangraram. Buscaram um outro e repetiram a cena. E assim, continuaram a matança. Ao último, Aristides Gomes de Souza, disseram para levantar a cabeça porque ia morrer. Em resposta, o valente soldado chamou-os de covardes. Então, além de atirarem, também o esfaquearam. Por fim, os sete soldados nada mais eram do que um monte de corpos ensanguentados para a exibição pública.

Queriam também matar o carcereiro mas Lampião não deixou, dizendo que era civil e não um "macaco". As mortes era supostamente uma vingança pela morte dos cangaceiros nas Abóboras, tempos atrás, pela policia baiana.

O sargento Evaristo que com certeza também iria morrer, escapou por sorte do destino. Sua vida foi salva por um trancelim de ouro pertencente a dona Santinha, de família tradicional da cidade que "presenteou" Lampião e esse, em retribuição, concedeu a ela um pedido. Ela pediu pela vida do sargento, a quem muito estimava. Lampião cumpriu o acordo.

Saindo da cadeia, sem remorso, os cangaceiros foram até o hotel da cidade e jantaram. A noite preparararam uma comemoração alegre, haveria baile, festa e dança. Muitas moças compareceram e metade dos homens do grupo também, os outros montaram guarda.

Depois da folgança, Lampião juntou o bando para a partida. Antes, deixou um recado insultuoso e sarcástico escrito na parede da sala, dirigido ao governador do Estado. Dizia que viera a Queimadas para se divertir e que a perseguição da polícia o estava engordando e que pensava em se casar. E assinou: "Seu superior Cap. Virgulino Ferreira Lampião."

As quatro da manhã o bando saiu de Queimadas deixando um rastro macabro de vingança, assassinatos, rapina e prazer.

REFERÊNCIAS:

GÓIS, Joaquim. Lampião, o último cangaceiro. Aracaju: Sociedade de Cultura Artística de Sergipe - SCAS: Regina, 1966.

PRATA, Ranulfo. Lampião. 2.ed. São Paulo: Piratininga, 2010. (Fac-símile de 1934).

CHANDLER, Billy Jaynes. Lampião, o rei dos cangaceiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

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