Seguidores

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Laser Vídeo - Entrevista com Dona Francisca Silva Tavares

Aderbal Nogueira

No dia 10 de julho deste, em companhia do poeta, escritor e pesquisador do cangaço, Kydelmir Dantas, e José Mendes Pereira, o cineasta e pesquisador do cangaço, Aderbal Nogueira, cearense, fez um documentário em Mossoró, com Dona Francisca Silva Tavares, viúva do ex-cangaceiro Antonio Luiz Tavares - o Asa Branca. 

As fotos abaixo foram feitas pelo próprio cineasta, na residência da entrevistada. O documentário (vídeo) está guardado em seu acervo, que servirá para seus futuros trabalhos. 

Francisca Silva Tavares
Foto de Francisco Tavares da Silva, assassinado aos 24 anos, e seu pai Asa Branca.
Kydelmir Dantas, Dona Francisca Silva Tavares e José Mendes Pereira
Kydelmir Dantas, Dona Francisca Silva Tavares e José Mendes Pereira
O cineasta Aderbal Nogueira, Dona Francisca Silva Tavares e José Mendes Pereira
Aderbal Nogueira, Dona Francisca  Silva Tavares e Kydelmir Dantas
Viviane, neta de Dona Francisca Silva Tavares e do ex-cangaceiro Asa Branca
Antonio Esmeraldo Tavares - Cride, filho de Dona Francisca Silva Tavares e do ex-cangaceiro Asa Branca
Dona Francisca Silva Tavares e a filha Maria Gorete Tavares Barbosa
Dona Francisca e Gorete
Dona Francisca Silva Tavares
Dona Francisca Silva Tavares
Dona Francisca Silva Tavares


Nota bastante importante:


Por que Dona Francisca Silva Tavares, com 75 anos de idade, foi esposa do cangaceiro Asa Branca, que se hoje ele estivesse vivo, estaria com 111 anos?
Resposta: Dona Francisca era a segunda esposa do cangaceiro Asa Branca. Quando ela foi viver com o cangaceiro, estava com 17 anos, e o Asa Branca já passava dos cinquenta anos.


Uma produção da Laser Vídeo -  do cineasta e pesquisador do cangaço: Aderbal Nogueira

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

PENHA

Por: Clerisvaldo B. Chagas -  Crônica Nº 823
Clerisvaldo B. Dantas

Já sim. Já escrevi uma vez sobre a Igreja de Nossa Senhora da Penha, do Rio de Janeiro. Mas agora me bateu uma coisa, um negócio, uma vontade enorme de me referir a Igreja da Penha. Uma defesa de Nossa Senhora levou-me de imediato o pensamento às escadarias daquele penhasco fabuloso. Um dos escolhidos lugares do mundo que desejaria conhecer, estive perto e não pude. Gostaria muito, muito de imitar Gonzaga quando bate a tristeza:

Fonte: Blog da Igreja de Nossa Senhora da Penha.

Demonstrando a minha fé
Vou subir a Penha a pé
Pra fazer minha oração” (...)

“Penha, Penha...
Eu vim aqui me ajoelhar
Venha, venha
Trazer paz para o meu lar”

Localizada na Vila Cruzeiro, no Bairro da Penha no Rio de Janeiro o  santuário católico Igreja de Nossa Senhora de França é popularmente conhecido como Igreja da Penha. Um dos cenários mais bonitos do mundo está ali naquele penhasco com seus 382 degraus, onde muitos fiéis fazem e pagam promessas subindo os batentes a pé ou de joelhos.

“Nossa senhora da Penha 
Minha voz talvez não tenha 
O poder de te exaltar 
Mas dê benção padroeira 
Pra essa gente brasileira 
Que quer paz pra trabalhar”

Na época em que eu quis fazer essa visita, ninguém de fora podia chegar à entrada dos morros. O santuário estava à mercê dos bandidos e os turistas mantinham distância das zonas perigosas. Vou ficando, então, com essa página musical de Luiz Gonzaga, tão bonita quanto “Asa Branca”, o “Baião da Penha”.

“Penha, Penha...
Eu vim aqui me ajoelhar
Venha, venha
Trazer paz para o meu lar...”

Extraído do blog do romancista e cronista:
Clerisvaldo B. Chagas

OS SENHORES DO AÇOITE (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

OS SENHORES DO AÇOITE (Crônica)

A palavra açoite talvez tivesse surgido para agradar o poeta, para animar o vento, para ser exatamente o contrário daquilo que se transformou por muito tempo. Ora, seria muito melhor que servisse apenas para rimar com noite ou para mostrar como a ventania chega voraz.

Na outra vertente que deram a palavra, o açoite tomou medonho sentido. E tão medonho que logo faz lembrar os negros escravos sendo açoitados, daquelas tristes figuras humanas amarradas ao tronco levando chibatada, sendo lanhadas pelos couros cortantes dos seus algozes.

Longe do sentido humano da palavra, logo faz lembrar seus usos e suas nefastas consequências. O arreio num canto, a corda na cintura, a corrente ao alcance, a tira desumana e cortante na proximidade, uma sombra ainda suja de sangue de outras costas pendurada na parede.

Açoite. A noite da face, do corpo, da boca aberta, do gemido do grito. Açoite. A noite na claridade, no meio do tempo, dentro da senzala, no festim dos insanos, nas mãos dos covardes, no curral dos desvalidos, em qualquer lugar. Açoite, rimando com noite, mas somente na cor da dor.


O que é o açoite? Homem branco não conhecia resposta, apenas sabia usar. O negro nem imaginava responder sem sentir passo fúnebre em sua direção. O capataz, o algoz, o senhor-do-mato, o rastreador, o que vai no encalço fugitivo, todo ele sabia muito bem do que se tratava. E tanto era amigo que fazia valer a plenitude mais desumana do seu significado.

Açoite.  Azorrague, chicote, látego, vergasta, chibata, couro, cordame, calabrote, chiqueirá, junco, vara afiada, canaflecha, tudo a mesma coisa: a arma ou instrumento utilizado para açoitar, reprimir e castigar não só os negros rebeldes, fugitivos, indisciplinados, mas também todo trabalhador submetido às ordens de um sanguinário e desumano senhor.

Açoite. Pancada com a chibata, golpe com o chicote, investida na pele desnuda com o azorrague. Instrumento utilizado para diminuir a capacidade do ser humano, para denegrir sua imagem, para submetê-lo, para fazê-lo sentir na pele e no espírito a dor de ser rebelde e desobediente. O açoite como limite da ação humana e como fronteira de sua liberdade.

Tempos tristes aqueles, e tristes tempos também estes ainda sombreados pelo açoite. Na época da escravidão oficial não havia remédio melhor para combater negro safado, astuto, fugitivo, como diziam dentro e ao redor do engenho. Açoitava o rebelde onde fosse encontrado e mais ainda quando já estivesse amarrado ao tronco, no cenário ideal para o festim da desonra humana.

O negro já chegava todo alquebrado dos castigos impingidos desde o instante da captura. Depois de amarrado recebia os primeiros açoites, as primeiras feridas para não esquecer os motivos de estar sendo castigado. Em seguida era levado em cortejo, puxado feito animal bravio e jogado no terreiro das aflições.


Ali no pelourinho do engenho, local ideal para fincar o imenso tronco da correção, o coronel de terno de linho branco era chamado para ordenar os limites do castigo. Para não sujar sua roupa de respingos de sangue, logo apontava o dedo em direção ao carrasco, que geralmente era o feitor, e segredava-lhe ao ouvido.

De repente e os escravos eram trazidos da senzala para rodear o impiedoso tronco da tortura e ali assistir seu irmão de sangue e de sofrimento ser castigado. Aquele que baixasse a cabeça ou fechasse os olhos também era açoitado. Não era difícil que algum negro forte fosse chamado para levantar a chibata e descer no lombo do seu irmão.

A chibata abria ferida no lombo, nas costas e por todo lugar, o sangue espanava em todas as direções e o negro sob ameaça de outro açoite para continuar mortificando aquele que sofria calado, que não gemia, não chorava, não gritava, recolhendo-se apenas no seu silêncio de quase morte.

Depois jogavam por cima água com sal grosso e deixava o negro ali mesmo no meio do tempo. Talvez salgando a carne humana para os urubus. E desse açoite ainda sentimos na pele vestígios e sombras de sua dor.

(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com



1ª Chamada - Fazenda Angico - Poço Redondo - SE - Brasil


Intimou-lhes: Vera Ferreira

lampiaoaceso.blogspot.com

DE ONDE VEM O MITO DE LAMPIÃO

Por: Manoel Severo

Não obstante o fenômeno do cangaço tenha abrangido sete dos nove estados do nordeste, foi o interior pernambucano que deu origem aos mais destacados personagens desta epopéia brasileira; Sebastião Pereira e Virgulino Ferreira. Na verdade ambos nasceram na chamada microrregião do Vale do Pajeú, mas precisamente na cidade de Vila Bela, que a partir de 1942, passou a se chamar Serra Talhada por proposta do interventor de Pernambuco na época, Agamenon Magalhães, filho ilustre do lugar. O Vale do Pajeú é composto por dezessete municípios, tem clima semi-árido na grande maioria de seu território, com exceção da região do chamado “brejo de altitute” onde se localiza a bela Triunfo. Seria ali no Vale do Pajeú, com seus municípios e vilarejos, entre os quais: Afogados da Ingazeiras, São José do Egito, Solidão, Santa Cruz da Baixa Verde, Flores, onde se desenrolariam os primeiros atos da sinfonia cangaceira de Lampião.

Lampião por telaetinta.com. br

Não obstante o fenômeno do cangaço tenha abrangido sete dos nove estados do nordeste, foi o interior pernambucano que deu origem aos mais destacados personagens desta epopéia brasileira; Sebastião Pereira e Virgulino Ferreira. Na verdade ambos nasceram na chamada microrregião do Vale do Pajeú, mas precisamente na cidade de Vila Bela, que a partir de 1942, passou a se chamar Serra Talhada por proposta do interventor de Pernambuco na época, Agamenon Magalhães, filho ilustre do lugar. O Vale do Pajeú é composto por dezessete municípios, tem clima semi-árido na grande maioria de seu território, com exceção da região do chamado “brejo de altitute” onde se localiza a bela Triunfo. Seria ali no Vale do Pajeú, com seus municípios e vilarejos, entre os quais: Afogados da Ingazeiras, São José do Egito, Solidão, Santa Cruz da Baixa Verde, Flores, onde se desenrolariam os primeiros atos da sinfonia cangaceira de Lampião.

Os maiores destaques do Vale do Pajeú, sem dúvidas eram os municípios de Triunfo e Vila Bela. Triunfo, uma bela cidade serrana onde se localiza o ponto mais alto do estado de Pernambuco (1.004 metros), região brejeira, possuia uma economia baseada na agromanufatura de rapadura e no minifúndio, dessa forma possuia uma vida um tanto mais urbanizada e de comércio mais organizado e desenvolvido que Vila Bela, sua elite política e intelectual composta de comerciantes, médicos e juristas se distinguiam da de Vila Bela formada basicamente pelos coronéis do gado; a aristocracia rural; que com o desenvolvimento da pecuária bovina e caprina juntamente com a agricultura eram a base da economia vilabelense. Ali estariam o berço dos irmãos Ferreira, Antônio, Livino e Virgulino, ligados ao clã dos Pereira, que ao lado dos Carvalho, disputavam o poder político local.

Caravana Cariri Cangaço em Serra Telhada: 
Severo, Jack de Witt, Anildomá, Bosco André e Zé Cícero

Muito se tem estudado sobre o real caráter do cangaço: suas origens, implicações, correlações, enfim. Historiadores, sociólogos, antropólogos, médicos, acadêmicos como um todo; escritores, curiosos, enfim têm se dedicado ao longo dos últimos anos ao estimulante e desafiador estudo sobre o que realmente representou tão emblemático fenômeno nordestino. É natural que as causas principais de tão comentado fenômeno estejam ligadas às condições sociais a que os sertanejos nordestinos do início de século estavam submetidos. As desigualdades sociais inerentes a uma política desastrosa de ocupação da terra; nascida com certeza, desde a colonização e as famosas sesmarias; que privilegia os grandes latifúndios; as constantes épocas de estiagem e pobreza, a ausência de um poder central forte e atuante diante das mais elementares demandas da pobre gente do sertão, concentrando de forma exacerbada o poder dos famosos coronéis de barranco, sujeitos à expropriação e à exploração, às injustiças, à violência, enfim; entretanto, esse seria apenas o pano de fundo de um fenômeno que não se encerra nos pontos acima citados.
Seriam os cangaceiros vingadores dos oprimidos? Seriam os cangaceiros elementos que estavam a serviço da justiça social e de uma melhor distribuição de terra? Seria o cangaço um movimento armado que nasceu para combater o poder dos coronéis, ou seriam apenas indivíduos de natureza condenável que diante de circunstancias desfavoráveis passaram a fazer parte do mundo do crime?

Bando de Lampião enquanto fotografado pela epopéia de Abrahão Benjamim

Podemos nos deter sobre vários correntes de estudo. Uma delas tem como referência o trabalho do renomado historiador britânico; nascido no Egito; Eric Hobsbawm, em seus livros Primitive Rebels, de 1959, e Bandits de 1969. Principalmente neste último, com a tese do Banditismo Social, que é enfocado como uma forma de resistência camponesa, sendo um fenômeno universal, uma vez que segundoHobsbawm, os camponeses teriam todos eles um modo de vida muito parecido, pela forma como se davam suas relações de trabalho e sociais, deste modo se traçariam as similaridades com os sertanejos do nordeste brasileiro; notamente de formação populacional eminentemente rural. Ainda recorrendo a Hobsbawm definiríamos a delinqüência rural em três tipos de bandidos: o nobre, tipo Robin Hood; os guerrilheiros primitivos; e o vingador. Temos ainda o antropólogo e estudioso holandês Anton Blokque em um artigo de 1972 critica em alguns pontos o modelo do banditismo social deHobsbawm, quando enfatiza que as populações rurais na verdade foram muitas vezes vítimas dos bandidos, que atendiam na verdade aos interesses das elites dominantes, em detrimento dos mais humildes, elites essas sem as quais não se sustentariam.

Em tese o cangaço poderia até ser compreendido como um movimento criado para combater a dominação dos coronéis; o que vamos observar, no entanto, é que acabaria sendo estabelecida uma relação simbiótica entre as partes; teoricamente de interesses contrários; cangaceiros e coronéis tornaram-se parte de um mesmo corpo, corpo doente e nocivo, um dependendo do outro, e que muito mal acabou causando principalmente aos mais humildes deste lado do Brasil. É interessante pontuar que os cangaceiros não defendiam apenas e unicamente os interesses da elite dominadora, eles próprios tinham seus interesses e motivos; nobres ou não; e lutavam por eles. Já os coronéis absortos em sua sede permanente de poder, precisavam estar sempre atentos ás suas próprias disputas contra famílias e clãs concorrentes, aqui abrimos um parêntese para ilustrar o caso mais emblemático que era a disputa dos clãs Pereira e Carvalho, no Vale do Pajeú. Devido à fraqueza do Estado na época e à dificuldade que este tinha em chegar a regiões mais remotas do país, como o sertão nordestino, os conflitos, nessa região, eram resolvidos de acordo com a lei do mais forte, daí a aliança com os grupos cangaceiros ser vital para a manutenção de poder.

Dentro de meu humilde esforço de curioso sobre o tema; para contextualizar social e antropologicamente o fenômeno do cangaço, acho interessante observar algumas considerações desenvolvidas por outros estudiosos e pesquisadores com relação ao fenômeno, mas me permito deter-me para encerrar esse pequeno artigo, a Carlos Alberto Dória, quando provoca: “o cangaço perpetuou-se na cultura nacional como elemento de nossa mitologia heróica. E Lampião, símbolo de primeira grandeza neste quadro, continua a ser uma individualidade polêmica...”

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço

Extraído do blog do professor e pesquisador do cangaço:
Honório de Medeiros