Por Ana Paula
Cardoso
Resistência
marcou a história da família Fernandes
Além da
história de Mossoró, o plano de defesa orquestrado por Rodolpho Fernandes é um
marco e motivo de orgulho para os descendentes do prefeito mais corajoso que a
cidade já teve. O filho mais novo de Rodolpho, Raul Fernandes, dedicou 15 anos
de estudos para escrever o livro “A Marcha de Lampião”, que narra com detalhes a vida
na cidade à época da invasão, o percurso percorrido pelos cangaceiros e o
empenho das trincheiras montadas para a defesa de Mossoró.
Além de Raul,
a ilustradora e bisneta de Fernandes, Marcela de Carvalho, também escreveu um
livro sobre a resistência mossoroense. Voltado para o público infantil,
“Lampião e o vovô da vov´na cidade de Mossoró” conta de forma lúcida como os
mossoroenses conseguiram expulsar o bando de cangaceiros mais temido do
Nordeste.
A revista Bzzz
conversou com Marcela Carvalho sobre a resistência de Mossoró ao bando de
Lampião e sobre o livro que preserva esta história.
Bzzz – Seu
bisavô, Rodolpho Fernandes se tornou um ícone da resistência. A história da
defesa da cidade contra o bando é contada até hoje entre a sua família? Virou
motivo de orgulho?
Marcela
Carvalho – Na família essas histórias são contadas com orgulho. Mas também com
certo distanciamento, pois meu avô Paulo casou com minha avó Ana Luíza bem
depois da morte de Rodolpho e eles criaram os filhos (minha mãe e meus tios) no
Rio de Janeiro. Desse modo, as distâncias cronológicas e até mesmo físicas
deixaram a história bem longe.
Bzzz – Você
não conheceu seu bisavô, mas ainda assim, deve ter ouvido sobre ele em casa.
Como sua família o descreveu para você?
MC – Meu tio avô
Raul Fernandes. O Irmão de meu avô, Paulo, escreveu um grande livro sobre o
assunto. Na minha opinião, o mais completo sobre o assunto “A Marcha de Lampião”.
Há muitos livros sobre o assunto. E todos os que se aprofundaram ma pesquisa do
cangaço acabam esparrando no Cel. Rodolpho. Conheço esse meu antepassado pelos
livros e não por relatos pessoais e afetivos de pessoas com quem convivi. Isso
é incrível.
Bzzz - Recentemente, você lançou um livro infantil
contando de forma lúdica a história da resistência ao ataque de Lampião a
Mossoró. Como foi o processo de construção da obra?
MC – Sou ilustradora,
contadora de histórias. Sou mãe e trabalho com crianças há algum tempo. Sou
pesquisadora de Lij. Em uma conversa falei do feito de meu bisavô para Laura
Van Boekel (coordenadora editorial da Zit editora) e ela achou que valia um
livro, e quis saber se eu ilustrava. Eu me ofereci não só para ilustrar, mas
também para escrever. Pra isso, tive que “passar no crivo” dela. P que foi um
desafio delicioso.
Para o livro “Lampião
e o vovô da vovó na cidade de Mossoró!” Em me baseei nas verdades históricas
recolhidas por Raul Fernandes. Não só por ser meu tio avô e filho direto do
grande herói dessa história, mas porque Raul foi muito criterioso no seu estudo.
A precisão dos dados que ele apresenta é de um cuidado admirável.
Bzzz – O seu
livro será lançado agora em agosto no Rio de Janeiro. A história da resistência
de Mossoró ao ataque de Lampião desperta a curiosidade e tem boa receptividade
do público carioca?
MC –
Certamente. No Rio de Janeiro, Lampião é muito conhecido, assim com no Brasil
inteiro. E as histórias de família são sempre de todos, todo mundo tem a sua
família, o seu herói, a sua história. O causo do encontro dos cangaceiros com
os coronéis interessa a todos nós.
Bzzz – No seu
livro, as ilustrações são feitas de bordados. Por que você resolveu usar essa
técnica? Qual a relação do bordado com a história da sua família e da resistência?
MC – O bordado
tem sido meu modo de ilustrar, de dar vida aos desenhos iluminando os textos.
Já tinha usado essa técnica em outros livros como o livro da canção de Gilberto
Gil “A linha e o linho”. O bordado tem uma história de resistência. O próprio
ato de bordar hoje é resistir. Resistimos ao tempo acelerado, resistimos ao
consumo, à agulha penetra o tecido e a linha, o nó resite. E além disso, o
cangaço é uma manifestação muito preciosa do bordado feito no Brasil. A produção
dos cangaceiros e cangaceiras por uma coisa impressionante.
Bzzz - Para você, qual a importância de reservar a
história da luta dos mossoroenses contra o ataque de Lampião?
MC – Preciso contar
essa histórias para o meu filho e minha filha (protagonista da história dentro
da história). É importante que as gerações seguintes saibam de que maneira
viveram seus antecedentes para que saibam mais de si e de seu entorno.
Bzzz – No livro
“Jararaca: o cangaceiro que virou santo”, Fenelon Almeida escreve que, para
acalmar os ânimos nas trincheiras de defesa de Mossoró, Rodolpho Fernandes
distribuiu conhaque aos homens. Esse causo é verdadeiro?
MC – Não tenho
repertório para contestar ou concordar com esse relato do autor Almeida. Raul
Fernandes não fala sobre isso no livro dele “A Marcha de Lampião” e eu nunca
tinha ouvido falar. O que sei é que o episódio do cangaço em Mossoró e em
outros locais fala de um tempo distante, mas presente. É uma memória recente.
Na comemoração dos 80 anos da resistência, em 2007, havia heróis vivos. E as
versões das histórias são muitas.
CONTINUA...
Fonte:
Revista: BZZZ
Ano: 4
Nº: 51
Páginas: 24 e 25.
Mês: Setembro de 2017.
Digitado por José Mendes Pereira
http://blogdomendesemendes.blogspot.com