Conversaram e Gonzaga pediu que ele fizesse uma música sobre o centenário de
Caruaru.
Onildo fez.
O Rei do Baião gravou o 78 rotações com “A Feira de Caruaru” de um lado e
“Capital do agreste” do outro.
Em 1957, de fevereiro a dezembro, o disco vendeu 100 mil unidades, maior
vendagem de Gonzaga em um ano; nem “Asa Branca” tinha vendido tanto.
Empolgado, Onildo pegou uma fita com seis músicas e entregou a Gonzaga, quando
este voltou à cidade no fim de 1957.
No ano seguinte, em outra visita, o compositor se dirigiu euforicamente a ele.
- Gonzaga, e as músicas?
A resposta lacônica desnorteou o compositor:
- Que músicas?
- Esquece – desconversou o radialista, enquanto repetia para si mesmo:
“Nunca mais eu dou música para ele gravar”.
Onildo ficou três anos “intrigado” com o Rei.
Gonzaga ligava, Onildo não queria saber.
Por isso, passou para Marinês as músicas que Gonzaga nem sequer ouvira: “Povo
bravo”, “Caresti” e “História de Lampião”, as três que a cantora gravou em
“Marinês e sua Gente”.
Em 1961, ela voltaria a fazer sucesso com mais uma de Onildo, desdenhada por
Luiz Gonzaga, “Marinheiro, marinheiro”, “que Caetano Veloso gravou como se
fosse dele (em 1969). E veio aqui: “Tô nas suas mãos, eu não sabia que isso
tinha dono”, e a gente se entendeu, dividimos os direitos, porque era motivo
popular, eu não tinha por que brigar tanto.
“No ano seguinte Onildo voltaria se destacar, na voz da “Rainha do Xaxado”, com
“Siriri-Siririá” e “Meu beija-flor”, “duas marchinhas de roda que eu queria que
Gonzaga lançasse e ele não lançou”.
Aparentemente, sem ter consciência do que tinha feito, Gonzaga apareceu em
pessoa na rádio, na companhia do compadre sanfoneiro Zé Tatu, a quem visitava
sempre que ia a Caruaru.
Nessa época, os irmãos Almeida já tinham deixado a Rádio Difusora e adquirido a
Rádio Cultura, passando de empregados a proprietários.
Gonzaga chegou todo alegre ao balcão:
- Onildo, o quê que tem pra mim?
O outro se levantou do birô onde estava, foi até o balcão, olhou Se Lua bem na
cara e enfatizou:
- N-A-D-A!
- Mas o que é isso? Tá se fazendo de difícil? Zé Tatu me disse que você fez uma
música excelente, uma música bonita pra ele...
- Pra ele... Não foi pra você.
- A gente pode ouvir essa música?
- Pode – disse Onildo, sem desfazer a carranca.
Foram para o estúdio e ouviram a música, numa gravação em que o próprio Onildo
cantava.
“Anima minha gente, que chegou o sanfoneiro.
É bom é verdadeiro, veio de Caruraru
O cabra mais famoso por esse sertão inteiro”
Gonzaga ouviu e opinou:
- Tem seu talho.
- O que é isso?
- O estilo seu se identifica muito com a minha música. Esses acordes nessa
música tem em “Capital do Agreste”, tem em “A Feira de Caruaru”, é um estilo
que me agrada muito, é meu estilo. Posso gravar a música?
Já não tão magoado, o compositor assentiu.
- Pode.
Mas não deixou de pensar: “Só porque dessa vez pediu...”
“Sanfoneiro Zé Tatu” fez relativo sucesso, em nada comparado ao estouro de “A
Feira de Caruaru”.
Mas teve o mérito de restabelecer a paz entre autor e intérprete, que
trabalharam junto em mais de vinte composições, às vezes desenvolvidas por
Onildo a partir de temas propostos por Gonzaga, o que bastava para render uma
parceria.
Créditos para CARLOS MARCELO e ROSUALDO RODRIGUES
in "O FOLE RONCOU, Uma História do Forró"
(Páginas 93, 94 e 95)
Um salve para o mano Lenildo, o primogênito do Mestre Juvenal e a carinhosa
Dona Lindinalva, quem me presenteou com dois excelente vinis do genial
Gonzagão. Valeu Lenildo!
AS HISTÓRIAS DO MESTRE JUVENAL :