Os amigos do escritor e pesquisador do cangaço, João de Sousa Lima, comentam sobre os seus maravilhosos trabalhos literários
MARIA BONITA, UMA BREVE BIOGRAFIA
Maria Gomes de Oliveira nasceu no dia 08 de março de 1911, na fazenda Malhada da Caiçara, distrito de Santo Antonio da Glória do Curral dos Bois. Desde 28 de julho de 1958, quando Paulo Afonso foi emancipado de Glória, o povoado Malhada da Caiçara ficou nas terras pertencentes a Paulo Afonso.
Maria Bonita foi a segunda filha do casal José Gomes de Oliveira, conhecido como Zé Felipe e Maria Joaquina Conceição Oliveira, apelidada de dona Déa.
Ela teve onze irmãos: Benedita Gomes Oliveira, Joana Gomes de Oliveira (Nanzinha), Amália Gomes de Oliveira (Dondon), Francisca Gomes de Oliveira (Chiquinha), Antonia Gomes de Oliveira, Olindina Gomes de Oliveira (Dorzina), Ozéas Gomes de Oliveira, José Gomes de Oliveira, Arlindo Gomes de Oliveira, Ananias Gomes de Oliveira e Izaías Gomes de Oliveira.
Foi casada com o primo José Miguel da Silva, conhecido por Zé de Nenê, sapateiro.
Entrou para o cangaço no finalzinho de 29, sendo a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros.
Morreu no dia 28 de julho de 1938, junto com Lampião e mais nove cangaceiros, na Grota do Angico, em Poço Redondo, Sergipe.
A trajetória guerreira de Maria Bonita " A Rainha do cangaço
(comentário)
Uma obra de excelente didática e boa compreensão, sem palavras difíceis, de importante leitura para quem quer saber tudo sobre a Maria de Déa da Malhada da Caiçara, sobre a Maria do Capitão, Maria de Lampião, Maria Bonita a Rainha do Cangaço.
O presente livro do escritor João de Sousa Lima, agora na sua reedição, retrata a vida da Rainha do Cangaço, desde o seu nascimento até a sua morte. Devido a sua persistência de pesquisar até mesmo as pesquisas já feitas, embrenhou-se o autor em investigação pertinaz e incansável perquirida sob o sol causticante das caatingas, das rochas e lajedos tórridos e das grutas obscuras, perigosas e silenciosas, lugares ermos e distantes, em busca de fatos, objetos e pessoas remanescentes ou mesmo personagens que vivenciaram aquela época de luta e sangue, juntando evidencias e provas para de tudo fazer história, é hoje também um historiador.
Uma obra de excelente didática e boa compreensão, sem palavras difíceis, de importante leitura para quem quer saber tudo sobre a Maria de Déa da Malhada da Caiçara, sobre a Maria do Capitão, Maria de Lampião, Maria Bonita a Rainha do Cangaço.
O autor procura alentar os oito anos de aventura vividos por essa brava guerreira, símbolo de fortaleza da mulher nordestina, procura trazer a lume da compreensão do leitor os oito anos vividos e sofridos por Maria Bonita junto com o bando, junto com o seu amado Lampião, entre os serrados, entre as torrentes areias e pedras dos sertões, entre os espinhos dos mandacarus, sob o escaldante sol das caatingas, a lutar pela sobrevivência, a fugir da policia, a acalentar prantos ou presenciar atrocidades diversas. A vida do cangaço não podia deixar de ser um verdadeiro inferno. Ali estava Maria Bonita e outras mulheres entre os cangaceiros, sofrendo naquelas matas como se animal fosse, dormindo no chão, desprovida de um acomodado teto, de uma boa cama, distante da sua Caiçara querida, saudade dos pais, irmãos, familiares e amigos, uma verdadeira guerreira como bem diz o autor, uma verdadeira mulher de guerra entre as guerras do cangaço que viveu o inferno que ela mesma o desejou, mas que nesse inferno também estava presente o amor. O amor por Lampião e pela sua própria vida no cangaço que sobrepôs até o seu amor materno por sua filha Expedita, a ponto de entregá-la a terceiros para ser criada após o seu nascimento.
Todo o contexto da obra se transformou em referência para quem estuda o tema cangaço, mais de perto, para quem procura saber a verdadeira vida de uma das mulheres mais valentes e determinadas que o sertão nordestino já viu, tanto é que largou a sua vida pacata para viver a sua maior aventura, uma aventura de amor entre as guerras ao lado do seu amado, uma aventura que a transformou em imortal na história do cangaço e porque não dizer, na história do Brasil.
Na sua trajetória, Maria Bonita, se fez também líder e a sua importância dentro do grupo de cangaceiros foi inconteste, destarte para a sua interferência em muitas das decisões tomadas por Lampião, por vezes salvando vidas ou acalmando a fúria do Rei do cangaço.
O livro desse jovem e promissor escritor e pesquisador é, sem sombras de dúvidas, um dos trabalhos mais completo e respeitado sobre a trajetória de vida de Maria Bonita e, por consequência não pode faltar na estante dos estudantes, estudiosos, pesquisadores e amantes do tema relacionado ao CANGAÇO, e até mesmo deve ser lido pelos curiosos que pretendem saber mais um pouco sobre esse tema que foi dos mais intrigantes, misteriosos e atrozes da história do Brasil.
Em assim sendo, não só recomendo a leitura do livro, como entendo ser necessário colecionar a referida obra em toda boa biblioteca, como sendo de excelente aprendizado e fonte de pesquisa, para tanto, sugiro a sua aquisição através contato virtual com o autor Joao.sousalima@bol.com.br ou via telefone: 76-8807-4138 ao preço de R$ 35,00 (com frete incluso).
Maria Bonita (1911-1938)
Maria Bonita ( Maria Gomes de Oliveira), figura entre as mulheres brasileiras de maior destaque do século XX, tem lugar de influência e causa muitas polemicas a respeito de sua vida.
Se viva estaria hoje com 100 anos. Sua vida ao lado do cangaceiro Lampião gerou diversas lendas, histórias mal contadas e distorções que a pesquisa de historiadores atuais vai reescrevendo em novos capítulos.
Nascida em 08 de março de 1911, na fazenda Malhada da Caiçara, no povoado de Paulo Afonso, Bahia, aos 19 anos, então recém separada do marido, foi apresentada por um tio para Lampião (Virgulino Ferreira da Silva) e passou a viver com ele pelos sertões nordestinos e morreu degolada e crivada de balas na Grota dos Angicos no município de Poço Redondo, Sergipe, em 28 de julho de 1938. Na sua trajetória pelo cangaço, virou uma lenda que causava medo na simples menção de seu nome. A fama do bando de Lampião se espalhou por todo o Brasil e levou o governo a oferecer uma grande recompensa na época para que entregasse Lampião e Maria Bonita vivos ou mortos. Um grande aparato policial (Volante) foi criado para enfrentar Lampião e seu bando.
O historiador João de Sousa Lima, um apaixonado pelas histórias do sertão nordestino, lançou recentemente a segunda edição de seu livro A trajetória guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço um dos mais fiéis relatos da vida desta personagem histórica e nos concedeu uma entrevista que pode ser lida adiante.
João de Sousa Lima é Historiador e Escritor, autor e co-autor em 10 livros sobre o cangaço. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. Dedicou-se a estudar estes personagens, mora em Paulo Afonso e dedicou grande parte de sua vida a pesquisa de personagens tão polêmicos como os cangaceiros.
João de Sousa Lima
MH- Quem é o historiador e escritor João de Souza Lima?
JSL- João de Sousa Lima, nascido em São José do Egito, Pernambuco e radicalizado em Paulo Afonso, Bahia.
Casado, pai de duas filhas, licenciando em História pela Faculdade Sete de Setembro, escritor, autor de 05 livros sobre o cangaço, co-autor de mais 5 livros em parceria com o Dr. Juracy Marques, funcionário público municipal e um apaixonado pelas histórias do sertão nordestino.
hoje ministra palestras em seminários, colégios, faculdades e eventos por todo Brasil.
MH- Quando nasceu seu interesse sobre os sertões e seus personagens?
JSL- Nasceu depois que fui convidado pelo amigo-irmão, professor Edson Barreto, para pesquisarmos a região de Paulo Afonso pois naqueles povoados existiam infinitas histórias e remanescentes da época do cangaço. Depois desse dia, quando travei contato com as pessoas que haviam vivido a saga do cangaço, nunca mais consegui parar de pesquisar e hoje lá se vão 17 anos desde os primeiros contatos.
MH- Sua pesquisa de campo o levou aos locais onde Maria Bonita viveu e morreu. Qual a sua sensação em estar nestes locais e as dificuldades encontradas?
JSL- As dificuldades foram imensas, pra se ter idéia do que foi essa verdadeira epopéia, quando da realização do meu primeiro livro, intitulado "Lampião em Paulo Afonso", eu rodei 12.000 km em uma moto CG (Honda) 125 cc, durante quatro longos anos, atravessando veredas aparentemente intransponíveis. O Raso da Catarina, esse grandioso bioma que abriga a mais bela fauna e flora das caatingas, foi vasculhado como se tivesse sendo mapeado.
Agora, poder conhecer as pessoas da época, colher a história oral e real, conviver com ex-cangaceiros, coiteiros, soldados volantes, foram momentos marcantes. Com vários deles fiz grandes amizades, me tornei confidente. Muitos ainda estão vivos, mesmo que beirando os 100 anos de vida. Essa foi a parte mais gratificante de tudo.
MH- Sua pesquisa envolveu contatos com antigos personagens da História e testemunhas de muitos dos eventos. A história escrita em livros de História, tem casos muito diferentes entre si?
JSL- Consegui identificar verdadeiros absurdos, porém hoje existem muitos pesquisadores e escritores sérios e que tem desenvolvido trabalhos memoráveis.
Encontramos ainda alguns malucos que tentam incutir mentiras nas cabeças de quem não conhece a história e aos poucos esses falsos historiadores estão sendo levados ao ridículo e ao esquecimento.
MH- Maria Bonita, Esse era o seu nome entre os volantes ou este também era o nome que Lampião a chamava?
JSL- Maria Bonita foi um apelido colocado pela policia, já no finalzinho do cangaço. No bando ela era conhecida como Maria do Capitão, Maria de Lampião ou simplesmente Maria.
MH- Maria Bonita. Uma mulher apaixonada ou uma "cangaceira"?
JSL- Ela foi uma mulher apaixonada e ao mesmo tempo, por ter seguido a vida errante do cangaço, foi uma cangaceira.
MH- Existe algum trabalho genealógico realizado sobre Maria Bonita?
JSL- Eu escrevi a biografia dela, colhendo informações desde sua infância até a morte, foi o primeiro trabalho especifico só sobre sua vida e hoje esse trabalho é uma referência para quem estuda as mulheres e o cangaço, também foi um dos livros que mais me deu prazer em concluir, estou lançando a segunda edição agora, dia 25 de junho de 2011.
MH- E a sua pesquisa pessoal? Será motivo de livro?
JSL - Toda minha pesquisa foi transformada em livros.
os depoimentos e as fotografias colhidas estão guardados em meu acervo particular e podem ser disponibilizados para futuras pesquisas.
MH- Deixe uma consideração sobre o seu livro e sobre Maria Bonita.
JSL- Maria Bonita foi uma mulher que rompeu parâmetros de uma época machista, andou a margem da lei, se apaixonou por Lampião e nas veredas infinitas do sertão viveu sua mais interessante paixão.
MH- Como vê, nossas questões vão de encontro ao gosto de nossos leitores e também na divulgação de seu trabalho.Caso eu tenha deixado algum tópico aberto e de relevância, por favor cite para podermos concluir.
JSL- Não podemos agradar a todos, ninguém conseguiu até hoje essa proeza.
O cangaço é um tema amado e ao mesmo tempo odiado, só não podemos esquecer que toda criação de sociedade foi fundamentada na violência. Não devemos ter preconceito com nossas histórias sendo elas violentas ou não, devemos transcrevê-las como foram acontecidas, respeitando suas originalidades e ouvindo suas fontes orais reais. Não podemos ser juiz de um povo, de suas memórias, de suas raízes históricas e culturais.
Nossa equipe deseja sucesso no lançamento deste livro e indica aos nossos leitores um dos livros que reflete muito bem a importância de pesquisas sérias e bem documentadas que permitem mesmo após tantos anos uma nova visão sobre fatos e eventos da vida de nossos antepassados.
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Entrevista
Sobre o Cangaço
1) O Cangaço encerra em si duas idéias antagônicas: o banditismo e o heroísmo. Qual a sua definição do Cangaço?
O cangaço foi uma história diferenciada de todas as outras histórias vividas no nordeste, muitos sertanejos e sertanejas foram para o cangaço por sofrer violência por parte da policia e a policia era quem de direito deveria dar segurança a população. Imperou naquela época muita injustiça, as dificuldades em referência a saúde e educação era um quadro reinante no nordeste, o descuido por parte das autoridades eram visíveis, o povo sertanejo sofria por falta de políticas públicas.
as pessoas viviam jogadas, sem assistências mínimas para uma vida digna. O homem era o iletrado, acostumado com a lida da terra seca, o trato com o animal bravio, o sol quente e todas as dificuldades que imperam nessa região até os dias atuais.
o cangaço encerra em si um capitulo histórico que hoje faz parte da história do Brasil. Não cabe ao historiador ou pesquisador tomar partido em referência aos fatos acontecidos, eles devem ser narrados como foram acontecidos, a história sendo ela sangrenta ou não, não cabe o julgo ou a interpretação que possa ter favorecimentos para uma análise que a distorça. O cangaço foi História.
2) Como explica o surgimento do Cangaço?
O cangaço surgiu desde a invasão do Brasil em 1500, quando os que se rebelaram contra a escravização dos seus povos foram amordaçados e levados a força para servirem a senhores de outras nações.
os irredentos que embrenharam-se sertão a dentro sofreram perseguições e mortes.
data-se o cangaço de 1725 com Cabeleira, depois tivemos Lucas da Feira, o Antonio Silvino, o Sinhô Pereira e o mais expressivo cangaceiro, o famoso Lampião.
3) O que o Cangaço significou na sua época?
Um capitulo de lutas de homens que se rebelaram contra vários momentos distintos, mostrando, mesmo sem ser essa a intenção, que havia um Brasil profundo, nas caatingas e que era mal assistido.
4) E o que o Cangaço representa para o Brasil hoje, no século 21?
Antes de tudo representa a história de um povo e de uma época.
hoje o cangaço representa a arte que vem impressa na literatura, na poesia dos violeiros repentistas, nos cordelistas, em peças teatrais, na dança, na música.
a nova novela das seis horas da Rede Globo, que anda batendo todos os recordes de audiências é uma mostra do que o tema cangaço pode proporcionar.
várias cidades nordestinas hoje vivem fundamentadas com roteiros do cangaço e atraem milhares de turistas mostrando uma nova tendência mundial que é a valorização da história local sendo usada para trazer benefícios para a comunidade.
5) Muito além da esfera política, qual legado o Cangaço deixou, do ponto de vista cultural, por exemplo?
Cangaço deixou histórias, principalmente de vidas, de sentimentos de pessoas que a viveram.
hoje a própria arte nordestina tem a cara do cangaço incutida em suas diferentes atividades culturais.
Sobre Durvinha e Moreno:
1) Quais foram os fatos que levaram Durvinha e Moreno a se tornaram cangaceiros? E quais as motivações?
São fatos diferentes: a Durvinha foi para o cangaço por que se apaixonou por Virginio, ex-cunhado de Lampião (todas as mulheres que conheceram são unânimes em afirmar que ele era o cangaceiro mais bonito do bando). Ela era uma mocinha com apenas 15 anos de idade.
Moreno perambulou Sertão à dentro procurando emprego, queria ser policial mais não aceitaram por ter baixa estatura e físico aparentemente frágil, foi convidado para ser cangaceiro e aceitou, tornando-se um dos maiores matadores de policiais do cangaço.
2) Quais os fatos mais marcantes da trajetória de Durvinha e Moreno no Cangaço?
A fuga foi a parte mais marcante, fugiram margeando o Rio São Francisco, pelo lado pernambucano, durante três meses, até chegarem em Minas Gerais, depois conseguiram guardar o segredo por mais de 60 anos e permaneceram juntos até quando a morte os separou.
3) Como os dois conseguiram escapar à morte, pena determinada pelo Estado Novo para os cangaceiros?
Fugindo, com roupas comuns, sertanejos retirantes, ajudado pelo cônego Frederico Araujo, da igreja de Tacaratu, Pernambuco.
4) Você comentou que a fuga dos dois foi uma aventura. Poderia descrevê-la, ainda que resumidamente?
Empreenderam uma verdadeira odisséia, fugindo do nordeste para Minas Gerais, a história é longa, teria que ser narrada em muitas linhas, a leitura do livro seria mais indicada para quem pretende conhecer esse capitulo.
5) E como foi a vida deles pós-Cangaço? O que você destaca nessa fase de suas vidas?
Tiveram que mudar de nomes e viveram completamente no anonimato, tentaram esconder passado de todas as formas.
6) Gostaria que fizesse uma análise da presença de casais entre os cangaceiros.
A entrada da mulher no cangaço foi vista por uns com a derrota do cangaço, o próprio cangaceiro Balão falava que quando as mulheres entraram para o cangaço, as "BRIGADAS", as lutas ficaram com pouca emoção pois aos primeiros disparos eles tinham que resguardar as mulheres e tinham que fugir das lutas.
para outros a chegada das mulheres foi boa por que diminuíram as ações violentas contra os sertanejos, os estupros diminuíram, as mortes diminuíram.
O certo foi que a mulher cangaceira assumiu um papel junto a sociedade que traçava parâmetros machistas, a mulher era pra ser subserviente ao homem e as normas e leis impostas pela sociedade.
1) Maria Bonita foi a primeira mulher no Cangaço? Ou houve outra(s), menos famosa(s)?
Maria Bonita foi a primeira, porém não foi a única, depois dela várias mulheres entraram para cangaço, muitas deixaram seus nomes gravados na história do cangaço, como foi o caso de Maria, Durvinha, Dadá, Catarina, Inacinha, Lídia, Moça, etc.
2) Quem era Maria Bonita? O que destaca em sua trajetória?
Maria Bonita foi a mulher do chefe supremo do cangaço, ele teve sua importância no contexto histórico do cangaço por várias questões vividas a lado do grupo e por sua morte junto ao companheiro e aos amigos.
3) Como era a participação da mulher no Cangaço?
A mulher era na realidade a parte bonita do cangaço. Cada chefe queria ter sua mulher mais bonita e mais enfeitada, com várias correntes e anéis de ouro a mostra, vestidos confeccionados com os melhores tecidos.
Elas não lavavam, não cozinhavam e não lutavam de armas nas mãos com vemos nos filmes.
4- Poderia analisar o significado da presença feminina no Cangaço?
A mulher rompeu parâmetros de uma época machista e de uma sociedade que via a mulher apenas como objeto de procriação da espécie humana.
a mulher conseguiu se rebelar contra tudo e todos e mostrou sua face como sexo forte e independente.
5) Como você analisa a figura de Maria Bonita hoje?
Obrigada!
Maria Bonita é a figura mais pura da história do povo nordestino e confunde-se com a própria história do cangaço.
Ela está representada na arte e na cultura do nosso povo, simbolizada na dança, no cinema, na literatura, na música e na memória popular, com sua história oral ainda muito latente.
TEXTO 05
SERTÃO BELO
O fogão a lenha flameja fumegando o bule com café torrado e moído no pilão. O casebre de taipa fica tomado pelo aroma forte do liquido adoçado com rapadura. O vaqueiro veste seu surrado gibão de couro, no alpendre da casa descansa sua montaria, que o levará, trilhando caminhos ásperos, vegetação natural que o fascina pela profusão das cores. Imensa formação de veredas que cruzam cáctus espinhentos e flores de belezas inigualáveis.
Sertão de tantos extremos, do exótico, do inusitado, diferente. Em cujas caatingas nascem belas sertanejas, amorenadas caboclas, vestidas de chita, laços de fita, faces de cores chamativas, tímidos olhares, corações apaixonantes.
Belo sertão cantado, rimado, amado, dedilhado nas ágeis violas dos cantadores repentistas, onde o improviso é o lamento das dores guardadas. Nas folhas dos cordéis voam as almas imaginárias das histórias mirabolantes. A sanfona embala o forró pé-de-serra, o triângulo marca o compasso em cujo passo, a zabumba cadencia o traço, o rala-bucho levanta poeira no salão de terra batido e sem espaço.
O Sertão guarda na tradição o molde do barro, nos “Vitalinos” que criam as formas e que dão vida a argila. Os folguedos, as crendices, os Santos casamenteiros, as superstições, as quadrilhas de São João. O folclore gravado como verdadeiro no imaginário popular, suas lendas e costumes povoam a história oral por gerações e gerações.
O artesanato, a arte mais pura e sublime, a criatura que cria sua própria identidade.
Nas vestes rudes dos homens guerreiros, a canga do boi, o cangaço por lei, o rei do rifle e do punhal, a bala, o tiro certeiro, justiceiro, que narra um triste final, cangaceiro sem rumo, nos caminhos incertos do Sertão.
O gosto, sabor, o prazer de degustar o bode assado com cuscuz e a farinha, a qualhada, a rapadura, a tapioca, a pamonha, a canjica e a macaxeira. O sertão ribeirinho da água da vida, vivida nas margens do velho Chico. O peixe que aplaca a fome, o nome do rio que abala a fé, a rede e o anzol que traz o sustento, o alimento sagrado.
Visíveis formações rochosas Forman cânions de infinita beleza, proporções harmônicas, criação divina.
Progresso, Delmiro Gouveia, na veia o sangue do empreendedor, represa, energia, força, Angiquinho.
Forquilha, Curral dos Bois, Santo Antonio da Glória, quantas Glórias, fios energizados, o Sertão iluminado, a Capital da Energia, Paulo Afonso, Cidade Luz.
Em 22/06/2011 15:49, Walter Olivas < walter@myheritage.com > escreveu:
Olá Sr João de Souza.Obrigado pelo contato. Meu desejo era conhecê-lo pessoalmente, mas compromissos assumidos anteriormente não me permitirão este prazer.
Em virtude deste fato, estou encaminhando por escrito algumas das perguntas que acredito serem adequadas para que nossos leitores possam se iterar de seu trabalho.
Caso queira acrescentar detalhes que eu tenha esquecido de mencionar ou detalhes que possam ampliar nosso conhecimento, eu ficaria muito grato.
MH- Quem é o historiador e escritor João de Souza?
JSL- João de Sousa Lima, nascido em São José do Egito, Pernambuco e radicalizado em Paulo Afonso, Bahia.
Casado, pai de duas filhas, licenciando em História pela faculdade Sete de Setembro, escritor, autor de 05 livros sobre o cangaço, co-autor de mais 5 livros em parceria com o Dr. Juracy Marques, funcionário público municipal e um apaixonado pelas histórias do sertão nordestino.
Hoje ministra palestras em seminários, colégios, faculdades e eventos por todo Brasil.
MH- Quando nasceu seu interesse sobre os sertões e seus personagens?
JSL- Depois que foi convidado pelo amigo-irmão, professor Edson Barreto, para pesquisarem a região de Paulo Afonso, pois naqueles povoados existiam infinitas histórias e remanescentes da época do cangaço. Depois desse dia, quando travei contato com as pessoas que haviam vivido a saga do cangaço, nunca mais consegui parar de pesquisar e hoje lá se vão 17 anos desde os primeiros contatos.
MH- Sua pesquisa de campo o levou aos locais onde Maria Bonita viveu e morreu. Qual a sua sensação em estar nestes locais e as dificuldades encontradas?
JSL- As dificuldades foram imensas, pra se ter idéia do que foi essa verdadeira epopéia, quando da realização do meu primeiro livro, intitulado "Lampião em Paulo Afonso", eu rodei 12.000 km em uma moto CG (Honda) 125 cc, durante quatro longos anos, atravessando veredas aparentemente intransponíveis. O Raso da Catarina, esse grandioso Bioma que abriga a mais bela fauna e flora das caatingas, foi vasculhado como se tivesse sendo mapeado.
Agora poder conhecer as pessoas da época, colher a história oral e real, conviver com ex-cangaceiros, coiteiros, soldados volantes, foram momentos marcantes. Com vários deles fiz grandes amizades, me tornei confidente. Muitos ainda estão vivos, mesmo que beirando os 100 anos de vida. Essa foi a parte mais gratificante de tudo.
MH- Sua pesquisa envolveu contatos com antigos personagens da História e testemunhas de muitos dos eventos. A história escrita em livros de História, tem casos muito diferentes entre si?
JSL- Consegui identificar verdadeiros absurdos, porém hoje existem muitos pesquisadores e escritores sérios e que tem desenvolvido trabalhos memoráveis.
Encontramos ainda alguns malucos que tentam incutir mentiras nas cabeças de quem não conhecem a história e aos poucos esses falsos historiadores estão sendo levados ao ridículo e ao esquecimento.
MH- Maria Bonita, Esse era o seu nome entre os volantes ou este também era o nome que Lampião a chamava?MH- Maria Bonita. Uma mulher apaixonada ou uma "cangaceira"?
JSL- Maria Bonita foi um apelido colocado pela policia, já n finalzinho do cangaço.
No bando ela era conhecida como Maria do Capitão, Maria de Lampião ou simplesmente Maria.
Ela foi uma mulher apaixonada e ao mesmo tempo, por ter seguido a vida errante do cangaço, foi uma cangaceira.
MH- Existe algum trabalho genealógico realizado sobre Maria Bonita?
JSL- Eu escrevi a biografia dela, colhendo informações desde sua infância até a morte, foi o primeiro trabalho especifico só sobre sua vida e hoje esse trabalho é uma referência para quem estuda as mulheres e o cangaço, também foi um dos livros que mais me deu prazer em concluir, estou lançando a segunda edição agora, dia 25 de junho de 2011.
MH- E a sua pesquisa pessoal? Será motivo de livro?
Deixe uma consideração sobre o seu livro e sobre Maria Bonita.
JSL - Toda minha pesquisa foi transformada em livros.
Os depoimentos e as fotografias colhidas estão guardados em meu acervo particular e podem ser disponibilizados para futuras pesquisas.
Maria Bonita foi uma mulher que rompeu parâmetros de uma época machista, andou a margem da lei, se apaixonou por Lampião e nas veredas infinitas do sertão viveu sua mais interessante paixão.
Como vê, nossas questões vão de encontro ao gosto de nossos leitores e também na divulgação de seu trabalho. Fique a vontade em responder.
Caso eu tenha deixado algum tópico aberto e de relevância, por favor cite para podermos incluí-lo.
JSL- não podemos agradar a todos, ninguém conseguiu até hoje essa proeza.
O canga é um tema amado e ao mesmo tempo odiado, só não podemos esquecer que toda criação de sociedade foi fundamentada na violência.
não devemos ter preconceito com nossas histórias sendo elas violentas ou não, devemos transcrevê-las como foram acontecidas, respeitando suas originalidades e ouvindo suas fontes orais reais.
Não podemos ser juiz de um povo, de suas memórias, de suas raízes históricas e culturais.
Agradeço muito a sua disponibilidade.
Atenciosamente
Walter Olivas
MARIA, BONITA FLOR SERTANEJA.
Desabrocham, na flora do sertão,
Flores aromáticas de cores belas,
Roseiras tingidas de amarelas
No jardim adubado do coração.
Nascem Marias, todas Santas,
Mulheres de aromas naturais,
No campo, verdejam as plantas,
Dos ventres, nascem triunfais.
São Marias, Madalenas, Glórias,
Autênticas flores simplórias,
Mulheres, sementes divinas.
Nascem todas pequeninas,
Pétalas de flores meninas
No canteiro real das histórias.
(Poesia de João de Sousa Lima)
MARIA BONITA: UM CORAÇÃO DE AMOR,
UMA TRAJETÓRIA DE MARTÍRIO E DOR.
Há um imenso vulcão de calor
Nos rastros infindos do sertão.
Há no coração a marca da dor,
Há tanto clamor e emoção.
Na imagem da menina-flor
O retrato impresso da ilusão,
Um caminho repleto de terror,
Um capítulo real de desilusão.
Quantas Marias com seus destinos,
Enganadas por tantos mistérios,
Caminhos estreitos em desatinos,
Imaginários mundos etéreos.
Foi menina quando nasceu,
Brincou de boneca e foi feliz,
Um vasto campo percorreu,
Foi criança da vida aprendiz.
Viveu no campo, andou na terra,
E da terra colheu o seu sustento,
Conheceu as marcas da guerra,
Sofreu as dores de um tempo.
Lamentou seu rude destino,
A realidade foi uma serpente,
Pontiaguda, punhal ferino,
Sua dor foi sem precedente.
Marcou a ingênua alma de Maria
Traçar seu caminho tão sonhado,
Chama que queima todo dia,
Corpo que arde ensangüentado.
Esfinge perpetuada pelo vento,
Coroa de espinhos, seu clamor,
Cicatrizes que marcam o tempo,
Feridas que lembram o horror.
O rosto que a chuva molhou,
A pele que o espinho feriu,
A carne que o galho arranhou,
Sensações que o corpo sentiu.
Bonita, Maria foi prova viva,
Virou pó, sumiu na escuridão,
Uma feliz inocência perdida,
Seguindo o sonho da paixão.
Foi mãe, mulher, mito e menina,
Mistério, martírio, chaga e dor,
Destino, lâmina afiada e ferina
Sertão das Marias, Rosas de Amor.
(poesia de João de Sousa Lima)