O lendário Valdetário Carneiro também teve seu dia mais descontraído quando
acabou contribuindo para os Causos de Caraúbas.
Ia ele na sua pick up possante na zona rural de Apodi quando já próximo da
cidade, um senhor, meio alquebrado pelos anos, acenou pedindo carona.
Valdetário prontamente atendeu o pedido, abriu a porta e facilitou a entrada do
passageiro. Já aboletado e no conforto do ar condicionado o senhor começou a
puxar conversa:
- O senhor vai pro Apodi?
- Vou sim, respondeu Valdetário. Vou tratar de
negócios no Banco.
Aí o carona por gratidão resolveu dar uma de conselheiro:
- O senhor tenha cuidado. Se vai tirar dinheiro no Banco e andando nesse carrão,
aqui por essas bandas, há muita gente perigosa por aí. Tem um tal de Valdetário
Carneiro de muita fama na região que pode ser um grande risco, principalmente
pra quem é de fora.
Valdetário riu da situação e até agradeceu:
- Obrigado, eu vou ficar atento!
Em
seguida revolveu perguntar:
- E o senhor não tem medo de estar sozinho nessa
beira de estrada? E se de repente lhe aparece o tal do Valdetário Carneiro?
- Ele que venha - completou o carona com aquela valentia de quem se sente em
confortável distância do perigo.
E ainda acrescentou:
- Um homem nasceu pra
outro.
Chegados ao destino o carona já ia descendo quando resolveu fazer mais uma
pergunta em meio aos agradecimentos:
- Obrigado por tudo senhor. Vá com Deus.
Mas como é mesmo o seu nome?
Com toda naturalidade Valdetário respondeu:
- Eu
sou Valdetário Carneiro. E o senhor, como se chama?
Branco como um capucho de algodão suando por todos os poros, com as pernas
trêmulas e a voz embargada o carona mal conseguiu balbuciar:
Quando Lampião
retorna de Mossoró, RN, para a região do Pajeú das Flores, com pouca gente, em
pouco tempo tem que tocar a mula para terras baianas. As baixas sofridas em
território potiguar, mais propriamente no ataca a cidade, não foram tantas,
porém foram significativas por ter sido dois dos melhores homens que combatiam
ao seu lado.
Lampião sozinho
não era nada em relação ao assombro que seu bando causou nas pradarias
sertanejas. Sempre tendo ao seu lado homens de têmpera forjada a coisa ficou da
maneira que vemos. Em sua saga vemos que, antes de 1928, os cangaceiros
Esperança, Vassoura, Jararaca, Meia Noite e Sabino das Abóboras fizeram parte
do sustentáculo do bando em anos e épocas distintas. Perdendo-os a coisa fica
sem a fortaleza natural que eles faziam em seu derredor. Fragilizada sua força
maior, parte para terras distantes de seu torrão natal com apenas cinco homens,
Luiz Pedro, Mariano, Moderno, Ponto Fino e Mergulhão. Desses, apenas quatro
sabemos serem arrochados e que participaram de inúmeros combates dando
sustentáculo e proteção ao “Rei”.
O tempo passa,
a Revolução de 1930 estoura e Lampião, aproveitando o ensejo, dá um pulinho em
Pernambuco, mais precisamente no município de Floresta, a fim de acabar com a
vida de alguns inimigos. Não tendo o êxito esperado retorna à Bahia.
Nos anos
vindouros, sequência da década de 1930, Virgolino consegue a adesão de alguns
‘cabras’ de têmpera forte como Gato, Mané Moreno, Zé Baiano, Quinta Feira e
Juriti. Fora esses, também fizeram parte do bando Corisco, Labareda, Português
e Zé Sereno dentre outros. Cada um desses tinham lá suas linhas a seguirem sem
serem totalmente adeptos ao “Rei”.
Corisco tinha
sua maneira e forma de agir dentro de um território quase que exclusivamente
seu e na maioria do tempo estava longe do ‘cumpadre’ só vindo de vez em quando, quando convocado era.
Labareda,
apesar de ter entrado no cangaço exclusivamente pela fuga, para proteger-se sob
os braços de Lampião, não conviveu diretamente, por muito tempo, e lascou-se de
mata adentro com seus homens, isolando-se.
Português não
tinha coragem para nada, era um covarde nato, vivia a sombra da coragem e
valentia dos seus ‘cabras’ vivendo de migalhas.
Por fim, Zé
Sereno que não vemos tanta têmpera nem destaque em sua jornada como chefe de
subgrupo, pelo contrário, também mostrou covardia e sua força resumia-se apenas
em sobreviver seja lá do jeito que fosse.
Pois bem, de
1933 a princípios de 1938 o “Rei do Cangaço” perdeu, novamente, seu Estado
Maior. Homens fortes, valentes e que sempre seguraram as pilastras de seu
‘reinado’ sucumbiram na senda da guerra como fora o caso de Gato, Mariano,
Mergulhão, Mané Moreno, Zé Baiano juntamente com os homens que os mesmo
comandavam. Não houve mais tempo para que recoloca-se, ou repusesse, ‘peças’
equivalentes em seu contingente particular, pois a morte vagava a galope em seu
encalço.
No fim do
primeiro meado de 1938, fora poucos homens de sangue no olho, por volta de três
‘cabras’, como Luiz Pedro, Juriti e Quinta Feira, não havia outros para darem a
devida proteção ao cangaceiro mor.
Há muito que
as arestas do cangaço vinham sendo ‘aparadas’ pelas Forças Públicas de vários
Estados da Região Nordeste. Essas ações ficaram mais acirradas e constantes
após a implantação do Estado Novo pelo então Presidente da República Getúlio
Vargas. Com a ordem vinda de cima, Palácio do Catete, a coisa ficou sem
condições para aqueles colaboradores de classes econômicas e sociais mais
elevadas darem seu apoio e retirarem seu ‘quinhão’.
No decorrer do
temo o arrocho foi apenas aumentando e eles debandaram. O fornecimento e
informações para Lampião quase que pararam. Aos poucos, Lampião foi ficando
encurralado, tanto que nos últimos meses de seu cangaço restringira-se as
divisas dos Estado da Bahia, Alagoas e Sergipe, as quais são próximas e até
conjuntas em determinados locais.
O que
aconteceu no amanhecer do dia 28 de julho de 1938, uma quinta-feira, foi apenas
o desfecho de uma consequência iniciada há vários anos antes.
EQUIPE DA TV GAZETA NA CONFLUÊNCIA. (FOTO: B. CHAGAS).
Após as adutoras que cobrem todo o Sertão, os rios principais ficaram esquecidos. Tanto é que habitantes do alto Sertão esqueceram o trajeto e até o nome do rio Capiá. Com muito sacrifício resgatei todo o seu trajeto dentro do estado para o livro “Repensando a Geografia de Alagoas” (ainda inédito). Sobre o rio Ipanema, todos sabem que ele nasce na serra do Ororubá, em Pesqueira, PE, e despeja em Alagoas no povoado Barra do Ipanema, município de Belo Monte. Mas, em que lugar penetra em Alagoas? Assim visitei o lugar Tapera no município de Poço das Trincheiras. Tapera é um local de pouquíssimas residências, mas no Poço é chamado de povoado. Ali naqueles confins de fronteira com Pernambuco, o rio Ipanema penetra em Alagoas recebendo o afluente riacho Tapera, também vindo do estado vizinho.
Certo dia conduzi a equipe volante da TV Gazeta até o povoado Tapera. Tempo de estiagem, rio seco. Estivemos nos leitos arenosos do rio e do seu tributário Tapera. Impressionavam as larguras de ambos, com a calha arenosa do Ipanema repleta do vegetal espinhoso rasga-beiço. Tudo filmado, inclusive, pequeno oásis da agricultura familiar abastecido por água de cacimba escavada no leito seco. Uma bomba ajudava no milagre da terra boa que tudo produzia. A satisfação foi enorme de algumas pessoas na ajuda a essa inédita reportagem geográfica. Fomos guiados por uma professora do povoado Quandu que também entrou para as ilustrações do citado livro. Numa foto, demonstra de braços abertos, as direções do rio Ipanema e riacho Tapera.
Dali descemos o rio Ipanema até a foz, visitando e filmando trechos em Batalha, povoado Telha (cânion) e povoado Barra do Ipanema onde encerramos a reportagem. O leitor estudioso do tema poderá encontrar tudo sobre esse curso d’água no livro já editado “Ipanema um Rio Macho”.
Ainda para quem não sabe, o rio Ipanema banha em Alagoas três cidades, sendo elas; Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema e Batalha; ainda os povoados: Tapera, Quandu, Tapera do Jorge, Poço da Cacimba, Capelinha, Funil, Saúde, Timbaúba, Telha, Dionel e Barra do Ipanema.
Em Santana do Ipanema, oficialmente criado “O Dia do Rio Ipanema”, ideia minha quando na associação AGRIPA.
Lucas
Evangelista dos Santos filho de escravos, Jejes Maria e Ignácio, nasceu em
Feira de Santana em outubro 1807, na fazenda Sacco do Limão, nos arredores da
freguesia de Nossa Senhora dos Humildes.
Pertenceu a D.
Anna Pereira do Lage. Após o falecimento dela, passou ao domínio do padre José
Alves Franco.
Devido a sua
rebeldia foi enviado pelo seu proprietário a sede do Arraial de Sant'Anna,
para aprender o ofício de carpinteiro, pelo mestre criolo João Batista Pereira.
Entretanto, fugiu para as matas da cidade de Feira, em meados do ano de 1828,
juntando-se a uma quadrilha formada por Flaviano, Nicolau, Bernardino,
Januário, José e Joaquim.
liderou o seu
próprio bando por quase vinte anos, atacando tropeiros que iam e vinham das
feiras de gado, roubando de quem bem entendia e raptando mulheres, inclusive
filhas de comerciantes e fazendeiros, o que era considerado uma ousadia para a
época.
O bando de
Lucas da Feira era muito temido, um assombro e pesadelo para os sertanejos da
região. O Governador da Província estipulou um prêmio de quatro mil réis pela
sua captura e morte.
Segundo
estudiosos, seus atos incitavam outros negros a se rebelarem contra os seus
senhores, inspirando mais tarde, os movimentos abolicionistas.
Foi traído
pelo oficial de justiça Cazumbá este, se tornou um foragido depois de ter
matado um homem na “Ladeira do Nage”, e que tinha com ele laços de amizade.
Com a promessa
de perdão do crime e de olho no dinheiro do prêmio, Cazumbá o perseguiu. Lucas
foi atingido por um tiro no braço esquerdo, mas conseguiu fugir para a
localidade da Tapera, próximo de São Gonçalo, mas precisamente numa gruta.
Depois de alguns dias, foi feita uma nova emboscada, na qual Lucas foi
finalmente capturado e conduzido à Vila de Sant’Anna.
Considerado
chefe de quadilha foi preso durante um interrogatório no fórum de Feira de
Santana, em 28 de dezembro de 1847.
Na prisão,
teve seu braço amputado em decorrência dos ferimentos. Seu julgamento
ocorreu em praça pública, na igreja dos remédios, em 1848. Foi conduzido a
Salvador, para o forte de São Pedro, onde ficou preso por um ano.
Voltou a Vila
de Sant’Anna para ser enforcado no Campo da Gameleira, onde ocorria a Feira do
Gado, atualmente Praça D. Pedro II, em 25 de setembro de 1849.
Dizem que
nesse dia os comerciantes locais deram uma grande festa, distribuíram bebidas
e soltaram fogos.
REFERÊNCIAS:
AMARAL, Braz
H.do. História da Bahia do Império à República. Salvador: Imprensa Oficial do
Estado, 1923.
MOTA,
Leonardo. No Tempo de Lampião. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará,
1967.
No dia 28 de
julho de 1938, Lampião e sua companheira Maria Bonita foram capturados e mortos
pela polícia, em Poço Redondo, no sertão de Sergipe, ambos tiveram suas cabeças
decepadas e expostas ao público para servir de exemplo. Além dele, também
morreram outros cangaceiros.
Nascido no dia
4 de junho de 1898, Virgulino Ferreira da Silva, ficou mais conhecido como
Lampião, o Rei do Cangaço. A exata data do seu nascimento gera muitas
controvérsias, mas em sua certidão de batismo a data de 4 de junho consta como
o dia do seu nascimento, em Serra Talhada (PE).
Lampião
começou a liderar um bando de cangaceiros em 1922 e, a partir daí, passou a
viver de saques a fazendas e doações forçadas de comerciantes.
Por conta dos
seus atos, era procurado pela polícia. Em 1930, conheceu Maria Déia, a Maria
Bonita, que ingressou no bando, tornando-se mulher de Lampião. Em 1932, nasceu
a filha do casal, Expedita Ferreira.
No Brasil a palavra “regeneração”, definitivamente é algo que o nosso povo não sabe trabalhar muito bem em suas mentes e seus corações, quando aplicada aqueles que erraram junto a sociedade, contra os que praticaram crimes diversos, contra os que sofreram as duras penas da lei e estiveram um período em alguma unidade prisional.
Dificilmente vemos o antigo presidiário como alguém que se regenerou. Olhamos para ele mais com medo do que com esperança de que ali está uma pessoa recuperada. Isso não é difícil diante verdadeiras masmorras medievais que existem nos nossos presídios.
Por isso é que na história carcerária brasileira chama tanto atenção o fato dos homens que foram cangaceiros, pelo menos os que se entregaram e passaram um tempo presos, terem tido um índice de reincidência criminal baixíssimo.
Na verdade digo “terem tido um índice de reincidência criminal baixíssimo”, pois ouvi isso de outros pesquisadores do tema cangaço. Mas confesso que nunca li e não tenho dados que comprovem especificamente quantos antigos cangaceiros padeceram na prisão e quantos voltaram ao crime após a liberdade.
Entretanto é vasto, inclusive amplamente divulgado na imprensa brasileira das décadas de 1950 e 1960, que vários homens que andaram nas caatingas debaixo do peso do chapéu de couro e do “pau de fogo”, ao deixarem a prisão se tornaram os ditos “cidadãos de bem”, totalmente regenerados. Muitos se tornaram pacatos funcionários públicos, pequenos comerciantes, caixeiros viajantes e outros exerceram simples e honestas atividades. Um dos casos mais emblemáticos na minha opinião é a recuperação do chefe cangaceiro Ângelo Roque.
Vida Bandida
Em uma entrevista a um periódico carioca, repleta de fotografias, temos a história de Ângelo Roque da Costa, o conhecido cangaceiro Anjo Roque, o conhecido Labareda. Teria nascido em 1910, no lugar Jatobá, depois pertencente ao município pernambucano de Tacaratu (e por isso conhecido como Jatobá de Tacaratu), era filho de família humilde, mas respeitada em seu lugar.
Na reportagem afirmou que entrou na vida do cangaço após matar um soldado de polícia que desvirginou a sua irmã de 14 anos de idade. Roque contou que o conquistador se chamava Horácio Cavalcanti, que havia casado quatro vezes e quatro vezes abandonou as esposas. Consta que sua família buscou a justiça de sua região, mas um juiz e outras autoridades pouco deram importância ao sentimento de raiva de seus familiares.
Logo houve um encontro dos dois homens em um trem, a faca vibrou e ambos ficaram feridos. Mas logo o jovem Roque, então com 16 ou 17 anos, matou o soldado com um tiro de rifle e caiu “em desgraça” perante a justiça.
Para sobreviver em uma situação como esta, naquele sertão atrasado, só entrando para o cangaço. Foi em uma propriedade denominada Jurema que Roque entrou no bando de Lampião, que lhe deu apoio e ambos se tornaram grandes amigos.
Um Cangaceiro
Na reportagem Ângelo Roque detalhou que esperou 13 dias por Lampião na propriedade Jurema. Logo Roque ficou alcunhado no bando como Labareda. Comentou que Lampião sempre foi um homem de pouca conversa, mas era extremamente hábil na luta das caatingas. Labareda informou que passou dois anos andando junto a Lampião no seu bando, onde teve um grande aprendizado na arte da guerrilha nordestina. Devido a sua capacidade de comando e de combate, logo Labareda passou a comandar um subgrupo de cangaceiros.
Para Roque era normal Lampião ter cerca de 60 homens em seu bando. Já o famigerado cangaceiro Corisco andava com um grupo que tinha em torno de 20 a 25 combatentes e Labareda seguia com uma média de 15 cangaceiros. Nesta vida Ângelo Roque da Costa permaneceu 16 anos em luta, onde afirmou a reportagem ter combatido “200 vezes contra a polícia”.
Lembrou aos repórteres que seu primeiro combate, sem especificar datas, foi em Sergipe, onde cerca de 40 cangaceiros brigaram diretamente com vários policiais, sem perdas para os “cabras” de Lampião, mas com a morte de vários homens da lei.
Para o cangaceiro Labareda os dias de cangaço eram “Dias miseráveis!”, onde os cangaceiros tinham um ódio extremo aos policiais e, assim que tinham alguma oportunidade, não perdiam a oportunidade de desfechar terríveis ações violentas contra os membros da “Força”.
Em seus relatos Labareda afirmou categoricamente que era “Um bandido”, que aquela vida lhe trazia muitas amarguras. Tanto que para conceder a entrevista ele perguntou primeiramente ao Professor Estácio de Lima se aquela exposição na imprensa seria positivo para ele. O Professor Estácio concordou.
Na época da entrevista Ângelo Roque era um pacato funcionário do Concelho Penitenciário da Bahia, morando em Salvador, onde trabalhava como auxiliar de confiança do Professor Estácio.D
Na Prisão
Após a morte de Lampião em 28 de julho de 1938, o cangaceiro Labareda andou ainda quase dois anos pelas caatingas de armas na mão, tendo se entregado as autoridades no início de abril de 1940, em Paripiranga, Bahia. Logo ele e mais outros companheiros foram recambiados para Salvador.
Na capital baiana, nos primeiros contatos com a imprensa na Secretaria de Segurança, os cangaceiros já se encontravam de cabelos cortados e usando paletó e gravata, mas Labareda fazia questão de ser tratado pela patente de “capitão”. Na ocasião houve um encontro muito animado com o cangaceiro Juriti, que já se encontrava detido. Comentaram que do terraço da repartição chamou atenção dos agora ex-cangaceiros a chegada ao porto de Salvador do paquete “L’Argentine”.
Após a sua entrega justiça, Ângelo Roque da Costa foi julgado e condenado a 95 anos de prisão, depois reduzidas a 30 anos e comutadas a apenas 10 anos de cárcere. Mesmo com condenações tão elevadas no início do seu período de detenção, ele manteve a calma e se tornou um prisioneiro de comportamento exemplar.
Primeiramente foi enviado para o “Campo Experimental de Ondina”, em Salvador, onde passou a cumprir seu tempo de prisão junto com os companheiros de luta.
Lembrou que na época do início do cumprimento de sua pena, lhe chamou atenção o interesse e a curiosidade provocada em várias pessoas pelos ex-cangaceiros. Recordou que em uma ocasião receberam a visita de Renato Monteiro, documentarista da “Tupy Films”, que realizou um pequeno filme (provavelmente pago pelo Governo Federal), mostrando a regeneração dos anteriormente temidos “Guerreiros das Caatingas”. Foram realizadas filmagens daqueles homens em uma lavoura, tendo sido capturado as imagens do antigo Labareda, de Saracura, Juriti, Jitirana, Velocidade e cinco outros ex-cangaceiros.
Inclusive pelo bom trabalho realizado nesta lavoura, em 1944, durante o período da Segunda Guerra Mundial, ele e outros 20 condenados pela justiça receberam um prêmio da LBA-Legião Brasileira de Assistência. Este programa era denominado “Hortas para a vitória!” e havia sido implantado para incrementar e ampliar o que hoje denominamos de agricultura familiar, tudo em prol do esforço de guerra brasileiro.
Como comentei anteriormente, não sei estatisticamente quantos dos cangaceiros que se entregaram as autoridades reincidiram no crime. Mas não deixa de chamar atenção pelas fotos aqui publicadas, como as autoridades faziam questão de propagar a regeneração dos antigos cangaceiros a imprensa brasileira.
Não sei se é utopia da minha parte, sei que os tempos e os problemas são outros, mas bom seria se alguém da área de direito penal, ou de alguma área relativa aos estudos penitenciários, se dispusesse a pesquisar mais a fundo estes casos específicos dos ex-cangaceiros.
Talvez o resultado de um trabalho assim, poderia trazer lições do passado que possam ajudar os “homens das leis” dos nossos conturbados e violentos dias, a terem uma nova abordagem para a recuperação dos nossos apenados.
Nazaré do Pico, que um dia foi Carqueja, e em outros tempos, apenas Nazaré. A
mais famosa vila da historiografia do cangaço; localizada no fabuloso município
pernambucano de Floresta; se concretizou a partir da antiga fazenda Algodões,
resultado de um sonho de Manu; filho do professor Domingos Soriano Ferraz, que
via nascer naquele lugar uma prospera vila. Dali até a realização do sonho foi
rápido.
Ao sonho se uniram muitos e em agosto de 1917 foi inaugurada a primeira
feira de Nazaré. Naquele solo sagrado de Nazaré, o Brasil veio a conhecer um
povo Bravo, Destemido, Defensor da Honra e da verdadeira Alma Nordestina.
No
dia em que a família Nazarena se reúne para celebrar um de seus mais ilustres
Filhos: Coronel Manoel de Sousa Neto, o “Valente Mané Neto”, o Cariri Cangaço
se faz presente e se une a todas as homenagens, agradecendo a toda família
Nazarena os grandes exemplos de retidão e bravura, nos dando a certeza que vale
a pena seguir.