Seguidores

quinta-feira, 2 de maio de 2019

O CHAPÉU DE CANDEEIRO

Por Júnior Almeida
Manoel Severo e Júnior Almeida

Manuel Dantas Loiola nasceu no Sítio Lagoa do Curral, nas imediações da Vila São Domingos, município de Buíque, Pernambuco, em 6 de outubro de 1914. Filho de José Bezerra Sampaio e de Eliza Dantas Badega, entrou no cangaço quase por acaso, no que poderíamos chamar de “acidente de trabalho”. Foi assim: Manoel saiu de sua terra para a cidade de Mata Grande em Alagoas, onde foi trabalhar na fazenda de um sujeito de nome Capitão Sinhô. Como empregado existia um vaqueiro, que depois Manoel soube, era coiteiro de cangaceiros.


Em 1936 o cangaceiro Moderno com seu bando foi à Mata Grande com a intenção de passar uns dias escondido por lá, só que foram descobertos por uma volante, precisando fugir pela caatinga. Por pura falta de sorte, o vaqueiro tinha apresentado o jovem Manoel a Virgínio e seus cabras, no seu primeiro contato com o cangaço, só que por estar junto com o bando de Moderno no momento da chegada da força, Manoel foi obrigado a fugir junto com os bandoleiros.
Na fuga encontrou seu patrão e, lhe disse que precisava ir até a fazenda para apanhar sua mala de roupas e ir embora, mas, o homem lhe informou que a casa estava cheia de volantes à sua procura. Manoel Dantas percebeu que naquele momento tinha caído em desgraça junto com mais quatro homens, dois coiteiros e seus dois irmãos, que para não apanharem da polícia, resolveram entrar no cangaço.
Já no mato, longe das volantes, Virgínio disse que Manoel parecia muito com o primeiro cangaceiro que usava o nome de guerra “Candeeiro”, e que por esse motivo, seu nome a partir daquele momento seria também CANDEEIRO. Pronto. Manoel havia sido “batizado” com um novo nome. Moderno entregou-lhe uma velha arma, que segundo ele não tinha nem vaqueta, e com tom de ironia recomendou que o recruta não fizesse como o primeiro cangaceiro com esse nome, que tinha morrido em pé. O novo Candeeiro pensou:
-Eu não tenho perna nem pra correr, que dirá morrer em pé.
No primeiro encontro com o Rei do Cangaço, nas barrancas do São Francisco, em Sergipe, Lampião perguntou a Candeeiro qual o seu lugar de origem tendo ele respondido ser de Pernambuco. Virgulino então lhe indagou de que lugar de Pernambuco, e Candeeiro disse ser de Buíque. Lampião disse a ele que Buíque já tinha lhe dado um cabra valente, tão valente que tinha morrido à míngua, o cangaceiro Jararaca.
No outro dia após o encontro, Candeeiro viajou para Pernambuco com o chefe. Com o passar do tempo Lampião se afeiçoou ao novo comandado e, chegou a lhe presentear com uma alpercata nova, munição e um novo fuzil, em substituição ao seu velho rifle. Na volta de Pernambuco, Lampião disse na frente dos cabras que daria a Candeeiro um novo jogo de bornais, e isso despertou inveja de Jararaca, que foi mandado para um dos subgrupos, enquanto Candeeiro ficou no grupo de Lampião.
Candeeiro disse em entrevista que recordava ter participado de pelo menos dez combates com a força, sendo que logo no primeiro foi baleado na perna. Sobre esse batismo de fogo ex-cangaceiro disse que:
Estava no mato, ferido, por volta do meio dia, uma hora, Jararaca, que tinha saído na madrugada anterior para buscar ajuda voltou pra onde eu tava, acompanhado de Português e mais três cabras. Eles trouxeram carne de bode, fizeram o fogo, e eu comi a carne assada. Português trouxe também uma xícara de pimenta, daquelas bem vermelhas, fumo de Arapiraca (de rolo) e farinha. Ele picou o fumo bem fininho, peneirou a farinha e botou água pra cozinhar com umas cascas de pau dentro, que é melhor do que água oxigenada. Português disse pra eu comer que era pra eu ficar forte.
Pra cuidar do meu ferimento, fizeram uma pince de marmeleiro e com ela tiraram o sangue da minha perna.
A bala entrou e saiu, deixando só o buraco. À medida que o sangue ia saindo, o ferimento era lavado com a água com os paus. Depois de limpo, no buraco da bala foi colocada uma mistura de farinha, pimenta malagueta e fumo. Essa mistura era empurrada pra dentro com o dedo. Depois do buraco cheio, amararam um pano e Português me disse que eu ia passar uns dois dias com aquele curativo. Pensei:
-Meu Deus, aonde eu vim cair?
Passou o tempo e Candeeiro passou por muitos lugares no Brasil. Bahia, Alagoas, Ceará e até pro Norte do país ele foi, ser soldado da borracha, voltando a Pernambuco, pra seu torrão natal, sua vila São Domingos, depois de pagar sua dívida com a sociedade. Em sua terra, longe das tropelias cangaceiras, Seu Né constituiu família e amizades. Aquele tempo desgraçado, como mesmo dizia, tinha ficado para trás. Eram apenas lembranças, que vez por outra eram compartilhadas com os amigos, repórteres e pesquisadores de cangaço.
Muitos do que o visitavam, davam-lhe lembranças, como livros de histórias, das quais fez parte, e fotografias. Em uma das fotos mais conhecidas de Candeeiro no tempo em que era cangaceiro, ou pelo menos recém saído do cangaço, ele usava um chapéu de couro diferente dos que se está acostumado a ver na cabeça dos guerreiros do sol. Geralmente os chapéus eram cheios de adereços como estrelas, símbolos de Salomão e moedas. O de Candeeiro não. Este, numa foto tirada na Bahia na época das entregas, era bem simples, adornado apenas com uma cruz, semelhante a que existe na bandeira de Pernambuco. Por muitos anos nunca se soube o motivo desse emblemático símbolo no chapéu de Candeeiro. Especulou-se, até, ser a cruz em seu chapéu uma demonstração de sua fé, mas nada de concreto.
Em abril de 2019, estivemos em São Domingos, terra de “Seu” Né, cidadão respeitado do lugar, falecido havia cinco anos, onde aproveitamos para conhecer a família do lendário Candeeiro. Muito bem recebido por uma de suas filhas, Elisabete, a Bete, e também pelo seu neto Fernando, que nos ciceroneou, fomos até o Sítio Lagoa do Curral, nas imediações da vila, conhecer a casa onde Seu Né tinha nascido e também ao campo santo do lugar, onde repousa o corpo do guerreiro que foi protagonista de uma importante parte da História do Brasil.
Conhecemos também (por fora) uma casa, ao lado do posto policial, que pertenceu a Vigário Dantas, o irmão de Seu Né, que o delatou, fazendo com que ele fosse preso ao chegar a São Domingos em 1943. Na residência de Candeeiro, conversando, evidentemente, sobre cangaço, tivemos a curiosidade de saber por que ele usava um chapéu de aba quebrada enfeitado com uma simples cruz, diferente dos demais cangaceiros e seus chapéus estrelados, e a resposta de seus familiares foi demasiadamente simples, porém, esclarecedora. Disse-nos sua filha:
-Nem o chapéu nem a roupa era dele, arrumaram lá, apenas pra ele tirar foto.
*Fotos de Candeeiro jovem, na época das entregas e já idoso em sua terra, e da casa onde nasceu, no Sítio Lagoa do curral, São Domingos, Buíque, Pernambuco.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

PRESENÇA DO SEXO DEBILITOU O CANGAÇO

Do acervo do Antônio Corrêa Sobrinho

“Homem de batalha não pode andar com mulher. Se ele tem uma relação, perde a oração, o seu corpo fica como uma melancia: qualquer bala atravessa”. Ao citar “Balão”, “cabra” que integrou o bando de Virgulino Ferreira, o “Lampião”, o historiador Frederico Pernambucano de Mello, Superintendente do Instituto de Recursos Humanos da Fundação Joaquim Nabuco, resume a análise feita sobre a presença da mulher no cangaço, já na fase em que ele passou a se constituir um meio de vida, ou de rapina. A



Adiantou Frederico Pernambucano, u dos estudiosos do banditismo no Nordeste, que somente no bando de Lampião foi admitida a participação da mulher e assim mesmo num período em que “já eram inteiramente estranhos os ideais de vingança dos primeiros anos de correria desenfreada. Nessa fase, as mulheres assinalam o início do processo de decadência guerreira que tenderia nos últimos anos a um retraimento quase completo e a uma sedentariedade incompatível com a ideia de cangaço”.

DESAGREGAÇÃO

Bandidos de outros grupos e mesmo alguns remanescentes do bando de Lampião que estiveram a seu lado em fase anterior ao surgimento das mulheres e que ainda vivem – acentua Frederico Pernambucano – não compreendem como isso possa ter acontecido, evocando o “Lampião” guerreiro e vingador dos primeiros tempos Sebastião Pereira, um dos principais representantes do autêntico “cangaço vingança”, em cujas hostes Virgulino fez todo o seu aprendizado, ao tempo em que era simples “cabra”, assim se manifesta: “Também ninguém andava com mulher. Eu acho até esquisito que depois “Lampião” e o pessoal dele começassem a carregar mulher”.

Segundo Frederico Pernambucano de Mello, mesmo no “cangaço meio de vida” as mulheres foram fator de desagregação, dissenções internas e de esfriamento do ardor combativo. Assim, dizem os velhos sertanejos que “Lampião”, após se apaixonar por Maria Déa (Maria Bonita) não foi mais o mesmo. E seu companheiro “Balão” sustenta que enquanto não apareceu mulher no cangaço o cangaceiro brigava até enjoar. Depois, diante que qualquer perigo, logo se podia ouvir: Ai, corre, corre.

No início da década de 30 – explica o pesquisador – “Lampião” deu a partida, ligando-se permanentemente a uma mulher que por sua causa abandonara o marido. Em seguida, os chefes de subgrupos fizeram o mesmo, até que, ainda de acordo com o dizer de “Balão” o bando foi ficando cheio de mulheres.

PARTICIPAÇÃO

Frisou o historiador Pernambucano de Mello que, à exceção de Dadá, mulher de Corisco, as outras não combatiam, prestando auxílio nas tarefas puramente femininas, cozinhando, costurando, fazendo consertos em couros e tecidos, e amando. A cangaceira jamais quis converter-se em amazonas, jamais perdeu a sua feminilidade. De modo geral era terna, todas cantavam e dançavam, animando o grupo. Nos perfumes, enfeites e adereços ultrapassavam os limites do sóbrio.

À Dadá (cujo nome verdadeiro é Sérgia), cabia a criação de muitas fantasias das indumentárias dos cangaceiros, dos bordados delicados das capangas e dos bornais. “Maria Bonita” era outra “modista” e colaboradora nas ideias e nas execuções. Elas foram a rainha e a princesa dos bandos. Dadá ainda vive, em Salvador, onde ajuda o segundo marido e na educação das netas, costurando. Após a morte de “Corisco” – o “Diabo Louro” – ela mandou buscar as duas filhas meninas que estavam sob a guarda de famílias sertanejas.

PRINCIPAIS CANGACEIRAS

As mulheres que aderiram ao cangaço não provieram da prostituição e sim de humildes lares sertanejos. De um modo geral elas sabiam enfrentar as dificuldades dos grupos e mantinham-se corretamente até o fim. Raramente estimulavam atrocidades. O exemplo disse foi “Maria Bonita” que sempre se colocava na defesa daqueles que estavam marcados para morrer, salvando-lhes, muitas vezes, a vida. Eram carinhosas, amigas e dóceis. E quando eram feridas durante o combate travado por seus companheiros, era como se aquilo fosse muito natural. Lídia, a Desdemona – era morena, jeitosa e atraente. “Zé Baiano”, o homem de confiança de Lampião, apaixonou-se por ela e decidiu “roubá-la”, com a ajuda dos companheiros. Mais tarde, ela o traiu com outro cangaceiro – Bem-te-vi – e por isso foi assassinada por “Zé Baiano”, a cacetadas, sem que “Lampião” esboçasse o mínimo gosto em sua defesa.

Neném – viveu com Luís Pedro e morreu baleada num combate em Mucambo, perto do rio São Francisco. Ela nasceu em Nambebé, na Bahia, e nunca demonstrou medo diante dos tiroteios.

Moça – mulher de Cirilo. Sabia atirar de fuzil e somente uma vez tomou parte de um dos combates. Com a morte de Cirilo ela uniu-se a Bem-te-vi, acabando, no entanto, por abandonar o bando.

Otília – foi amante de Mariano. Presa no curso de uma brigada, conseguiu não ser processada. Dizem que hoje ainda vive em Poções do Nordeste.

Durvalina – companheira de Virginio (Moderno), cunhado de “Lampião” e um dos cangaceiros mais temidos. Durvalina era alegre e dedicada ao amante. Quando ele morreu ela preferiu abandonar o grupo. Hoje ainda vive no sertão.

Cila – mulher de Zé Sereno era a mais letrada das mulheres do bando (sabia ler e escrever corretamente). O casal conseguiu sobreviver às dificuldades do cangaceirismo e fugiu de Angicos para São Paulo, onde ainda vive.

Inacinha – mulher de gato. Foi presa durante combate com a força alagoana e transportada para Piranhas. Para libertá-la gato atacou sem êxito, com o grupo de “Corisco” , a cadeia, morrendo em consequência de um tiro recebido na barriga.

Aurea (Maroca) – era companheira de Manuel Moreno. Ambos morreram durante a luta contra a brigada de Odilon Flor.

Maria dos Santos (Mariquinha) – acompanhou “Labareda” durante mais de dez anos. Irmã de Zé de Neném, primeiro marido de Maria Bonita. Morreu numa luta contra uma volante da Bahia.

Enedina – viveu com José Julião que escapou do tiroteio em Angicos. Ela morreu perto de “Lampião”, antes dele e depois de Maria Bonita.

Cristina – mulher de Português morreu numa emboscada.

Dulce – amante de “Criança”. Em 1940 eles abandonaram o cangaço e foram residir em São Paulo.

Veronica – era a companheira de Beija-Flor. Os dois abandonaram o cangaço por ordem de Lampião. Somente depois da morte de Lampião é que se teve notícias: estavam em são Paulo e não chegaram a responder processo.

Lili – companheira de “Moita Brava” foi por ele assassinada, no momento em que a encontrou com “Pó Corante”, com seis tiros.

Maria (de Azulão), ambos morreram em combate.

As mulheres do cangaço eram geralmente muito jovens, tinha entre 20 e 30 anos. Dadá foi a mais jovem delas e já aos 13 anos aderiu ao grupo. A colaboração feminina não foi propriamente belicosa, e segundo o historiador Frederico Pernambucano de Melo elas raramente estimulavam a violência, “em face, certamente, de sua estrutura física e da educação que receberam dos pais que lhes ensinaram a submissão e o recato”.

“Diário de Pernambuco” - 02.11.1980


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

CURIOSIDADE DO CANGAÇO.


Por Voltaseca
Foto: Benjamin Abrahão./ Família Ferreira (Dir. autorais)
Local: Não identificado

LAMPIÃO apesar de ser uma pessoa destra, empunhava sua arma, como um canhoto (mão esquerda), devido ao acidente ocorrido com seu olho direito, o qual foi afetado por um leucoma + espinho de quipá...

Observe, que na foto feita por Abraão em 1936, ele faz mira com o OLHO ESQUERDO e ATIRA USANDO O DEDO ESQUERDO... 

SEGUNDO A HISTORIOGRAFIA DO CANGAÇO, ELE ERA UM EXCELENTE ATIRADOR...!


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

LAMPIÃO EM 1927 - A MARCHA DOS BANDIDOS

Por Luiz Ruben
Luiz Ruben

Nesses últimos dezoito anos venho exaustivamente pesquisando o combate ao banditismo, particularmente o cangaço do mais destacado bandido das caatingas, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Dediquei-me a pesquisar principalmente a divulgação na imprensa pelos jornais de todo país e outros documentos da época, seja nos boletins militar, relatórios, revistas, enfim tudo que era divulgado ao tempo dos acontecimentos. A exemplo do Jornal do Recife, A Noite, Jornal Pequeno, A Província, O Jornal, Jornal do Brasil, A Gazeta, Gazeta de Notícias, dentre outros. 

Embora a imprensa não fizesse investigação local, não deixava de receber e publicar telegramas e cartas enviadas por vítimas e autoridades locais informando os desmandos dos cangaceiros nas suas localidades e descrevendo os fatos ocorridos. Esse trabalho tem sido apresentado em livros, até agora numa sequencia fora da cronologia dos acontecimentos, mostrando períodos distintos da atuação de Lampião e seu bando.
 
No livro Lampião e os Governadores, lançado em 2005, apresento a transcrição de documentos oficiais: relatórios, mensagens, falas e exposições, para mostrar como os estados tratavam a luta contra o banditismo, também abrange a década de 20, alcançando já a atuação de Lampião. No livro Lampião Conquista a Bahia, lançado em 2011, apresento o período da entrada do rei do cangaço nas terras de Castro Alves, em 21 de agosto de 1928 até final de 1929. 
O livro Lampeão Antes de ser Capitão, lançado em 2016 aborda o período do início de suas atividades como cangaceiro, de 1920 até fevereiro de 1926. 

Logo após, no mesmo ano de 2016, lancei o livro Lampião em 1926, que apresenta a atuação de seu bando até final de dezembro daquele ano. 
Já o período que apresento neste livro, Lampião em 1927 – A Marcha dos Bandidos tem início em janeiro de 1927 e vai até setembro de 1928, aqui mostrado mês a mês, quando Lampião e mais cinco cabras atravessam o Rio São Francisco na altura da cidade baiana de Rodelas, portanto, um mês após sua entrada na Bahia.
 

Coloco numa cronologia mês a mês dos anos de 1927 e 1928. Apresento uma iconografia com objetivo de colocar os personagens citados no seu tempo e espaço. Assim, nesse livro, concluo a década de 20 sobre a epopeia que foi o cangaço, mostrando mais uma vez que Lampião era sempre manchete com o acompanhamento de suas façanhas quase que semanalmente, em alguns períodos diariamente, nos principais jornais do Brasil, sempre grafando a palavra Lampião com “e”. Como curiosidade para o leitor, essa década de 20 resulta em mais de 1800 páginas com textos e fotos sobre o assunto, distribuídos nos 5 livros acima já citados. 

Mostro no presente livro a divulgação de alguns jornais, pois outros repetiam as matérias, cartas e telegramas publicados nos jornais da capital do país, o Rio de Janeiro, alertando o leitor que a iconografia tem como objetivo colocar os personagens citados no seu tempo e espaço. O que mais chama a atenção deste pesquisador é o número de cangaceiros que a imprensa publica no ano de 1928 em suas páginas. Varia de forma a confundir seus leitores, pois alguns jornais informavam a quantidade que variava de seis (6), até trinta e seis (36), afirmando alguns periódicos que Lampião chegou a contar até com cento e setenta (170) cabras. 

O leitor vai encontrar várias análises sobre o fenômeno cangaço nesse trabalho. Posso aqui destacar o texto de Anísio Galvão, nessa época deputado estadual por Pernambuco; do ilustre baiano Otávio Mangabeira; artigos assinado por Assis Chateaubriand e Rodrigues de Carvalho, entre outros. Mostro a posição do governo Artur Bernardes com as alianças feitas com os governadores e os coronéis da política nordestina para combater a Coluna Prestes e a participação do padre Cícero na convocação de Lampião para integrar o Batalhão Patriótico do Juazeiro, como também artigos sobre o padre Cícero Romão Batista, entre outros, são aqui transcritos. 

Jornais do Ceará cobrem as fugas de Lampião nesse território e a briga interna dos oficiais cearenses que lutavam contra os cangaceiros, para justificar o fato de não haverem prendido Lampião. Apresento o sensacional interrogatório que a justiça do Crato fez com o cangaceiro preso, Mormaço, publicado nos principais órgãos da imprensa cearense e pernambucana. Mormaço delata seus companheiros e faz revelações contra as autoridades constituídas que os combatiam. 

A grande importância dada pela imprensa à tentativa de invasão a cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte em meados de junho de 1927, coloca Lampião no centro das manchetes na ampla cobertura jornalística. Nesse momento seu grupo era constituído por 53 cabras, a imprensa ampliou em várias vezes o número de cangaceiros envolvidos no acontecimento. No percurso que os cangaceiros fizeram do sul do Ceará até a cidade de Mossoró os jornais do estado divulgavam com o atraso normal dos fatos que aconteciam nas correrias dos bandos entre uma localidade e a próxima que seria atacada pelo bando de Lampião em maio, junho e julho de 1927. Essas notícias eram depois divulgadas em outros órgãos da imprensa nordestina. 

A imprensa informa o fracasso das polícias coligadas do Ceará, Paraíba e Pernambuco para prender os chefes de grupo: Lampião, Jararaca e Massilon na tentativa de extorquir a cidade potiguar de Mossoró. O ataque de Lampião à cidade de Mossoró, a repercussão é tanta que a imprensa, mais uma vez, procura o antecessor do Rei do Cangaço, preso na Casa de Detenção do Recife, o não menos famoso Antônio Silvino, o Rifle de Ouro, no seu décimo terceiro ano de cumprimento de pena para uma exclusiva entrevista. 

A imprensa pernambucana continuava com o assunto “Lampião” sempre em pauta, de forma constante, quase como uma cobrança do leitor e publica dessa vez a entrada de Lampião na Bahia, com apenas um dia de diferença, após o Rei do Cangaço atravessar o Rio São Francisco, em 21 de agosto de 1928 seguido de apenas cinco cangaceiros. A quantidade reduzida de cangaceiros sob sua chefia, não fez diminuir o interesse da população e a importância da cobertura dada pela imprensa. 

Paulo Afonso e Recife, 02 de maio de 2019
Luiz Ruben F. de A. Bonfim 
Economista e Turismólogo - Pesquisador de Cangaço e Ferrovia
Conselheiro do Cariri Cangaço
Membro da ALPA - Academia de Letras de Paulo Afonso


Lançamento no:


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

CONSELHEIRO E OS POBRES

Por Múcio Procópio


Em alguns trechos do discurso conselheirista, é perceptível a relação entre a existência da pobreza material e a vontade divina(Nogueira, 1974: 1175). Apesar disso, é necessário não vê-lo como um ator social que expressava apenas as idéias dos grupos dominantes, sendo passivo diante da história (Fiorim, 1980: 126). Por outro lado, não resultará em grandes respostas sobre essa personagem enxergá-la unicamente como subversiva, no sentido clássico desse termo, que prega a inversão social e a quebra das hierarquias(Moniz, 1978: 69). 

Há em seu discurso, tanto traços de conformismo como de rebeldia. Em sua totalidade, o discurso divino foi uma forma de inseri-lo na realidade daquela época. Dentro disso, é preciso compreender que há, em suas prédicas, uma vontade divina quanto ao momento histórico ideal para acabar-se com a escravidão:

“É preciso, porém, que não deixe no silêncio a origem do ódio que tendes à família real, porque sua alteza a senhora dona Isabel libertou a escravidão, que não fez mais do que cumprir a ordem do céu; porque era chegado o momento marcado por Deus para libertar esse povo de semelhante estado, o mais degradante a que podia ser reduzido o ente humano; a força moral (que tanto a orna) com que ela procedeu à satisfação da vontade divina constituiu a confiança que tem em Deus para libertar esse povo, não era motivo suficiente para soar o brado da indignação que arrancou o ódio da maior parte daqueles a quem esse povo estava sujeito. Mas os homens não penetram a inspiração divina que moveu o coração da digna e virtuosa princesa para dar semelhante passo; não obstante ela dispor de seu poder, todavia era de supor que ela meditaria, antes de pôr em execução, acerca da perseguição que havia de sofrer, tanto assim que na noite que tinha de assinar o decreto de liberdade, um dos ministros lhe disse: - Sua Alteza assina o decreto da liberdade, olhe a república como uma ameaça. Ao que ela não liga a mínima importância, assinando o decreto 9 com aquela disposição que tanto a caracteriza. A sua disposição, porém, é prova que atesta do mundo mais significativo que era vontade de Deus que libertasse esse povo(Conselheiro apud Nogueira, 1974: 180-1).” 

A Citação deixa evidente a existência de uma visão de história em Conselheiro. Uma visão na qual a ação divina era determinante. A escravidão deveria acabar por vontade de Deus e nada mais. A Princesa Isabel era apernas um instrumento para tal realização. Talvez, em seu raciocínio, o cativeiro tenha sido eliminado por vontade divina e é provável que sua existência também tenha surgido como parte das leis celestes.

Múcio Procópio
Pesquisador
Conselheiro do Cariri Cangaço
Natal, RN

Tudo isso e muito mais em:


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O QUE É ISSO?

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.103

Visitando uma comunidade serrana, fui recebido pelo líder, cuja residência me fez lembrar um palácio de personagens bíblicos. Notei muitas goiabeiras nos arredores e o líder confirmou que era o que mais havia por ali. Indaguei, então, porque não criar uma cooperativa incentivando o plantio da goiaba com uma fabriqueta de doce. Geração de emprego e renda para os moradores da serra e seus arredores. Goiaba no sertão dá até nos monturos e quintais. Várias mulheres trabalhariam na fábrica e homens também nas diversas atividades que exigem mão de obra. O líder comunitário desconversou, saí frustrado com a liderança sem frutos. Entretanto, essa comunidade é conhecida pelo vício da embriaguez, brigas e arruaças.
(FONTE: AQUINA COZINHA)

Visitando outras comunidades estive em um vale onde a água escorre dia e noite pela estrada, inverno e verão. Essa água é proveniente de fontes do alto de uma das serras. Nos arredores bebi água mineral dali mesmo e ouvi relato da maravilhosa qualidade do líquido. Cheguei a visitar sem profundidade os rochedos que cercam os olhos d’água. Perguntei, então, aos moradores se alguém já havia pensado em criar um “cintirão verde” naquele vale para abastecer, permanentemente, Santana do Ipanema de verdura. A resposta também foi evasiva, semelhante ao do líder comunitário do outro sítio.
Por fim, discorrendo sobre o potencial de determino povoado em relação ao caju, imaginei também uma fábrica de doce do produto que seria uma potência para o estado todo. Quantos empregos diretos e indiretos não seriam criados no povoado? Ora, presente estava um amigo, engenheiro agrônomo, que me disse mais ou menos por aqui assim: “Eu me ofereci para fazer funcionar essa ideia. Marquei uma palestra no lugar e não apareceu um só pé de pessoa”.
Então, a frustração de quem enxerga longe diante de quem nada vê, é muita doída. E quanto à reação indolente dos lugares apontados, ainda hoje estou tentando entender, mas como não sou especialista no assunto fico apenas matutando, pois, pensando mesmo é desgastante.
Ontem passou a procissão da Festa do Bairro São José, homem que nunca se escorou com trabalho...                              
                                    

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

RETRATO DE UM SERTÃO

*Rangel Alves da Costa

Ali ou acolá. Na lonjura ou mais distante ainda. Ou pertinho de tudo, bastando sair da cidade. Seguindo adiante, uma curva e outra, e da estrada logo se avista um mundo.
Mundo de chão, de terra batida, de pedra miúda e espinho pontudo entremeando a vereda. Mundo estranho demais ao citadino, quase um viver jamais imaginado pelo de fora.
Um pé de catingueira ao redor. Tufo de mato e loca de pedra. Calango que sobre e desce balançando a cabeça. Um umbuzeiro grande na malhada. Cheiro de café torrado.
Sim, pois um mundo assim possui um cheiro de diferente. Cheiro de café torrado e batido em pilão. Café preparado em fogo de lenha. Um aroma que faz delirar.
Cheiro também de toucinho de porco chiando na frigideira. Junto com o cuscuz, não há nada melhor que toucinho misturado com ovos de galinha de capoeira. Tudo na banha.
O silêncio parece tomar conta de tudo. As galhagens secas farfalham suas dores de enfraquecimento. A ventania vai levando restos pelos ares. A voz do vento em zunido.
Ao longe, o horizonte emoldura a paisagem que vem descendo sobre a malhada. Contudo, nada demais a se mostrar, a não ser a singela beleza desse mundo humilde.
Nada de grandes currais, de rebanhos pastando nem alentadas pastagens. Nada de casa avarandada, de muitas portas e janelas, de assentos forrados ou jardins floridos. Nada disso.
Casa miúda, sem luxo ou enfeitamento. Chão batido no cimento, na despensa um tico de alimento, um viver apenas e para fugir do tormento.
Na mesinha um terço de aricuri, pela janela um voar de bem-te-vi e na portada a escrita que “Deus mora aqui”.


No umbral a água fresca de moringa, no embornal um cantil com resto de pinga. Jarro antigo com flor de plástico, calça afrouxada porque perdeu o elástico.
Na cama um limpo lençol e mais abaixo um urinol. Um mundo de devoção, “Bom dia, Padim Ciço”, “Boa noite, Frei Damião”.
Nas noites de lua em clarão, as histórias cangaceiras de coiteiros e Lampião. No sopro do vento a folhagem passa, a caatinga murmureja e a seca chega até a achar graça.
Mandacaru sem flor, palma sem cor, tudo já secou. Gaiola sem passarinho, toco de pau em nudez, bicho sem fazer ninho.
Calango balança a cabeça sem acreditar. Não pode ser o que vê, tem mesmo que duvidar. Na pia a roupa batida, água pouca e bem servida.
Mãos calejadas de sina. Mulher-flor nos seus tempos de menina. Mas passa o tempo, a idade se descortina. Ali no quintal o varal. Um viver para o bem, e na lonjura do mal.
Cadeira velha em pedestal, um radinho de pilha, vento soprando pelo varal, roupa enxuta e esvoaçando, como vida nova na chita e no tergal.
Mas há ainda muito a fazer. Fogão de chão acender, dar as plantas o de beber, catar a chaleira, despejar café e deixar ferver.
O sol se apaga como vela triste. Um resto de luz que ainda persiste qual vida sofrida que tanto resiste. Uma esperança que nunca desiste de ter a paz em tudo o quanto aviste.
A boca da noite é entristecida, a saudade tanta de toda despedida. Quem estava ali já foi de partida e quem continua pode estar de saída.
Já na porta aberta do escurecido, uma velha canção lhe chega ao ouvido. Inexistente canto que vem atormentar, que vem trazendo consigo todo um relembrar de recordações das estradas passadas sem poder voltar.
Ao longe um badalar de sinos Mas antes que a lua desça, que de vera a noite anoiteça, a fé para guiar os destinos.
De rosário à mão, em cada conta um pedido, somando a conta de tudo, e tudo pedindo a Deus por um sertão menos sofrido.
Assim num sertão. Assim num tempo de sertão!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

NOVA ETAPA DO SERTÃO ANÁRQUICO

Por Luiz Serra

Modesto ensaio, nova etapa, novos exemplares nesta 2ª edição, sem demora à distribuição.

Sempre agradecido a aceitação de tantos novos amigos, cordiais comentários, amáveis avaliações, necessária crítica, que resulta agora em algumas correções cujo efeito é aprimorar.


Edição Outubro, Maria Clara Arreguy Maia, prefácio Hugo Studart, prólogo na capa Maurício Melo Júnior.

A recordar a noite de lançamento na simpática Casa nordestina, e potiguar, Xique-Xique na capital, conduzida pelo amigo Rubens de Caicó.

Novo trabalho deve, pelo incentivo, sair a lume em breve tempo, ainda na esteira da República Velha, uma riquíssima fase brasileira, em que originam os focos da caminhada histórica republicana. A guerra do Império contra a Tríplice Aliança, a inopinada Proclamação da República, a divisão no seio das forças federais, e a desastrosa campanha de Canudos.

A recordar a noite de lançamento na simpática Casa nordestina, e potiguar, Xique-Xique na capital, conduzida pelo amigo Rubens de Caicó.

Muito ainda a vasculhar, em que pese a rica bibliografia de época, iluminada pela magna obra da nacionalidade, Os Sertões, de Euclides Pimenta da Cunha.

A recordar a noite de lançamento na simpática Casa nordestina, e potiguar, Xique-Xique na capital, conduzida pelo amigo Rubens de Caicó.

Neste registro, inserido no livro, em versos do amigo poeta Salgado Maranhão, na etapa em que Lampião avança no território baiano e sergipano nos anos 30:

Urge que o fogo avance os limites
urge que o tempo em temporal
desate a trama das águas.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

ALGUÉM JÁ VIO ESSA IMAGEM DO CANGAÇERO CORISCO E SUA MULHER DADÁ???

Por Francisco Davi Lima


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

SBEC EMPOSSARÁ SUA NOVA DIRETORIA NO DIA 31 DE AGOSTO.

Por Benedito Vasconcelos Mendes

A Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço-SBEC elegerá, no próximo dia 13 de junho, sua nova Diretoria Executiva e Conselho Fiscal, cujos eleitos tomarão posse no dia 31 de agosto de 2019, por ocasião da realização da XVI Jornada Cultural do Museu do Sertão, em Mossoró.      
                             
No dia 13 de junho de 2019, a SBEC fará 26 anos que ela foi criada pelo escritor e estudioso do cangaço, Paulo Medeiros Gastão, com o objetivo de homenagear os  heróis mossoroenses, que defenderam a cidade do ataque de Lampião e de seu bando de cangaceiros. O dia 13 de junho é uma data histórica para Mossoró, pois foi o dia em que o nosso herói maior, Prefeito Rodolfo Fernandes liderou  outros 150 heróis mossoroenses, que de armas em punho, arriscaram suas vidas, para defender Mossoró da sanha sangrenta do Bando de Lampião.                                         
O atual Presidente da SBEC, Professor Benedito Vasconcelos Mendes criou, em sua gestão na Presidência da SBEC, três Comendas: Comenda Alcino Alves Costa, Comenda Paulo Medeiros Gastão e Comenda Rodolfo Fernandes de Oliveira Martins. Na XVI Jornada Cultural do Museu do Sertão, dois agraciados irão receber a Comenda Alcino Alves Costa : Wasterland Ferreira Leite e Rangel Alves da Costa. Receberão a Comenda Paulo Gastão, o cineasta Aderbal Simões Nogueira, turismólogo Jairo Luiz Oliveira e a empresária Maria das Graças Gurgel Gastão. A Comenda Rodolfo Fernandes será entregue ao empresário Herbert de Souza Vieira e Marcela Fernandes de Carvalho.                                             
A eleição para a escolha da nova Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal da SBEC será coordenada por uma Comissão Eleitoral, que tem como Presidente o escritor Ângelo Osmiro Barreto e como Vice-presidente, o cineasta Aderbal Simões Nogueira.

Enviado pelo presidente da SBEC Benedito Vasconcelos Mendes

http://blogdomendesemendes.blogspot.com