Por: Francisco
Carlos Jorge de Oliveira
Corisco
Caro leitor:
Em um vale castigado ao extremo pela cruel estiagem
que castigava o sertão baiano, num ranchinho escondido ao lado de um quase
escasso olho d'água, morava um velho vaqueiro solitário, que atendia pela
alcunha de "Zezim Pebão".
Ninguém sabia o seu nome e todos o consideravam como o
maior vaqueiro da região, pois seus aboios ecoavam nas caatingas e eram ouvidos
à léguas de distância, e segundo os moradores do lugar, este homem perdera sua
mulher em uma noite bem escura, quando juntos caçavam tatu, e ela foi picada
por uma urutu cruzeira, serpente perigosíssima, a mais peçonhenta das
jararacas.
Dizem que ele chorou e sofreu bastante com a perda da
companheira, e logo após enterrá-la no cemitério da cidade, ele sumiu montado
em seu cavalo ruano e ninguém mais ouviu falar dele.
Alguns caçadores dizem que quando se perdiam durante a
noite, sua cantiga os conduziam ao rumo certo. Na quaresma de Março do ano de 1932,
o cangaceiro
Corisco e Dadá
Cristino Gomes da Silva Cleto o "Corisco", junto de Dadá, sua companheira, que na ocasião encontrava-se grávida, deixaram o bando de Lampião
e em trajes comuns, atravessaram o sertão pernambucano, penetrando na inóspita
região do Raso da Catarina, com destino á cidade de Salgado do Melão, no Estado
baiano.
Corisco estava montado em um vistoso e ligeiro cavalo
alazão, e a montaria de Dadá era uma mansa e linda mula de pelagem rosilha.
Eles
cavalgavam atentos, e com todo o cuidado, pois o estado de Dadá era totalmente
delicado. Foi então que em um lugar longínquo, na região próxima ao Brejo do Burgo, ao cair à tarde, cansados da viagem, Corisco escolheu
um recanto seguro, entre umas rochas rodeadas de mandacarus, e sob a sombra de
um frondoso pé de jatobá, ali, ele apeou-se e ajudando Dadá a descer da mula,
forrou uma coberta sobre a vegetação rasteira, acomodando carinhosamente seu
cônjuge. E pegando as cabaças repletas de água, após saciarem a sede, deram
água também aos animais, desarreando-os, deixando-os que pastassem amarrados ali
perto deles.
Corisco e seus Cães
Corisco tinha uma cadela preta e branca, mestiça, da
raça perdigueira, que gostava mais dele do que a própria Dadá, e era ela quem
fazia a guarda deles.
Corisco desembainhou seu facão collins c.o, e foi mais
adiante cortar alguns galhos para fazer uma fogueira onde passariam a noite, e quando
vinha vindo com o feixe de lenha nas costas, avistou uma cotia, que assustada,
cruzou correndo sua frente.
Corisco fez jus ao nome, e ágil como um raio, disparou
um tiro com seu fuzil mauser cal.7 m., vindo a atingir o ouvido do pequeno
roedor.
O jantar já estava garantido. Após comerem, Corisco improvisando um
leito e agasalhando sua companheira de maneira cômoda, acariciou seus cabelos,
fazendo com que sua amada dormisse tranquila e aconchegante.
Corisco perdera o sono. Sentou-se em uma pedra ali ao
lado, fez um cigarro de palha, e ficou observando a lua cheia, que morosamente
surgia entre os mandacarus, parecia pressentir o que estava por vir.
Corisco
pensava em chegar logo até Salgado do Melão, pois Dadá estava próxima a entrar
em trabalhos de parto, e isto lhe preocupava muito. Mas de repente sua cadela
levantou-se e ficou de orelhas em pé.
O Diabo Loiro que não temia nada, vendo
algum perigo ali rondar, de imediato acordou Dadá, deixando-a preparada para
enfrentar o perigo oculto nas sombras da noite.
A cadela rosnou e ficou ao lado de Dadá. Os cavalos
começaram a se agitar, um grunhido estranho e aterrorizante se ouviu à frente.
E quando Dadá lumiou com um tição em chamas, pode-se ver de fronte a Corisco, a
figura horripilante de um lobisomem.
A besta fera era bem maior que Corisco. Tinha orelhas
grandes e eretas. Seus olhos eram vermelhos flamejantes, igual a duas jóias
vindas do inferno. Dentro da bocarra espumante havia enormes dentes caninos e
pontiagudos, entre eles escorria uma baba fétida, sórdida e gosmenta. As patas
superiores apresentavam descomunais garras afiadíssimas e a pelagem negra,
ajudavam-no a se ocultar dentro da escuridão da noite.
Corisco que já se encontrava de arma na mão, manobrou
seu fuzil e efetuou três disparos em direção do monstro. Mas para sua surpresa,
as balas só amorteciam no pelo dele e caiam fumegantes no chão. Corisco nem
gastou mais munição. Puxou de seu punhal de prata e ficou na defensiva. O
demônio saltou sobre o Diabo Loiro que se atracaram em uma luta mortal sobre a
relva molhada de sereno. Num lapso, o punhal escapa das mãos do cangaceiro e
caindo, se perde em meio a vegetação rasteira. Nisso, a fera agarra em seu
pescoço e vai apertando gradativamente para matá-lo enforcado.
O valente
cangaceiro se esforça inutilmente, e quando vê os seus olhos já sendo coberto
pelo véu cinzento da morte, numa derradeira tentativa ele passa a mão sobre a
grama achando seu punhal de prata. E assim segurando-o com firmeza, reunindo as
últimas energias do seu corpo, o Diabo Loiro serra os dentes e desfere um
fatídico golpe que atinge violentamente o sovaco do lobisomem, causando-lhe uma
lesão profunda e mortal. A besta solta um urro ensurdecedor, larga o cangaceiro
e sai correndo e sangrando caatinga adentro, até desaparecer na escuridão da
noite.
Corisco segurando o punhal manchado pelo sangue da fera vai cambaleando
até Dadá, que o abraça e banha com água sua cabeça para ajudá-lo a se
recuperar mais rápido, e assim ambos adormecem.
No alvorecer do dia seguinte Corisco assopra e ateia os tições quase extintos da fogueira, e faz um café. Após quebrar o jejum corisco deixa Dadá em um lugar seguro, e vai campear suas cavalgaduras, e caminhando por alguns minutos, ele localiza os animais a uns oitocentos metros do seu acampamento.
No alvorecer do dia seguinte Corisco assopra e ateia os tições quase extintos da fogueira, e faz um café. Após quebrar o jejum corisco deixa Dadá em um lugar seguro, e vai campear suas cavalgaduras, e caminhando por alguns minutos, ele localiza os animais a uns oitocentos metros do seu acampamento.
Corisco ao se aproximar, avista um ranchinho ao lado
de um pé de aroeira, e quando chega mais
perto, vê pelas frestas de madeira um velho deitado numa tarimba, gemendo
de dor. Corisco pega seu parabelliun 9 m. e vai pra bem perto do cabra, pergunta:
- Ei! môço, o quê ta se sucedendo com o sinhô?
E o moribundo responde:
- Ai!aaai! eu fui cortá lenha nu mato i trupiquei num
cipó i na queda cai com u subacu im cima duma ferpa di pau, ai!ai! óia moço,
pega sua muiê e suma daqui antes di iscurecê antis da lua saí.
Corisco perguntou novamente:
- Diga então veio, pelo menu seu nome?
E ele respondeu:
- É "Zezim Pebão". Agora fais o que tô mandandu. Si arranca
daqui cabra da mulestra!
Sem desconfiar de nada o cangaceiro pegou seus animais
e se foi. Chegando ao acampamento Corisco arriou os animais e partiu rumo ao
lugarejo chamado Salgado do Melão, e assim quase turvando o casal, chegou na
supracitada cidade,
Corisco levou Dadá para casa e deixou a companheira
aos cuidados dos parentes. E foi até uma venda comprar o que precisava, e lá,
bebendo umas pingas e proseando com o povo ele perguntou:
Arguém di oceis
cunhece um tar "Zezim Pebão"?
Dai um sertanejo por nome Zé Osmídio respondeu que sim,
e contou toda a verdade a Corisco, que cismado e surpreso, foi para junto de Dadá. No outro dia já estava viajando de volta para Pernambuco, com destino ao coito
de seu compadre Lampião.
Pois é amigos, este é mais um fantástico caso do cangaço e de cangaceiros.
Se é verídico cabe a você analisar.
Pois é amigos, este é mais um fantástico caso do cangaço e de cangaceiros.
Se é verídico cabe a você analisar.
Francisco Carlos Jorge de
oliveira é da policia militar paranaense, e mais uma vez vem postar sua interessante história do cangaço neste blog.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com