Por Sálvio
Siqueira
Abaixo,
transcrevo parte da entrevista feita pelo jornalista Guaracy Oliveira, a época,
repórter da revista “O Cruzeiro”, em agosto de 1962, ao ex cangaceiro “Beija–Flor”, o senhor Antenor José de Lima, que dizia ter pertencido ao bando de
Lampião e que estava na grota do Riacho Angico quando seu chefe foi morto, em
julho de 1938.
Prestem bem
atenção na matéria da Revista, pois há citações tão absurdas que, às vezes,
acho que foram escritas, somente escritas, e não proferidas pelo ex-cangaceiro,
quão grande são mentirosas as citações.
Outra coisa
que nos causa espanto é que pesquisadores/escritores usam essa matéria, ou
parte dela, como conteúdo para seus livros. Propagando assim tantas mentiras
para as futuras gerações.
Inacreditável!
Bastante
desfalcada, torta, sem crédito e triste, com certeza, fica a historiografia do
Fenômeno Social Cangaço e seus pesquisadores, estudantes e escritores sérios,
responsáveis com a própria.
Os absurdos
são indecifráveis, inarráveis e não encontramos adjetivos e /ou substantivos
adequados para que possamos enquadrá-los, coloca-los, em uma frase sensata.
Acreditar em
tais citações, ou no conteúdo de tal matéria, é inconcebível ou mesmo
irracional. Pior que tem quem acredite e quem a defenda até.
LEIAM ABAIXO E
CONSCIENTIZEM-SE DOS ABSURDOS QUE A MATÉRIA DIZ TER FALADO, DITO, O EX
CANGACEIRO “BEIJA-FLOR:
"Maria
Bonita, casada, vivia com seu marido, um sapateiro que, por sinal, está vivo e
mora no Mato Grosso. Se o senhor quiser, êle pode confirmar tudo. Lampião é que
gostava muito dela. E Ritinha, a outra mulher de Lampião, sabia de tudo. Um
dia, êle me chamou e disse:
- Pegue o
burro e vá buscar Maria Bonita. Diga que fui eu que mandei.
Quando me
aproximei da casa dela percebi que havia uns "macacos" por perto. Mas
continuei. Olhei pela janela e ela estava sentada sozinha, na sala. Fiz um
sinal, ela veio. De repente, seu marido apareceu e perguntou o que era aquilo.
Maria Bonita respondeu:
- Vou morar
com Lampião. Você não é homem pra mim não.
Em seguida,
montou no burro e fomos embora.
"Quando
chegamos de volta Lampião ficou tão satisfeito que até sorriu. E me deu, como
prêmio, quinze contos de réis. Era muito dinheiro. Maria Bonita melhorou a vida
da gente. Cinco horas da manhã, estava todo mundo de pé. A gente comia do bom e
do melhor".
- Foi a mulher
mais bonita que Deus já botou no mundo. Tinha o pé grande como diabo. Calçava
botinas feitas sob medida e tinha mais pontaria que qualquer um de nós. Ninguém
se metia com ela, porque sabia que ia morrer. Brigava de faca, de punhal e de
fuzil. Não tinha quem pudesse com ela. Nas noites de lua, os bandidos sentavam
no chão, bebiam cachaça, Lampião tocava sanfona e Maria Bonita acompanhava no
bandolim. Os cangaceiros cantavam modas. Canções que falavam de sua vida
aventurosa e cheia de perigos. Também falavam de amor.
Os últimos
dias de Lampião e Maria Bonita são contadas pelo bandoleiro aposentado:
"Foi em
Angico. Eram quatro horas da manhã quando a casa foi cercada por mais de mil
"macacos: um alvoroço da peste! Maria Bonita correu para a porta e levou
uma rajada de tiros na barriga.
Gritou: "Acorde, Lampião! Estamos cercados!" Lampião pegou a arma,
abriu a janela e, quando meteu a cara, levou um tiro na bôca.
- Foi Jacinto
Moreira César, seu antigo cangaceiro, quem atirou. Eu vi. Depois, o Tenente
Bezerra acabou de matá-lo. Quando vimos que tudo estava perdido, eu,
"Corisco", "Cascavel", "Ventania",
"Gasolina", "Relâmpago" e outros fugimos pelo oitão. Fui
para São Paulo, depois Mato Grosso e há dois anos estou em Brasília.
Lampião sabia
que estava perto de morrer e mata seu próprio filho:
"Lampião sabia que estava perto de morrer" - acrescenta. - "Uma
tarde, chamou seus "cabras" de maior confiança e mandou matar seu
filhinho de menos de um mês de idade. Não queria deixar nenhum descendente no
Mundo - era o que dizia. Fomos todos, um de cada vez ao berço do menino e
ninguém teve coragem de matá-lo. O "bichinho" sacudia as pernas e os
braços. Cheguei a levantar o punhal, mas, na hora de sangrá-lo, êle sorriu para
mim. Lampião irado, ordenou a Maria Bonita que executasse o filho. Ela
respondeu: "Você que o fêz, você que o mate!" E Lampião, sem
pestanejar, foi ao berço, jogou o menino para o alto e espetou-o no punhal. Deu
o punhal para a gente lamber: "Vejam como é doce..." Ninguém aprovou
isso, mas o filho era dêle..."
Esta é a
história de "Beija-Flor". Um bandido que, aos setenta anos de idade,
ainda não conheceu o arrependimento pelos crimes bárbaros que cometeu. Duas
vêzes conseguiu fugir da cadeia. E sorri quando relembra o seu passado de
sangue e de maldades.” (Revista O Cruzeiro – na matéria “Eu Roubei Maria
Bonita”, de 18 de agosto de 1962)
O que nos
causa espanto, como citamos acima, é a ‘reprodução’ das inverdades. A autora
francesa Elise Grunspan-Jasmin, em seu livro “Lampião, senhor do sertão”,
citando o assunto referente à revista O Cruzeiro, na página 128, escreveu nas
entrelinhas:
“Segundo outra versões, Maria Bonita logo depois de haver tomado consciência
do amor que sentia por Lampião, decidiu encontrá-lo. O cangaceiro Beija Flor,
de quem a revista O Cruzeiro de 18 de agosto de 1962 transcreve uma entrevista,
encarregou-se de raptar Maria Bonita.
Eis como ele narra o rapto”:
Maria Bonita, casada, vivia com seu marido, um sapateiro que, por sinal, está
vivo e mora no Mato Grosso. Se o senhor quiser, êle pode confirmar tudo.
Lampião é que gostava muito dela. E Ritinha, a outra mulher de Lampião, sabia
de tudo. Um dia, êle me chamou e disse:
- Pegue o burro e vá buscar Maria Bonita. Diga que fui eu que mandei.
Quando me aproximei da casa dela percebi que havia uns "macacos" por
perto. Mas continuei. Olhei pela janela e ela estava sentada sosinha, na sala.
Fiz um sinal, ela veio. De repente, seu marido apareceu e perguntou o que era
aquilo. Maria Bonita respondeu:
- Vou morar com Lampião. Você não é homem pra mim não.
Em seguida, montou no burro e fomos embora.
Quando chegamos de volta Lampião ficou tão satisfeito que até sorriu. E me deu,
como prêmio, quinze contos de réis. Era muito dinheiro. Maria Bonita melhorou a
vida da gente. Cinco horas da manhã, estava todo mundo de pé. A gente comia do
bom e do melhor.
- Foi a mulher mais bonita que Deus já botou no mundo. Tinha o pé grande como
diabo. Calçava botinas feitas sob medida e tinha mais pontaria que qualquer um
de nós. Ninguém se metia com ela, porque sabia que ia morrer. Brigava de faca,
de punhal e de fuzil. Não tinha quem pudesse com ela.”
(Testemunho do cangaceiro Beija- Flor transcrito por Guaracy Oliveira, em “Eu
Roubei Maria Bonita”. O Cruzeiro, 18/8/1962, pp. 53-55)
Vejam que a autora apenas transcreveu o que estava escrito na reportagem da
revista. Com isso, ela também deixou para outras gerações uma parte escura,
mentirosa e inconcebível de fatos e atos que não ocorreram... Lamentável.
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