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domingo, 25 de dezembro de 2016

MATÉRIA SOBRE A MORTE DE "VINTE E CINCO" O ÚLTIMO CANGACEIRO DO BANDO DE LAMPIÃO.

https://www.youtube.com/watch?v=vOpl9M_1Urg

Publicado em 25 de dezembro de 2016

Matéria da TV Ponta Verde de Alagoas - SBT (Canal 05) sobre a morte de "Vinte e Cinco" (José Alves de Matos) o último cangaceiro do bando de Lampião.

Plantão Alagoas (TV Alagoas - SBT)
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Fonte: facebook
Págima: Geraldo Júnior
Grupo: O Cangaço
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LOCAL DA EMBOSCADA / ASSASSINATO DO CANGACEIRO - JESUÍNO BRILHANTE.. (SERROTE DA TROPA- PB )


CANGACEIRO Jesuíno Alves de Melo Calado (Nascimento: Patu, 1844 - MORTE: Brejo do Cruz, dezembro de 1879) foi um cangaceiro nordestino. É considerado um dos precursores do cangaço no nordeste brasileiro.

Também chamado de "Jesuíno Brilhante" ou "O Cangaceiro Romântico", nasceu de uma família aristocracia rural sertaneja, no sítio Tuiuiú, região da cidade de Patu-RN, e virou bandoleiro em 1871 pelo fato de seu irmão ter apanhado no meio da rua de sua cidade natal e pelo roubo de uma cabra que lhe pertencia.

Fonte: Wikipédia
Foto: CORTESIA LÚCIA HOLANDA.

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

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JOSÉ DO TELHADO: O ROBIN DOS BOSQUES PORTUGUÊS


José do Telhado ou Zé do Telhado (1818 — 1875) foi um militar e famoso salteador português.

Chefe da quadrilha mais célebre do Marão, Zé do Telhado ficou conhecido por "roubar aos ricos para dar aos pobres". E muitos o consideram o Robin dos Bosques português.

De origens humildes, aos 14 anos foi viver com um seu tio, para aprender o ofício de castrador e tratador de animais. Em 1845 casou-se com a sua prima Ana Lentina de Campos, da qual teve cinco filhos.

Acumulou vasta experiência militar, iniciada no quartel de Cavalaria 2, os Lanceiros da Rainha, Combateu contra os "Setembristas", em defesa da restauração da Carta Constitucional, em Julho de 1837.

Derrotado, refugia-se em Espanha.



Ao regressar, grassava no país a revolta contra o governo anticlerical de Costa Cabral. Quando estala a Revolução da Maria da Fonte, Março de 1846, vê-se envolvido como um dos líderes da insurreição. Coloca-se às ordens do General Sá da Bandeira, que também tinha aderido. Assume o posto de sargento e distingue-se de tal forma na bravura e qualidades militares que, na expedição a Valpaços, recebe a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, a mais alta condecoração que ainda hoje vigora em Portugal. Mas entra em desgraça, amontoa dívidas de impostos que não consegue pagar e é expulso das forças armadas.


Já como "Zé do Telhado", chefe bandoleiro, realiza um grande número de assaltos por todo o Norte de Portugal, durante um período muito conturbado que coincidiu com a fase de maior resistência de D. Miguel, no exílio com o seu governo: os partidários miguelistas tentavam formar grupos de guerrilha em todo o país.

O salteador mais conhecido do país acaba por ser apanhado pelas autoridades em 1859 quando tentava fugir para o Brasil. Esteve preso na Cadeia da Relação, onde conheceu Camilo Castelo Branco que se lhe refere no livro "Memórias do Cárcere".

Em 9 de Dezembro de 1859 foi julgado e condenado a degredo perpétuo na África Ocidental Portuguesa. Em 1863, a pena seria comutada para 15 anos de degredo.

Viveu em Malanje, negociando em borracha, cera e marfim. Casou-se com uma angolana, Conceição, de quem teve três filhos. Conhecido entre os locais como o "kimuezo" - homem de barbas grandes -, viveu desafogadamente. Faleceu aos 57 anos, vítima de varíola, sendo sepultado na aldeia de Xissa, município de Mucari, a meia centena de km de Malanje, sendo-lhe erguido um mausoléu, que se tornou num local de romagens.


A vida lendária de José Teixeira da Silva, o José do Telhado, acabaria por inspirar o filme de filme Armando de Miranda rodado em 1945.

Nele, José do Telhado, já casado com a sua prima Aninhas, assiste impotente á debandada dos militares que com ele estavam no movimento de guerrilha.

Desiludido e sem recursos, acaba por ceder aos rogos de Boca Negra- chefe duma quadrilha que infesta a região - para lhe suceder na liderança porque se sente velho.

Após audaciosos assaltos, de cujo produto passam a beneficiar os pobres, José do Telhado será preso devido à traição do seu lugar-tenente, José Pequeno.

E deixa, desamparados, Aninhas e o filho...

Mas o melhor é ver o filme:


http://lumeear.blogspot.com.br/2016/02/jose-do-telhado-o-robin-dos-bosques.html

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TRISTE, NO ALTO DA MONTANHA

*Rangel Alves da Costa

Triste, no alto da Montanha, reconheço a inteireza da verdade nas palavras do Eclesiastes: Há um tempo de tudo. Tempo de plantar e tempo de colher, tempo de lua e tempo de sol, tempo de chegar e tempo de partir, tempo de sorrir e tempo de chorar. E o meu tempo em tudo...

Aqui, do alto da Montanha, anuncio minha plenitude em Eclesiastes. Acreditava ser diferente, mas percebi que realmente não há nada de novo debaixo do sol. Quem me fez alegre me fez triste, quem me adoçou a boca respingou veneno. Que amei e desamei...

Entristecido no alto da Montanha, eis que avisto a vida como se avistasse o tudo em seu oposto. Ali a alegria e a tristeza se digladiando em busca de seu momento, o silêncio e a algazarra em disputa pela prevalência no homem. E eu cansado de sofrer pelas batalhas alheias.

Triste, no alto da Montanha, confesso-me resoluto à aceitação. Não vou mudar o mundo pelas minhas mãos. Não vou mudar a face da vida pelo meu querer. Não vou nada mudar pelo meu querer. Ora, só quero a impossibilidade do possível. E é impossível que assim aconteça.

Aqui, do alto mais alto da Montanha, revelo que mantenho a porta de trás como mantenho a porta da frente: aberta. Que tudo que venha passe, que tudo que chegue siga o seu rumo, que tudo que se aproxima logo se vá em despedida. Não adianta nada fazer permanecer. Se tudo muda, não sei da mão que na chegada me foi estendida.

Entristecido no alto da Montanha, e mais abaixo avistando tudo, juro não desejar que aconteça o que está predestinado a acontecer. Vejo ouro, vejo prata, vejo diamante. E vejo o resto, vejo a sobra, vejo o nada, vejo a desilusão. Eis as vaidades que se dissipam em pó de ventania.


Triste, no alto da Montanha, tudo faço para não me desintegrar de vez do resto que me resta. Sei que bastaria cuspir para lançar o sangue, sei que bastaria chorar para tudo ressecar, sei que bastaria tirar um pedaço de mim para nada mais existir. E já não tenho além de escombros que me recobrem uma inexistente aparência.

Aqui, do alto da Montanha, talvez não consiga negar a mim mesmo. Tenho de chorar e vou chorar, tenho de sofrer e vou sofrer, tenho de me espantar com os motivos do sofrimento e me assustarei. Os escondidos haverão de brotar como o dia após a noite, como a morte após a vida.

Entristecido no alto da Montanha, eis que sinto o ecoar cada vez mais forte do Eclesiastes com suas verdades. Um ser que nada é, uma vida que já não será, apenas uma passagem apressada. E sem tempo de dizer que fui feliz ou que simplesmente tristeza.

Triste, no alto da Montanha, ainda assim não quero descer de seu cume. Que cheguem os temporais, os vendavais, as tempestades, os redemoinhos, todas as fúrias do mundo. De que adiantaria descer se em tudo a ilusão do sorriso, do contentamento, da felicidade? Adianta colher flores para depois perceber que só restam os espinhos?

Aqui, do alto da Montanha, toda a certeza alongada, sem pressa, exaustivamente vívida. A profunda e tão necessária percepção que sobre os pés humanos há caminhos essenciais e que jamais serão caminhados, experiências que jamais deveriam ser olvidadas. Mas o homem sempre prefere o conforto do passo ligeiro e seguro.

A Montanha parece se fazer mais alta, subir e subir. E daqui de cima tudo embaixo se torna grão. Mas talvez não seja assim. É que a ilusão humana faz imaginar está na altura ou no pedestal. Quando, na verdade, é o próprio homem o seu grão em tudo.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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ESPÓLIOS DE LAMPIÃO (Parte I)


É sabido por todo pesquisador que os cangaceiros levavam consigo a maioria dos seus ‘pertences’. Também se sabe que em casos, ou em alguns casos, eles emprestavam, a juros altíssimos, algum dinheiro para as pessoas.

Coronel José Pereira de Lima

Citam alguns autores que o coronel Zé Pereira, de Princesa Isabel, PB, devia uma grande soma ao “Rei dos Cangaceiros”, e, para não saldar tal dívida, aproveitou o ataque de seu bando, ele não participa, a cidade de Souza, em solo paraibano, convidado pelo jovem cangaceiro Chico Pereira, para colocar seus capangas, e o coronel mantinha um contingente de jagunços maior do que o contingente da Polícia da Paraíba, em seus calcanhares.

Cangaceiro Chico Pereira

Outra citação é que, ao transpor as águas do Velho Chico, Lampião diz “levar muito dinheiro, balas e coragem...” para terras baianas. Na Bahia, há referências de que o chefe de subgrupo, o cangaceiro Zé Baiano, o “Pantera Negra”, vivia a emprestar dinheiro a juros para o pessoal.

Tenente Zé Rufino

Logicamente não se pode negar que, principalmente na ‘fase baiana’, foi a ‘maneira de ganhar’ dinheiro que fascinou tantos jovens, principalmente sergipanos, a adentrarem nos bandos. Sabe-se, através das entrelinhas dos escritores, que o pernambucano José Osório de Farias, o comandante Zé Rufino da Força Pública baiana, comprou algumas fazendas, isso dito por ele, após deixar a Polícia, e foi com os espólios retirados dos corpos dos cangaceiros mortos por sua volante. Além das promoções na hierarquia militar, das recompensas pelas ‘cabeças’ de alguns cangaceiros, que quem matasse um teria direito ao seu espólio.

Lampião, Juriti, Sabonete e um coiteiro. O 'capitão' está pagando algum 'serviço' ao coiteiro. dinheiro, a mola mestra do cangaço.

O caso mais intrigante, até hoje, não poderia deixar de ser, exatamente, sobre os espólios de Lampião, Maria Bonita, sua companheira, e os outros nove cangaceiros abatidos na grota do riacho Angico em julho de 1938.


Lampião e Maria Bonita em close de recorte. Nessa captura, sendo ela completa, há um detalhe interessante, pois, o fotógrafo era Benjamin Abrahão, só que ele está apertando a mão do 'capitão'. Ao estudarmos a foto, e outra quase idêntica, fazendo comparações, notamos que o cangaceiro Juriti está na que o fotógrafo não está e, vice-versa. Com isso acreditamos que o cangaceiro Juriti seja o autor desse registro histórico.

A pergunta que não cala é onde foram, ou com quem ficou os espólios dos maiores, mais antigos e mais ‘ricos’ cangaceiros da época?

Seguindo a rota que as cabeças seguiram, conseguimos seguir parte desse ‘tesouro’ até a sede do comando da Força Pública, II Batalhão, na cidade de Santana do Ipanema, AL. Ali, o restante daquilo que fora um dia os espólios dos cangaceiros mortos em Angico, fora divido entre os comandantes. “Restante” por, antes ter sido ‘repartida’ várias coisas entre a tropa, coisa que causou até brigas entre os soldados. Além das cabeças, foram decepadas mãos, dedos e a parte do corpo dos abatidos que estivesse alguma joia ou coisa de valor, dentre outras profanações.

Maria Bonita e Sabonete. Cangaceiro designado para ser uma espécie de secretário da 'rainha dos cangaceiros'. Ela na cena do filme, coloca as joias em volta do pescoço. Notamos que já há anéis em seus dedos.

“(...) Além das cabeças dos cangaceiros, alguns dedos e mãos também foram decepados para a retirada de anéis, bornais foram revirados e até brigas aconteceram pela disputa (...).” (“LAMPIÃO – Sua morte passada a limpo” – BASSETTI, José Sabino. e MEGALE, Carlos Cesar de Miranda. 1ª edição. 2011)

Fotografia recortada para mostrar os anéis que os cangaceiros usavam em seus dedos. Muitos só deixavam o indicador sem anel.

Após a morte dos cangaceiros no riacho Angico, foi designado um Delegado Federal, Dr° Joel Macieira de Aguiar, para apurar o caso do “tesouro” dos cangaceiros. Em sua investigação descobre que havia pessoas de várias esferas sociais a colaborar com Lampião, na sociedade sergipana, porém, como foram saqueados os pertences dos cangaceiros, até documentos que ajudariam a provar, ou comprovar, a participação dessas pessoas, foi retirada. O interventor do Estado de Sergipe, Dr° Manoel de Carvalho Barroso, é orientado pelo delegado a pedir a seu colega das Alagoas uma verificação por parte da Secretaria de Segurança Pública sobre essa documentação. Porém, nada fora catalogado daquilo que se encontrava em poder do “Rei dos Cangaceiros” e seus asseclas naquele coito.

A tolda de Lampião e Maria na Grota do Riacho Angico.

“(...) Não existe, pelo menos de conhecimento público, um inventário oficial e verdadeiro, onde esteja catalogado todo o espólio dos cangaceiros mortos em Angico (...).” (Ob. Ct.)

A coisa, na época, não era de brincadeira. Não poderia, de maneira alguma, vir a público nome de pessoas influentes dos Estados em que Lampião estendeu sua malha e concretizou seu reinado.

“(...) dizem até que, foram encontrados em um dos bornais de Lampião, “um arquivo”, com correspondências de coronéis, políticos e fazendeiros, além de uma fotografia de um oficial comandante de volante, com dedicatória e tudo ao Rei do Cangaço. E tudo foi devidamente “abafado inclusive na imprensa” (...).” (Ob. Ct.)

Cilhão - Sela para mulheres cavalgarem

Devemos lembrar que na época, o País estava sob um Regime ditatorial. A Ditadura Vargas estava em pleno exercício. Um, ou mais um, escândalo desses, o primeiro sobre o caso fora o filme de Benjamin Abrahão, não seria visto de bom grado...

Existe, dentre os pesquisadores/escritores, aqueles que acham difícil haver prova escrita de alguns ‘poderosos’ nos espólios do “Rei dos Cangaceiros”. No entanto, poderia ter sim, alguns nomes dos fornecedores e colaboradores escritos em algum papel... Que Lampião recebia colaboração de pessoas influentes é fato, porém, saber quem realmente eram, é mais uma incógnita do incógnito tema, o qual, seus nomes, parece jamais saberemos.

Maria Bonita e Sabonete. Cangaceiro designado para ser uma espécie de secretário da 'rainha dos cangaceiros'. Ela na cena do filme, coloca as joias em volta do pescoço. Notamos que já há anéis em seus dedos.

Na famosa foto, onde ficou registrada parte dos espólios junto às cabeças dos cangaceiros na escadaria da Prefeitura da cidade alagoana de Piranhas, de cara notamos uma ‘arrumação’ quando vemos máquinas de costuras e até um cilhão, sela exclusiva e apropriada para mulheres... Sabe-se que foi encomendada uma máquina para que, com ela, fosse ‘produzida’ a indumentária de Zé Ferreira, sobrinho do ‘Capitão’, que estava há poucos dias junto à cabroeira e o tio o faria mais um cangaceiro, o mais novo “Ferreira” no cangaço, mas, não deu tempo. E o que danado fazia uma sela de montaria naquele coito?

A foto famosa, tendo sido capturada na escadaria da prefeitura da cidade de piranhas, nas Alagoas. Hoje, essa escadaria não mais existe.

Relatos de ex volantes deixam registros de que o comandante da Força Pública alagoana que pôs fim a vida do “Rei Vesgo”, sua ‘Rainha” e parte dos seus cabras, apossou-se da maior parte dos espólios.

Tenente João Bezerra da Silva

“(...) Os soldados são unânimes em afirmar que João Bezerra (tenente comandante da tropa) levou para casa quase tudo de valor que foi encontrado, inclusive dinheiro, prometendo dividir com todos no dia seguinte. Os ex-militares José Panta de Godoy, Elias Marques de Alencar e Antônio Vieira, estão entre os que afirmaram em entrevista que havia muita coisa, mas que nada receberam e, acusaram João Bezerra e Ferreira de Melo de terem ficado com quase tudo. João Bezerra e Ferreira de Melo pegaram ainda em Piranhas o que quiseram, pois tiveram tempo suficiente para escolher e separar tudo de valor material e “sentimental” que acharam interessante guardar (...)”. (Ob. Ct.)

Fotos das armas que seriam as de Lampião no Instituto Geográfico e Histórico de Maceió, capital do Estado das Alagoas. Hoje, comprovadamente sabe-se que não eram essas as armas do "rei dos cangaceiros".

Com o passar do tempo, obras literárias trazem em suas entrelinhas a notícia de que partes desses objetos foram adquiridos pelos escritores, comprados mesmo e, pasmem, é através de uma dessas obras que se começa a descobrir-se que parte daqueles objetos que estão a mostra em museu, não são verdadeiros...

CONTINUA...

Foto A Noite
Benjamin Abrahão
Joãozinho Retratista

PS// fotos do cangaceiro Chico Pereira e do bando em Jaramataia foram colorizadas, digitalmente, pelo amigo Rubens Antonio

Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: Ofício das Espingardas
Link: https://www.facebook.com/groups/545584095605711/?fref=ts

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CORISCO O SUCESSOR

Por Juarez Conrado 

Sem malícia ou liderança
Pensando só em vingança
Não foi um bom sucessor
Morrendo o Virgolino
Marcado estava o destino
Do novo "governador"

Que sem tino militar
Coireiros para informar
Das volantes a posição
Corisco foi um fracasso
No comando do cangaço
E já aleijado da mão

Por vinte anos o reinado
Com muito sangue criado
Por falta de comandante
Sem luta- esfacelou-se
O sertão, enfim  livrou-se
Porque Corisco abatido
Foi definitivamente banido
Sob o calor sufocante. 

Juarez Conrado

Em outubro de 1939, foi localizado por uma volante, com ela lutando durante algum tempo. Sofreu na refrega sérios ferimentos. Baleado, perdeu o movimento de um dos braços, enquanto o outro, atrofiado, tornou-se incapaz de manejar ou portar uma arma. Foi aí que Dadá, como a primeira mulher a carregar um fuzil, assumiu a chefia do grupo, cada vez mais reduzido devido a decisão de seus integrantes de ceder às propostas das autoridades, que prometiam perdoá-los.

A cangaceira Dadá

De 1939 a 1940 Corisco não deixou rastros do seu paradeiro. Surgiram, por isso, as mais diversas versões sobre sua vida, todas elas, como se constatou, sem qualquer fundamento. As poucas volantes ainda caçavam cangaceiros, àquela altura fugindo para outras regiões, entregando-se aos policiais ou trabalhando anonimamente no campo. Corisco apareceu na Bahia, no município de Brotas de Macaúbas, onde acoitou-se na Fazenda Pulgas, de um certo Pacheco. Zé Rufino que já percorrera mais de mil quilômetros em suas andanças, procurando-o, tomou conhecimento – diz-se (o que não corresponde à verdade) que por Velocidade, ex-cangaceiro que, pouco antes, havia desertado, delatando o chefe – de sua presença naquela propriedade agrícola. O Diabo Louro, sempre procurando manter-se no anonimato, abandonou os trajes que costumava usar, e junto à sua fiel companheira, pensava em tomar outro destino.

Como andarilho errante, teve o pressentimento de que algo de grave estava por lhe acontecer. Vivia sobressaltado. Todos desejavam delatá-lo à polícia, colocando um ponto final na sangrenta história escrita no Nordeste, ao longo de 20 anos do reinado de Virgolino Ferreira da Silva e do seu sucessor, Cristino Gomes da Silva.

O cangaceiro Corisco

Já não contava com coiteiros que lhe dessem asilo ou informações sobre seus perseguidores. Os fazendeiros e antigos “coronéis” que abasteciam o bando nos tempos de Lampião não mais o recebiam. Os homens da zona rural com ele já não se preocupavam, por considera-lo um bandido sem forças, incapaz de atemoriza-los.

Tenente Zé Rufino assassino de Corisco

Ao contrário do que se diz, não houve troca de tiros entre ele e o implacável Zé Rufino, que vivia empenhado em prendê-lo ou matá-lo, para compensar a frustração de não ter sido ele o carrasco de Lampião, a quem durante tanto ano perseguiu.

Também não é verdadeira a versão de que teria mandado que ele se entregasse, antes de metralhá-lo.

Corisco no leito hospitalar esperando a hora de morrer

Na realidade, Corisco o primeiro a ser baleado, ficou com os intestinos à mostra, caído em uma poça de sangue.

Dadá sofreu apenas ferimentos no pé, que provocou, pouco depois, a gangrena responsável pela amputação da sua perna. Pela primeira vez, os terríveis inimigos estiveram frente a frente.

Dadá no leito hospitalar recuperando-se da perna - Zé Rufino está ao seu lado

Fonte: livro Lampião Assaltos e Morte em Sergipe
Autor: Jornalista Juarez Conrado
Páginas: 228 e 229
Ano: 2010 - Sergipe
Digitado e ilustrado por José Mendes Pereira

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LIVRO “PARAHYBA NOS TEMPOS DO CANGAÇO”

Por Antonio Corrêa Sobrinho

O que dizer de “PARAHYBA NOS TEMPOS DO CANGAÇO”, livro do amigo Ruberval de Souza Silva, obra recém-lançada, que acabo de ler, senão que é trabalho respeitável, pois fruto de muito esforço, dedicação; que é texto bom, valoroso, lavra de professor, um dizer eminentemente didático da história do banditismo cangaceiro na sua querida Paraíba. É livro de linguagem simples, sucinto e objetivo, acessível a todos; bem intitulado, pontuado, bem apresentado. E que capa bonita, rica, onde nela vejo outro amigo, o Rubens Antonio, mestre baiano, dos primeiros a colorizar fotos do cangaço! A leitura de “PARAHYBA NOS TEMPOS DO CANGAÇO” me fez entender de outra forma o que eu antes imaginava: o cangaço na terra tabajara como apenas de passagem. Parabéns e sucesso, Ruberval!

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Entre em contato com o professor Pereira através deste 
e-mail: 
franpelima@bol.com.br

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LAMPIÃO EM QUEIMADAS - LAMPIÃO EM SANTO ANTONIO DAS QUEIMADAS (A CHACINA DE QUEIMADAS)

Por: João de Souza Lima

Em agosto de 2012 segui de Paulo Afonso com o amigo Josué Santana até a cidade de Queimadas para conhecer o local da chacina realizada por Lampião quando ele matou 7 soldados.

Em Queimadas pegamos algumas informações com os jovens Floriano Esteves e Robson Ribeiro que nos indicaram o senhor José Ferreira de Santana, advogado conhecido por Zezito. Seu Zezito é filho de Umbelino Joaquim de Santana, um dos comerciantes que teve seu comércio saqueado pelos cangaceiros.

Também entrevistamos o Padre Carlos Gabbanelli e por fim entrevistamos a quase centenária Zulmira Lima Farias com seus 99 anos de idade, sendo ela uma das primeiras pessoas a ver Lampião entrando na cidade.

Lampião e seu bando vieram oriundos de Cansanção e chegaram nas proximidade da cidade em um carro do IFOCS (Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca). Antes de chegarem a Queimadas houve uma discussão entre Zé Baiano e Virginio. Lampião tomou a pistola de Zé Baiano e jogou nas águas do rio. Zé baiano inconformado afastou-se se separando do grupo sendo acompanhado por Antonio de Naro.

Na margem esquerda do rio Itapicuru Lampião pegou os irmãos Marques (Hilário, Carlos E Irênio) e ordenou que eles conseguissem canoas para atravessarem os 16 cangaceiros.

As 15 horas do dia 22 de dezembro de 1929 os cangaceiros se desembarcaram no local chamado “Passagem”. Aproximaram-se do chalé do Coletor Federal Francisco Lantyer e em uma oficina que ficava na frente do casarão encontraram João Lantyer e o mecânico José de Patápio que consertava o radiador do automóvel.

Lampião perguntou:

- Esse carro tá funcionando?

- Estamos tentando colocar ele em funcionamento!

- É pena, se ele tivesse funcionando a gente ia entrar em Queimadas montado nele!

O grupo entrou em Queimadas dividido em duas alas, sendo uma comandada por Lampião e outra por Mariano. A população confundiu os cangaceiros com uma volante pernambucana.

A professora de teatro Zulmira Lima conheceu que era Lampião e por mais que alertasse sobre o perigo não lhe deram atenção.

A Estação Ferroviária foi invadida sendo o telegrafista Joaquim Cavalcante e o Agente Manuel Evangelista tornaram-se prisioneiros dos cangaceiros. A bilheteria foi saqueada, o telégrafo foi destruído a coronhadas de mosquetão. O telegrafista foi obrigado a arrumar uma alta quantia em dinheiro para não ser morto. O agente foi obrigado a mostrar as casas dos comerciantes que seriam extorquidos.

No momento da entrada dos cangaceiros o Juiz Manoel Hilário do Nascimento conversava com alguns amigos, dentre eles o Tabelião José Francisco, quando chegou preso pelo cós da calça o Oficial de Justiça Alvarino que disse:

- Doutor, o Capitão Lampião!

Lampião a notar que o Juiz, o Escrivão, o Oficial de Justiça e o Tabelião eram negros, disse:

- Que terra desgraçada, toda justiça é negra!

O cangaceiro Mariano e seu grupo se dirigiram ao comércio do senhor Umbelino Joaquim de Santana que tinha farmácia e um depósito com produtos da região, tais como: Mamona, Ouricuri, Tecido, Bebidas, Peles e Gêneros Alimentícios. Os cangaceiros comeram, beberam e saquearam vários produtos. Os cangaceiros mostraram uma relação com nomes dos comerciantes que iriam ajudá-los dando dinheiro e o nome de Umbelino vinha em primeiro plano na lista. Umbelino saiu e foi procurar Lampião e quando o encontrou disse que já tinha aberto as portas do seu comércio para os cangaceiros e queria que Lampião tirasse seu nome dessa relação de contribuição, sendo de pronto atendido pelo cangaceiro.

Lampião se dirigiu ao quartel e lá chegando pegou os soldados e o sargento desprevenidos dando-lhes ordem de prisão. O cangaceiro soltou os presos das celas e prendeu os soldados.

Sargento Evaristo Carlos

Os cangaceiros foram à casa do Juiz Manoel Hilário e o Juiz foi quem fez a relação de pessoas que poderiam contribuir com dinheiro. A arrecadação ficou a cargo do coronel Elias Marques.

O cantor e violonista Antonio Rosa dos Santos sabendo da invasão dos cangaceiros saiu às ruas para conhecer Lampião. Antonio foi reconhecido pelo cangaceiro e acabou cantando várias músicas que muito agradou a Lampião e seus comandados. Lampião deixou Antonio cantando e foi para o quartel onde foi executar os soldados. Dos 8 policiais presos só escapou o comandante do destacamento, o sargento Evaristo Carlos da costa. O sargento acompanhou os cangaceiros no espaço de tempo que eles permaneceram na cidade, portando um fuzil sem balas no ombro.

Quando lampião invadiu a casa do escrivão da Coletoria Federal o senhor Amphilóphio Teixeira, observou que sua esposa Austrialina Teixeira, conhecida pela alcunha de dona Santinha, usava um belíssimo trancelim de ouro no pescoço. Dona Santinha vendo o interesse de Lampião pela jóia retirou-a do pescoço e a ofereceu ao cangaceiro que diante da cordialidade da senhora falou:

- A senhora tem direito de me fazer um pedido, dizem que bandido não tem palavra mais eu quero mostrar a senhora que tem!

Santinha pediu para que não matassem o sargento Evaristo, pois tratava-se de um cidadão correto, bom pai de família, religioso e de caráter.

O sargento escapou, porém os soldados foram executados barbaramente. Os soldados mortos foram: Olímpio de Oliveira, Aristides Gabriel de Souza, José Antonio Nascimento, Inácio Oliveira, Antonio José da Silva, Pedro Antonio da Silva e Justino Nonato da Silva.

O sargento teve que carregar nas costas a culpa de ter sido traidor e responsável pelo fato acontecido sendo relapso na segurança dos seus comandados e da cidade. Depois do ocorrido o sargento teve que responder um longo processo por negligencia. O processo foi concluído em 1931 e Evaristo foi absolvido por unanimidade. O sargento morreu em Santaluz em 1978, com 86 anos de idade.

Santo Antonio das queimadas que viu os moribundos sobreviventes de Canudos, o exército que trafegava na velha Maria fumaça que cruzava a cidade, viu também as marcas geradas e deixadas pelo cangaço quando diante da população aflita e indefesa presenciou o assassinato de 7 soldados da polícia baiana. As marcas permanecem feitas feridas que não saram, as dores eclodem em cada triste lembrança daquele fatídico mês de dezembro de 1929 e hoje quando se comemora o Natal as luzes da cidade acendem velando as almas daqueles homens que foram impiedosamente exterminados pelas mãos que fizeram uma história manchada de sangue, capítulos que não se calam, feito ecos permanentes que se transfiguram nos sons que ecoam nas páginas tristes e sangrentas que permeiam capítulos vividos e que o tempo não apaga de nossas memórias.

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/permalink/576471885895093/ 

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DELMIRO GOUVEIA - NO CINEMA, UM HOMEM SEGUNDO QUATRO OLHARES

Por: CARLA CASTELLOTTI - REPÓRTER

Em Coronel Delmiro Gouveia, história do industrial é contada a partir do ponto de vista de sua esposa, Carmela, do próprio Delmiro, de um de seus sócios e ainda de um de seus funcionários

Geraldo Sarno não sabia quem era Delmiro Gouveia. Foi em 1967, durante uma espécie de expedição pelo sertão nordestino, que o documentarista baiano entrou em contato, pela primeira vez, com a história do industrial cearense. "Estava com um projeto para fazer dez documentários sobre a cultura popular nordestina. Percorremos Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará", rememora o cineasta.

Das andanças pela região, Sarno conta que surgiram quatro filmes: Vitalino Lampião, Os Imaginários, Jornal Sertão e Eu Carrego o Sertão Dentro de Mim. Foi em meio a esse processo que, numa visita à Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), o cineasta se deparou com um busto em homenagem a Delmiro Gouveia. Curioso, perguntou ao vigia da hidrelétrica quem era o homem retratado na escultura.

"Tomei um susto quando soube de tudo aquilo", diz Sarno sobre as primeiras impressões que teve ao conhecer a trajetória de Delmiro. Em busca de mais histórias sobre o industrial, o cineasta também esteve na cidade alagoana de Delmiro Gouveia, onde encontrou em ruínas a Usina de Angiquinho, a casa na qual Delmiro havia morado e o que havia restado da Fábrica da Pedra.

Entre o primeiro contato com a história do industrial sertanejo e o início das filmagens de Coronel Delmiro Gouveia uma década se passou. Embora se firmando como documentarista, Sarno preferiu retratar a trajetória de Delmiro por meio de um filme ficcional. "Resolvi fazer uma ficção porque a história era muito forte", rememora ele.

Delmiro e a reinvenção do Sertão

Nascido no Ceará, Delmiro Gouveia cresceu no Recife do século 19, então um dos mais importantes centros urbanos e comerciais do Brasil.
Um ’incidente emocional’ motivou a fuga de Delmiro do Recife para Alagoas, em 1900.

Modernizador do sertão. Rei das peles. Pioneiro de Paulo Afonso. Estas são apenas algumas das denominações recebidas por Delmiro Gouveia (1863-1917). Natural de Ipu, no Ceará, o industrial cresceu no Recife do século 19, um importante centro comercial e cultural não apenas para o Nordeste, mas também para todo o Brasil da época. E ainda que tenha ascendido socialmente na capital pernambucana, foi em Alagoas que Delmiro ergueu o mais ambicioso de seus projetos, a Usina de Angiquinho, a primeira hidrelétrica do país, localizada no município que hoje leva seu nome.

Garoto pobre, Delmiro Augusto da Cruz Gouveia ficou órfão do pai ainda menino. Ao lado da mãe e da irmã, mudou-se para o Recife, onde aos 15 anos - após a morte da mãe - começou a trabalhar. Aos 20, depois de ocupações como cobrador de bonde e despachante, torna-se comerciário e passa a atuar na área de compra e exportação dos chamados "courinhos", isto é, a pele da cabra e do bode.

Tendo apenas o curso primário, a instrução escolar limitada, no entanto, nunca foi um problema para Delmiro. Dotado de notável inteligência para os negócios, o industrial, legítimo representante do pensamento liberal no Brasil, cria em 1899 um centro de comércio, serviços e lazer no bairro recifense do Derby. Inédito para os padrões da época, o empreendimento reunia em um só lugar mercado, hotel, velódromo e um pavilhão de diversões.

Homem conhecido pelas atitudes empresariais marcadamente à frente de seu tempo, Delmiro também teve uma vida amorosa pouco comum. Não à toa, em 1900 saiu literalmente fugido do Recife, aos ser acusado de rapto de menor, após se apaixonar por Carmela, de 16 anos, filha bastarda do governador de Pernambuco Sigismundo Gonçalves, seu inimigo político.

Foi em decorrência desse incidente sentimental, inclusive, que o industrial acabou vindo parar em território alagoano.

50 anos a mil

Delmiro Gouveia viveu exatos 54 anos. Nesse intervalo de pouco mais de meio século, deixou a infância pobre no interior do Ceará para entrar para a história como o homem responsável por levar a industrialização ao sertão nordestino. Personagem cuja trajetória se confunde com a própria formação do Nordeste moderno, seu legado é pouco ou nada conhecido no país. No ano do centenário da Usina de Angiquinho, seu mais ousado projeto, dois livros ganham reedição - a biografia Delmiro Gouveia - O Pioneiro de Paulo Afonso, de Tadeu Rocha, e o romance O Ninho da Águia - Saga de Delmiro Gouveia, de Adalberon Cavalcanti. Para saber mais sobre a vida e as conquistas do modernizador do sertão, a Gazeta conversou com o professor Edvaldo Francisco Nascimento, autor do prefácio da obra mais completa já escrita sobre o industrial cearense, e com o cineasta baiano Geraldo Sarno, que levou sua história para o cinema.

"O maior legado que Delmiro deixa é mostrar para o sertão e para o sertanejo que a nossa região é possível e o sertanejo é capaz", diz Edvaldo Francisco do Nascimento.

Do Recife para Alagoas, na trilha dos desafios.

Gazeta. Delmiro Gouveia teve uma educação formal ou aprendeu fazendo?

Edvaldo Francisco do Nascimento. Ele aprendeu fazendo. Delmiro teve acesso somente aos primeiros anos de escola.

Poderíamos dizer que Delmiro é um dos primeiros brasileiros a agir conforme os preceitos do pensamento liberal, segundo o qual o trabalho é o principal atributo moral do homem?

Sim, eu acho que é correta essa afirmação. Há um trabalho de doutorado da professora Telma de Barros Correia, no qual ela faz essa análise de Delmiro como o homem que antecipa o desenvolvimento do sistema capitalista no próprio Nordeste. E ele era sim liberal.

Delmiro saiu do Recife fugido depois de se apaixonar pela filha do governador da época ou ele sai da capital pernambucana falido?

Veja só: Delmiro, homem já rico, com seus 38, 39 anos, contrariava alguns interesses da oligarquia política e econômica do Recife. No Mercado do Derby, por exemplo, ele comprou um grande estoque de farinha, que era vendida a um preço mais em conta do que se vendia nos estabelecimentos do Recife. Isso gerou um protesto dos comerciantes, que foram cobrar dos aliados deles, do governador, Sigismundo Gonçalves, e do prefeito do Recife, Esmeraldino Bandeira, algumas providências. Essas providências, por sua vez, eram apreensão de mercadorias de Delmiro e insultos a Delmiro. Isso criou um clima de muita animosidade entre Delmiro, seus amigos, aliados, e os amigos e aliados do prefeito e do governador.

Inclusive há um episódio em que Delmiro agride o então vice-presidente da época...

Numa dessas situações, Delmiro foi ao Rio de Janeiro, onde encontra Rosa e Silva, então chefe dessa oligarquia (recifense) e vice-presidente da República. Delmiro acaba dando umas bengaladas no vice-presidente na rua do Ouvidor. A situação piora ainda mais quando Delmiro volta para o Recife e os aliados de Rosa e Silva dão o troco e incendeiam o Mercado do Derby; além disso, Delmiro é preso junto com seu sócio, Napoleão Duarte, sob a acusação de terem tramado o incêndio para receber o seguro. O clima era desse nível. Ao ver os jornais da época, principalmente o Diário de Pernambuco, é possível ver os insultos trocados entre eles. O fato é que nesse período Delmiro entra em ruína econômica e, com problemas pessoais, brigando com a primeira esposa, vai passar um ano na Europa.

Mas ele volta ao Recife?

Os negócios vão de mal a pior e ele é chamado ao Recife para tomar algumas providências. Quando volta, não sei se por ironia do destino ou se por birra, ele vai se envolver com a filha bastarda do governador - que tinha um relacionamento extraconjugal com uma senhora apelidada no Recife de Doninha, que tinha uma filha muito bonita, Carmela, de 16 anos, com quem Delmiro se envolve. Bom, era tudo que o governador queria para decretar a prisão de Delmiro e abrir um processo por rapto e defloramento de menores, acusação que foi parar no Tribunal de Justiça Federal. O advogado de Delmiro foi coincidentemente seu padrasto, que conseguiu um habeas corpus a favor de Delmiro, que a essa altura já tinha fugido, porque a ordem da polícia era de matá-lo.

Em nota dpara Carmelao autor, Tadeu Rocha diz ter encontrado cartas de Delmiro . Ela então foi esposa de Delmiro até a morte do industrial?

Ela veio para o sertão de Alagoas, é a mãe dos filhos de Delmiro, que teve três filhos aqui no sertão alagoano: a Noêmia, Noé e Maria Augusta Gouveia. Só que ela tinha um temperamento muito forte. E ela era uma moça com uma cabeça de alguém que vive numa cidade como o Recife. Imagina ela chegar no sertão de Alagoas. Ela não se habituou. Inclusive, ela deixa o (filho) mais novo com aproximadamente um ano de idade e vai embora deixando os filhos com Delmiro, que manda chamar a irmã, então separada, para tomar conta dos filhos dele.

E como Delmiro se ergue novamente nos negócios em uma região onde não havia praticamente nada?

Ele chega ao sertão alagoano em 1902. E a grande atividade lucrativa desenvolvida por Delmiro era o comércio de couro de animais. E mesmo ele morando no Recife, ele ia buscar essas peças no interior, no sertão. Ao chegar aqui, Delmiro encontra uma posição estratégica no limite de três estados, onde ele comprava a matéria-prima de seus negócios. Então ele retoma a atividade comercial como exportador de pele. Em 1909 já refaz sua fortuna e retoma a liderança no negócio. É com o dinheiro das peles que ele empreende. Lógico que depois ele agrega posses, capital internacional, mas a base da sua fortuna vem do comércio de peles, porque ele tinha lucros exorbitantes; por estratégias que ele utilizava, pela manipulação das peles, criou um sistema de classificação - segurava mercadoria para poder vender mais caro.

E como Delmiro dá início à construção da Usina de Angiquinho?

Em 1909, Delmiro recebe no sertão um grupo de capitalistas americanos, que firmam contrato com ele - cujo grande projeto é produzir energia para vender para o Nordeste, principalmente para o Recife. Então esses capitalistas firmam contrato com Delmiro, mas para esse contrato ser realizado Delmiro tinha que conseguir concessões dos governos de Pernambuco, de Alagoas e da Bahia. Delmiro consegue as concessões de Alagoas e da Bahia, mas não consegue de Pernambuco. Outra grande decepção de Delmiro. À época, o governador de Pernambuco era o general Dantas Barreto, que foi eleito derrotando a oligarquia política de Rosa e Silva, que era inimigo de Delmiro. E o general Dantas Barreto teve o apoio de Delmiro para ser eleito, inclusive Delmiro ia para os comícios no sertão pernambucano a favor de Dantas Barreto. Então ele achava que teria apoio do governo de Pernambuco, mas ele recebeu um não. Então, os possíveis sócios americanos desistiram do negócio. E por isso Delmiro resolve por conta própria dar início a esse negócio. Ele readequa o seu projeto no sentido de que a energia produzida pela usina será utilizada num projeto que ele vai construindo em paralelo, a fábrica de linhas.

Linha do tempo

* 1863 Nasce Delmiro Gouveia em Ipú, no Ceará
* 1868 Após a morte do pai, transfere-se com a família para Goiana, em Pernambuco
* 1872 Muda-se para o Recife
* 1878 Após a morte da mãe, Delmiro, aos 15 anos, começa a trabalhar como cobrador na Brazilian Street Railways Company
* 1881 Delmiro trabalha como despachante em um armazém e algodão. Dois anos depois, já era intermediário entre comerciantes do interior e firmas exportadoras de pele e algodão
* 1891 Delmiro se torna sócio de um inglês num armazém de compra e exportação de couros de cabra e bode
* 1899 Assume a direção da Usina Beltrão, uma fábrica de refino de açúcar. No mesmo ano inaugura no Derby, bairro do Recife, um centro de comércio, serviços e lazer, que incluía mercado, hotel, velódromo e pavilhão de diversões
* 1900 Devido a conflitos políticos entre Delmiro e governantes pernambucanos, o Mercado do Derby é incendiado
* 1903 Delmiro torna-se proprietário da Fazenda da Pedra, no sertão de Alagoas
* 1913 Constrói a Hidrelétrica de Angicos junto à Cachoeira de Paulo Afonso para fornecer energia para qa fábrica de linhas de costura que inaugura no ano seguinte
* 1917 Delmiro morre assassinado na varanda de sua casa, em Alagoas

SERVIÇO

Filme: Coronel Delmiro Gouveia (idem, Brasil, 1978)
Direção: Geraldo Sarno
Onde assistir: disponível no YouTube
Classificação: 12 anos
Fonte: Gazeta de Alagoas, 10/03/2013.
PERFIL
Delmiro Augusto da Cruz Gouveia nasceu no dia 05 de junho de 1863, na fazenda Boa Vista (município de Ipu, na serra da Ibiapaba). Filho da paixão e do acaso. Pois o coronel Delmiro de Farias (nome de uma rua que se inicia no bairro Jardim América e chega ao Rodolfo Teófilo), casado e pai de cinco filhos, raptou a jovem pernambucana Leonilda Flora da Cruz Gouveia. Apaixonou-se por ela quando viajou a Recife, a negócios.
Delmiro Gouveia perdeu o pai na Guerra do Paraguai, em 1867. Dele, herdou a personalidade forte, a coragem e os arroubos da juventude. "Em uma das festas que promoveu, ele se apaixonou por uma condessa italiana. Chegou a passar meses na Itália... Em Alagoas, mantinha duas residências: numa, ficava a irmã e os filhos. No chalé, fora do cercado (região onde estava a cidade), teve muitas mulheres e muitas amantes", conta Edvaldo Nascimento, da Fundação Delmiro Gouveia (Alagoas).
Após a morte do pai, Delmiro e a mãe escaparam em Pernambuco. Migraram do interior para a capital até o rapaz se estabelecer no ramo de peles. Por essa época, 1883, casou-se com Anunciada Cândida de Melo Falcão (o casal se separou em 1901). O mascate era intermediário entre os produtores do sertão e os comerciantes estrangeiros de Recife. Em 1896, já era proprietário da Casa Delmiro Gouveia & Cia. A sociedade com a L.H. Rossbch, de Nova Iorque, rendeu-lhe o título de Rei das Peles.
Nesse período, Virgulino Ferreira (antes de se tornar o cangaceiro Lampião) foi almocreve de Delmiro. Ele carregava as mulas, pra lá e pra cá, fazendo o transporte das peles. Era o início do século XX, e Delmiro seguia a sina do pai: fugiu com a adolescente Carmela Eulina do Amaral Gusmão para Vila da Pedra (Alagoas). Um povoado, como situa Edvaldo Nascimento, na margem do Rio São Francisco, a cem quilômetros de Canudos, a 60 de Angicos e a 150 da terra de Graciliano Ramos.
Em Pedra, Delmiro Gouveia continuou a lida com as peles até viajar à Europa e conhecer a revolução industrial. Do outro lado do mar, trouxe a idéia da hidrelétrica (1910).
"O Povo"   21/10/2007:
90 ANOS DE MORTE
Saga de Delmiro Gouveia começa no CE

Considerado um imperador no Nordeste, a vida de Delmiro Gouveia começa na cidade de Ipu, zona norte do Estado

Ipu. Era 10 de outubro de 1917. O relógio batia oito e meia da noite e o coronel Delmiro Gouveia se balançava numa cadeira de vime, no alpendre de casa, lendo jornais sob o clarão da recém-chegada luz elétrica. Naquele instante, três tiros, disparados da escuridão da rua, interromperam a vida de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, o cearense que fez fortuna no sertão de Alagoas e entrou para a história como construtor da primeira usina hidrelétrica do Nordeste.

Noventa anos após sua morte, o Diário do Nordeste foi buscar as raízes desse sertanejo visionário, que nasceu na Fazenda Boa Vista, distante duas léguas da então Vila do Ipu, na Ibiapaba. Salvo algumas poucas tentativas escolares de manter acesa a lembrança do filho ilustre, nada mais dele existe por lá. Nem mesmo a casa de vaqueiro onde seu pai, Delmiro Porfírio de Farias (Belo de Farias), ficou escondido após "roubar" a menina Leonila Flora da Cruz (Dona Moça), de 14 anos, que viria ser a mãe do menino Delmiro. Nos sete anos que moraram por lá (1861-1868) foram condenados a viver à margem da sociedade: ele procurado pela polícia por "crime de sedução" e ela difamada por coabitar com um homem casado e pai de mais outros quatro filhos.

Afamado conquistador e popular pela "garbosidade", quatro anos depois de instalado na zona norte do Ceará, Belo de Farias, que era tenente da Guarda Nacional do Ipu, se alistou no "26º Corpo de Voluntários da Pátria" e foi morrer na Guerra do Paraguai, em abril de 1867. No ano seguinte, quando ficou sabendo da morte do pai de seus filhos, Leonila Flora, que não pôde assumir o posto oficial de viúva do herói morto, criou coragem e voltou para Pernambuco.

No livro "Delmiro Gouveia - O Pioneiro de Paulo Afonso", o escritor Tadeu Rocha narra as dificuldades atravessadas por Dona Moça nesse Estado. "Sua vida no Ceará não correspondeu à coisa alguma do que imaginara ao pensar em casamento(...) Teve seu segundo filho nascido a 5 de junho de 1863. Ao contrário da menina Maria Augusta, que se batizou na Matriz de Santa Quitéria, o menino Delmiro Augusto não pôde ser levado à pia da Igreja de S. Sebastião, no Ipu(...) Foi preciso esperar a passagem do Coadjutor dessa Paróquia, em viagem de desobriga, para batizar a criança numa capela ou numa fazenda próxima", afirma. O pesquisador descreve, ainda, o destino da família. "No sertão do Ceará não havia lugar mais para a Curica do finado Belo de Farias(...) E a viúva bastarda não ficou. Pediu aos parentes do herói que a mandassem para sua terra". Após longos dias e noites sertão adentro, Leonila Flora, aos 21 anos, carregando nos braços os filhos de quatro e dois anos, voltou para Itambé (PE).

Aos 30 anos, Leonila Flora casou-se novamente, falecendo no dia seguinte. Delmiro estava com 15 anos. Hoje, a Fazenda Boa Vista faz parte do distrito que leva o nome de Delmiro Gouveia, menino que saiu do Ceará sem nada, ficou sozinho no mundo aos 15 anos e que, aos 20, dava sinais de que iria construir um império no sertão brasileiro, nos primeiros anos do século XX.

NATÉRCIA ROCHA
Repórter
"Diário do Nordeste", 2/9/2007:

Fonte: diariodonordeste


HISTÓRIA DO MITO
Estudantes encenam vida e morte do "herói"

Pires Ferreira. Na pequena e pacata Delmiro Gouveia, hoje distrito de Pires Ferreira, distante cerca de 100 quilômetros de Sobral, pouco se sabe a respeito de seu filho mais ilustre. As ruínas da casa, demolida não se sabe quando, se perderam entre a jurema seca e os marmeleiros do sertão. Com a aproximação do aniversário dos 90 anos da morte do cearense, no próximo dia 10 de outubro, alunos da Escola de Ensino Fundamental e Médio Delmiro Gouveia, do vizinho município de Ipu, se preparam para encenar a peça teatral "Vida e Morte de um Herói".

Delmiro Gouveia virou uma espécie de mito e o que as crianças sabem de cor é que o conterrâneo foi "um homem muito trabalhador".

Memória do fundador

Ano passado, uma comitiva da Escola visitou a antiga cidade de Pedra, hoje, também, Delmiro Gouveia, no Estado de Alagoas. A diretora da Escola, Antônia Zulene Moreira ficou encantada com a organização, receptividade e beleza do lugar. "Tudo lá gira em torno da memória de seu fundador. Foi muito importante para nós, para nossa história, conhecer o lugar onde Delmiro Gouveia desenvolveu grandes projetos´, disse a professora.

Na viagem à Alagoas, realizada em 2006, a comitiva visitou o túmulo do industrial em companhia de parentes próximos do cearense. Entre eles, Frederico Gouveia, Michael Gouveia, Delmiro Gouveia, Sônia Gouveia e Bruna Gouveia, bisnetos, e Maria Helena Gouveia, neta do empresário. Todos atualmente morando no Rio de Janeiro.

Para a professora de arte e diretora da peça encenada pelos alunos, Francisca Ferreira do Nascimento, através do teatro as crianças conseguem apreender muitas informações históricas. "Fica claro que, uma vez encenada determinada história, nunca mais eles esquecem. O objetivo da peça é mostrar a história desse homem que deixou o Ceará e foi plantar a semente do progresso em outros estados", disse a professora de arte.

Quem guiou a reportagem em busca das ruínas da casa perdida de Delmiro Gouveia, na antiga Fazenda Boa Vista, conhecida também como Lagoa do Mato, foi a vereadora e presidente da Câmara Municipal, Lindalmira Castro de Farias. Segundo ela, os moradores da localidade, que hoje tem o nome de seu filho mais famoso, são carentes de informações da história do industrial.

"Dizem que foi por aqui (mostra com a mão), onde só restaram cacos de telhas e pedaços de tijolos, que a família de Delmiro teria morado. Mas não se sabe ao certo. Precisamos saber mais da história desse cearense visionário", disse a vereadora. Durante toda semana, a escola realizará atividades para relembrar a memória de Delmiro Gouveia, que tem aniversário de morte no próximo dia 10 de outubro.

Mais informações:
Escola Delmiro Gouveia
(88) 3683.3917
Distrito de Delmiro Gouveia, em Pires Ferreira
(88) 9615.3027

PROTAGONISTAS
Resgatar a memória do cearense visionário

Antônia Zulene Moreira
´Na cidade alagoana de Delmiro Gouveia, tudo gira em torno da memória de seu fundador. Foi muito importante para nós, para nossa história, conhecer o lugar onde o empreendedor desenvolveu grandes projetos´.

Francisca Ferreira do Nascimento
´Fica claro que, uma vez encenada determinada história, nunca mais os alunos esquecem. O objetivo da peça é mostrar a história desse homem que deixou o Ceará e foi plantar a semente do progresso em outros estados´.

Lindalmira Castro Farias
´Dizem que foi por aqui, onde só restaram cacos de telhas e pedaços de tijolos, que a família de Delmiro teria morado. Mas não se sabe ao certo. Todos queremos ficar próximos da história desse cearense visionário´.

"Diário do Nordeste", 2/9/2007:
Fonte: diariodonordeste

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