Por Rangel Alves
da Costa*
Parodiando a
música famosa, não chore assim Argentina. Verdade que é a Alemanha que agora
dança o tango de Gardel e celebra a vitória ao som do bandoneón de Piazzolla.
Mas não chore assim Argentina. Sua raça, sua bravura, sua qualidade
futebolística, foi mais uma vez demonstrada.
Ora, a
qualidade de seu futebol, a garra de seus jogadores e o senso de equipe
avistado ao longo da competição são provas que estiveram infinitamente
superiores ao que foi apresentado por outra seleção do mesmo continente, uma
tal de seleção brasileira.
Quem dera
Argentina, quem dera que a seleção dona da casa não fosse tão vergonhosamente
escorraçada pelos seus algozes na final. Se a brasileira fosse uma seleção de
verdade, talvez a decisão tivesse ficado no continente sul-americano. Mas
tomaram a caipirinha brasileira e deixaram vocês sem tango. E agora,
merecidamente, se esbaldam na cerveja.
Sei que o
sofrimento é grande, hermanos. Ninguém sai inteiro ou sem sofrimento diante de
uma derrota, principalmente quando ela ocorre no segundo tempo da prorrogação,
já no finalzinho do jogo. E a dor sentida pelo gol certamente foi muito maior
que a dor naqueles sete a um. E assim porque vocês têm uma seleção, e nós não.
Tanto é
verdade que a equipe brasileira não era uma seleção que nem a comissão técnica
nem os jogadores se culpabilizaram pela goleada recebida. A culpa passou a ser
da torcida que criou uma expectativa grande demais diante de imprestáveis.
Ademais, se fosse uma seleção de respeito não repetiria os mesmos erros na
derrota contra a Holanda.
Duvido que
Sabella tenha a cara de pau de chegar numa coletiva e simplesmente dizer que o
time inexplicavelmente deu um apagão. Tal justificativa de Felipão só serve
para confirmar que não havia equipe, não havia tática, não havia nada, apenas
onze jogadores arriscando um dia de sorte. E os raios dos adversários
provocaram apagões.
Sei que a
maioria dos brasileiros estava torcendo contra vocês, hermanos. Mas essa
adversidade é antiga, vocês sabem bem disso. Mas a situação havia piorado nos
últimos dias porque os hermanos, após a derrocada dos canarinhos apagados,
talvez tenham esquecido de zombar dos jogadores e voltaram suas chacotas para a
torcida, para o povo brasileiro.
E a torcida
brasileira, de rivalidade histórica com o selecionado argentino em qualquer
situação, preferiu fazer figa para aqueles que humilharam sua seleção a torcer
pelos vizinhos e mui hermanos. Mas a culpa foi de vocês, pois as piadas ainda
permanecem na mídia e nas redes sociais.
Lembra o que
os hermanos disseram após o sete a um da Alemanha? “A Alemanha não passou por
cima [do Brasil], esmagou”, disse Maradona. E riu, deu gargalhada. “Os
argentinos, no entanto, não guardam tanto rancor dos alemães. Não após os
europeus terem atropelado o Brasil nas semifinais da Copa. O humilhante 7 a 1
sofrido pela seleção brasileira foi pauta de programas humorísticos na
Argentina. Nem a lesão sofrida por Neymar nas quartas de final foi poupada das
brincadeiras”.
E lembram da
piada musical, com a letra de “Decime que se siente”, hino da torcida argentina
na copa? “Brasil decime que se siente / haber perdido de local / Te juro que
aunque pasen los años / nunca nos vamos a olvidar / Que a Alemanha te goleó /
Tu hinchada te silvo / Sin duda brasileiros sos cagon”. Brasil, me diz o que se
sente / Ao ser derrotado em casa / Te juro que ainda que passem os anos / Nunca
vamos nos esquecer / Que a Alemanha te goleou / Sua torcida te vaiou / Com
certeza, brasileiro é um medroso.
Pois é, eis
que um dia da caça e outro do caçador. Não foi de sete, mas de um que teve a
valia de um milhão. E os hermanos, tão eufóricos e barulhentos no início do
jogo, aos poucos foram calando de vez. Não sei por que, mas pareciam trêmulos,
nervosos demais, com olhos vermelhos e cheios de lágrimas. E antes mesmo de
Götze marcar aquele golaço.
Imaginei que
depois de tantas gargalhadas com a derrocada brasileira, choravam de alegria
pela vitória que se avistava. Mas não. A culpa era da Alemanha mesmo, que
colocava Messi na roda e o chamava para o último tango no Brasil. Agora,
hermano chorão, decime que se siente...
Poeta e
cronista
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