Por José
Romero Araújo Cardoso
A relação dialética e intercalada entre ciências naturais e sociais, enfatizada
pela análise geoecológica das paisagens, permite estudos do meio físico com os
sociais, econômicos e culturais, com vistas a viabilizar a melhor forma de
gestão ambiental, numa tentativa de contribuir para a melhoria da qualidade de
vida da população com necessário respeito à natureza.
Cavernas calcárias inundadas, sobretudo as complexas formações espeleológicas
do relevo cárstico na forma de ressurgência, caracterizam-se pela
heterogeneidade sistêmica de funcionamento da paisagem, dotada de sensíveis
ecossistemas, sendo marcada pela peculiaridade na absorção, transformação e
consumo de energia, matéria e informação.
Rodrigues,
Da Silva e Cavalcanti (2007) afirmam que o conjunto de Axiomas sobre a Teoria
da Paisagem, mais comumente aceito, foi elaborado por Preobazhenskii e
Aleksandrova (1988).
Os
teóricos russos destacam em seu conjunto axiomático que o mundo em que vivemos
é sistêmico, marcado pela existência de inter-relações, sendo ainda
hierárquico.
O axioma temporal articula passado, presente e futuro, enquanto o planetário
defende que existe manifestação da diferenciação do espaço na dimensão
planetária. Conforme Preobazhenskii e Aleksandrova (1988 In Rodrigues,
Da Silva e Cavalcanti (2007)) há ênfase ainda ao axioma terrestre, marcado por
traços fundamentais pertinentes ao planeta Terra e, finalizando, o axioma
paisagístico, o qual destaca que “a estruturação contínua da esfera geográfica
da Terra, manifesta-se na presença de partes sistêmicas terrestres e aquáticas
(as paisagens) qualitativamente diferenciadas umas das outra e hierarquicamente
subordinadas” (RODRIGUES, DA SILVA e CAVALCANTI, 2007).
Troppmais e Galina (2006) referem que não devemos aplicar a Teoria dos
Geossistemas a uma área de alguns decâmetros, hectares ou metros quadrados,
pois quando se trata de áreas muito limitadas há necessidade de recorrermos a
subdivisões como Geofáceis, Geótopos e outras unidades menores.
Em razão da área a ser estudada, enquanto entorno da caverna calcária do Poço
Feio, ter sua dimensão territorial reduzida, precisando ser definida com
precisão posteriormente, torna-se necessário recorrer a Bertrand (1969) cuja
teoria vem contribuindo significativamente para a consolidação da análise
geoecológica das paisagens, cujo embrião germinou na antiga União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Várias contribuições foram dadas
pelas Escolas Soviéticas. Sotchava tornou-se referência ao realizar estudos
sobre a geoecologia das paisagens, tendo realce ainda sua literatura sobre a
questão do método (Id. 1977). Troppmais e Galina (2006), alicerçando-se em
Beroutchavilli e Bertrand (1978), destacam que dentro da geografia foi Sotchava
que, em 1960, criou o termo Geossistema – Sistema Geográfico ou Complexo
Natural Territorial.
A Taxonomia Classificatória defendida por Bertrand destaca hierarquia em que
abaixo da unidade maior encontra-se ênfase à escala local, os Geofáceis, e à microescala,
o Geótopo.
Encarando o objeto de estudo na classe inferior, pois, ainda conforme Bertrand
(1969), os termos Geossistema e Geótopo equivalem-se na Ecologia aos termos
Ecossistema e Ecótopo, poderemos fornecer informações com maiores detalhes a
fim de que sejam conhecidos aspectos multidisciplinares contidos na análise
geoecológica da paisagem proposta para o entorno da caverna calcária do Poço
Feio, através da qual buscamos contribuir para a efetivação de sustentável
qualidade de vida e gestão ambiental para área extremamente deprimida,
localizada no conjunto das adversidades verificado no semiárido nordestino,
buscando efetivar premissas definidas em leis, como as que regulamentam as
unidades de conservação (BRASIL, 2000), meio ambiente (BRASIL, 1981) e,
especificamente, formações espeleológicas (BRASIL, 1990), tendo em vista que o
turismo ecológico quando praticado com o planejamento adequado, dentro dos
princípios da sustentabilidade, possibilitará a proteção do ambiente natural
onde se desenvolve e trará oportunidade de melhoria da qualidade de vida para a
população local (FRAGA, 1999).
REFERÊNCIAS
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José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e em Gestão
Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA – UERN). Sócio do Instituto Cultural
do Oeste Potiguar (ICOP) e da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
(SBEC).
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