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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

COMO BEBER CASCA DE PAU, CACHAÇA MATUTA DA BOA

*Rangel Alves da Costa

Zezim Bonome, famoso bebedor das ribeiras sertanejas, já cantava ao pé do balcão: Bebida pede um motivo e sem cachaça não vivo. Caço um motivo na hora, da saudade que arvora, da dor que não vai embora. Seja motivo verdadeiro ou não, o que importa é a intenção. E depois do copo virado outro motivo é achado e um novo copo emborcado. Então bote mais uma aí que eu tô é apaixonado.

Já Pé de Cana, cujo apelido já dizia bem o que mais gostava de fazer, chegava chorando no botequim pra todo mundo perguntar o que estava se passando e logo ele dizia: Joaninha das Cabaças me traiu, e veja que triste sina a minha. Pra não morrer de desgosto vim aqui pedi um lenço aos amigos. Mas como ninguém usa lenço, então prefiro uma relepada boa, uma cachaça de copo cheio que é pra ver se diminui a desdita da maldita.

Famosa era a toada ecoada por Zé das Quebranças toda vez que entrava no Gineta, um famoso botequim do passado sertanejo. Descendo o chapéu de couro no balcão antigo, logo entoava: Escute aqui ô Seu Né essa mágoa sertaneja. Dia e noite na peleja nesse sol que não troveja, tudo causa um sofrer que só me resta beber pra na vida ter prazer. Desce um copo bem cheinho que esse cabra tá doidinho e não quer enlouquecer.

E assim os copos são cheios, virados e revirados por esse mundão afora. Cada um chegando ao pé do balcão com seu motivo de beberança. Seja na alegria ou na tristeza, pelo prazer em beber ou pelo motivo da hora, a verdade é que a branquinha não deixa de ser virada. Então, o cabra chega ao pé do balcão e diz a escolha ou aponta o dedo. O vendeirim volta de litro à mão e despeja na medida. E o copo de pinga todo mundo já sabe como é: fundo encardido e o resto amarelado.

O copo é o que menos importa, pois é o sabor da pinga que mais interessa. Mas existem cachaças e cachaças, pinga de todo tipo. Tem gente que tanto faz beber uma destilada ou uma artesanal, tanto faz beber aguardente de rótulo como virar uma lapada de cachaça com raiz de pau. Gente assim não sabe nem beber nem escolher. O bom bebedor é fiel a uma marca ou tipo de bebida, nunca mistura no pé de balcão ou diz que tanto faz uma como outra.


O sertanejo, por exemplo, só bebe cachaça de rótulo se não houver a casca de pau, preparada no esmero. E quando se fala em preparo, logo se tem a pinga legítima, branquinha de engenho, despejada em litro e misturada ao que existe na vegetação ao redor. Casca de pau, raiz, folha, fruto, tudo serve como mistura. Mas a aceitação é maior quando a planta é conhecida por todos, assim como angico, bonome, aroeira, hortelã, quixabeira, umburana, cravo, cidreira, e muito mais.

Além disso, engana-se quem imaginar que beber cachaça matuta é apenas o ato de virar a dose goela adentro e acabou. Do mesmo modo, comete injustificável equívoco aquele que disser que a beberança da pinga do mato é igual a outra qualquer. A sabedoria sertaneja já disse que a cachaça matuta é tanto remédio como revigorante, é tanto expulsadeira de mazelas como chamadeira de apetite. Até mesmo os mais velhos dão uma bicada quando querem afoguear.

No mundo matuto, muitos são aqueles que chegam ao pé do balcão batendo na barriga e dizendo que ela anda meio roncadeira, meio desajeitada. Então pede, na dose, o remédio certo. Outros se previnem das consequências de uma comida pesada ou gordurosa com uma cachaça preventiva. Já outros até inventam desculpas para ter o copo cheio perto dos beiços. E se há umbu verde ao lado, perna de preá, caju ou qualquer frutinha azedada, então a dose se torna em beberança.

Como a cachaça com raiz, folha, semente, lasca ou fruto do mato, não deve ser vista como aquela destilada de fabricação em lote, o mesmo se diga com relação ao jeito de beber, ao modo de sorver cada tiquinho da branquinha de engenho misturado ao sabor da planta escolhida. Pinga de rótulo se bebe aos poucos, enquanto a casca de pau é virada de vez, mas sem se esquecer de oferecer um tiquinho ao santo beberrão lá embaixo.

Muitos podem ser os nomes para a mesma cachaça depois de misturada: casca de pau, raiz de pau, cachaça de mato, cachaça com casca ou raiz de pau. Nas prateleiras ou nos cantos dos velhos balcões, os sortimentos para a escolha perfeita. E muitas são as opções para a mistura da cachaça. Alguns vendeirins misturam a casca ou raiz com aguardente branca destilada. Contudo, a verdadeira cachaça matuta só presta com a pinga nova de engenho, branquinha e pura, ainda com o gosto da cana.
Conheço por que já bebi. E muito. Hoje troquei o bar por sorveteria, como diz a música.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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FILOSOFIA, RETALHO IDEOLÓGICO

Por Francisco de Paula Melo Aguiar

Quem tem ideologia formada sobre tudo e todos, jamais aderirá a ideologia alheia que a nada levará.
Francisco de Paula Melo Aguiar

Falar a verdade é mesmo que plantar e nada colher no deserto da ignorância democrática de nossa gente que faz de tudo para permanecer contratada na ilusão da gestão pública (federal, estadual e municipal), mesmo contra sua frágil e ou nenhuma ideologia política que se confunde com bajulação e corrupção de quem estiver de plantão no exercício de qualquer cargo e ou função política.
              
A sociedade que se diz crítica, criativa e contemporânea tem necessidade de iniciar sua aprendizagem dentro e fora do lar, cedo, envolvendo o sistema educacional sistemático e assistemático, temos muito a aprender quando filosofamos ouvindo e sendo ouvido pelas crianças.
              
A infância que carrega o aluno, inaudito, sem voz, sem autonomia, sem vez, pobre e/ou rico, amordaçado, deve ter como filosofia, potencializá-la e torná-la viva, critica e ativa, haja vista que é um ser que está a vir a ser, que em si mesma traz a força potencial capaz de transformação e criação do ser que não é em sua originalidade, porque nunca saberemos o que pode e o que não pode uma criança, tudo vai depender das "condições" e/ou "investimentos" públicos, familiares e educacionais de seu meio. O que se "gasta" em educação é investimento a curto, médio e longo prazo e nunca despesa.
             
O ser humano deve filosofar para pensar por si mesmo, pois, haja vista que no momento em que deixa de pensar, alguém inevitavelmente pensará por ele, assim sendo, passará a ser conduzido, dominado e governado no meio da massa não pensante, resolvendo seus "problemas" pelas mãos alheias. Mera ilação. Ledo engano. É semelhante a cego em tiroteio... porque não saberá para qual lado e/ou ideologia ficará e/ou defenderá, tornar-se-á instrumento de manobra fácil nas mãos de quem paga e/ou dá mais, fundamento e/ou alicerce alimentador da corrupção e dos corruptos em todos os setores da sociedade desenvolvido, subdesenvolvida e/ou de terceiro mundo. Haja pobreza, crise, falência das políticas públicas de educação, saúde, segurança, esportiva, infraestrutura, industrialização, cultura; inclusão social de crianças, jovens, adultos e da melhor idade, etc. É o samba do crioulo doido, onde o errado é certo e o certo é errado. Quem tem medo de pensar é escravo de si próprio...
                  
O eleitor que pede cimento, telha, tijolo, linha, ripa, caibro, barro, areia, dentadura, pagamento de água e energia elétrica, bola, exame de vista, remédio, cirurgia, maconha, crack, caixão de defunto, mortalha, programas sociais: bolsa escola, bolsa família, minha casa minha vida, etc., não tem moral para falar dos "eleitos" que ele "escolheu" porque recebeu o seu preço/valor antes de votar.

O eleitor quer sempre "ordem e progresso" para si e sua família e "desordem e atraso" para sua cidade, seu estado e seu país, tendo em vista o perfil dos eleitos via "aliciamento" dos programas sociais federais, estaduais e municipais, verdadeiro simulacro de compra e venda antecipada de votos, modelo reinante no Brasil do século XX, herança maldita do século XX. O candidato honesto passa a ser desonesto com tal filosofia eleitoral.
                 
O burro político é aquele que nada sabe, porém acha que sabe, dentre os demais é o único certo em tudo que faz e jamais quer aprender com a voz do povo no meio da rua...
                 
O Brasil tem em números redondos: 13 milhões de analfabetos e 38 milhões de analfabetos funcionais. É esse o quadro da educação nacional de 2017, isso significa que temos 51 milhões de analfabetos, portanto, um quatro da população brasileira. Sem leitura e compreensão do que leu, nada feito, o resultado é o reflexo do ENEM/2016, publicado hoje, onde a nota da redação derrubou a maioria dos candidatos que fizeram as provas mencionadas. É a grande questão do atual e do futuro ensino médio sem leitura e respectiva compreensão e interpretação literal dos conteúdos da educação formal e da educação informação.
                 
O povo é o gestor público em todos os cargos da administração municipal, estadual e municipal, tendo em vista que todo poder emana do povo e em seu nome é exercido, segundo a Carta Magna/1988.
                 
O projeto de sucesso de um povo tem que passar primeiro pela escola compromissada com crescimento e desenvolvimento sustentável a curto, médio e longo prazo. Sem aprender a aprender, através de educação forjada em um sistema de ensino falido, tem endereço certo: o insucesso pessoal e profissional de crianças, jovens e adolescentes dos dias atuais nas próximas décadas. É a política de quanto pior melhor.
                
O maior ato de grandeza de uma pessoa é agradecer a Deus pela vida sem máscara.
Ninguém consegue forjar e/ou enganar o povo o tempo todo, pode até enganar por muito tempo, porém, assim como o sol não se esconde por trás dos montes a verdade vem sempre a passos lentos. É tudo uma questão de tempo...
                 
Os mais velhos nos ensinam que o espinho que tem que furar desde pequeno trás a ponta.
                 
Deus é criador e não criatura, por isso nunca o homem consegue realizar tudo que sonha e pensa.
               
Entre o farfalhar do canavial e o monte da popular construí minha fábrica de sonhos.
                
Nunca deixe de acreditar em você, porque o acreditar no aceno do palanque é o dia anterior a tua decepção pessoal e ingresso no estádio esquecimento.
                
A sociedade que assiste o enterro da última quimera é a mesma sociedade que vai ao tribunal do júri absolver o seu verdadeiro assassino.
                  
Tudo que tem inicio tem fim, apesar do fim representar sempre um feedback (positivo e ou negativo) de continuar tudo como antes no quartel de Abrantes...
                  
Lembre-se de que nem sempre o "batalhador" está preparado para exercer o puder político, porque lhe falta conhecimento de causa para puder representar a si e a quem lhe elegeu, transformando-se assim uma presa fácil de ser aliada e corrompida no exercício do poder...
                 
Se a população deixar de trabalhar (já temos 12 milhões de brasileiros desempregados...) e pagar impostos diretos e indiretos a fazenda pública federal, estadual e municipal desaparece e ninguém quer ter o poder público sem dinheiro para gestar as políticas públicas de saúde, educação, limpeza pública, esporte, cultura, segurança, infraestrutura, etc.
                
Quem é amigo do poder não é amigo de ninguém, fica sempre do lado de quem está no puder...
                
Veja bem amigo: o descrédito público é pior do que o descrédito privado, porque no privado isso se chama: depressão, o indivíduo se mata, comete suicídio, morre só, e no público é transformado em lixo e sem chance de ser reciclado pela população que perde o sonho sonhado de progresso e desenvolvimento para a Terra que nos é comum.
                
Quando os políticos não tem compromisso com seus fiadores (eleitores) a população padece e empobrece.


Enviado pelo autor Francisco de Paula Melo Aguiar

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O CANGAÇO E, A SUA INFLUÊNCIA NA MODA DOS CALÇADOS FEMININOS...!


Hoje, é muito comum se encontrar calçados femininos em feiras de artesanato e outros locais, tendo como design símbolos do cangaço.


Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta
Link: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=622470927954885&set=pcb.591464491062499&type=3&theater

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LIVRO: O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO.


Serviço

“O Sertão Anárquico de Lampião” (de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016)
Valor do livro: R$ 50,00 (Frete fixo: R$ 5,00)

Através do e-mail: 
franpelima@bol.com.br


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BRASILEIRA, ANITA LEOCÁDIA PRESTES, NASCE NUMA PRISÃO NAZISTA. A LUTA DE SUA AVÓ PATERNA, PARA SALVAR SUA VIDA E TRAZE-LA PARA O BRASIL.

https://www.youtube.com/watch?v=kUA32E5z0bU&feature=youtu.be

Anita Leocádia Prestes nasceu numa prisão da Gestapo em Berlim. Sua mãe, a judia Olga Benário Prestes, foi deportada grávida para a Alemanha nazista pelo governo de Getúlio Vargas. Nessa época, seu pai, o líder comunista Luiz Carlos Prestes, estava preso numa solitária no Brasil. A avó de Anita iniciou um movimento internacional pela libertação dos dois. Anita foi devolvida à avó em 1938. Sua mãe Olga morreu num campo de concentração e seu pai, só o veria aos 9 anos de idade. Anita cresceu, estudou e se formou. Tem cinco livros publicados.

Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense, título concedido em janeiro de 1990, Anita Prestes é atualmente professora de História do Brasil na UFRJ.

Nessa entrevista, ela analisa a vida de seu pai, personagem que marcou a história do País.

Produção da TV Câmara - Memória Política

Publicado em 26 de ago de 2012
Visite o sítio do Instituto Luiz Carlos Prestes: http://www.ilcp.org.br

TV Câmara - Memória Política
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https://www.facebook.com/groups/545584095605711/?fref=ts

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CARIRI CANGAÇO EXU 2017

Por Manoel Severo

João Januário Maciel... ou: Joquinha Gonzaga, nasceu no dia da mentira; 01 de abril de 1952; acabou se tornando uma grande verdade; neto de peixe, peixinho é !!! Joquinha nasceu no Rio de Janeiro e é filho de dona Raimunda Januário; Dona Muniz, segunda irmã de Luiz Gonzaga, herdou do avô Januário e do tio Luiz Gonzaga o talento e amor para a música e a sanfona. Atualmente casado com dona Nice, mora em Exu ao lado dos filhos; sarinha de 17 anos e Luiz Januário de 11. A família recebeu a visita do Cariri Cangaço na manhã deste último sábado, 21 de janeiro de 2017.

"Cara, quando me disseram que ia acontecer o Cariri Cangaço aqui em Exu eu não acreditei e ai abriram lá uma pagina na internet e ai confirmei, e hoje os homens estão aqui, rsrs" revela um simpático e animado Joquinha Gonzaga, que tem no nome e na alma a responsabilidade de herdar um sobrenome famoso e um talento sem igual.


"No final da década de 1940, o “Rei do Baião” Luiz Gonzaga formou o primeiro núcleo Nordestino no Sul do país trazendo sua família composta pelo seu pai Januário, sua mãe Santana, suas irmãs Muniz, Geni, Socorro e Chiquinha Gonzaga e seus irmãos Aluízio, Zé Gonzaga e Severino Gonzaga. Se instalaram em um Sítio em Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias-RJ, mais conhecido como Sítio dos Gonzagas, onde eram realizadas grandes festas como casamentos, batizados, aniversários, novenas, etc., sempre com muitos convidados, músicas, comidas típicas nordestinas e a presença de grandes artistas famosos como Maria Inês, Abdias, Trio Nordestino, Dominguinhos entre outros. Foi neste meio que nasceu e cresceu Joquinha Gonzaga, nome artístico dado por seu tio Gonzagão, que o presenteou com uma sanfona de oito baixos (pé de Bode) quando ele tinha apenas 12 anos..."

"Nos surpreendeu o carinho e a atenção com a qual fomos recebidos pela família do Joquinha, tanto ele como dona Nice e os meninos; Sarinha e Luiz Januário; num piscar de olhos era como já nos conhecêssemos a muito tempo, acho que essa é a verdadeira magia da Alma Nordestina" comenta o curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo. Já o Conselheiro Cariri Cangaço Kydelmir Dantas ressaltava a responsabilidade do pequeno "bisneto de Januário"..."Luiz Januário com esse nome sua responsabilidade é muito grande, vamos ver se já segura uma oito baixos..." na verdade o pequeno Luiz Januário ainda não começou a trilhar o caminho da família, mas a filha mais velha, Sara tem um desejo, enquanto o pai quer que ela o acompanhe cantando, a mesma quer mesmo é tocar sanfona!

Continuando a historia de Joquinha: "Após dois anos, reconhecendo o talento do seu sobrinho, Gonzagão trocou os oito baixos por um Acordeon. Joquinha começou sua escola tocando em festas e forrós no Rio de Janeiro e, posteriormente, viajando por todo o Nordeste acompanhando o Rei do Baião como músico (sanfoneiro). Em 1986 Joquinha gravou o seu primeiro disco pela gravadora TOP TAPE, intitulado FORRÓ CHEIRO E CHAMEGO. Em seguida, a convite de seu tio Gonzagão, viajou numa turnê à Europa-França e participou de muitos outros shows já como artista convidado do Rei. A sua maior alegria foi receber o seu primeiro Diploma, quando o Rei declarou em público, registrando oficialmente, que Joquinha seria o seguidor cultural da Família Gonzaga...

A visita a residencia da Família Gonzaga selava mais um importante e definitivo momento para a construção do Cariri Cangaço Exu 2017, que já nasce com a espetaluar responsabilidade de celebrar mais uma vez o maior ícone da cultura nordestina.

Cariri Cangaço Exu 2017
Visita Joquinha Gonzaga
21 de Janeiro de 2017

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2017/01/sob-as-bencaos-de-luiz-lua-gonzaga.html

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ERA OUTONO, E EU VI “CHUVA DE BALAS NO PAÍS DE MOSSORÓ”. UMA HISTÓRIA DE CANGAÇO!


Em tempos de festejos juninos e a passos de antílope acossado, acorri até a urbe mossoroense, com vocação de pagar antiga dívida, assistindo o cênico de bravura e resistência à cavalaria do huno do Pajeú, Virgulino Lampião.

Neste treze de junho, perfazem oitenta e cinco anos, do raio invasor e de desespero dos povos do solo oestano potiguar, e da agonia cruenta do Lobo do Cinzento, ante o malogro da sua epopeia e o vexame da retirada por trechos da caatinga nunca dantes por si percorridos, tendo no seu encalço a volante mais truculenta e selvagem das terras paraibanas, comandadas por um dos seus maiores inimigos, Clementino Quelé.*

Na hora vesperal a exibição, um solfejo de xote jineteado com incursão no cancioneiro popular, cuja intérprete da terra, prestara homenagem ao grande Luiz Gonzaga, pelo transcurso do centenário do seu nascimento. Um permeio no repertório do velho Lua, com asa branca, xote das meninas, lá no meu pé-de-serra, vem morena e respeita Januário. Conjunto regional onde o zabumbeiro estimulava a harmonia com sanfona de cento e vinte baixos e violão. Enfim, uma preparação em leveza de gazela, para assistir o grandioso cênico sobre a saga lampiônica.

Neste ano, a peça ganhara “ar” de recital a la Broadway, com coreografia em cores berrantes, cantos diversificados, e a presença de sempre das viúvas carpideiras dos mortos na refrega nas ruas de Mossoró, cantando incelências, como nos velhos tempos de fanatismo beato no Juazeiro do Padre Cícero Romão.

No espetáculo quatro personagens roubam a cena: Lampião cujo cênico demonstra ser carolho, mas, comandando a malta de facínoras, o Cel. Rodolfo Fernandes, na sua imponência de Alcaide-mor da urbe atacada, Sabino Gomes, comandando a prisão do Cel. Antônio Gurgel, José Santana Leite, o Jararaca, sabendo este o que deveria lhe acontecer, esperneia desarvorado e abatido, pois, estava ferido e preso há dois dias, portanto prestes a ser executado.

Mas, o que leva um ato tosco, violento, distante no tempo, ano de l927, patrocinado por um facínora de costume selvagem, ser transformado, num cênico de atrativo popular, turístico, e de albergar uma lembrança mítica, quando transforma o túmulo de Jararaca, lugar tenente de Lampião, no local mais visitado no cemitério em Mossoró?

Essa é a primeira e enigmática questão. A outra, que circunstâncias impulsionam a vida de um facínora caboclo, sofrer uma derrota longe do seu pasto, pois, seu convívio era no Pajeú, Moxotó, Caatinga do Navio, nos Carirís Novos e nas terras fronteiriças da Paraíba e Pernambuco, naquele tempo quando da vinda a Mossoró, e não se abalar ou perder o prestígio?

De ressaltar, que na verdade a decisão de vir a Mossoró, não foi iniciativa de Virgulino Ferreira. Lampião desde a morte aos 25 de dezembro de 1926, de seu irmão mais velho, Antônio Ferreira da Silva, vulgo esperança, tornara-se um homem triste, deixando os próprios cabelos crescerem de forma desmedida. Antônio Ferreira antes de morrer, participara aos 26 de novembro do citado ano, da maior batalha do cangaço de todos os tempos, Serra Grande, onde o Lobo do Cinzento derrotou forças volantes de quatro Estados do Nordeste, algo em torno de trezentos homens.

Ganhara posição e atrevimento de propor ao Governo Pernambucano dividir o Estado em dois territórios: Da pancada do mar até Rio Branco, (hoje arco Verde), mandava o mandatário eleito pelo povo. De Rio Branco ao sertão mandava Lampião. Então, no convencimento interpretativo de Lampião, embora para os mossoroenses tenha sido a batalha da vida, para Lampião fora apenas uma retirada como muitas outras que fizera em sua vida, quando percebia está em desvantagem.

No entanto, tenha sido sem dúvida, a mais cruenta retirada de todas na vida de Lampião, em razão do desconhecimento do terreno, não contar com sua rede de coiteiros, nunca imaginara atravessar o Ceará tiroteando com forças diversas, inclusive do próprio Ceará, que sempre utilizou como refrigério e descanso, principalmente nas serras do Diamante e Catolé, esta pertencente parte ao Padre Cícero Romão.

Dizem os estudiosos, que a áurea e bravura de que se reveste esse episódio, esta na forma e estética de que se reveste o cangaço, onde o escudo ético, figura com leveza no imaginário popular, quando encontramos muitas pessoas que têm esse fenômeno delinqüente, como uma versão de Robin Hood nas terras do Velho Mundo. Lá, havia a subtração de haveres dos mais abastados para redistribuí-los com os miseráveis.

Nesse formato sobressaem-se o nosso Jesuíno Brilhante, o cangaceiro romântico da Serra do Cajueiro, em Patu, cuja gesta cangaceira deu-se nos idos de l877-79, e o grande Senhor Pereira, da Vila de São Francisco, no Pajeú, cujo lustro ocorreu de l918 a 1922, quando entregou seu grupo a Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, que era seu lugar tenente mais versátil, cuja sobrevida vai ao ano de l938, pois morto na gruta de angicos aos 40 anos de idade, contabilizando vinte de cangaço.

É fato, que Chuva de Balas no País de Mossoró, tem a bravura incontida de uma saga de povos, que ante a decisão de aliar-se a delinquência para sobreviver, preservaram os valores da decência, dos saberes da legalidade, do reproche ao malfeitor, mesmo sabendo dos riscos e perigos que poderiam advir em caso de insucesso. Arriba! Mossoró. O cênico tem cangaço, mas, sob controle.

*Clementino Quelé: Cangaceiro do início da década de vinte, teve um entrevero dentro do bando lampiônico, respingando seu chefe com ofensas, sendo em razão destas, excluído por ordem de Lampião. Após este fato, teve passagem como cachimbo a serviço do governo pernambucano, que ante suas atrocidades cometidas contra pequenos sitiantes do Pajeú, fora dispensado dos serviços. Logo em seguida, sendo integrado a polícia paraibana, com as fitas de sargento, por recomendação do Coronel José Pereira de Princesa. Cometeu as maiores atrocidades contra parentes de Lampião, inclusive matando um dos primos mais querido, José Paulo, vaqueiro da Fazenda Roças, bem como seus irmãos. Pagando um tributo caro, pois, Lampião deu cabo a três irmãos seus. Quelé terminou sua vida em alagoa Grande, no Brejo paraibano, lugar que sabia não ter mais qualquer encontro com o inimigo Virgulino Ferreira, pois, a partir de l928, embrenhou-se no sertão da Bahia.


Jair Eloi de Souza é historiador da cidade de Jardim de Piranhas

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/permalink/590976214444660/

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GRUPO DE LAMPIÃO PRATICA CRIME EM SITIO DOS NUNES, MUNICÍPIO DE FLORES - PE

Por Antonio Neto

Este é mais um artigo escrito sobre o cangaço, cujo texto está fundamentado nos autos do processo-crime instaurado pela justiça de Pernambuco contra Virgolino Ferreira, vulgo Lampião, e seu grupo, pela acusação de assassinato no lugarejo de Sitio dos Nunes no município de Flores, sertão de Pernambuco.

Consta dos autos que, no dia 25 de janeiro de 1928, por volta das 18 horas, no lugar Sitio dos Nunes no município de Flores, um grupo de bandoleiros chefiados por Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião e Sabino Gomes tomaram a casa do senhor Simplício Oleiro, onde se encontrava hospedado de passagem o cidadão Antônio Marinho, juntamente com dois filhos menores de idade.

O inditoso cidadão em conversa com os bandidos, revelou que vinha de Buique, onde morava e seguia com destino à cidade de Triunfo e, inocentemente, supondo tratar-se de policiais da Força Pública do Estado, disse que tinha o desejo de sentar praça para combater os cangaceiros e dar surra em ladrão. Nesse instante, o bandido Sabino Gomes sacou de sua pistola mauser e, a queima roupa detonou um tiro certeiro na boca do infeliz que tombou ferido no chão. Os foras de lei achando pouco o que fizeram com aquele pobre homem indefeso, dispararam mais dois tiros sobre o seu corpo: um de rifle e outro de fuzil mauser, tudo diante dos olhos dos dois filhos menores da vítima. Uma atrocidade sem tamanho para aquelas crianças. Um ato abominável e desumano que confirma o que escreveu Optato Gueiros, em seu livro “Lampião. Memórias de um Oficial Ex-comandante de Forças Volantes“, onde afirma que “Lampião era um homem de índole cruel, verdadeiramente tigrina”.

Em depoimento à justiça, a testemunha Joaquim Nunes de Lima, afirmou que o grupo de Lampião, composto por 14 cangaceiros, matou friamente Antônio Marinho no lugar Sitio dos Nunes, entretanto nem todos tiveram os seus nomes identificados.

Embora, no inquérito policial, tenham sido indiciados Virgolino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, Sabino Gomes e todos do seu grupo, o Promotor Público da Comarca de Flores, Severino Correio dos Anjos, denunciou apenas Virgolino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, Sabino Gomes, José Pretinho, Félix Caboge e os indivíduos conhecidos por Mariano e Moreno.

O corpo da vítima foi sepultado no dia seguinte, 25/01/1928, no cemitério daquela povoação e seus filhos tristonhos e inconsoláveis retornaram para a cidade de Buique, chorando a perda de seu pai.

Após a consumação do trágico assassinato, o bando de cangaceiros saiu dali como se nada tivesse de acontecido, uma vez que esse crime foi apenas mais um no currículo sangrento do Rei do Cangaço.

As testemunhas arroladas no processo, ainda disseram que o grupo de Virgolino Ferreira, o Lampião, logo que saiu do povoado de Sitio dos Nunes, ali perto, na Fazenda Mulungu tomou sete burros de uns almocreves e uma sela pertencente a Juvenal Duarte.

Esse crime, como tantos outros praticados por Lampião e seu bando, além de ser uma página triste do processo em questão, manchou de sangue, mais uma lauda da biografia do Virgolino Ferreira da Silva e marcou para sempre a história de Sitio dos Nunes.

Fonte: Memorial da Justiça de Pernambuco. Pasta. Flores, 1928- Andar 1º/estante 17/face 01/prateleira 03/Cx. 369.

Do blog: Redação Caderno 1
Por: Antônio Neto
Antônio Neto é escritor, pesquisador, biógrafo e poeta.
Adquiri no acervo do pesquisador José João Souza‎ - OFÍCIO DAS ESPINGARDAS


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SER POETA.

 Por José Ribamar


O poeta que casa pra ter casa
Se descasa da própria liberdade;
Que sentença lavrada por quem peca
Ao poeta não traz felicidade.
Ser escravo das regras da discórdia
Num convívio regado à ciumeira
É deixar de ser livre como o vento
Pra viver feito um cão preso à coleira.

01

Que poeta é poeta, sem direito
De sonhar e viver independente?
Toda vez que relembro a servidão
Uso o dom pra fingir que estou contente.
Confiar em quem cobra lealdade
Inspirando cuidado como seta,
Não é coisa pra quem repete tanto
Que ser livre é ser astro e ser poeta.

02

Ser poeta não é apenas ser
Diferente dos outros, não senhor!
É ser dono de tudo e não ter nada
E amar sem morrer pelo amor.
É sentir-se maior que o pecado
E menor que a tormenta da saudade,
É dormir de alcova escancarada
E acordar respirando liberdade.

03

Ser poeta por menos que pareça
É ter tudo nas mãos pedindo pouco.
É chorar por amor sem amar tanto
Cometendo loucura sem ser louco.
É saber mendigar um beijo doce
Sem que o dono da deusa possa ver
E fechar os portões da própria alma
Quando a dor da tristeza aparecer.

04

Ser poeta nos braços de quem ama
É ter medo da cruz da solidão,
É curvar-se perante as leis de Deus
E erguer-se em defesa da razão.
Ser menino sem traços de criança,
Prevê coisas sem dom de ser profeta
Também são atributos de quem nasce
Pra ser livre, sonhar e ser poeta.

Autor: José Ribamar

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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POSTANDO UM EXCEPCIONAL TRABALHO

Por Antonio Corrêa Sobrinho

Faz dois anos agora em janeiro, que postei neste grupo de apreciadores, estudiosos e cultores do cangaço o interessante ensaio sobre o banditismo nos sertões nordestinos, publicado no jornal "O Globo", em 1927, tempo de um Brasil de República Velha, de um Cícero Romão mandando, de um Antônio Silvino preso e de um "Lampião" fazendo das suas.

O texto completo foi dividido em seis capítulos. O primeiro eu trago agora. Os demais, oportunamente

“O GLOBO” – 10/09/1927
A PSICOLOGIA DO CANGACEIRO
O BANDITISMO NOS SERTÕES DO NORDESTE BRASILEIRO
UM ENSAIO POLÍTICO-SOCIAL
(Especial para o GLOBO)

A psicologia do cangaceirismo, que nos infesta grandes zonas do sertão, e, por via de regra, se trava com a politicagem, não tem sido até hoje estudado senão superficialmente, da mesma sorte porque o banditismo não tem sido reprimido senão de modo falho, sem consideração ou estudo das origens e do modo de ser daquela gente, a um tempo cruel e altivo, e sempre com todas as surpresas de uma quase inconsciência. É por isto mesmo que não podemos furtar à análise da opinião pública uma série de artigos em que versou tão intrincado assunto um conhecido político e ex-parlamentar do Norte, que se oculta de longa data sob o pseudônimo de Justiniano de Alencar, e vem de escrever especialmente para “O Globo” o referido trabalho ou ensaio, de que hoje oferecemos a primeira parte, dos seis em que ele se divide.

CAPÍTULO I

Há bem pouco tempo os jornais cariocas publicaram telegramas do Ceará, nos quais se noticiava a breve captura do célebre “Lampião” e do seu bando, cercados que estavam os bandidos em uma fazenda do interior daquele Estado. Dizia-se mesmo que essa captura seria uma questão de honra, sendo impossível aos bandidos escapar. As horas passaram; passaram dias, e novos telegramas traziam a triste nova de que o audaz bandoleiro furara o cerco, internando-se no matagal. E os jornais do Rio começaram a bordar comentários zombadores em torno do convênio estabelecido entre os chefes de Polícia dos Estados do Nordeste para a perseguição do bando sinistro, chegando algumas folhas a tecer irônicos ditirambos ao herói do crime.

Entretanto, se aqui, no Rio, se conhecesse a geografia física e política do Nordeste brasileiro, far-se-ia, certamente, mais justiça aos abnegados policiais que vivem arriscando a vida, centena de vezes, contra um inimigo quase invisível, protegido pelos acidentes do terreno, que conhece a palmo, protegido pelas caatingas cerradas, onde rasteja como animal bravio, protegido, em suma, pelo apoio que lhe prestam os parentes e políticos sertanejos, de longa data habituados a um regime quase feudal e a se aproveitarem desses infelizes escorraçados da sociedade para suas vinganças particulares.

Raras, raríssimas vezes, os bandidos enfrentam a força pública que os persegue quando surpreendidos nessas horas noturnais formadas pelas arestas das serras onde se acoitam. Em regra, quando surpreendidos nessas lutas temíveis, tiroteiam durante minutos para abater alguns soldados, e, logo que presentem o assalto da tropa para desalojá-los em luta corpo a corpo, fogem, internam-se nas grotas profundas e quase inacessíveis, onde a perseguição é impossível para uma força organizada e desconhecedora do terreno.

A tropa, então, ou volta para os povoados próximos, onde está aquartelada, ou permanece algum tempo pelas redondezas do local da luta, em pesquisas sempre infrutíferas, porque a tática do cangaceiro consiste em sumir-se como que por encanto, não dar o menor sinal de si, manter-se escondido nos matos durante um espaço de tempo calculado para que a calma de restabeleça, e surgir, de repente, dezenas de léguas distantes dos lugares onde permanece a força policial, para atacar uma fazenda isolada, que ele sabe, de antemão, desprotegida de qualquer auxílio.

Jornadeando durante a noite por (...) atalhos, evitando as estradas públicas, oculto durante o dia nas caatingas – o bando sinistro semelha (...) infernais que aparecem e desaparecem com a rapidez do raio, deixando após sua passagem a desolação e o terror. Como, se prevenirem esses (...)? Como se espalharem forças policiais por uma região onde são percorridas, às vezes, 10, 15 e 20 léguas, sem se encontrar uma casa?

É preciso conhecer-se a gênese do “Cangaceirismo” para se poder avaliar as dificuldades quase insuperáveis que terão de vencer os governos dos Estados nortistas para extingui-lo, quer se considere o desabitado da zona sertaneja, quer a geografia física daquela região, como que projetada para a mantença dessa calamidade, pela abundância de esconderijos constituídos por um mato baixo, cerrado e coberto de espinhos, e por grotas profundas e quase impenetráveis, ou quer se atente para os hábitos astuciosos do cangaceiro, misto de bravura e covardia, de crueldade e clemência, de rapinagem e caridade, de desonestidade e honradez, de fidelidade e perfídia, por mais que isto pareça paradoxal.

O Dr. Raul Azedo, médico insigne em Recife, é uma das inteligências mais cultas do Brasil, conhecedor de grande parte dos sertões de Pernambuco e Alagoas, tem publicado no “Diário da Manhã”, de Recife, uma série de artigos interessantíssimos sobre o cangaceirismo, dos quais se evidencia o enorme esforço que precisarão desenvolver os governos nortistas para vencer esse flagelo dos sertões.

“O problema do cangaceirismo nordestino – diz ele – é um dos mais complexos sobre que se pode exercer a análise do sociólogo. Emaranham-se na sua gênese fatores remotos e atuais, de ordem étnica e física uns, de ordem social e política outros.

A conquista do interior brasileiro se faz à custa de luta sangrenta e prolongada, em que ao trabuco e à espada do invasor respondiam galhardamente a flecha e o tacape do aborígene.

Não admira, pois, que para tais gentes, a bravura, a força física, a agilidade, a destreza no manejo das armas, constituíssem as virtudes e os predicados mais nobilitantes e invejáveis do ser humano.”.

Três raças, bem diversas, concorreram para formar o tipo de sertanejo do nordeste brasileiro: - a dos índios, em luta constante contra os invasores do seu território, que o caçavam como bestas-feras matando-os ou repelindo-os para o centros portugueses, aventureiros, habituados no morticínio nos combates, que invadiram o interior do Norte, uns sequiosos de ouro, que julgavam encontrar com facilidade, outros para se apossarem de terras doadas pelo governo da metrópole e que ali queriam estabelecer à força seus domínios, mantendo os primitivos donos, sem misericórdia, desde que (como diz Raul Azevedo) “estavam convencidos de se acharem em presença de seres fora da humanidade, relativamente aos quais seriam descabidas a compaixão ou a observância de quaisquer sentimentos afetivos”; e, por fim, a dos negros africanos, escravizados e arrastados para aquelas terras, a serviço desses senhores desumanos.

Assim, ora em luta permanente com os selvagens, ora suspendendo temporariamente as hostilidades e, durante as tréguas, misturando-se, unindo-se sexualmente e procriando, as três raças acabaram, com o decorrer dos tempos, por se fundir em uma, com algumas virtudes inatas ao homem, mas onde predominavam os vícios, e, sobretudo, os instintos guerreiros e sanguinários, alimentados pela ampla liberdade em que viviam, longe dos centros de civilização e sem a mínima sujeição legal.

Em tais condições é bem de ver que, sendo o sertanejo nortista um produto daqueles antigos elementos em luta, desconhecendo os verdadeiros princípios sociais, completamente ignorante de tudo o que não fosse a luta pela vida, livre de códigos e de sanções penais, a sua lei era a lei selvagem – a da “força”; o seu direito era a sua “vontade”; a sua justiça, o “bacamarte” e o “punhal”.

Mais tarde, quando as estradas de ferro foram penetrando pelo interior dos Estados e os governos entenderam levar um pouco de civilização e de ordem àquelas zonas selvagens, a política interveio para transformar os sertões em feudos dos políticos que estavam no poder, e os sertanejos bravios passaram a vassalos das autoridades que os subjugavam com os soldados de que dispunham a seu talante. E, se algumas dessas autoridades procediam com prudência e justiça, outras ligavam-se a uma família sertaneja de maior prestígio na localidade, quer para efeitos políticos, quer para enriquecerem rapidamente, apropriando-se de terras e gados pertencentes a outras famílias.

Mas, como a política varia e os que se achavam no poder caíam de chofre no ostracismo, para dar lugar ao partido adverso, novas autoridades eram enviadas pelos novos governos para os sertões, em substituição dos primeiros, que já se encontravam donas de latifúndios e ligadas a uma ou mais famílias sertanejas; e, como as novas autoridades, devidamente garantidas pela força pública, queriam, por sua vez, criar e organizar seu partido político no sertão, manobravam como as primeiras, ligando-se a outras famílias sertanejas, até então desamparadas de prestígio, e procedendo em tudo e por tudo como aquelas que substituíam.

É claro que, “mutatis mutantis”, a justiça dos novos dominadores, com raras exceções, passava a proteger os sertanejos sectários do seu credo político, em detrimento do “direito” dos adversários, tal qual como estes haviam procedido quando dispunham das autoridades policiais e do prestígio político.

E assim foi a política se imiscuindo na vida sertaneja, dividindo em castas inimigas aquela população bravia, e sucessivamente dando força e prestígio quer a um, quer a outro grupo de famílias, conforme se achava no poder quer um, quer outro dos partidos que governavam a Nação.

Ora, como os instintos selvagens do índio (que não perdoa ao inimigo), associado aos sentimentos autoritários e violentos do europeu invasor, e à barbaria supersticiosa e cruel do africano, continuavam a preponderar o sertanejo nordestino, produto desse amalgama de sentimentos os mais opostos – originaram-se, daquela intervenção vinda do litoral, lutas sangrentas entre as famílias sertanejas que se não sujeitavam à convenção legal, preferindo a justiça como a entendiam: primitiva, rápida, e exercida por suas próprias mãos contra quaisquer ofensas recebidas, com o assassínio do ofensor; de modo que, perseguidos como criminosos, uniam-se a parentes, internavam-se na vastidão do nosso território, em luta perpétua, até à morte, com as autoridades perseguidoras.

Eis como se gerou o tipo do “cangaceiro” – espécie de nômade, como o índio, seu antepassado, sem habitação fixa, vagueando pelas caatingas e pelas serras inacessíveis, vivendo como os animais, e denominado cangaceiro, do vocábulo – “cangaço” (conjunto de armas) pelo fato de andarem esses criminosos carregados de armas diversas.

Justiniano de Alencar.

Fonte: facebook
Página: Antonio Corrêa Sobrinho
Grupo: Lampião, Cangaço e Nordeste
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