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segunda-feira, 18 de abril de 2016

ESTES BRAVOS DE FLORESTA

Por Cristiano Ferraz
Denis Carvalho, Leonardo Gominho, Marcos de Carmelita, João de Sousa Lima, Cristiano Ferraz e Manoel Severo; o Cariri Cangaço chega a Floresta.

Floresta é, indiscutivelmente, uma cidade cuja história está intrinsecamente ligada à do cangaço. Suas terras foram palcos de lutas onde seus filhos foram atores de destaque. Como se pode falar em cangaço sem citar a questão entre Cassimiro Gomes da Silva (o lendário Cassimiro Honório) e Zé de Souza? E os desentendimentos entre Lampião (e seus irmãos Antônio e Livino) e os moradores da vila de Nazaré (praticamente uma só família)?

Em Floresta surgiram nomes de volantes conhecidos por sua bravura e tenacidade no combate ao cangaceirismo. Nomes como os filhos de João Flor: Manoel, Odilon e Euclides (citando apenas três), Antônio Gomes Jurubeba com os seus Pedro e João Gomes de Lira. Manoel Neto, Hercílio Nogueira, David e João Jurubeba, os irmãos Tomaz, e toda uma geração de rapazes que se dedicaram à árdua tarefa de trazer de volta a paz e a segurança ao povo sertanejo.

Esses nomes acima citados, fizeram parte da chamada Volante dos “Cabras de Nazaré”. Assim como eles, dezenas de florestanos “queimaram” sua mocidade no que Frederico Pernambucano de Mello chamou de “Guerra do Sol”. Entre esses gostaríamos de destacar três:

José Freire da Silva

José Freire da Silva, o Zé Freire, que entre tantas outras missões participou ativamente com inigualável bravura, no chamado fogo do Mundé, onde foram mortos os cabras Sabiá e Zé Marinheiro. Nesse renhido combate pereceu também o comandante da Força, o anspeçada Manoel Gomes de Sá Filho (Sinhozinho).

Zé Freire estava também entre os poucos que se atreveram a, junto com Manoel Neto, dar apoio aos Gilos na fazenda Tapera, atacada por Lampião e cerca de cem cangaceiros em agosto de 1926. Mesmo a contragosto do comandante Antônio Muniz de Farias.

 Seu Dé

José Rodrigues de Souza, Seu Dé, pelos anos de serviço dedicados às Forças Volantes, com destaque para o combate onde, ao lado do então Sargento Euclides de Souza Ferraz (o Euclides Flor), na escuridão da noite foi ferido no braço. Esse combate se deu contra o grupo do cangaceiro Moreno em abril de 1938, três meses antes da morte de Lampião no coito do Angico em Sergipe.

Manoel Polmata

Manoel Joaquim de Souza, o Manoel Polmata; pelos longos anos dedicados a essa luta desigual, muitas vezes acompanhando Manoel Neto, até mesmo no estado da Bahia. Manoel Polmata esteve presente, inclusive no duro combate da Serra Grande em novembro de 1926. Ali, foi um dos que ajudaram a retirar o comandante baleado nas duas pernas para local seguro, livrando-o da morte certa, sangrado “a ferro frio” pelos cangaceiros de Lampião.

Assim como Zé Freire, Seu Dé e Manoel Polmata, poderíamos citar diversos outros nomes de pessoas que com sua bravura colaboraram com a difícil tarefa de combater o cangaço. Esses com certeza estão para sempre escritos nos anais da história de Pernambuco. Mas deixemos para depois, agora é reforçar o convite para vir a Floresta no grande Cariri Cangaço Floresta, de 26 a 29 de maio deste 2016.

Cristiano Ferraz
Pesquisador e Escritor
Floresta, Pernambuco.

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2016/04/estes-bravos-de-floresta-porcristiano.html

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CASARÃO QUE PERTENCEU A FAMÍLIA DO CANGACEIRO CHICO PEREIRA.

Foto: Iris Mendes Medeiros (Nazarezinho/PB)

Conheçam a história do ataque cangaceiro à cidade de Sousa/PB no qual Chico Pereira teve influente participação e algumas fotos do casarão que no passado abrigou a família do célebre cangaceiro paraibano.

Texto: Prof. José Romero Araújo Cardoso.

(...) Em um dia de feira em Sousa, Otávio Mariz notou animada conversa entre um bodegueiro de Nazarezinho (PB), de nome Chico Lopes, e “cabra” da inteira confiança de Chico Pereira, de nome Chico Américo.

Foto: Iris Mendes Medeiros (Nazarezinho/PB)

A duração da conversa despertou a desconfiança de Otávio Mariz. Nas bancas da feira procurou uma chibata para comprar, indo ao encontro dos dois palestrantes. Encontrou apenas Chico Lopes. Aplicou-lhe surra magistral e pediu-lhe para ir à fazenda Jacu, reduto dos Pereira Dantas, em Nazarezinho (PB), avisar a Chico Pereira que tinha outra prometida para ele.

Foto: Iris Mendes Medeiros (Nazarezinho/PB)

No Jacu, Chico Lopes detalhou todo acontecido. A família do “Coronel” assassinado perguntou-lhe o que ia fazer tendo Chico Lopes respondido estar decidido ir até Princesa, conversar com Lampião sobre o melindroso e humilhante assunto. Havia um irmão de Chico Lopes que integrava o bando de Lampião há alguns anos. Isso facilitou a decisão do chefe supremo do cangaço em enviar dezessete homens de sua confiança para Nazarezinho. Antônio e Levino Ferreira, bem como Meia-Noite e Sabino das Abóboras, também integravam o grupo que iria se responsabilizar pela mais aviltante ação cangaceira no Estado da Paraíba.

Foto: Iris Mendes Medeiros (Nazarezinho/PB)

Na casa antiga de Chico Pereira notícias corriam céleres, dando conta da aproximação do grupo cangaceiro. Em Sousa alguns aventavam a hipótese de organizar defesa, mas como não acreditaram na possibilidade de tamanha ousadia, relaxaram completamente.

Foto: Iris Mendes Medeiros (Nazarezinho/PB)

Ao chegar ao Jacu, os dezessete homens foram recepcionados efusivamente. O número final de bandidos prontos a atacar Sousa, aumentado com muitos da região, somava oitenta e quatro quadrilheiros dispostos. Antes do amanhecer do dia 27 de julho de 1924, os bandidos cortaram a linha do telégrafo e invadiram Sousa, cuja maioria da população foi pega totalmente desprevenida. Pequena resistência partiu da residência de Otávio Mariz, principal alvo dos atacantes. Experiente e tarimbado sertanejo, Otávio Mariz escapuliu quando viu que não poderia resistir ao implacável ataque. Tudo em Sousa virou alvo de saque, os cangaceiros roubaram o comércio, residências, tudo, prejuízo incalculável que marcou indelevelmente a história sousense.

Foto: Iris Mendes Medeiros (Nazarezinho/PB)

Feras endiabradas davam vazão a todos os instintos selvagens possíveis e imagináveis. O destacamento local, comandado pelo então Tenente Salgado, não conseguiu realizar qualquer ação de defesa em Sousa, verdadeiro suicídio se tivesse havido consumação. Grupo composto de quase duas dezenas de bandidos, liderados por cangaceiro conhecido por “Paizinho”, teve como alvo principal a residência do juiz local, de nome Dr. Archimedes Soutto Mayor. “Paizinho” tinha queixas pessoais contra o magistrado, a quem acusava de tê-lo condenado injustamente.
Retirado ainda com roupas de dormir, o Juiz foi submetido a todo tipo de suplicia e humilhação, sendo forçado a andar de cangalha e em posição vexatória pelas ruas de Sousa. O ato final seria o assassinato do magistrado, mas Chico Pereira interveio e evitou a consumação do ato extremo.

Foto: Iris Mendes Medeiros (Nazarezinho/PB)

O magistrado, depois de tudo, no ensejo dos desdobramentos do audacioso ataque cangaceiro à cidade de Sousa, assumiu a responsabilidade de fazer merecida justiça contra àquelas feras que o atacaram. A rede de informações montada por Lampião era impecável e precisa. Logo ele ficou sabendo dos estragos em Sousa e, principalmente, do que fizeram com o juiz.

Foto: Iris Mendes Medeiros (Nazarezinho/PB)

Rodopiava nos calcanhares, ainda sentindo dores terríveis, empunhando Parabellum e raciocinando sobre o futuro dali para frente. Homem de raciocínio rápido, Lampião sabia que em breve enfrentariam duras batalhas contra as forças volantes paraibanas, extremamente tolerantes devido ao respeito ao “Coronel” José Pereira Lima e a Marcolino Pereira Diniz (...)".

Foto: Iris Mendes Medeiros (Nazarezinho/PB)

Fonte: José Romero Araújo Cardoso
Obs: Importante lembrar que a atual cidade paraibana de Nazarezinho onde fica localizado o Sítio Jacu, reduto dos Pereiras, na época dos acontecimentos pertencia ao município de Sousa/PB.

Segundo informações existem projetos de restauração do Casarão do Sítio Jacu, em andamento. Vamos aguardar.

Fonte II: facebook
Página: Geraldo Júnior 
Grupo: O Cangaço
Link: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=574036469426920&set=pcb.1207557109257405&type=3&theater

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MORRE O EMPRESÁRIO MOSSOROENSE WILSON MENDES DA FORD, AVÔ DA CANTORA THÁBATA MENDES


Morre em Mossoró o avô da cantora Thábata Mendes o empresário proprietário da concessionária Ford em Mossoró Wilson Mendes. A notícia triste que nos chega nesta manhã de segunda-feira, 18, é o falecimento.

Por muitos anos, foi proprietário da concessionária Ford em Mossoró, quando funcionava na rua Coronel Gurgel no Centro da cidade (hoje está sob comando do grupo Porcino Costa).

Wilson Mendes era filho de Humberto Mendes, pai de Taciana Mendes (O Boticário), Wilson Mendes Júnior, dentre outros filhos.

Traremos mais detalhes sobre seu velório e enterro.

Deste espaço seguem as nossas condolências à toda Família enlutada.

http://www.blogdopc.com/2016/04/morre-o-empresario-mossoroense-wilson.html

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DO CONCEITO DE CANGAÇO, CANGACEIRO, E CANGACEIRISMO

Por Honório de Medeiros
Honório de Medeiros, Manoel Severo e Dr. Ivanildo Alves da Silveira

É possível que o termo cangaço tenha surgido, realmente, para designar toda a parafernália (conjunto de objetos de uso pessoal; apetrechos, pertences, acessórios) que o sertanejo portava para se deslocar pelo Sertão nordestino desde o início do ciclo do couro até o começo do século XX. Por associação de idéias transplantou-se o termo “canga”, suportado pelo boi, mas constituído por apenas uma peça, para cangaço, suportado pelo homem, mas constituído por várias peças. 

O sertanejo precisava transportar consigo, em seus deslocamentos, quase sempre a pé, vez que animais de transporte eram raros e caros, privilégio de poucos, armas de fogo e armas brancas, as mezinhas, o farnel, o dinheiro, algum papel escrito, as orações, a água, bebida, alguma panela de ferro, material para fazer fogo, artigos de higiene, e por aí vai...

Em “NOTA SOBRE CANGAÇO E CANGACEIRO”[1] Luis da Câmara Cascudo lembra que “Cangaço é a reunião de objetos menores e confusos, utensílio das famílias humildes, mobília de pobre e escravo, informa Domingos Vieira (1872). Troços. Tarecos. Burundangas. Cacarecos. Cangaçada, cangaçaria. Nunca ouvi dizer cangaçais ou cangaceira. (...) Beaurepaire Rohan registra ‘o conjunto de armas que costumam conduzir os valentões (1889)’. É, para mim, a menção mais antiga. Para o sertanejo é o preparo, carrego, aviamento, parafernália do cangaceiro, inseparável e característica, armas, munições, bornais, bisacos com suprimentos, balas, alimentos secos, meizinhas tradicionais, uma muda de roupa, etc.” 

Verdadeira canga, verdadeiro cangaço. 

Ao longo do tempo o bandido rural nômade em grupo do Sertão nordestino do final do século XIX até meados do século XX passou a ser o maior portador dessa parafernália, exigência do seu mister, que lhe obrigava deslocamento permanente e muitas vezes abrupto, em qualquer hora do dia ou da noite.

E veio a ser conhecido como cangaceiro aquele que transporta cangaço, aquele que tem cangaço. 

Heitor Feitosa Macêdo, em “ORIGEM DA PALAVRA CANGAÇO”[2], nos diz que “Gustavo Barroso, estudioso incansável do cangaceirismo, foi responsável por arrematar a teoria mais aceita para explicar a origem da palavra cangaço. Segundo o referido autor, a terminologia ‘cangaço’ surgiu do hábito de os antigos bandoleiros se sobrecarregarem de armas, trazendo o bacamarte passado sobre os ombros, à feição de uma canga de jungir bois, por isso dizer que estes indivíduos andavam debaixo do cangaço, isto é, de uma canga metálica, feita de aço. Daí a expressão usada por Euclides, em ‘Os Sertões’, ao dizer que alguns indivíduos: ‘vinham debaixo do cangaço’”.

A hipótese de Cascudo, indiscutivelmente, em termos epistemológicos, é mais completa, verossímel. 

O transporte do cangaço, embora nomine o bandido rural nômade em grupo do sertão nordestino do final do século XIX até meados do século XX e seja uma de suas características, não é suficiente, por si só, para identifica-lo, vez que embora com outro nome os gaúchos da fronteira usavam também parafernália própria e semelhante: o peão das vacarias gaúcho usava, à cintura, faixa larga, negra, ou cinturão de bolsas, tipo guaiaca, adaptado para levar moedas, palhas e fumo e, mais tarde, cédulas, relógio e até pistola. Ainda à cintura, as inafastáveis armas desse homem: as boleadeiras, a faca flamenga ou a adaga e, mais raramente, o facão. E sempre à mão, a lança - de peleia ou de trabalho. 

Assim, também, o peão do pantanal. Ou o cawboy americano...

Outras características do cangaceiro, além dessa denominação tão peculiar, são: ser bandido rural, nômade, e viver em grupo no Sertão nordestino desde o final do século XIX até meados do século XX. Bandido, aqui, no sentido de ser inimigo do Estado, da ordem legal vigente, embora algumas vezes contasse com a simpatia de parcela da população nordestina sertaneja.

Quanto ao que seja “bandido”, não é outro o pensamento de Eric Hobsbawn logo no início de “BANDIDOS”[3]: “Assim, o banditismo desafia simultaneamente a ordem econômica, a social e a política, ao desafiar os que têm o poder, a lei e o controle dos recursos. Este é o significado histórico do banditismo nas sociedades com divisões de classe e Estados.”

O cangaceirismo aqui e de agora em diante, para distinguir a atividade cangaceira da parafernália que o cangaceiro portava, foi banditismo rural, mas nem todo banditismo rural foi cangaceirismo. Não apenas rural, termo amplo que engloba tudo quanto não litorâneo, ao qual se vinculam alguns historiadores por não conhecerem a realidade específica desta região, o Sertão, do Nordeste brasileiro. O cangaceirismo foi banditismo sertanejo de grupo.

Banditismo nordestino sertanejo de grupo – há bandidos nordestinos de grupo que não são sertanejos, e há bandidos sertanejos de grupo que não são nordestinos – o que rechaça, de pronto, todos quantos não situados naquele tempo específico que vai do final do século dezenove a meados do século vinte e todos quantos não situados naquele espaço específico do Sertão nordestino compreendido entre Bahia e Ceará, entrando pelo Piauí.

Existe, pois, um tempo específico: os bandidos de hoje não são cangaceiros por que, dentre outras, não andam com aquela parafernália já referida, típica do cangaceiro.

Lugar específico: os bandidos rurais, mesmo quando em grupo, de outras regiões não eram cangaceiros porque não atuavam no Sertão do Nordeste.

Aqui não é possível concordar com Câmara Cascudo[4]:

“O cangaceiro não é um elemento do Sertão. Não vem da seca, da justiça local, da mestiçagem, da educação, do uso das armas. Existe em todos os países e regiões mais diversas. Na inóspita Mauritânia e na alagada China, nas montanhas da Córsega e nos plainos de França, onde viveu e reinou Mandrin, em São Paulo com Dioguinho e em Portugal com o José do Telhado, nas cidades tentaculares e nas povoações minúsculas, repontam esses tipos de inadaptação, somas de todos os fatores, vértices para onde convergem as grandezas das taras, tendências, ineducações e impulsos.”

Cascudo confunde banditismo com cangaceirismo. Todo cangaceiro foi bandido, mas nem todo bandido foi cangaceiro. Toda orquídea é uma flor, mas nem toda flor é uma orquídea. Percebe-se, do texto, que Cascudo não leu seu Aristóteles...

Essa falta de precisão, muito encontrada nas ciências ditas sociais, nos leva a equívocos tais quais o de Gustavo Barroso em “À MARGEM DA HISTÓRIA DO CEARÁ”[5], que parece ter inspirado o texto acima de Câmara Cascudo, tamanha sua semelhança:

“Em livro que publiquei há mais de quarenta anos disse: ‘Os bandidos não são produtos exclusivos das terras brasileiras do Nordeste. Em todos os povos, têm existido com denominações diversas. O jagunço não é criminoso por mero acidente do seu caráter; não é criminoso, as mais das vezes, por si próprio. Ele termina uma série de antecedentes os mais variados ou é um elo na seriação de causas as mais diversas.

Dentro dessas linhas gerais deve ser enquadrada historicamente a figura de um dos mais famosos cangaceiros do sertão cearense na segunda metade do Século XIX, o José Antônio do Fechado (...)”.

O título do Capítulo de Barroso é “O SENHOR FEUDAL DO FECHADO”. Não era nômade, não extorquia, não assaltava, não sequestrava... Não era cangaceiro, portanto, embora fosse bandido, andasse em grupo, e fosse sertanejo.

É algo basilar na Ciência entender que apreendemos a Realidade encontrando sua “essência”. Melhor: algo que integre a Realidade, como um epifenômeno social tal qual o Cangaceirismo, somente vai ser apreendido, conhecido, quando formos capazes de encontrar sua “essência”, ou seja, sua especificidade, sua singularidade. Sujeitamo-nos, pois, ao pleno domínio do ramo da Filosofia denominado Gnosiologia.

Para encontrarmos essa essência, característica, ou singularidade, precisamos distinguir para conhecermos. É como nos diz Pascal Ide, em seu “A ARTE DE PENSAR”[6]:

“Para definir é preciso dividir, distinguir. Com efeito, a definição é um conhecimento distinto do ser de uma coisa; ora, vimos que no ponto de partida, nosso conhecimento é confuso, e não distino. Como passar do confuso ao distinto a não ser distinguindo, ordenando esse confuso? Foi assim que Deus procedeu diante do caos primitivo (Gn 1, v. 2). Ele separa, distingue: a luz das trevas, a terra do céu, etc.”

Questões como essa me levaram a escrever o seguinte texto, que creio caber bem neste contexto:

“Em primeiro lugar tratar da questão do que seja ciência, principalmente no que diz respeito a seus enunciados, que para serem considerados verdadeiros, não podem ser refutados uma única vez;

Karl Popper afirma, em “CONJECTURAS E REFUTAÇÕES”[7], que se pode dizer, resumidamente, ser sua capacidade de ser testada que define o status científico de uma teoria.

Foi uma evolução significativa à teoria quase consensual, anterior, que a ciência se distingue da pseudociência pelo uso do método empírico, que decorre da observação ou experimentação[8].

Este não é o ambiente apropriado para uma discussão crítica acerca da posição de Popper em relação à indução. Basta recordar que ele retoma Hume[9], e sua crítica psicológica à indução, aprofunda essa crítica, em uma perspectiva lógica, e propõe o que passou a se chamar, no jargão acadêmico, de “falsificacionismo”.

Por outro lado, esses enunciados da ciência para se manterem verdadeiros, não podem ser refutados. Uma só afirmação que seja demonstrado, empírica ou matematicamente, como falsa, compromete a teoria. É o respeito à “lei das exclusões das contradições”[10].

Caso tal lei não seja seguida, chegaríamos à desarticulação completa da ciência[11].

Em segundo lugar mostrar somente há uma ciência, ou seja, a tentativa de considerar que as ciências ditas do espírito são ciências é falsa.

Em terceiro lugar mostrar que há uma ciência social que usa o método científico impropriamente dito como das ciências naturais e que parte do pressuposto de que fato social é igual a fato natural.

Iniciar, então, a partir dessas premissas e avançar afirmando que um olhar da sociologia acerca do cangaceirismo pode ser ofertado a partir de leis causais do quais ele seja conseqüência (dedução), como é o caso do marxismo ou darwinismo, aqui chamado olhar perspectivo externo, ou a partir da comparação da estrutura interna do fenômeno com outros fenômenos com os quais guarde semelhança estrutural induzindo (indução) uma lei geral.

Demonstrar que no segundo caso não há como propor uma lei geral, vez que não se conhece todos os casos e a semelhança existente é sempre forçada;

Ao contrário, ao se partir de uma lei geral é possível encontrar o que de geral há nos específico e propor que tal fenômeno irá se repetir, respeitado o específico, caso aconteçam as mesmas condições que suscitaram o seu surgimento.”

Mas prossigamos.

Outra especificidade importante para definir o cangaceirismo é sua circunstância histórica, constituída por elementos próprios do período que vai do final do século XIX para meados do século XX, quais sejam, dentre eles, mas não somente, o coronelismo, e o misticismo. 

Cangaceiros e coronéis nordestinos são indissociáveis e especificam o período no qual conviveram. Cangaceiros e Padre Cícero também o são. Mas seria bom acrescentar, aqui, também, os cantadores de viola, os repentistas, os cordelistas, enfim, os rapsodos que andavam pelas cidades, vilas, povoados, arruados, feiras, disseminando e aureolando os feitos dos cangaceiros, ajudando a construir, no imaginário do sertanejo, o paradigma dessa figura histórica.

Em relação aos Coronéis, Raymundo Faoro[12] faz uma interessante constatação que robustece a opinião antes apresentada acerca de que embora o banditismo rural não seja algo próprio do século XIX/XX, o cangaceirismo, que é um dos tipos desse fenômeno, deve ser definido a partir de suas características que o singularizam:

“O fenômeno coronelista não é novo. Nova será sua coloração estadualista e sua emancipação no agrarismo republicano, mais liberto das peias e das dependências econômicas do patrimonialismo centra do Império. O coronel recebe seu nome da Guarda Nacional[13], cujo chefe, do regimento municipal, investia-se daquele posto, devendo a nomeação recair sobre pessoa socialmente qualificada, em regra detentora de riqueza, à medida que se acentua o teor de classe da sociedade. Ao lado do coronel legalmente sagrado prosperou o ‘coronel tradicional’, também chefe político e também senhor dos meios capazes de sustentar o estilo de vida de sua posição.”

Mas precisamos estar atentos: não se pode confundir cangaceiro com jagunço nem pistoleiro.

Os cangaceiros não têm chefes que não sejam de sua própria categoria. Os jagunços subordinam-se a coronéis. O pistoleiro é solitário e trabalha eventualmente para um ou outro. É como nos assevera Frederico Pernambucano de Melo[14]:

“A segunda figura a ser estudada é a do cabra, também chamado por alguns de capanga ou jagunço, ainda que entre os três tipos haja diferenças que não devem ser ignoradas.

Cabra é o homem de armas que possui patrão ou chefe, desempenhando mandados tanto de ordem defensiva quanto ofensiva.”

Não somente banditismo brasileiro nordestino sertanejo de grupo existente entre o final do século XIX e meados do século XX cujos integrantes usam o cangaço - essa parafernália inseparável e característica, como o afirma Luís da Câmara Cascudo.

Mesmo aqui ainda é preciso distinguir para compreender: como disse Fenelon Almeida[15], “os volantes em tudo se pareciam com os cangaceiros.” Os jagunços também.

Ambos usavam a parafernália do cangaceiro. Todo cangaceiro a usava, mas nem todo aquele que a usava era cangaceiro. As volantes a usavam, eram nômades e atuavam com o aval do Estado; os jagunços a usavam, não eram nômades e submetiam-se aos coronéis.

O cangaceirismo pressupõe a perseguição pelo Governo e a insubmissão, além de outra característica: a existência do coiteiro.

Rangel Alves da Costa diz bem o que é “coiteiro”[16]:

“Coiteiro era o sertanejo que, mesmo não fazendo parte do bando cangaceiro propriamente dito, compartilhava do seu mundo e de sua existência. Exteriorizava os desejos e as ordens cangaceiras. Servia de elo entre a vida na caatinga e os seus arredores, incluindo pessoas e povoações. Sem o coiteiro, o cangaço não compartilhava do mundo exterior e ficava totalmente vulnerável aos ataques.

Coiteiro era o matuto chamado a colaborar com o cangaço. Nunca forçado, mas sempre disposto a cooperar. Era, a um só tempo, mensageiro, transportador de mantimentos, confidente, conhecedor e guardião de segredos de vida e de morte. Boca sempre fechada e ouvido sempre aberto, talvez fosse o seu lema. Mas nem todos, segundo dizem, cuidaram de seguir os ditames.

Coiteiro era aquele que, conhecedor de cada linha e cada canto da região catingueira, auxiliava nas estratégias de proteção cangaceira. Era o olho pelo arredor, era o cão farejando o inimigo. Logo dizia sobre a segurança do local escolhido para repouso ou alertava acerca dos perigos que estavam correndo.

Coiteiro era o bom amigo do bando que levava a carne fresca de bode, a linha e agulha para costura, o remédio e a porção, as armas e a munição, o dinheiro e outros objetos enviados ao bando; aquele que se esforçava ao máximo, e correndo todos os perigos, para que nada faltasse naquela estadia dos cangaceiros. E eram bem recompensados pelas providências tomadas. De vez em quando um anel dourado era colocado no dedo.

Coiteiro era aquele que servia o abrigo cangaceiro, o local de descanso e repouso, a moradia temporária do bando, o coito. Desse modo, tem-se então que coito era o local onde a cangaceirada se amoitava vindo de longe viagem e desejosa de algumas horas ou dias de descaso.

Assim, coito era o lugar escolhido pelo líder do bando para o merecido descanso, até que a necessidade fizesse levantar acampamento e seguir adiante. Tantas vezes numa correria no meio da noite ou a qualquer hora do dia que o vento inimigo soprasse pelos arredores.”

Entretanto todos os bandidos brasileiros nordestinos sertanejos nômades de grupo existentes entre o final do século XIX e meados do século XX, que usavam cangaço e coiteiros eram cangaceiros?

Sim. Tomando-se como paradigma os bandos de Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Lampião e Corisco, sim. Estes no dizer de Maria Isaura Pereira de Queiroz[17] são “grupos de homens armados liderados por um chefe, que se mantinham errantes, isto é, sem domicílio fixo, vivendo de assaltos e saques, e não se ligando permanentemente a nenhum chefe político ou chefe de grande parentela.”

Ou seja: os cangaceiros viviam de assaltos e saques. Assaltos, para sintetizar, por que quem saqueia assalta. Não somente assaltos, porém. Extorsão também. E, às vezes, embora não comumente, alugando suas armas a algum Coronel. Concluindo, por fim: sobreviviam à custa do seu banditismo.

O que fizemos foi precisar essa noção acerca do cangaceiro, que também é a do senso comum.

Portanto temos: cangaceiros foram bandidos brasileiros nordestinos sertanejos nômades de grupo existentes entre o final do século XIX e meados do século XX, cujos integrantes usavam o cangaço, recebiam suporte dado por coiteiros, e viviam à custa de sua atividade criminosa.

Não podemos dizer que a estética cangaceira que surgiu com Lampião defina o cangaceiro. Antes do bando de Lampião e de sua estética já existiam bandos de cangaceiros, tais como aqueles chefiados por Sinhô Pereira e Antônio Silvino.

Assim é possível que o que realmente defina o cangaceirismo seja a presença de todos esses elementos e mais o momento histórico, o espaço de tempo que vai do final do século XIX a meados do século XX. 

Não por outra razão diz-se que com o advento do Estado Novo e a morte de Corisco extinguiu-se o cangaceirismo.

[1][1] “FLOR DE ROMANCES TRÁGICOS”; EDUFRN; Coleção Nordestina; 3ª edição; 1999; Natal. 
[2] JORNAL “ACONTECE”, Região do Cariri - De 30 de outubro a 10 de novembro de 2014, nº 53.
[3] PAZ E TERRA; 4ª edição; 2010; São Paulo. 
[4] “VIAJANDO O SERTÃO”; Global; 4ª edição; 2009; São Paulo. 
[5] ABC Editora; 3ª edição; 2004; Rio de Janeiro. 
[6] Martins Fontes; 1ª edição; 1995; São Paulo.
[7] Pg. 66. 
[8] Pg. 64. 
[9] Pg. 72.
[10] Pg. 346/347. 
[11] Pg. 348. 
[12] “OS DONOS DO PODER”; Globo; 15ª edição; v. 2; 2000; São Paulo.
[13] Fator que distingue o coronelismo. 
[14] “GUERREIROS DO SOL”; A Girafa; 5ª edição; 2011; São Paulo.
[15] “JARARACA: O CANGACEIRO QUE VIROU SANTO”; Guararapes; 1ª edição; 1981; Recife. 
[16] http://blograngel-sertao.blogspot.com.br/2013/08/coiteiro.html 
[17] “HISTÓRIA DO CANGAÇO”; Global; 1ª edição; 1986; São Paulo.

http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2016/04/do-conceito-de-cangaco-cangaceiro-e.html

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O ELEITOR VIRGOLINO FERREIRA DA SILVA


Naquele tempo, votava-se naquele que o ‘coronel’ mandava.

O ‘coronel’, símbolo do poder regional, ditava como deveriam proceder os seus candidatos e eleitores.

Virgolino Ferreira da Silva, um jovem cheio de vida, que tocava sanfona, pegava boi no mato, ia a vaquejadas, trabalhava como artesão, tomava banho nos poços dos rios daquela ribeira, dançava forró... Enfim, fazia tudo aquilo que todo jovem, naquela época, e naquela idade fazia.

Trabalhava na roça, pastoreava animais. Comprava e vendia mercadorias. Profissionalizando-se como almocreve, profissão herdada do pai, José Ferreira.

Era comum, os filhos dos roceiros, humildes sertanejos a mercê das ordens dos poderosos, terem suas idades alteradas para poderem votar em determinado candidato, indicado pelo ‘coronel’ da localidade.


Os irmão Antônio, Livino e Virgolino também fizeram parte dessa manobra eleitoreira, e retiraram seus títulos de eleitores em 1915, todos de uma só vez.

Segundo historiadores, Antônio Ferreira da Silva nasceu em 1895, portanto, contava com 20 anos em 1915; Livino Ferreira da Silva, nasce em 1896, em 1915 estava com 19 anos de idade, e por fim, em 1898, vem ao mundo Virgolino Ferreira da Silva, contando, em 1915, com apenas 17 anos de idade.

Lembramos aqui aos amigos, que a idade, por Lei estipulada, para tornar-se eleitor era 21 anos.

Nesses idos tempos, “Metódio Godoy foi quem articulou tudo para garantir esses votos. Votaram, esse ano, no Partido Borbista, que tinha à frente o oposicionista candidato a governo do estado, Manoel Borba, que Mário Lira e os Godoy tinham a predileção. Os Carvalhos estavam em cima e apoiavam o candidato à reeleição para governador, Dantas Barreto, contando com todo apoio dos Nogueiras e Saturnino”. (cabrasdelampiao.com)

No ano seguinte, os Ferreira votaram em Mário Lira, Mário Alves Pereira Lira, que mesmo sendo natural da Capital pernambucana, casa-se com uma filha de Vila Bela, pertente a família Carvalho, tornando-se Prefeito da cidade, Vila Bela, hoje, Serra Talhada, PE, exercendo o seu mandato de 1916 à 1920. E 1916, é o ano em que inicia-se as rixas entre Virgolino Ferreira e Zé Saturnino.

A coisa deu-se uma boa ‘misturada’, e citam alguns pesquisadores que os Ferreira foram eleitores de Ildefonso Ferraz. Esse fato é aceito quando vemos, na história, o acordo promovido pelo então coronel Cornélio Ferraz, chefe político local, entre os Ferreira e Zé Saturnino, onde os Ferreira tiveram que irem para o sítio Poço do Negro.

Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: Ofício das Espingardas
  
Fonte blog Ct.
Foto 
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VÍDEO INÉDITO..!

https://www.youtube.com/watch?v=0ZBxlTfv4uE

Paulo Pereira - Ferreiro.
O Pai dele fez muitas FACAS e PUNHAIS para o bando de Lampião.
Confira como são feitos artesanalmente esses instrumentos.

Cortesia do vídeo: Dênis Carvalho

Publicado em 23 de mar de 2015
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Fonte: facebook
Página: Volta Seca
Grupo: Lampião, Cangaço e Nordeste
Link: https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/?fref=ts

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A MORTE DE LAMPIÃO...! E, OS TIROS QUE ELE LEVOU.


Ele recebeu 03 (três) tiros no combate na Grota do Angico, em 28-07-1938.

Recebeu um tiro em cima do peito esquerdo (vide, acima, furo na cartucheira); recebeu um outro no baixo ventre e, o último, na face direita que chegou a atingir a calota craniana (vide foto, acima). Esse último, ele recebeu o mesmo, quando já se encontrava agonizando no solo, em face dos ferimentos anteriores sofridos. Esse tiro disparado foi feito pelo soldado Panta de Godoy.

Embora não tenha laudo de exame cadavérico do corpo de Lampião, mas os médicos e as pessoas que o examinaram, atestaram essas informações.

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta
Grupo: O Cangaço
Link: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=503660769835902&set=gm.1207059772640472&type=3&theater

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O TERCEIRO OLHO DE LAMPIÃO

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Temos vários relatos de "repentes" que Lampião tinha, inclusive criar uma mística qualidade de prever algo ou receber avisos de forças estranhas.

Cristina Matta Machado em seu livro "As Táticas de Guerra dos Cangaceiros" segunda edição, à página 37 nos fala do início dele no cangaço, aos 21 anos, no bando de "Sinhô Pereira" que se tornaria chefe dois anos depois, teve uma dessas intuições que deixou a todos pasmos.

"Pouco tempo depois de ter entrado no cangaço, Sebastião Pereira estava acordado com seu grupo, na casa de um fazendeiro em Pernambuco. Querendo agradar aos cangaceiros, o proprietário ordena ao feitor:

- Vá estourar umas pipocas pros meninos...

Lampião, que estava passivo, olhar fixo numa só direção, como se estivesse meditando, retrucou:

- Estourar vão ser as balas, num demora mais que cinco minutos.

Houve risos e o fazendeiro confirmou a certeza de todos, de que na região não havia o menor sinal de volante.

Não demorou nem os cinco minutos, o cerco já estava formado e as balas cruzando o ar.

De outra feita, aconteceu lá para os idos de 1920. O grupo cansado da perseguição sofrida, chegaram em uma fazenda de um amigo e esfomeados pediram para matar um bode para comerem.

Os cangaceiros mataram o bode e quando estavam preparando-o foram surpreendidos pelas palavras de Lampião:

- Vamo saí daqui, porque a volante num leva 15 minuto pra chegá.

Não houve dúvidas e, num instante, todos entranharam na caatinga e foram embora, ouvindo a volante chegar em sua pista.

Daí então começou a crescer o respeito de todos por aquele jovem, não somente pelo seu grande poder de percepção, coragem, boa pontaria e disposição, mas principalmente pela capacidade de estratégia que já se manifestava desde cedo.

Quando o chefe de bando Sebastião Pereira deixou o grupo por achar-se velho e querer acabar seus dias mais sossegado, não foi por acaso que Virgulino Ferreira tornou-se chefe em seu lugar. Era um líder natural.


O terceiro olho, também conhecido como Ajna, o sexto chakra, situa-se no ponto entre as sobrancelhas. Conhecido como "terceiro olho" na tradição hinduísta, está ligado à capacidade intuitiva e à percepção sutil. Quando bem desenvolvido, pode indicar um sensitivo de alto grau. Acredita-se que a glândula pineal, localizada no centro do cérebro e no meio da testa, tenha relação com tais capacidades indutivas e percepção sutil. Essa glândula possui semelhanças com o globo ocular, ambos possuem membrana cristalina e receptores de cor. Segundo lendas, seres supra-humanos possuíam o terceiro olho como um órgão que era capaz de exercer faculdades de telepatia e clarividência. Até hoje, muitas pessoas trabalham, através da meditação e outras técnicas, psicologicamente essa glândula para recuperar tais poderes divinos que teriam sido perdidos ao longo da regressão da espécie. (Fonte: O Terceiro Olho)


Bem, voltemos então à Lampião e vejamos como podemos enxergar pelos exemplos de sua vida, a questão de sua enorme capacidade intuitiva.

Em seu livro, "Lampião: o homem que amava as mulheres: o imaginário do cangaço" Daniel Soares Lins diz que "ao pesquisador do imaginário enveredar tanto no campo dos discursos quanto na estrutura das práticas históricas, buscando encontrar nos "fatos históricos" os "resíduos" colados aos personagens. O sonho, a quimera, a mística, a paixão, o "tempo mágico" e os rituais deveriam ser compreendidos como práticas racionais, respondendo, contudo, a uma outra ordem simbólica, a uma outra organização dos signos e dos imaginários."

Fico a imaginar Lampião sentindo seu terceiro olho, enxergar o que seus comandados não viam. Era no canto de uma ave, era no rastejar de uma cobra. No piar do caboré e da coruja. Na borra do café. No voo rasante do urubu. No sonho que tivera. No cantar do galo em hora que não era dele. A correria de uma raposa. Uma aranha que visse. Um mocó cavando o chão. O cão uivando sem motivo. Tudo isso ensejava a Lampião enxergar algo, com esse olho extra que tinha e que lhe valeu muito quando perdeu um dos olhos, literalmente.

No livro "Lampião, senhor do sertão: vidas e mortes de um cangaceiro" de Elise Grunspan-Jasmin, nos traz o poema de Francisco das Chagas Batista intitulado "História do Capitão Lampeão, desde o seu Primeiro Crime até a sua Ida a Juazeiro'', que faz referência à cerimônia de fechamento do seu corpo. Segundo esse poema, Lampião permaneceria invencível enquanto o feiticeiro que o protegia estivesse vivo:

Foi a casa de Macumba
E ele fez o serviço, 
Fechou o corpo do rapaz
P'ra bala, faca e feitiço, 
Então disse a Lampeão: 
Não havera valentão 
Que pise no teu toitiço 

Primeiro ele sujeitou-se 
A um processo arriscado 
Em um caixão de defunto 
Passou uma noite trancado 
O feiticeiro lhe ungiu 
E quando ele de lá saiu 
Estava de corpo fechado. 

Disse-lhe o velho Macumba: 
Agora podes brigar, 
Bala não te fura o couro, 
Faca só faz arranhar 
Feitiço não te ofende 
E a polícia só te prende 
Depois que eu acabar. 

Porém depois que eu morrer 
Ficarás de corpo aberto, 
Tudo pode acontecer-te, 
Pelos maus serás vencido, 
Deves viver prevenido 
Que a morte terá por certo. 

Continuando com Daniel Soares Lins, que diz "...em síntese, ao contrário do historiador que não "ama os acontecimentos", o estudioso do imaginário reivindica, de certa maneira, sua vinculação ao campo das temporalidades e dos acontecimentos, da cultura e da subjetividade."

Isso é importante na criação do misticismo que envolveu Lampião, pois muitas estórias foram contadas e muitas foram também inventadas, por aqueles que o admiravam e reunidos em rodinhas de bodegas nas esquinas das cidadezinhas do agreste nordestino, falavam sobre suas peripécias, cujas aventuras e proezas admiravam.

A esse respeito, o tenente João Gomes de Lira, ex-oficial das Forças Volantes, contou que um colibri um dia se chocou com a aba do chapéu de Lampião que viu nisso um mau presságio e teria dito a seus companheiros que era preciso retroceder. No dia seguinte ele teve a confirmação de que uma Força Volante lhe tinha preparado uma cilada naquele local. Sabendo que se tratava de nazarenos, ele teria feito o seguinte comentário: "Se tivesse passado por lá, teriam acabado comigo" (Pedro Tinoco, "A Superstição Ronda o Cangaço", Jornal do Commercio, 8/7/1997, p. 2).

Por parêntesis quero registrar também, que não era só Lampião que tinha esses repentes e superstições. As Forças Volantes também atribuíam um grande valor aos sonhos e aos sinais premonitórios.

Numa entrevista que concedeu ao Diário de Pernambuco, João Bezerra evoca o recurso aos sonhos, ao sobrenatural e às premonições entre as Forças Volantes antes de iniciar um combate contra Lampião, tanto este lhes parecia ser dotado de uma dimensão sobrenatural: "Pela manhã, os policiais tinham cinco minutos para contar uns aos outros os sonhos da noite. Eram sempre histórias de mulher bonita, de caboclas cheirando como flor de manacá. Olhos beijando seus rostos queimados pelo sol, envolvendo-os de doçuras perigosas. Terminado o prazo, as bocas se fechavam a contragosto com vontade de de comunicar ainda os detalhes esquecidos, dos cabelos das moças evocadas, das donzelas encontradas na beira das estradas."

"Às vezes, noite alta, ouvia-se um rumor, o chefe da volante percorria os subordinados um a um, no escuro, passando a mão pelo rosto para conhecer seus cabras, temendo pela vida de todos, isolados na caatinga bravia, longe de homens mais humanos. Na perseguição de cangaceiros. rastejavam horas seguidas, arrastando a barriga contra a aspereza da terra, olho atento e ouvido apurado, esperando a qualquer momento o soar da fuzilaria, rezando com medo de ensopar a terra com seu sangue já que a chuva não a queria molhar..." - (Afranio Mello, "Como Correu Sertão a dentro a Notícia da Morte de Lampeão". Diário de Pernambuco 5/8/1938, p. 5).

Sim amigos, as estórias são muitas. A Saga Cangaço é muito rica e enseja inclusive a nós viajarmos nas ondas desse grande mar que se chama imaginação. A clarividência de Lampião, esse seu terceiro olho com sua capacidade de "ver" ou de "sentir" o perigo que o ameaçava, não era a única arma mágica de que dispunha para escapar aos seus inimigos. Lampião teria também o dom da invisibilidade, graças a proteções sobre-naturais, às orações fortes que trazia consigo e que podia invocar em situações extremas. Mas esse assunto, deixaremos para um próximo artigo.


http://meneleu.blogspot.com.br/2016/04/o-terceiro-olho-de-lampiao.html

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