Por Ruy Lima
Na época do
cangaço, era comum, no Sertão, e em alguns outras regiões, os filhos dos
camponeses trabalharem “no pesado” ainda meninos, cuidando dos animais,
trabalhando com enxada nos roçados e praticando atividades como caça, pesca,
derrubada de boi e outras que os adultos realizavam. Muitos deles não tiveram a
oportunidade de frequentar a escola, como foi o caso dos irmãos de Lampião e da
maioria dos cangaceiros.
Na zona urbana
interiorana também era comum os meninos de família pobre e até mesmo da classe
média, trabalharem cedo, muitas vezes como autônomos, vendendo fogos na feira,
na época do São João, passando jogos de bicho, engraxando sapatos ou prestando
serviços como vendedores e embaladores em mercearias (budegas), lojas, ou como
borracheiros, mecânicos, etc.
Assim como a
meninada da zona rural, eles fabricavam os próprios brinquedos como caminhões
de madeira (a cabine era feita com lata de óleo de cozinha), papagaios (pipas),
pessoas e animais de barro, entre outros, além de “armas” como baleadeiras
(estilingues), anzol, arco, flecha, etc. Eu mesmo, matuto urbano, praticava
quase tudo isso.
Lembro que uma
tia minha (hoje, com mais de 90 anos de idade) dizia que eu nunca fui menino,
sempre fui homem (modéstia à parte). Brabo que só um coelho.
O certo é que
o sertanejo já era considerado homem – ou cabra macho de verdade - ainda menino
ou adolescente.
Preparei uma
pequena relação dos cangaceiros e dos policiais das forças volantes que
iniciaram na vida de guerreiro muito jovens, muitos deles tendo praticado
alguns dos serviços acima. A relação contém, em especial, os cangaceiros e
membros das volantes que mais se destacaram.
Ruy Lima 19/06/2018
CANGACEIROS -
ANTERIORES A LAMPIÃO
1. O CABELEIRA
– José Gomes (1751-1776). Pernambucano, de Glória do Goitá, 60 Km do Recife.
Entrou para a vida de cangaço com 24 anos de idade. Foi enforcado no Recife, em
1976, com 25 anos de idade.
2. JESUINO
BRILHANTE - Jesuino Alves de Melo Calado (1844-1879). Norte-riograndense, de
Patu, 350 Km de Natal. Entrou para a vida de cangaço com 27 anos de idade. Foi
morto em 1879, com 35 anos de idade.
3. ANTÔNIO
SILVINO – Manoel Batista de Morais (1875-1944). Pernambucano, de Afogados da
Ingazeira, 379 Km do Recife. Entrou para a vida de cangaço com 19 anos de
idade. Deixou, ao ser preso, em 27/11/1914, com 39 anos de idade. Faleceu em
1944, na casa de uma prima, em Campina Grande-PB.
4. SINHÔ
PEREIRA – Sebastião Pereira da Silva (1896-1979). Pernambucano, de Serra
Talhada, 415 Km do Recife. Entrou para a vida do Cangaço em 1916, com 20 anos
de idade. Deixou, em 1922, aos 26 anos de idade, passando o comando do bando
para Lampião. Faleceu, de causas naturais, em 1979, em Lagoa Grande-MG.
5. LUIZ PADRE
– Luiz Pereira da Silva Jacobina (1891-1965). Pernambucano, de São José do
Belmonte, 475 Km do Recife. Entrou no bando do seu primo, Sinhô Pereira, com
presumivelmente, 25 anos de idade. Deixou, em 1922, com 31 anos de idade e
faleceu, em 1965, em Goiás, devido a uma operação malsucedida de vesícula.
CANGACEIROS DA
ÉPOCA DE LAMPIÃO
1. LAMPIÃO -
Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938). Pernambucano, de Serra Talhada, 415 Km
do Recife. Entrou no bando de Sinhô Pereira, em 1921, aos 22 anos de idade. Foi
morto pela volante do então tenente João Bezerra, em 1938, na grota de Angico,
Poço Redondo, Estado de Sergipe.
2. LIVINO
FERREIRA DA SILVA (1896-1925), vulgo “Vassoura”. Pernambucano, de Serra
Talhada, 415 Km do Recife. Entrou para o cangaço junto com os seus irmãos
Virgulino (LAMPIÃO) e Antônio, aos 24 anos de idade. Foi o primeiro dos Ferreira
a morrer em combate com a polícia, no caso, pela Força Policial paraibana, em
Flores/PE, no dia 4 de julho de 1925.
3. ANTÔNIO
FERREIRA DA SILVA (1895-1927), vulgo “Esperança”. Pernambucano, de Serra
Talhada, 415 Km do Recife. Irmão mais velho de Lampião. Entrou no cangaço junto
com os seus irmãos Virgulino e Livino, com 25 anos de idade. Morreu em 1927 num
acidente provocado por uma brincadeira, disputando uma rede com Luiz Pedro,
quando o fuzil deste bateu com a coronha no chão e disparou um tiro fatal
matando-o. Luiz Pedro foi um dos integrantes do estado maior de Lampião, ao
qual jurou acompanhar até o fim, por tê-lo perdoado da morte do irmão. Morreu
junto com o “capitão”, em 1938, no massacre de Angico.
4. EZEQUIEL
FERREIRA DA SILVA (1908-1931), conhecido como “Ponto Fino”. Pernambucano, de
Serra Talhada, 415 Km do Recife. Entrou no bando de Lampião, seu irmão, com
menos de 18 anos de idade. Morreu, em 1931, com 23 anos idade, em combate, sob
as balas da metralhadora do tenente Arsênio, da PM da Bahia.
5. VOLTA SECA
- Antônio Alves de Souza (1918-1997). Sergipano, de Itabaiana, 57 Km de
Aracaju. Entrou no bando de Lampião com apenas 11 anos de idade. Foi peso em
1932, com 14 anos de idade e levado para a Casa de Detenção da Bahia, onde
cumpriu 20 anos de prisão.
6. JARARACA –
José Leite de Santana (1901-1927). Pernambucano, de Buique, 274 Km do Recife.
Foi soldado do Exército, entrou no bando de Lampião em 1926, com 21 anos de
idade, por um período muito curto, pois foi preso no frustrado ataque do bando
à cidade de Mossoró-RN, em junho de 1927 e, após 4 dias de prisão, foi morto
sumariamente pela polícia, sem julgamento.
7. CHICO
PEREIRA (1900 - 1928). Paraibano, de Sousa, 433 Km de João Pessoa. Entrou para
a vida do cangaço com 22 anos após matar o assassino do seu pai. Não pertenceu
ao bando de Lampião, mas se aliou a este para saquear a cidade de Sousa/PB. Foi
morto aos 28 anos de idade, barbaramente, pela polícia do Rio Grande do Norte,
enquanto era conduzido prisioneiro.
8. CORISCO –
Cristino Gomes da Silva Cleto (1907-1940). Alagoano, de Água Branca, 309 Km de
Maceió. Também foi soldado do Exército e entrou no bando de Lampião em 1926,
com 19 anos de idade. Quando Lampião dividiu o bando em grupos, o grupo
comandado por Corisco foi o mais importante de todos. Também apelidado de o
Diabo Louro, além de comparsa, era muito amigo de Lampião o qual o chamava de
compadre. Foi morto em 5 de maio de 1940 na região de Brotas de Macaúbas, pela
volante de Zé Rufino, atingido por uma rajada de metralhadora.
FORÇAS VOLANTES
- MILITARES (últimas patentes)
1. THEOPHANES
FERRAZ TORRES (1894-1933). Pernambucano, de Floresta, 431 Km do Recife.
Tenente-Coronel da Força Pública de Pernambuco (atualmente Polícia Militar de
Pernambuco). Início: 1912 aos 17 anos. Aos 20 anos, incompletos, na patente de
Alferes (hoje segundo-tenente) prendeu o cangaceiro Antônio Silvino, em
27/11/1914. Faleceu em 11/09/1933, tendo apenas 38 anos e 9 meses de idade.
2. JOSÉ
CAETANO DE MELO (1872-1964). Pernambucano, de Pesqueira. Capitão da Força
Pública de Pernambuco. Início: 1893, aos 21 anos de idade. Faleceu em
Angelim/PE, em 1964.
3. JOÃO
BEZERRA DA SIlVA (1898-1970). Pernambucano, de Serra da Colônia, Afogados da
Ingazeira. Coronel da Força Pública do Estado de Alagoas. Início: 1919, aos 21
anos de idade. Primo em segundo grau do cangaceiro Antônio Silvino. Foi o
comandante da volante, como tenente, que aniquilou Lampião, Maria Bonita e mais
nove cangaceiros, incluindo o “subcomandante” do bando, Luiz Pedro e a
cangaceira Enedina, em 28/07/1938, na grota de Angico, Poço Redondo-SE.
4. OPTATO
GUEIROS (1894-1957). Pernambucano. Major da Força Pública de Pernambuco.
Início: 1921 (presumivelmente) aos 23 anos de idade.
5. MANOEL DE
SOUZA NETO (1901-1979). Pernambucano de Algodões, Município de Floresta. Coronel
da Força Pública de Pernambuco. Início: 1922, aos 21 anos de idade.Conhecido
como MANÉ NETO.
6. JOSÉ RUFINO
- José Osório Farias- (1906-1969). Pernambucano. Início: 1934, aos 28 anos de
idade. Conhecido como ZÉ RUFINO. Coronel da Força Pública da Bahia. Matou, com
sua volante, o cangaceiro Corisco, em 1940.
FORÇAS
VOLANTES - CIVIS
OS NAZARENOS
Meninos de 15
a 16 anos. Faziam parte da volante conhecida como Nazarenos, como eram
chamados, por morarem na Vila de Nazaré/PE, hoje Nazaré do Pico, distrito de
Floresta/PE.
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