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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

JUNIOR ALMEIDA: A VOLTA DO REI DO CANGAÇO NO FESTIVAL DE INVERNO DE GARANHUNS


O livro custa 45,00 Reais

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SER GENTE, SER POVO E SER HUMANO

Por Rangel Alves da Costa*

O ser humano deveria ser gente e ser povo; o povo deveria ser gente; e gente deveria ser cada vez mais humana. O mundo necessita de gente humana, de seres realmente humanos. O que faz com que gente não goste de gente, que povo odeie outro povo, que o ser humano se contradiga tanto a cada passo?

Criados para a pacificidade, de repente a liberdade humana se transformou em arma contra o próprio ser humano. O homem, ao preferir trilhar o caminho inverso aos bons valores, acabou por transmudar o seu meio numa selva brutal. Daí o homem ser lobo do próprio homem, ser o algoz de sua espécie, ser aquele que pensa no próximo como inimigo.

O senso de humano deveria estar cada vez mais presente em cada um enquanto gente e em cada sociedade enquanto povo. Não se admite que gente seja apenas gente e povo apenas povo, sem a característica maior do humano. Como tudo se entrelaça para caracterizar o viver e o fazer humano, tal contexto não deveria ser desvirtuado em nome de crenças, religiões, preconceitos, discriminações, ódios pessoais ou quaisquer coisas que ameaçassem a estadia humana sobre a terra.

Mas vamos aos conceitos, lembrando apenas que serão vistos de modos específicos e não na totalidade de suas compreensões, vez que, por exemplo, o significado de gente tanto pode dizer respeito à população em geral como a pessoas desse povo. Contudo, será visto de modo mais restrito ainda.

Gente, pois, é visto aqui como o indivíduo, o homem ou a mulher, vivendo em comunidade, dotado de inteligência, com poder de raciocínio e reflexão. Aquele que faz parte do gênero humano e que se individualiza perante os demais. Eu sou gente, você é gente, e assim deve ser visto.

Povo, por sua vez, deve ser visto como o conjunto da população, como os habitantes de um país, de uma cidade, de uma localidade. É um conjunto de indivíduos, de pessoas. Entretanto, para os fins aqui almejados, povo é a condição humana existente nas pessoas, é a sua capacidade de ser reconhecido pelas suas ações.


Neste sentido, se poderia dizer que gosta do cheiro de povo, que aprecia a atitude e a determinação do povo, que não pactua com a escolha do povo. Ou ainda, com relação a gente, que gosta do jeito de ser de determinada pessoa, que se sente bem em meio a gente educada. Assim, gente possui a conotação de pessoa, de indivíduo de sujeito.

Já o ser humano é a espécie humana. Ser enquanto indivíduo dotado de atributos humanos. Neste sentido é que se diferencia do animal e irracional e possui prevalência na cadeia da existência, exatamente por ser racional. Ou ao menos assim deveria ser, tão humano quanto a sua espécie, tão inteligível quanto à sua capacidade de raciocinar sobre o bem e o mal.

O humano distingue a gente e o povo do reino da irracionalidade. Não basta haver nascido de pai e de mãe, do sexo masculino ou feminino, ou mesmo híbrido, e não carregar em si o senso humanista. E ser humano implica em humanizar-se sempre e sempre mais, já sair do leito com a noção de servir e compartilhar, de ser socialmente útil, de tornar-se reconhecido como pessoa e não como bárbaro.

De pouca valia se tem que o mundo esteja cheio de gente, e de uma gente que forma o povo, se esta gente e esse povo apenas vivem sem se reconhecerem nos fundamentos da existência. Ora, se existem é porque nasceram com objetivos e finalidades, com caminhos a serem percorridos. Ao surgirem como dádivas da criação, no mundo foram colocados como promessas do bem e para o bem. E não para que transgridam a criação.

Talvez seja difícil compreender assim, mas todos possuem, na essência, o dom da existência, do conhecimento e do senso de comunhão, porém optam por irracionalidades. O ódio ao invés do perdão, a intriga ao invés da concórdia, o ciúme ao invés da compreensão, a agressão ao invés da proteção. Infelizmente é assim que o homem se pauta no seu lidar com a vida e com o seu semelhante.

Ainda que conheça as consequências das más escolhas e dos comportamentos de vida, ainda assim o ser humano acaba optando pelo individualismo, por atitudes egoístas e pela deturpação do caráter natural. Como se num mundo de concorrências pessoais, onde cada um quer se sobrepor ao outro para mostrar que é melhor, o resultado são confrontos e derrotados de todos os lados. E isto, irremediavelmente, leva a mundo desumanizado em todas suas vertentes.

Como visto, tanto povo como gente e ser humano fazem parte de um mesmo contexto de vida e de existência. O surgimento da espécie foi para a paz, para a comunhão, o amor e o respeito. Não se admite a opção pelo mal quando todos se ressentem das tantas maldades existentes. Contudo, falta o compromisso de cada um perante a sua própria vida e o viver de todos.

Escritor
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A NATUREZA AGRADECE

Por Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2017 - Escritor Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.625

A Natureza agradece sim, a boa notícia sobre desmatamento zero na Mata Atlântica de São Paulo e em mais seis estados. Mas criou-se uma mística em torno da Mata Atlântica (Floresta Tropical) e da Floresta Equatorial (Amazônica) que tem prejudicado outros biomas. Quer saber? É só a fiscalização passar o olho nos quintais das padarias do interior. Pátios cheios de material nobre da caatinga.

Exemplar da Mata Atlântica. Foto: (Governo).

Mas a boa notícia oriunda de São Paulo faz-nos refletir não somente sobre as planuras da caatinga, mas as áreas de encostas de inúmeras serras importantes do sertão do Nordeste. E como exemplo da nossa própria terra, apontamos Gugi e Poço.

Serra do Gugi, outrora oásis, uma Zona da Mata dentro do Sertão nas proximidades do povoado São Félix. Imortalizada também pelo escritor santanense Oscar Silva (Fruta de Palma) foi descrita como um paraíso que Deus deixou no mundo. Além das cigarras cantadeiras em árvores gigantes, frutas como jabuticabas, mangas, sapotis e até mesmo cana-de-açúcar com seus engenhos banguês não resistiram aos novos tempos.

A serra do Poço, avistada do centro de Santana do Ipanema como um grande muro de 500 metros de altura, abastecia a cidade de frutas. Rodeada de mata robusta de encosta à semelhança do Gugi, estendia seus pomares no topo que se estirava até o município de Poço das Trincheiras. Nas feiras semanais de Santana era bastante afirma que a laranja, a jaca, a banana ou mesmo a fava e o feijão guandu eram originários da serra do Poço. Garantia forte de japonês.

O desmatamento em ambos os lugares são as notícias contrárias às anunciadas acima. Complementa a tristeza, a descendência dos serranos que trocaram as alturas pelas luzes da cidade. Os velhos sem os familiares no campo deixaram de produzir. E os frutais que não foram renovados ficaram caducos e isolados em nova paisagem devastada. Das lembranças coloridas restam somente as altitudes do Poço e do Gugi. Uma recordação chorosa.



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UM HOMEM DE CORAGEM QUE DEVERIA SER CONSIDERADO COMO O MAIS VALENTE DOS TEMPOS DO CANGAÇO.

Por José Mendes Pereira

Nas histórias que foram escritas por pessoas habilitadas, principalmente aquelas conhecedoras sobre o grande movimento dos cangaceiros do Nordeste do Brasil, no início do século XX, aparecem muitos facínoras que participaram das crueldades com os sertanejos, considerados como homens que foram valentes ao extremo e perversos, capazes de morrerem na luta, enganchados como se diz,  contra os poderosos e contra quem tentassem desmoralizá-los, bem dizendo: “o risco que corre o pau corre o machado”! 

Zé Saturnino o maior inimigo de Lampião

Mas na minha opinião (que nada disto que escrevi vale para a literatura lampiônica), não existiu um homem mais corajoso no tempo do cangaço, sem temer aos seus perseguidores, sem recuar um só instante, do que o proprietário da Fazenda Pedreira, o senhor Zé Saturnino.

Achando-se desmoralizado pelas as acusações feitas pelos Ferreira, principalmente por Virgolino Ferreira da Silva o futuro Lampião, afirmando ser ele o responsável pelos furtos de animais do seu rebanho, o Zé Saturnino foi à luta contra os três irmãos, que não existe ninguém mais valente do que irmãos juntos. Para salvar um irmão, o outro é capaz para tudo, e o Zé Saturnino em nenhum momento, temeu enfrentar os irmãos Ferreira, o Antonio, Lampião e Levino.

Este, sim, é merecedor do título de herói e de valente, herói e de valente de verdade, herói e de valente, porque não se curvou diante dos ataques praticados pelos irmãos Ferreira, herói e de valente, porque não baixou o lombo para os irmãos Ferreira baterem. Herói e de valente, porque quase não tinha parentes ao seu lado, só alguns amigos, que ele não podia confiar neles, porque, a qualquer momento, poderiam o deixar sozinho, isto é, fugirem da guerra e abandoná-lo.

Valeu, seu Zé Saturnino! O senhor foi e é o homem mais valente do tempo do cangaço, por isso é merecedor do título de herói, por salvar a sua honra, enfrentando os Ferreira.

Lógico que por eu ter acompanhado as suas brigas com os Ferreira se for o que ouvi dizer, o senhor me perdoe, eu fico do lado dos Ferreira. 

Eu não tenho autoridade para nada em relação ao cangaço, mas sem ninguém saber e não precisa o senhor dizer a ninguém, eu te dou o título de herói e de valente no mundo do cangaço. 

Enfrentar os Ferreira seu Zé Saturnino, não era para qualquer um não! Tinha que ser corajoso,  e o senhor tinha coragem de sobra.

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PAPO FURADO – O QUE VALE É A CONVERSA NÃO REVELADA DOS BASTIDORES

Por Alfredo Bonessi

Conversa de dirigente de qualquer país do mundo, ao público em geral, manifestando intenções governamentais, não se pode dar crédito. Nem mesmo acordos e tratados, assinados publicamente, entre dirigentes de estados, na frente da mídia, para todo mundo ver, não devem ser levados a sério. Eles não são cumpridos. Tudo são jogos políticos.

“Quem faz barulho é fraco”. Demonstra que está inseguro. Quer impressionar.

Um dirigente que se deixa levar por essa onda de “eu posso” – “eu quero” – “eu faço” – é um indivíduo inexperiente, cuja administração irá fracassar: vai dar com os burros na água (ditado nosso).

Assim foi Trump em toda a sua vida: se atirava nos negócios, sem medir as conseqüências. Quebrou duas vezes e ficou rico três vezes – é um cara de sorte. No momento da campanha, estava em cima.

A sua impetuosidade é tanta que resolveu se candidatar à Presidência dos Estados Unidos da América, mais como “eu posso”, do que “se eu ganhar, vou ajudar a meu país”.  Ganhou por um golpe do destino, e porque enfrentou uma mulher que foi um fracasso como secretária de estado e que foi pega com irregularidades durante o exercício de suas funções públicas. Lá nos EUA quem resvala, caí.

Eu acho que Trump entrou em uma fria. Ele que era mandão e folgazão e podia tudo e era obedecido por auxiliares que lhe diziam “sim senhor” – agora terá que manobrar com um imenso país, maior que um transatlântico, e conduzi-lo por uma viagem incerta, por mares nunca navegados, e aportá-lo em um porto seguro, livre das marés turbulentas. Não será fácil.

Uma coisa é você ser dono do seu negócio – outra coisa é dirigir todos os negócios dos outros.

Lidar com pessoas é uma tarefa muito difícil – mais difícil ainda é lidar com diplomacia com pessoas estrangeiras.

Jornalistas ficam em cima do muro nessa hora em que Trump assume a presidência dos EUA, e não querem argumentar sobre o seu destino político, com medo de errar para pior ao final do seu mandato.  Mas não será difícil adivinhar o que acontecerá no futuro sob sua administração. Vamos as análises.

1-      A América do Sul sempre foi subserviente das políticas Americanas e Inglesas – enquanto essas potencias sustentam seus domínios sobre o Pacifico e o Atlântico e detém as rédeas do mundo, a América do Sul vive mergulhada em roubalheiras, corrupção, politicagem, desgovernos, em queda de braço entre nacionalistas e socialistas que governam mal, são péssimos políticos e são descompromissados com o futuro das gerações do amanhã. Saiu o avô e já está o neto a frente dos governos, aprontado as mesmas safadezas deixadas pelos ancestrais. Enquanto o Brasil possuir riquezas naturais que possam ser contrabandeadas para o exterior cujos fundos possam sustentar a malha política, o Brasil não quebra. Quem paga o preço das más gestões são as crianças que passam necessidades, seus pais que pagam as contas para políticos gastarem a vontade e sem fazer nada, e que irão morrer trabalhando sem se aposentarem.

Os EUA não se preocupam com a América do Sul – e a grande maioria das pessoas americanas não sabem o que é Brasil, nem aonde ele fica. Trump é uma dessas pessoas.

2-      Os EUA se fechar para balanço – irão constatar que o país está quebrado – com muita gente desempregada, sem fazer nada, sem saúde e com muitas bombas e muitas armas nas mãos. Os Americanos precisam de novidades. Precisam estar acima de alguém e que esse alguém diga amém a eles. Exploram com lucros e ganham sempre. Ninguém os detém.

3-      Os Russos devem obrigação aos EUA – e a China também. O Japão existe graças aos EUA. A Coréia do Sul idem. A situação da Europa é de agitação por causa da estratégia islâmica de ocupação pelos refugiados – um enorme abacaxi. A situação no Oriente é de conflito como sempre foi. De um lado Rússia – Irã e Síria. Do outro lado Turquia – Arábia Saudita – e os EUA com um pé em um lado e outro pé em outro lado. Israel e Egito aguardam. Trump não vai se meter ali – o tempo de investida já passou. Esse conflito não é um jogo de golfe – é uma partida de beisebol – que vai demorar e o resultado é incerto.

4-      Nacionalismo e Protecionismo: Trump quer tirar da assistência o povo americano e colocá-lo para agir – para ação. Para isso precisa assumir mercados e tomar mercados. Pretende deixar de lado o México, a China e quer que a Rússia compre dele. A rigor ele deseja que a China (fornecedora de mão de obra dele), agora seja cliente dele. Trump acha que os mercados funcionam a murros com punhos fechados. Não é assim. Hoje em dia tudo ocorre por trocas de favores, acordos de bastidores, com alianças econômicas, onde se perde e se ganha ao mesmo tempo, onde é impossível existir um só vencedor – Trump quer ser ganhador sozinho -  será que os outros países deixarão que isso aconteça?

Encerrando

A política externa mundial não é um jogo de pôquer – parece ser esse o jogo preferido de Trump. Mas ele está certo quando promete encolher os EUA para dentro de suas fronteiras – isso me parece uma estratégia de reagrupamento de forças. Cada país terá que resolver as suas diferenças internas – solucionar seus próprios problemas – conviver com eles – encontrar a melhor solução, sem interferência de outros países. Com isso ele evita os desgastes políticos, minimiza custos – reduz a exposição ao ridículo e a campanhas de guerras intermináveis, com perdas de vidas de seus cidadãos. Em resumo: é melhor farrear nos países estrangeiros, com muita bebida e mulherada, do que estar em uma trincheira levando tiro de habitantes locais enfurecidos.

Essa retração dos americanos com relação ao domínio dos mercados poderá ser de grande valia para os brasileiros – desde que o governo se interesse e queira realmente tomar o rumo do desenvolvimento econômico  mundial, em benefício dos brasileiros e não ampliar campo para a ideologia atrasada da tomada de poder pelas esquerdas – isso para mim sempre foi algo irrelevante pois o que está em jogo é o bem estar da população brasileira e a grandeza do Brasil – e não a entronização de um bando de ladrões do quilate desses ratos que agora estão as voltas com a lei. Pois de uma maneira bem simples, irei exemplificar o momento atual e futuro para todos nós, com a pretensa saída dos EUA do cenário político e econômico mundial:

“ Sempre que um enorme elefante deixa o lago, a água desce de nível, correspondente ao volume do seu corpo que saiu para fora. Assim sendo, o bicho Brasil poderá entrar nesse lago e nadar à vontade, sem perigo de faltar água ou de ser pisoteado pelo enorme paquiderme”.


Alfredo Bonessi  

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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LIVRO “PARAHYBA NOS TEMPOS DO CANGAÇO”

 Por Antonio Corrêa Sobrinho

O que dizer de “PARAHYBA NOS TEMPOS DO CANGAÇO”, livro do amigo Ruberval de Souza Silva, obra recém-lançada, que acabo de ler, senão que é trabalho respeitável, pois fruto de muito esforço, dedicação; que é texto bom, valoroso, lavra de professor, um dizer eminentemente didático da história do banditismo cangaceiro na sua querida Paraíba. É livro de linguagem simples, sucinto e objetivo, acessível a todos; bem intitulado, pontuado, bem apresentado. E que capa bonita, rica, onde nela vejo outro amigo, o Rubens Antonio, mestre baiano, dos primeiros a colorizar fotos do cangaço! A leitura de “PARAHYBA NOS TEMPOS DO CANGAÇO” me fez entender de outra forma o que eu antes imaginava: o cangaço na terra tabajara como apenas de passagem. Parabéns e sucesso, Ruberval!

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A MORTE DE UM DESERTOR!


O sertão já é por si uma terra onde só quem nasce das suas ‘entranhas’ é quem sabe a dureza que é viver nele. A caatinga, as terras do sertão é uma ‘mãe’ que não deu muita chance para seus ‘filhos’, ou é ou não é. Naquele tempo, a coisa mais importante para o catingueiro era a época das chuvas. Com ela nos meses certos, tinha fartura sobrando. Com a colheita, armazenada em depósitos de zinco, aquilo que lhe tocava, ou o pouco que tocava pra ele, do roçado que tinha cortado a mata, botado fogo, plantado, limpado e colhido. As maiores partes dos lucros dos legumes plantados, priorizando o milho e o feijão, iam para os armazéns dos donos das grandes propriedades.

Mesmo assim, fazia-se festa. Tinha a pamonha, a canjica e outras iguarias com o milho ‘maduro’. Já com ele seco, tinha-se o cuscuz, a farinha, o mungunzá e o ‘xerém’, sempre acompanhando o feijão na panela de barro, como alimento até a próxima colheita, se houvesse ‘inverno’, que para o roceiro, é a época das chuvas no Sertão nordestino.

No município da cidade de Poço Redondo e circunvizinhança no Estado sergipano, depois que a saga cangaceira adentra sem pedir permissão, a população daquela ribeira passa a viver uma tremenda vida aterrorizada, tanto por parte deles, os cangaceiros, como por parte das ações das volantes que às vezes vinham como o rolo compressor atingindo seja lá quem fosse. Terminando por ser, dentro das pesquisas do Fenômeno Social Cangaço citado por vários pesquisadores, o município que mais ‘doou’ jovens para participarem das fileiras do cangaço.

Nessa época, época já tida por alguns dos pesquisadores como o “cangaço e CIA”, onde se adiria por simples ilusão. Queria os jovens ser donos de si, libertos, andarem com dinheiro, joias e que todos os respeitassem, ou os temessem, e, para eles, naqueles idos dias, o cangaço lhes proporcionaria tal. Engano total. Pura ilusão.

No município vizinho ao de Poço Redondo, no de Canindé, Lampião tinha um esconderijo onde poderia ser reconhecido como uma verdadeira fortaleza chamada “Porão da Passagem”.

“(...) O Porão da Passagem talvez fosse superado apenas pelos coitos armados no Raso da Catarina, mas, mesmo assim, levando uma preciosa vantagem. A sua localização era praticamente à beira do São Francisco e encravado na região que não era navegável (...).” (“LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO – Mentiras e Mistérios de Angico” – COSTA, Alcino Alves. 3ª Edição. 2011).

Juriti à esquerda e Mergulhão à direita

O “Rei dos Cangaceiros” quando para esse lugar ia, era para demorar bastante tempo. Ali ficavam a descansar das inúmeras, e longas, caminhadas por entre as serras da região quando iam fazer alguma ‘missão’, trocar tiros com a volante ou correr com os mesmos em seus calcanhares.

Dessa vez, fazia parte do seu bando um cangaceiro chamado “Vulcão”. Diferentemente do restante da cabroeira, “Vulcão” não queria conversa com ninguém, procurando sempre se afastar dos demais e, pensativo, parecia que seu corpo ali estava, mas, seus pensamentos estavam em outro lugar distante. Até mesmo sua aparência física se diferenciava dos demais.

“(...)Vulcão, um cangaceiro amorenado, corpo atlético, alto e entroncado, desbarrigado e com poucas gorduras no corpo, cabelos lisos e bons, um exemplar fiel da raça parda brasileira (...).” (Ob. Ct.)

Bom observador, Virgolino passa boa parte do tempo prestando atenção no comportamento dele. Sem deixar que percebam, dá um sinal para que seu lugar tenente, o cangaceiro Luiz Pedro, venha até sua tolda. Lá comunica que está desconfiando que Vulcão esteja com um comportamento muito diferente, e lhe dá a ordem que fique de butucas abertas naquele cabra.

O cangaceiro “Caititu”, que era o apelido de Luiz Pedro, deixa a tenda do chefe e já vai vendo se via Vulcão. Nada feito, por ali, ele não estava. Anda em vários aglomerados de cangaceiros que se divertem jogando cartas, farreando ou simplesmente proseando, e não encontra o dito cujo. Depois de andar de um lado para outro dentro e em volta do acampamento, Caititu vai até a tolda de Pancada e pergunta se não tinha visto Vulcão. A resposta negativa, faz com que Luiz Pedro se preocupe. Retorna rapidamente e passa a informação para o cangaceiro mor. Lampião acredita, naquele momento que ele aproveitou que ninguém estava olhando, prestando atenção e deu no pé. Imediatamente ordena que seu ‘imediato’ chame Zé Sereno e partam em busca do cabra.

Lampião e Maria Bonita

Lampião tinha razão na desconfiança sobre Vulcão. Vulcão, como tantos, entra nas fileiras do cangaço pensando ser uma coisa. Quando lá se encontravam, descobriam que não era tão bom assim. Viver a fugir dia e noite. Matar, sangrar e roubar não tinha nada a ver com aquilo que pensou. Com a saudade lascando seu peito, ele resolve largar aquela vida e voltar para o seio da sua família. Para o aconchego dos seus pais e seus irmãos. Só tinha um problema, as garras de Lampião.

José Ribeiro Filho o cangaceiro Zé Sereno

Caititu, Zé Sereno e alguns homens partem em busca do fugitivo. Luiz Pedro imagina seguir uma via que se ele fugisse a tomaria. Chegam à casa de um conhecido perguntam, mas a resposta é negativa, ninguém passou por ali antes deles. Logo adiante, ao encontrarem um viajante, esse diz ter passado por uma pessoa, homem, muito diferente que ia entrando em Canindé Velho de Cima. Referiu as aparências do cabra e os cangaceiros tiveram a certeza de quem se tratava.

Imediatamente , quase que em trote normal, os cangaceiros partem rumo ao local descrito pelo desconhecido. A marcha tinha que ser sofrida, rápida, para que pudessem chegar no lugar com claridade e encontrar o desertor.

Vulcão, após ter escondido sua tralha, parte rumo ao destino escolhido. Depois de muito andar, chega em Canindé Velho de Cima. Imediatamente vai para o porto a espera d’uma embarcação para ir-se para sempre. O barco não aparece, o medo começa a tomar conta do corpo e da mente daquele homem que não sentira medo em várias outras ocasiões, porém, sabia do seu destino se por um acaso caísse nas mãos dos cabras de Lampião, seus, agora, ex-companheiros e por isso inimigos.

As sombras da noite começam a lançar seu manto negro sobre a terra. Rapidamente escorresse. Vulcão sente um arrepio, e de repente escuta uma voz conhecida lhe dando voz de prisão. Salta feito uma fera ferida, tenta ir para um lado e para outro, mas, não consegue por várias mãos fortes e impiedosas não permitirem. É agarrado e amarrado. Sua corda é presa há um cavalo que o vai levando de caminho afora. Não mais aguentando o ritmo do animal, Vulcão cai, e mesmo assim, o cavalo é chicoteado para continuar na mesmo velocidade. Então começa o grande suplício de Vulcão. Seu corpo sai deixando tiras de couro, pedaços de peles em bicos de pedras e pontas de tocos na triste caminhada. Pelo caminho, os cangaceiros chegam numa casa, a mesma que tinham passado, perguntado e recebido uma resposta negativa, onde está tendo um forró. Resolvem tomar umas cachaças e dançarem umas 'partes'. Amarram o prisioneiro de braços estendidos para cima, já meio morto, todo esfolado, e caem da farra. De vez enquanto, alguns vêm e dão pequenas furadas com as pontas dos punhais no corpo de Vulcão que se contorce de dores, porém, não dá um pio, não grita nem pede por nada.

Assim, a noite prossegue numa rotina terrível para aquele jovem. Não o mataram para que chegasse com vida onde estava o chefe. Pela manhã, já todos cheios de cana, chegam com o ‘farrapo’ de Vulcão onde estava Lampião. Esse dá a sentença de morte sem nem olhar para ele. Os cangaceiros dessem o chicote nas ancas do animal que torna a arrastar aquele infeliz pelas terras do solo sertanejo a qual desfigura totalmente o corpo daquele jovem.

"(...) aquela massa disforme, uma verdadeira posta de carne ensanguentada (...) o estado que Vulcão se encontrava é deveras lamentável. Seu corpo é algo horripilante, deformado. Sua boca, seu nariz e seus ouvidos sangram como se fossem bicas (...)." (Ob. Ct.)

Neném do Ouro e seu companheiro Luiz Pedro

Luiz Pedro, depois de ver que o animal parou, mande uma criança, "Hercílio Feitosa", que estava com eles ir buscar o animal. Após seu retorno, Vulcão fala pela primeira vez:

“- Vocês num sabi o qui tão fazendo cumigo. Vocês num sabi o qui é uma sodadi bem doída da famia. Num mi mati não. Deixi eu ir mimbora.”

“- Seu cabra de peia, você é um cabra de peia. Pruquê veio pru meio da gente? Isto aqui é lugar pra homi. E quem num é, cuma você, a genti mata.” (diz arrogantemente o cangaceiro “Juriti”) (Ob. Ct.)

Por fim, arrastam o já quase morto ex-companheiro Vulcão, e o assassinam com um tiro de pistola... Nas quebradas do Sertão sergipano em janeiro de 1938.

Fonte “LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO – Mentiras e Mistérios de Angico” – COSTA, Alcino Alves. 3ª Edição. 2011
Foto Benjamin Abrahão
Ematerce
google.com

PS// Hercílio Feitosa, a criança que foi buscar o cavalo que arrastava "Vulcão", por ordem de Luiz Pedro, muitos anos depois, é quem narra esse triste e cruel fato ao pesquisador Alcino Alves Costa.

Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: Ofício das Espingardas
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"NA DONZELA NINGUÉM TOCA"

Quem a coloriu eu não sei

Lampião disse isso ao visitar uma velha fazendeira viúva que morava com sua netinha de 14 anos no sertão da Bahia. 

Sabendo que a velha guardava muito dinheiro, Lampião foi até a fazenda da velha. 

Ao entrar na casa, a pequena mocinha ao ver aqueles homens sujos com grandes chapéus, cabelos grandes e muitas armas, se encostou no canto da sala com medo. 

Uns cabras partiram para cima dela, mas Lampião os advertiu com esta frase: 

"NA DONZELA NINGUÉM TOCA"


 Aí de quem não atendesse.

Fonte: facebook
Link: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=734524756704782&set=a.270562073101055.1073741841.100004417929909&type=3&theater

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DA MEMÓRIA DE POÇO REDONDO:


Abdias, o tão conhecido Abdias de Poço Redondo, morador de fazendas e meio do mato, mas principalmente da Rua dos Vaqueiros ou Rua de Baixo (atual Av. Alcino Alves Costa), onde por muito tempo criou seus filhos com a esposa Cecília, e por ali conviveu ao lado de amigos como Liberato, Messias de Zé Vicente, Tião de Sinhá, Mané Cante, Neguinho, Ulisses, Ireno, Né Cirilo, Galego do Alto, Mané Vito, Chico de Celina e tantos outros. Vaqueiro maior dos sertões poço-redondenses, amigo fiel e cabra de confiança do famoso Zé de Julião, Abdias teve participação fundamental no famoso roubo das urnas nas eleições de 1958. Homem alto, esguio, sempre de chapéu de couro, a humildade em pessoa, amigueiro e bom de proseado. Era também famoso por ser irmão dos ex-cangaceiros Sila, Mergulhão, Novo Tempo e Marinheiro, e também primo dos irmãos ex-cangaceiros Adília e Delicado. Mas também irmão de homens da galhardia de João Paulo do Alto e Humberto Braz. 


Sobre o famoso roubo das urnas, certa vez escrevi: “A eleição de 1958 era a segunda disputada pelo ex-cangaceiro. Na primeira, após enfrentar perseguições políticas pela sua condição de ex-cangaceiro, experimentar contra si a máquina do poder estadual e todos os tipos de reveses, saiu da eleição derrotado por Artur Moreira de Sá. Depois de votos de Zé de Julião serem lançados ao chão e escondidos por cima de botas, o pleito, ardilosa e premeditadamente, foi dado como empata: 134 a 134, mas Artur acabou vencendo pelo critério da idade. E a segunda eleição seria ainda mais terrível para Zé de Julião. Dessa vez, além de as perseguições se redobrarem e as arrumações para a vitória do candidato Eliezer Santana serem ainda mais vergonhosas, os títulos dos eleitores do ex-cangaceiro não foram entregues. Revoltado ao extremo, profundamente indignado com tanta injustiça contra si praticada, e sabendo que já estava derrotado, o candidato da terra resolveu tomar uma atitude extremada, invadir as seções eleitorais e roubar as urnas. E assim fez. No dia do pleito, mais de cem cavaleiros amigos se juntaram nos arredores e entraram em audacioso tropel pelas ruazinhas da cidade. À frente seguia Zé de Julião e seu fiel escudeiro Abdias. Na primeira seção que encontrou, o ultrajado candidato desceu do cavalo e entrou calmamente no local de votação. Não demonstrou qualquer brutalidade nem arrogância com as pessoas do local. Mas ao olhar de lado e avistar a urna de votação numa cadeira, abrasou o semblante e, num acesso de cólera, puxou-a com violência. O passo seguinte foi arremessá-la pela janela. E do outro lado estava Abdias para recebê-la. Em seguida Zé de Julião montou no cavalo e o tropel seguiu em disparada para fazer a catação em outros locais. E essa história continua com cenas realmente cinematográficas, mas absolutamente verdadeiras naqueles idos sertanejos”. A presença de Abdias em tais fatos já demonstra sua importância ímpar na história sertaneja. Dentre seus filhos estão Mazé de Abdias, Zefinha, Soninha, Reginaldo (Preguinho), Regival e Gilaene.

Escritor
Membro da Academia de Letras de Aracaju
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