Nome:
CARVALHO, Erônides de
Nome Completo:
ERONIDES FERREIRA DE CARVALHO
Tipo:
BIOGRAFICO
Texto
Completo:
CARVALHO,
Erônides de
*militar; rev.
1930; gov. prov. SE 1930; gov. SE 1935-1937; interv. SE 1937-1941; juiz TSN
1942-1943.
Erônides
Ferreira de Carvalho nasceu em Canhoba, então povoado do município de Propriá
(SE), no dia 25 de abril de 1895, filho de Antônio Ferreira de Carvalho e de
Balbina Mendonça de Carvalho.
Realizou seus
estudos básicos em Maceió, no Colégio 11 de Janeiro e no Liceu Alagoano, onde
concluiu o secundário em 1910. No ano seguinte, matriculou-se na Faculdade de
Medicina da Bahia e, pouco tempo depois, começou a trabalhar em atividades
ligadas ao curso que freqüentava. Foi auxiliar de laboratório da cadeira de
terapêutica, estagiário do Hospício São João de Deus, diretor da Beneficência
Acadêmica e auxiliar de clínica hospitalar do cirurgião Antônio Borja, seu
professor. Diplomou-se em 1917, defendendo a tese intitulada Do ópio em
terapêutica mental, aprovada com distinção, tornando-se assim membro da
Sociedade Médica dos Hospitais da Bahia.
Em novembro de
1918 foi nomeado diretor-geral interino de Higiene e Saúde Pública de Sergipe,
dirigindo os trabalhos de profilaxia da epidemia que ficou conhecida como
“gripe espanhola”. Diretor interino do posto de assistência pública do estado
durante o ano de 1919, Erônides exerceu as funções de inspetor médico do
sistema escolar entre fevereiro e outubro do ano seguinte, quando foi
comissionado para representar seu estado natal no Congresso de Proteção à
Infância que seria realizado no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Em
virtude do adiamento desse conclave, Erônides recebeu a missão de estudar o
funcionamento do Serviço de Inspeção Médica Escolar do estado de São Paulo.
Em agosto de
1921, foi nomeado para o corpo de veterinários do Serviço de Indústria
Pastoril, ligado ao Ministério da Agricultura Indústria e Comércio, passando a
exercer essas funções em seu estado natal. Aprovado em concurso para o Corpo de
Saúde do Exército em fevereiro de 1923, foi classificado como segundo-tenente
no 1º Regimento de Cavalaria Independente, localizado em Bela Vista (MT). Dois
meses depois, foi transferido para o 28º Batalhão de Caçadores, em Aracaju, e,
no ano seguinte, tornou-se primeiro-tenente. Nessa patente, acompanhou as
tropas que, em 1926, perseguiram a Coluna Prestes em sua passagem pelo
Nordeste.
Ingresso na
política
A Revolução de
1930, no Nordeste, teve início na Paraíba, onde se encontrava o capitão Juarez
Távora, seu principal articulador na região, e um importante grupo de oficiais
ligados ao movimento tenentista. Depois da ocupação da capital paraibana, as
colunas rebeldes marcharam para o sul, conseguindo adesões e depondo,
sucessivamente, os governos de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. A unidade
em que Erônides de Carvalho servia colocou-se ao lado dos revolucionários e, em
17 de outubro, com a deposição de Maurício Graco Cardoso, presidente de
Sergipe, Erônides assumiu o governo estadual, entregando-o três dias depois ao
general José de Calasans, conforme critério adotado por Juarez Távora.
No dia 24 de
outubro, consolidou-se a vitória da revolução com a deposição, no Rio, do
presidente Washington Luís, e em 16 de novembro Augusto Maynard Gomes — líder
de duas sublevações militares em Sergipe na década de 1920 — foi nomeado
interventor federal no estado.
Nos anos
seguintes, descontente com a administração estadual, Erônides de Carvalho
passou a fazer oposição ao interventor, consolidando essa opção quando, em fins
de 1932, o Governo Provisório chefiado por Getúlio Vargas convocou eleições
para a formação de uma Assembléia Nacional Constituinte. Nessa época, Erônides,
Gonçalo Rollemberg do Prado e Augusto César Leite foram os principais
articuladores da União Republicana de Sergipe, fundada em 5 de março de 1933,
enquanto Maynard Gomes apoiou a criação do Partido Republicano de Sergipe, que
indicou candidatos à Constituinte pela lista “Liberdade e Civismo”. Nas
eleições, realizadas em maio de 1933, Erônides de Carvalho, promovido a capitão
no mês anterior, tornou-se suplente de Augusto César Leite, único deputado
eleito na legenda de seu partido para a bancada sergipana na Constituinte,
composta de oito membros.
Entretanto, em
outubro de 1934 a União Republicana de Sergipe obteve a maioria das cadeiras da
Assembléia Constituinte estadual que, em março do ano seguinte, encerrou seus
trabalhos elegendo Erônides de Carvalho para governador. Inconformado com esse
resultado, Maynard Gomes, a princípio, recusou-se a transmitir o cargo para seu
sucessor, sem contudo conseguir impedir sua posse.
No governo do
estado
No início de
sua gestão, Erônides de Carvalho procurou saldar o débito do estado para com o
Banco do Brasil, herdado da administração anterior, cujos atos foram
sistematicamente desfeitos pelo novo governo. Baseado em pareceres do
ex-presidente Epitácio Pessoa e dos juristas Heráclito Sobral Pinto e Mendes
Pimentel, o governador anulou os decretos de criação do Tribunal de Contas e de
alteração do funcionamento do Tribunal de Justiça, então chamado de Corte de
Apelação do Estado, aumentando o número de desembargadores. Realizou também
melhorias na Biblioteca Pública e reaparelhou a imprensa oficial, além de
construir escolas, estradas, pontes, a cidade de menores “Getúlio Vargas” e o
quartel do Corpo de Bombeiros. Vinculado profissionalmente à área de saúde pública,
Erônides de Carvalho ampliou significativamente a capacidade da rede hospitalar
do estado e realizou uma reforma geral no sistema de esgotos da capital.
Conseguiu também uma verba de trezentos contos de réis da Câmara Federal para
aumentar o combate ao banditismo que agia no interior do estado, especialmente
o bando de Lampião.
Em novembro de
1935, ofereceu ao presidente da República tropas da Polícia Militar de Sergipe
para colaborarem na repressão ao levante comunista deflagrado nesse mês em Natal,
Recife e Rio de Janeiro. Rapidamente dominada, a rebelião deu lugar a uma das
maiores ondas de repressão até então havidas no país submetido ao estado de
sítio e, depois, ao estado de guerra até junho de 1937. Erônides determinou a
realização de diligências policiais para descobrir possíveis ramificações da
sublevação em Sergipe, concluindo que elementos ligados ao ex-interventor
Maynard Gomes, seu adversário político, estavam envolvidos com os comunistas.
Baseado nessas considerações, escreveu ao presidente Getúlio Vargas,
solicitando a transferência de alguns oficiais que não gozavam de sua
confiança. J. Pires Wynne, em seu livro História de Sergipe, nega a existência
de qualquer vínculo entre Maynard Gomes e os comunistas, lembrando que, mais
tarde, ele integrou o Tribunal de Segurança Nacional, encarregado de julgar os
envolvidos no levante de 1935.
Em março de
1936, Erônides de Carvalho viajou para o Rio de Janeiro a fim de obter auxílio
para o combate aos efeitos das secas e enchentes que assolavam regiões do
estado, bem como para a realização de obras na barra de Aracaju, conseguindo a
quantia de seiscentos contos para iniciar a dragagem. Em 1937, posicionou-se a
favor da candidatura de José Américo de Almeida às eleições presidenciais
previstas para o ano seguinte. Apesar de apoiar oficiosamente esse candidato,
Vargas já articulava um golpe de Estado de caráter continuísta e, no início de
outubro desse ano, conseguiu autorização do Congresso para decretar novamente o
estado de guerra sob a alegação de que havia sido descoberto o chamado Plano
Cohen, pretensamente elaborado pelos comunistas visando à tomada violenta do
poder. Conforme comprovação posterior, tratava-se de um documento forjado,
utilizado pelo governo e sua alta cúpula militar para favorecer a concretização
do projeto golpista.
Erônides de
Carvalho foi nomeado executor, em Sergipe, dos poderes excepcionais conferidos
ao Executivo durante a vigência do estado de guerra, o mesmo acontecendo com
todos os outros governadores estaduais, à exceção dos de São Paulo, Rio Grande
do Sul e do prefeito do Distrito Federal. Em fins desse mês, o deputado
Francisco Negrão de Lima, secretário-geral do comitê diretor da campanha
eleitoral de José Américo, visitou vários estados do Norte e Nordeste, inclusive
Sergipe, em missão secreta com o objetivo de arregimentar, em nome do governo
federal, o apoio dos governadores ao golpe de Estado que, em 10 de novembro,
implantou o Estado Novo, decretando a suspensão das eleições e o fechamento do
Legislativo e dos partidos políticos.
Partidário do
novo regime, Erônides foi confirmado no posto, convertido em interventor
federal em Sergipe. Na nova fase de sua gestão, vários estudantes foram presos
e condenados pelo Tribunal de Segurança Nacional, encarregado do julgamento dos
opositores do Estado Novo.
Substituído
pelo capitão Mílton Pereira de Azevedo em junho de 1941, Erônides de Carvalho
declinou do convite para se tornar adido comercial brasileiro em um país
africano, sendo então nomeado, em março de 1942, para a vaga de Maynard Gomes
no Tribunal de Segurança Nacional, representando o Exército. Integrou o corpo
de juízes desse tribunal até agosto de 1943, ano em que foi promovido a major
médico, transferido para a reserva e nomeado tabelião do 14º Ofício de Notas da
Justiça, no Rio de Janeiro.
Em 1945, com a
reorganização da vida política nacional, tornou-se presidente do diretório
regional de Sergipe e membro do diretório nacional do Partido Social
Democrático (PSD).
Em fevereiro
de 1952, foi promovido a tenente-coronel na reserva.
Faleceu no Rio
de Janeiro em 19 de março de 1969.
Foi casado com
Ivete de Melo Góis.
Publicou
discursos e relatórios técnicos sobre saúde pública. Seu correligionário
Augusto César Leite escreveu Em defesa do governador Erônides de Carvalho
(1937).
Robert Pechman
FONTES: ARQ.
GETÚLIO VARGAS; ARQ. MIN. EXÉRC.; ARQ. PÚBL. EST. SE; ASSEMB. NAC. CONST. 1934.
Anais; CABRAL, O. História; Correio da Manhã (15/6/39); Diário do Congresso
Nacional; Encic. Mirador; GUARANÁ, M. Dic.; INST. NAC. LIVRO. Índice; PEIXOTO,
A. Getúlio; POPPINO, R. Federal; SILVA, H. 1937; WYNNE, J. História.
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