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quinta-feira, 25 de maio de 2023

MEMORIAL DO COMBATE AO CANGAÇO FOGO DA CAIÇARA: OITENTA ANOS DE RESISTÊNCIA

Por Dr. Epitácio de Andrade Filho

“Somente é digno de honra, o povo que preserva e sente o espírito de luta de seus mortos”.

No dia 10 de junho de 2007, a Prefeitura Municipal de Marcelino Vieira realizou uma programação alusiva aos 80 anos do “ Fogo da Caiçara”, que marcou o início da resistência ao bando do cangaceiro Lampião, como também a morte do bravo soldado da Polícia Militar José Monteiro de Matos.

O evento foi sequenciado pela aposição da placa “Memorial do Combate ao Cangaço e Concessão da medalha comemorativa dos “80 Anos do Fogo da Caíçara”.

O “Fogo da Caiçara” ocorreu em 10 de junho de 19927, na então Vila de Vitória (Hoje Marcelino Vieira – Alto Oeste potiguar). Neste conflito morreram: O cangaceiro Azulão e o soldado da Polícia Militar José Monteiro de Matos, cuja frase final que pronunciara ficou imortalizada como prova de bravura: “Morro, mas não corro”.

Marcelino Vieira

José Monteiro de Matos - cruz

Fogo da Caiçara - Medalha

Enviado pelo o autor

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LAMPIÃO JOGAVA CRIANÇAS PARA CIMA E AS APARAVA NA PONTA FINA E ALONGADA DO SEU PUNHAL?

 Por José Mendes Pereira


Leia o que o escritor e pesquisador do cangaço diz sobre isso:

(Foi criada com o objetivo de afugentar os sertanejos que ajudavam a esconder os cangaceiros, os conhecidos coiteiros. As volantes (polícia da época) espalharam que Lampião matava crianças com punhal. Segundo uma das histórias contadas pelos policiais, o cangaceiro jogava as crianças para o alto e as aparava com um punhal). 

Então, fica a afirmação como foi criada esta e outras histórias sobre Lampião. A polícia perseguidora de Lampião, e que queria fracassar o movimento dos cangaceiros, e se inventasse isto e outros, com certeza, sem apoio da população, Lampião poderia até desistir do cangaço (minha opinião), por não ter mais apoio dos camponeses. 

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NO ANIVERSÁRIO DA BEATA MARIA DE ARAÚJO, DEVOTOS E ESTUDIOSOS PEDEM MAIS PROTAGONISMO DELA NOS MILAGRES ATRIBUÍDOS A PADRE CÍCERO.

 Por Thaís Brito, g1 CE

A beata Maria de Araújo nasceu no dia 24 de maio e esteve no centro da devoção popular em Juazeiro do Norte, na região do Cariri — Foto: Reprodução

O dia 24 de maio marca o nascimento da beata, conhecida pelos episódios em que hóstias se transformaram em sangue. Movimento pede mais atenção à memória da mulher, que foi retratada historicamente como coadjuvante.


Os eventos da trajetória de uma mulher negra em um pequeno povoado do interior do Ceará levaram a uma forte devoção popular perpassada por controvérsias e centrada na figura do padre Cícero Romão Batista. Estudiosos e devotos defendem um olhar mais atento para a memória da beata Maria de Araújo, protagonista dos episódios em que as hóstias viraram sangue em sua boca.

No dia 24 de maio, discussões e eventos fazem memória à data do nascimento da beata, cuja imagem deve ser colocada ao lado do padre Cícero nas repartições públicas de Juazeiro do Norte que trazem a representação do “santo popular”. É o que prevê lei municipal aprovada em 2021 no município, situado na região do Cariri.

Na data de aniversário da beata, o g1 conversou com estudiosos sobre Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo e traz detalhes conhecidos sobre a vida da beata.

Aniversário de Beata Maria de Araújo é celebrado no Cariri
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Aniversário de Beata Maria de Araújo é celebrado no Cariri

Início da vida de Maria de Araújo

O povoado de Joaseiro era um distrito do Crato, no Cariri cearense. Era o lugar que depois viraria a cidade de Juazeiro do Norte. No local, morava o casal Antônio da Silva Araújo e Ana Josefa do Sacramento, vinha de uma família pobre de negros e mestiços.

Não é possível precisar o ano em que Maria de Araújo nasceu, pois só foram encontrados os registros de nascimento dos seus onze irmãos, relata Fátima Pinho, historiadora e professora da Universidade Regional do Cariri (Urca). Por isso, a estimativa é que ela tenha nascido no dia 24 de maio entre os anos de 1861 e 1863.

Em uma carta de padre Cícero, ele relata que conheceu Maria ainda criança, quando ela tinha entre oito e dez anos. À época da primeira comunhão, o sacerdote percebeu na menina dotes especiais e se tornou um diretor espiritual. Assim, ela recebeu do sacerdote o conselho de dedicar a vida à religião.

Visões, estigmas pelo corpo e outros eventos espirituais já haviam sido relatados em dois jornais de Fortaleza, com notícias sobre uma “virgem piedosa”.

“Entre esse encontro do padre com a beata até a ocorrência do sangramento da hóstia, tem relatos de Maria de Araújo tendo êxtases, colóquios e manifestações místicas”, aponta Fátima Pinho.

Viagens espirituais, sonhos e profecias foram experiências relatadas pela própria beata nos depoimentos que ela daria à Igreja Católica anos depois.

"Milagres de Juazeiro"

Conheça as estátuas do Padre Cícero, Beata Maria de Araújo e Monsenhor Murilo
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Conheça as estátuas do Padre Cícero, Beata Maria de Araújo e Monsenhor Murilo

Os episódios que mudaram a história da região começaram no ano de 1889, quando a beata teria entre 26 e 28 anos.

Na sexta-feira antes do Carnaval daquele ano, a jovem estava em oração com outras mulheres pedindo por um bom período de chuvas na região. Ela participava de uma novena e recebeu a comunhão pelas mãos do padre Cícero ao fim das orações, conforme detalha Dia Nobre, escritora e historiadora.

Na boca de Maria de Araújo, a hóstia se transformou em sangue, segundo os relatos da época. “A partir desse momento, ela começa a manifestar esse sangramento todas as quartas e sextas-feiras durante o período de dois anos, mais ou menos, até meados de 1891”, complementa Dia.

Conforme complementa Fátima Pinho, o fenômeno se repetia mesmo quando ela recebia a comunhão de outros padres. Logo, os “milagres do Juazeiro” começaram a ficar conhecidos por aqueles que acreditavam na santidade de Maria de Araújo.

A repercussão pelo mundo

As notícias sobre os milagres chegam aos jornais em junho do mesmo ano, repercutindo em cidades como Fortaleza, Manaus, São Paulo e Rio de Janeiro.

Esta rápida disseminação é atribuída ao envio de cartas e artigos de José Marrocos, homem culto e religioso que acreditava na veracidade dos milagres. Natural do Crato, ele era jornalista e primo do padre Cícero.

Outro grande divulgador foi o padre Francisco Rodrigues Monteiro, reitor do Seminário do Crato. Acreditando no milagre, ele escreveu uma carta ao bispo diocesano do Ceará, dom Joaquim José Vieira, e organizou uma primeira romaria à casa da beata no mês de julho. Ele reuniu cerca de 3 mil pessoas neste primeiro momento, comenta a pesquisadora Dia Nobre.

Por dois anos, a Igreja não se manifestou publicamente sobre o assunto, enviando apenas cartas ao sacerdote e pedindo que ele não divulgasse os eventos.

Em 1891, outro evento repercutido na imprensa brasileira foi a declaração de um médico carioca que havia se mudado para o Crato. Após examinar a beata, ele afirmou que os fatos envolvendo Maria de Araújo eram extraordinários.

Periódicos de outros países também começam a divulgar cartas e testemunhos de pessoas que quiseram visitar a terra da “santa beata”.

É a partir deste ponto que a Diocese do Ceará busca ouvir o depoimento do padre Cícero pela primeira vez e declara que os acontecimentos de Juazeiro não são milagrosos.

Enquanto isso, as notícias continuaram a circular com esforços do jornalista José Marrocos. Na região, os relatos circulavam na oralidade, e a casa da beata virou ponto de peregrinação, assim como a casa do padre Cícero.

Mesmo sem o reconhecimento oficial, a população queria conhecer a cidade como “terra santa com um padre santo e uma santa virgem”.

As apurações oficiais

Uma comissão nomeada pela Igreja foi até o povoado. No período, a beata Maria de Araújo passa por uma série de exames médicos e interrogatórios, que se estendem aos padres, personalidades e outras beatas da região.

Descartados problemas mentais e físicos na beata, os eventos são chamados de extraordinários mais uma vez. A Igreja não aceita o relatório desta comissão, afirma a historiadora Fátima Pinho. Uma segunda comissão é nomeada pela diocese.

O inquérito liderado por um pároco de Quixeramobim teve métodos duvidosos, conforme a historiadora Dia Nobre.

“Ele prende a beata Maria de Araújo dentro da Casa de Caridade. Há relatos de que ele a deixou jejuando a pão e água, que ele a mantinha com a boca aberta por muitas horas, de joelhos nos milhos. Então tem aí uma tortura dessa mulher para que ela negasse os fenômenos ou dissesse que ela produzia esses fenômenos de forma falsa”, conta.

O resultado da segunda comissão diz que os eventos são um embuste. A reação é uma pressão popular e de parte do clero local.

Um padre da primeira comissão traduz os depoimentos colhidos para o italiano e envia a Roma. Ao mesmo tempo, o bispo à frente da Igreja no Ceará recorre ao Vaticano na esperança de uma solução que acabe com as romarias em devoção a Maria de Araújo.

Em posse dos depoimentos e inquéritos, um relatório da Congregação para a Doutrina da Fé, representando a Santa Sé, reafirma a negação dos milagres e pune os envolvidos: suspensão para os padres e isolamento social para a beata.

O papel do padre Cícero durante os processos foi de defesa da beata. Para Fátima Pinho, isso demonstra que ele teria sido o primeiro devoto das manifestações divinas em Maria de Araújo, se recusando a se retratar para reverter a punição determinada pela Igreja.

O caso de Maria de Araújo coincide com o período de “romanização” na Igreja, fruto das discussões do Concílio Vaticano I, de 1869 a 1870. Conforme Dia Nobre, a reforma buscava um afastamento das vivências místicas e práticas populares, nas quais os fiéis estabeleciam relações com as divindades sem a mediação da Igreja.

A historiadora relata ainda que um caso semelhante de sangramento da hóstia aconteceu no interior da França. A diferença seria que os fenômenos da beata Matilda não encontraram defensores no clero local, com um fim rápido das romarias e do culto à religiosa.

Um último comunicado da Santa Sé sobre o caso de Juazeiro foi em 1898, reiterando que a beata deveria ser afastada e que medalhas, orações e objetos de devoção a ela deveriam ser queimados.

Uma mulher vista como coadjuvante

Êxtases, colóquios divinos e aparição de estigmas no corpo foram sinais reconhecidos pela Igreja em casos de mulheres europeias, como a santa italiana Catarina de Sena.

A falta de reconhecimento da beata cearense é atribuída a ideias excludentes. Conforme Fátima Pinho, a frase de um padre que circulou na época dizia que Jesus jamais sairia da Europa para derramar seu sangue na boca de uma mulher pobre e feia.

“O fato acontecia num povoado do interior do Ceará, não era nem uma vila. Era uma mulher pobre, negra, analfabeta no final do século XIX, no país que tinha abolido a escravidão há pouco tempo. O padre Cícero vai ter uma repercussão muito maior, inclusive na imprensa. Era um homem branco dos olhinhos azuis”, compara a pesquisadora.

Nos anos iniciais, o povo das primeiras romarias tinham como figura central a beata Maria de Araújo e a devoção ao Sangue Precioso de Jesus, que brotava da hóstia e dos estigmas no corpo dela. A partir de 1892, as peregrinações voltaram o foco para Nossa Senhora das Dores.

Um elemento importante para que a memória da beata fosse esquecida foi uma proibição voltada aos leigos: eles só poderiam ter acesso à confissão e aos demais sacramentos se declarasse não acreditar nos milagres da beata.

“Naquele contexto, você dizer para o católico que ele não tem direito ao sacramento, é algo extremamente grave. O que estava em jogo era a vida após a morte, a salvação eterna. Isso vai contribuir para o esquecimento dela na memória local”, conta Dia Nobre.

Assim como no nascimento, os registros da morte de Maria não deixam certezas, com a informação apenas do nome e da data. Ela tinha saúde frágil e faleceu em 17 de janeiro de 1914, no contexto da Sedição de Juazeiro. O confronto armado entre as oligarquias cearenses e o Governo Federal resultou em invasões no Crato e no Juazeiro.

Em 1930, o túmulo de Maria de Araújo foi destruído. Segundo a historiadora, isto foi feito a mando do monsenhor José Alves de Lima, vigário local que não dispunha de autorização legal. Ficaram apenas restos do cabelo e o cordão de São Francisco, com o qual ela havia sido enterrada.

Um movimento pela memória da beata

Em Juazeiro do Norte, lei municipal prevê que a imagem da beata de Maria de Araújo esteja ao lado do padre Cícero nas repartições públicas — Foto: Prefeitura de Juazeiro do Norte/Divulgação

Em 2004, uma campanha na região do Cariri espalhou um cartaz com a foto de Maria de Araújo e a mensagem “Procura-se”. O grupo de artistas chamava atenção para o fato de que, até hoje, o destino dos restos mortais da beata não é conhecido.

Os esforços para resgatar o protagonismo da beata na história começaram em 1989, com um simpósio que marcou o centenário dos milagres a ela atribuídos.

Atualmente, a figura histórica inspira celebrações nas datas que marcam o nascimento, a morte e o início dos milagres.

O Movimento pela Reabilitação da Memória da Beata Maria de Araújo se fortaleceu a partir de 2014, reunindo acadêmicos, artistas e grupos culturais interessados em ressaltar a importância da beata para todos os acontecimentos que transformaram Juazeiro do Norte em um destino de romeiros e manifestações da devoção popular.

Dentre as conquistas celebradas pelo grupo, está a lei municipal aprovada em 2021 no município de Juazeiro do Norte. A legislação torna obrigatório o uso da imagem de Maria de Araújo nos espaços das repartições públicas que já traziam imagens do padre Cícero. Assim, o padre e a beata devem ter representação com as mesmas dimensões.

Nesta quarta-feira (24), o aniversário da beata será comemorado com a sexta edição da Mostra Poemas para Maria. O objetivo é reunir a produção dos artistas locais em homenagem a ela. São selecionados 20 poemas, que ficam eternizados em um livro com edição física e digital.

O tema deste ano é “Maria de Araújo e as Marias de Juazeiro”. Concorrendo a uma premiação em dinheiro, os candidatos foram chamados a refletir sobre as mulheres invisibilizadas e silenciadas na região.

“O evento tem um lado artístico, mas também crítico e político, de pensar essa sociedade estruturada a partir do silenciamento das mulheres, tomando como base a vida de Maria de Araújo”, explica Roberto Viana, diretor do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura de Juazeiro do Norte.

A celebração acontece a partir das 18 horas no auditório da Secretaria da Educação (Seduc). Além da recitação dos poemas selecionados, haverá um colóquio com a historiadora Dia Nobre e o corte do bolo de aniversário de Maria de Araújo.

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