Por Sálvio Siqueira
É muito
sólida, hoje, a ‘nova’ data do nascimento de Maria Gomes de Oliveira, segundo
pesquisa do sociólogo Voldi de Moura Ribeiro.
Sociólogo Voldi de Moura Ribeiro - Sociólogo e pesquisador
Até certa data, as informações contidas nas obras literárias, matérias e
postagens em grupos de estudos sobre o tema, blogs e páginas particulares em
redes sociais, era de que a data do nascimento da “Rainha do Cangaço”, se deu
em 08, de março de 1911.
Não estamos falando de simples escritores que não deixam sua cadeira e vivem a
debruçarem-se em sua escrivaninha, mas, em nomes como Antônio Amaury Corrêa de
Araújo e Vera Ferreira (neta de Maria Gomes), que no ano de 1997 e 1999,
publicam com a data 08 de março de 1911; Frederico Pernambucano de Mello,
publica a mesma data em 2010; João de Sousa Lima, também segue esse parâmetro
publicando em 2003 e 2005; Alcino Alves Costa, em 2003, idem, publica a mesma
data,08/03/1911.
Então, se há um equívoco em literaturas de tão renomados
escritores/pesquisadores, é lógico e evidente que nós, simples estudantes do
tema, também embarcamos no mesmo.
Na matéria sobre a pesquisa, o sociólogo cita um ‘quadro’ onde consta, as datas
do nascimento da mesma, publicados por renomados escritores, acima citados,
além de vários outros.
Essa
riquíssima matéria foi ‘pescada’ no blog do amigo Rostand Medeiros, tokdehistória.com
Rostand Medeiros
O sociólogo e
pesquisador Voldi de Moura Ribeiro, em recente evento trouxe ao conhecimento
geral, novas e interessantes sobre a figura de Maria Bonita, a companheira de
Lampião. A seguir vocês vão ler o desenrolar desta pesquisa. Parabenizo o
pesquisador Voldi pelo empenho e iniciativa.
A presente
Nota Prévia tem como objetivo dar conhecimento público aos seguidores do Blog
Lampião Aceso da localização e do registro do ASSENTAMENTO DO BATISMO de MARIA
BONITA contendo a exata indicação das datas: de realização da cerimônia
religiosa e do seu nascimento.
Resultado de pesquisa documental e oral, operada a partir de abril de 2011,
quando da realização do III Seminário do Centenário de Maria Bonita, promovido
pela Prefeitura de Paulo Afonso-BA e, principalmente, realização da exposição
Maria Bonita em Nós, promovida pela empresa Cria Ação Comunicação e Arte Ltda.,
sob a curatela e criação do padre Celso Anunciação, que contou também com a
nossa assessoria técnica.
Uma questão muito emblemática para todos, incluindo muitos pesquisadores e
historiadores, era a exata confirmação da data de nascimento de Maria Bonita.
As imprecisões começavam quando comparávamos: para Virgulino Ferreira da Silva,
o capitão Lampião, se encontrou o assentamento do batismo católico e o registro
civil de nascimento – é mister que se esclareça – desencontrados em datas,
meses e anos. Contudo todos os estudiosos consensam ser o ano de 1898 com o do
seu nascimento.
A pergunta que não calava era: por que para Maria Bonita só nos restaram
imprecisões de anos ou a única indicação de data, mês e ano – 08 de março de
1911 – sem que se tenha apresentada qualquer evidência documental?
1. Os Registros Históricos do Nascimento de Maria Bonita na Voz dos Autores.
O quadro a seguir sintetiza de modo rápido as diversas indicações quanto à data
de nascimento de Maria Bonita: (ver quadro na parte das fotos, abaixo)
Quadro
sintetiza de modo rápido as diversas indicações quanto à data de nascimento de
Maria Bonita:
A primeira
indicação da data somente foi encontrada na 9a referência, contida no livro “O
Espinho do Quipá – Lampião, a História”, publicado em 1997, 87 anos após seu
nascimento e, coincidentemente, 60 anos após sua morte, contudo sem prova
documental. Esta constatação, portanto, é o que despertou e moveu nosso
interesse em desvendar tão logo e grande mistério da historiografia do Cangaço.
Com o apoio e direta colaboração de Celso Anunciação, com o qual tivemos acesso
aos registros eclesiásticos da Paróquia de São João Batista de Jeremoabo e
também da Paróquia de Santo Antônio da Glória, cujos livros se encontram
arquivados na Cúria Diocesana da atual Diocese de Paulo Afonso-BA.
Justiça seja feita. Com relação a Celso Anunciação, por mais insistência que
tenha sido feita à co-autoria da presente Nota Prévia e do futuro livro a ser
concluído em brevíssimo tempo, respeitando sua vontade não posso deixar de
afirmar que sem sua direta colaboração, possivelmente perderíamos a chance de
encontrar o assentamento de batismo de Maria Bonita. Os livros consultados se
encontram por demais comprometidos tanto na conservação quanto no factível
dando físico se forem manuseados.
Também não posso suprimir a providencial orientação e anuência prévia do
resultado desta pesquisa, obtida com o grande historiador e amigo pessoal
Frederico Pernambucano de Mello.
2. A Missiva de 1971 ao Bispado de Bonfim
A terceira referência que faz referência ao ano do nascimento de Maria Bonita
se encontra no registro do pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo, quando
no ano de 1971, uma missiva foi remetida à sede do Bispado de Bonfim no estado
da Bahia, endereçada ao padre Vicente O. Coutinho, referido como secretário do
citado Bispado (Diocese). Esta missiva é de particular importância no presente
estudo. Os termos da mesma demonstram a busca pelas informações do pesquisador
referido.
Não é de se estranhar que após 40 anos, em 2011, se tenha encontrado a carta
datada de 16 de março de 1971, aparentemente sem resposta daquele Bispado, com
os seguintes dizeres conforme fac-símile a seguir:
Carta
do Dr. Amaury. Frente
Carta
do Dr. Amaury. Verso
Envelope
da carta do Dr. Amaury. Frente e verso.
Transcrição
"Aos sete dias do mês de setembro de mil nove centos e dez, baptisei
solenemente a Maria, nascida a desessete de janeiro de mil nove centos e dez
filha natural de Maria joaquina da Conceição. Foram padrinhos Agripino Gomes
Baptista e Maria Joaquina da Conceição. E para constar fiz este assento que me
assigno. Vigário Euthimio José de Carvalho"
É explicável o motivo pelo qual não tenha havido resposta à missiva de Antônio
Amaury por parte do Bispado de Senhor do Bonfim/BA, senão vejamos: há a
imprecisa indicação dos nomes próprios do pai e da mãe e de Maria Bonita. Nada
de mensurar criticamente o pesquisador. Na época, é de se imaginar com os dados
disponíveis, que qualquer um poderia cometer tais equívocos. Vale, no entanto a
intenção positiva do pesquisador hoje já consagrado.
As
conclusões e outras possíveis novidades estarão impressas no nosso trabalho que
se encontra no prelo, aproveitamos para apresentar a capa deste.
3. Registros das Paróquias de Santo Antônio da Glória e de São João Batista de
Jeremoabo e dos Cartórios do Registro Civil de Santo Antônio da Glória e de
Jeremoabo/BA.
Dado o precário estado de conservação em que se encontram os livros consultados
a pesquisa, além de difícil requereu a adoção de cuidados especiais para que os
registros não fossem danificados.
Os registros paroquiais consultados foram os seguintes: assentamentos de
batismos do período compreendido entre os anos de 1901 a 1922 e para os
assentamentos de casamentos do período compreendido entre os anos de 1907 a
1940.
Os registros cartoriais e civis consultados foram os seguintes: termos de
nascimentos do período de 1902 a 1937 e para os termos de casamento do período
de 1900 a 1940.
4. O assentamento de Batismo.
Imagem
da certidão escaneada na íntegra
Nas primeiras consultas foi identificado o que veio no final da pesquisa a ser
confirmado como o Assentamento de Batismo de Maria Bonita, encontrado na
Paróquia de São João Batista de Jeremoabo no Livro do período de 1909 a 1915,
de número 04 e na folha 30 verso, conforme se encontram a seguir a imagem em
substrato da folha fotografada e a Certidão emitida(...)
Na consulta
ficou evidenciada a utilização dos termos “filha (o) legítima (o)” somente
quando compareciam à cerimônia do batismo o pai e a mãe respectivamente.
Quando ocorria de comparecer à cerimônia apenas a mãe os termos utilizados eram
“filha (o) natural”. Não foi encontrado nenhum assentamento de batismo com o
comparecimento somente do pai.
Estes formatos de registros nos assentamentos de batismos são comuns nos livros
consultados com distintos párocos e períodos.
As
confirmações encontradas podem ser assim relacionadas:
a. A coincidência do nome civil da mãe, Dona Déa – Maria Joaquina da
Conceição”;
b. A celebração da festa religiosa anual consagrada a Nossa Senhora das Dores
realizada no arruado de Santa Brígida, no mês de setembro, quando o vigário da
paróquia de Santo Antônio de Jeremoabo, em período denominado “desobriga”
atendia às celebrações religiosas de missas, batismos e casamentos. Confirmação
obtida com entrevista realizada com Ozéas Gomes de Oliveira (irmão mais novo de
Maria Bonita) e sua esposa Dona Abelízia, quando em visita realizada na sua
residência na Malhada da Caiçara;
c. Confirmação obtida com a Sra. Abelízia, esposa de Ozéas, da existência
passada de um cidadão denominado “AGRIPINO”, morador do Sítio do Taráe,
localidade vizinha à Malhada da Caiçara;
d. A não identificação nos assentamentos de batismos pesquisados nas Paróquias
de Santo Antônio da Glória e São João Batista de Jeremoabo, de nenhum registro
que indicasse qualquer semelhança com o registro encontrado e fotografado e a
certidão emitida e assinada pelo Padre José Ramos Neves;
e. A não identificação dos registros civis dos termos de nascimentos dos cartórios
de dos municípios de Santo Antônio da Glória-BA e Jeremoabo-BA, de nenhum
registro que indicasse qualquer semelhança com o registro encontrado e
fotografado e a certidão emitida e assinada pelo Padre José Ramos Neves.
5. Breve Conclusão.
Dada a evidência do Registro e da Certidão extraída e das confirmações
relacionadas, bem como de se ter também encontrado o assentamento do casamento
de Edvaldo Ferreira Dias e Joanna Maria d’Oliveira (irmã de Maria Bonita),
realizado não na Matriz, no dia 18 de abril de 1936, pelo Vigário e Padre José
Magalhães e Souza da Paróquia de São João Batista de Jeremoabo, se pode afirmar
com segurança que MARIA BONITA NASCEU AOS 17 DE JANEIRO DE 1910.
Crato, Ceará,
22 de setembro de 2011.
Voldi de Moura Ribeiro
Sociólogo e Pesquisador
P.S. – Algumas
Letras do Organizador deste Blog Sobre este Trabalho.
Para muitas pessoas, o tema cangaço em livros já se esgotou. Já deu o que tinha
de dar.
Alguns afirmam que livros sobre o cangaço que valem a pena serem lidos, são
aqueles escritos com informações obtidas diretamente com os protagonistas dos
fatos. Como a grande maioria deste pessoal passou para um plano superior, o que
tem se escrito nos últimos anos é “lixo”.
Afirmam que viajar para os locais onde ocorreram os episódios é “perda de
tempo” apenas “turismo em terra seca”. Partem do princípio que “como quem viu
morreu”, não vale a pena o esforço.
Colocam que obras sobre o cangaço realizadas através de pesquisa documental não
serve. Pois em jornais e processos existem muitas “mentiras”, já que “papel
aceita qualquer coisa”.
Talvez para muitos, o que o sociólogo Voldi fez com a conclusão de sua
pesquisa, seria apenas a mudança de um pequeno detalhe na biografia desta
mulher de bandido e que talvez nem valesse a pena escrever um livro sobre isto.
Concordo que nos último anos, o mercado editorial sobre o tema cangaço ficou
extremamente povoado de material produzido por oportunistas. Pessoas que
possuem até uma certa titularidade, mas que, sem viajar para realizar pesquisas
de campo no sertão e sem efetuar pesquisas documentais em arquivos, partem para
o descarado “Ctrl C” x “Ctrl V” de muita coisa que já foi feita e nada trazem
de novo.
Mas não podemos esquecer que muitos livros escritos sobre o cangaço na época
que existiam as testemunhas, quando estas estavam lúcidas, foram escritos de
forma extremamente tendenciosa, povoados de mitos, “causos” e de pura mentira.
Neste sentido, só posso parabenizar Voldi de Moura Ribeiro (a quem não conheço,
com quem nem sequer conversei e muito menos tenho dele algum tipo de procuração
para falar em seu nome), pelo esforço e trabalho desprendido nesta pesquisa.
Ele mostra que ainda existe algo de bom a ser consumido na fonte do
conhecimento sobre este assunto.
Mas tem que trabalhar.
O seu exemplo é para ser seguido.
Todos os
direitos reservados
Rostand Medeiros é historiógrafo e pesquisador do cangaço; administrador do blog Tok de História - http://tokdehistoria.com.br/
Fonte: facebook
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