Lembrando que somente o que eu
escrevi, é que não tem nenhum valor para a literatura
cangaceira. São apenas as minhas inquietações sobre os depoentes, que
você encontrará, clicando no link abaixo.
Os textos que foram
postados dos pesquisadores Francisco Pereira Lima e Reinaldo Antiquário,
são valiosos, mas na minha opinião, os depoentes criaram informações sem valor, para se promoverem diante deles.
Em 2005, o professor e pesquisador do cangaço Francisco Pereira Lima, esteve com uma senhora de nome Maria Pedro da Silva, que se dizia ser filha de José Leite de Santana, o cangaceiro Jararaca, que foi assassinado em Mossoró. Quem melhor conta para nós, é o próprio professor.
A História do Cangaço está recheada de mistérios, segredos, injustiças, violências, equívocos e tantos outros adjetivos que representam esse fenômeno. Uma família, no município de Cajazeiras (PB), vivenciou um equívoco, que durou 66 anos, envolvendo o atroz cangaceiro Jararaca. Vamos aos fatos: Nas minhas andanças e entrevistas atrás de novidades sobre o Cangaço, fui informado que aqui em Cajazeiras (PB) existia uma família, parenta próxima do cangaceiro Jararaca. Procurei localizá-la e cheguei, em dezembro de 2005, à Dona Maria Pedro da Silva, 81 anos, viúva, residente no Bairro Vila Nova em Cajazeiras. Depois dos cumprimentos de praxe, perguntei a mesma sobre o seu parentesco com Jararaca e ela me respondeu: “Sou neta de Jararaca, que ficou ferido e depois morreu em Mossoró, quando Lampião tentou invadir aquela cidade”. Em seguida, perguntei à Dona Maria, o que ela sabia sobre a pessoa e a história do seu avô Jararaca e a mesma, com uma lucidez impressionante, foi relatando: - “O meu avô se chamava Patrício Pedro da Silva, era natural de São José de Lagoa Tapada (PB). A minha avó dizia que o mesmo era moreno, de cabelo bom e muito corajoso. Pai de cinco filhos: José, Hanorina que era a minha mãe, Antônia, Severino e Raimundo”. Procurei saber de Dona Maria o motivo do seu avô ter entrado no cangaço e ela me respondeu: - “Meu avô largou minha avó e se juntou com outra mulher chamada Maria José, no ano de 1921. Com essa teve um filho e como moravam todos próximos na Beira do Rio, no município de Cajazeiras, a minha avó aproveitou que Maria José foi tomar banho frio, do final do resguardo, e lavar os panos do neném recém-nascido no rio e lhe aplicou uma grande surra. O meu avô ficou muito revoltado com a esposa e mandou lhe dizer que vinha acertar as contas com ela. Um irmão dele, chamado Manuel Pedro da Silva, tomou as dores da cunhada e mandou avisar ao irmão Patrício, que se fizesse algum mal a minha avó, morreria na hora. A família da mulher, vítima da surra, queria uma providência, então o meu avô ficou sem saída. Foi na casa da minha avó e disse a ela que ia para o Cangaço de Lampião, ia se chamar Jararaca e não voltaria nunca mais. Foi embora e até hoje”. Quis saber quando e como a família ficou sabendo da morte de Jararaca, em junho de 1927, na cidade de Mossoró, ela respondeu: - “Os meus pais moravam no distrito de Boqueirão município de Cajazeiras em 1939, eu tinha 13 anos. Vizinho da gente morava seu Nezim Guarda, o qual tinha um irmão chamado Quinco que morava em Mossoró. O mesmo vindo passear em Boqueirão falou para minha mãe Hanorina, filha de Jararaca, que o mesmo tinha morrido em Mossoró, quando Lampião tentou invadir aquela cidade. Daí em diante, nós todos da família, passamos a acreditar na história contada por seu Quinco, como sendo a verdade sobre o fim de Patrício Pedro da Silva, o Jararaca”. Ouvi tudo atentamente e no final da conversa disse a Dona Maria que, com absoluta certeza, o Jararaca de Mossoró não era o seu avô Patrício Pedro da Silva e que se tratava de um equívoco, pois o cangaceiro com esse nome que morreu em Mossoró, foi José Leite de Santana, nascido em 1901, natural de Buíque (PE) e que entrou no Bando de Lampião em 1926. Dona Maria me agradeceu as informações, mas lamentou ter ficado tanto tempo acreditando numa história que não representava a verdade sobre seu avô. Em 2006, Kydelmir Dantas e Paulo Gastão, Diretores da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço), fizeram uma visita a Dona Maria, aqui em Cajazeiras e ouviram essa história. A pergunta que fazemos e não temos a resposta exata, é a seguinte: seria Patrício Pedro da Silva, o Jararaca I, que foi morto em combate, entre abril e maio de 1922, na localidade Açude velho, Vila Bela, hoje Serra Talhada, pelas volantes comandadas pelos tenentes Manuel Benício, paraibano e Optado Gueiros, pernambucano? Érico de Almeida, no seu livro “Lampião, sua história” (1998, p.27), faz referência a esse fato afirmando que foram mortos, nesse combate, os cangaceiros “... Coruja, Jararaca e Vereda...”. O pesquisador e escritor paraibano Bismarck Martins de Oliveira, no seu livro “O Cangaceirismo no Nordeste” (2002, p. 232-233), menciona a existência de três cangaceiros do Bando de Lampião com o nome Jararaca, em épocas diferentes. Sobre o Jararaca I, o autor não tem dados biográficos, apenas que foi morto em 1922, em Vila Bela; sobre o segundo, José Leite de Santana, o Jararaca de Mossoró, a sua história é contada em verso e prosa. Sobre o terceiro, era baiano e entrou no bando de Lampião, quando o mesmo passou a agir naquele Estado a partir de 1928. Com essas, linhas fica registrada mais uma das milhares de “Histórias do Cangaço”.
(*) O autor é Professor de Historia, Pesquisador do Cangaço, membro da União Nacional de Estudos Históricos e Sociais (UNEHS) e sócio da SBEC.
Se você leitor, bem analisar (ver site do Kiko Monteiro, mas lembre que nada contra a quem escreveu, e nem tão pouco ao Kiko Monteiro, apenas contra o depoente), ver que as informações do suposto Ezequiel, são simplesmente farsas. E comparando as fotos que possivelmente foram feitas no mesmo período que ele esteve em Serra Talhada, não tem semelhança uma com a outra.
Ezequiel Ferreira, suposto irmão de Lampião
"Em 16 de
janeiro de 1985, segundo o site, o Ezequiel de Valença deu uma entrevista ao jornalista Antônio
de Pádua, do “Jornal da Manhã”, de Teresina, deixando-se fotografar ao lado do
vereador valenciano Luís Rosa. Suponho que o alegado irmão de Lampião temia
alguma repercussão jurídica negativa de sua entrevista, pois estava presente na
mesma o afamado advogado piauiense Dr. Alfredo Cadena Neto, segundo a
reportagem".
Na minha opinião, o que ele temia, era que a sua farsa fosse desmascarada diante das pessoas presentes. O motivo mais para isso, não existia, vez que já havia se passado tantas décadas depois do ocorrido no cangaço. Isto era o seu medo. Nada judicial. Ele já tinha conhecimento que aqui no Nordeste, ninguém mais falava em cangaceiros, porque, o Getúlio Vargas já havia perdoado todos os delinquentes da empresa do seu irmão.
Em 1999 estivemos na cidade piauiense de Valença do Piauí, onde iríamos colher subsídios para nosso livro “Antiguidades Valencianas”, sobre vestígios pré-históricos, arte rupestres, lendas, folclore, causos, ufologia, belezas rurais, etc. Ali nos chamou atenção uma curiosa notícia, de que um dos irmãos do famigerado Lampião teria vivido naquela Cidade em tempos idos. O texto abaixo é uma condensação do que escrevemos naquele livro, publicado em 2000, atualizado com notícias de outras fontes.
No Piauí mesmo o temível cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), vulgo Lampião, nunca pisou. Isso em que pese uma falsa notícia de que travara um combate em forças policiais no sul do Estado.
As sangrentas e polêmicas passagens do cangaceiro pelos sertões nordestinos nunca o trouxeram ao nosso Piauí.
Mas, curiosamente, há um interessante, mas não provado relato de que um dos seus irmãos, o caçula, teria vivido algum tempo em Picos e depois em Valença do Piauí, centro do Estado Para nos inteirar desta veracidade ou não desta história, nos dirigimos a uma modesta casa no Bairro valenciano de Cacimbas, onde fomos encontrar Dona Luzia Alves Ferreira, nascida em 22 de maio de 1914 (hoje provavelmente falecida).
Ali fomos recebidos pela alquebrada, mas lúcida anciã, sempre muito desconfiada e relutante, nos liberando aos poucos a história do irmão do Rei do cangaço em Valença do Piauí. Porém, vaidosa, não nos permitiu por nada que fosse fotografada, alegando não estar adequadamente trajada para a ocasião. Assim sua imagem conseguimos através de uma fotógrafa da cidade, que nos cedeu gentilmente a preciosa foto que apresentamos neste artigo.
O cangaceiro Ezequiel fotografado em 1929...
...E o suposto "Ezequiel valenciano"
Segundo Dona Luzia, Ezequiel Ferreira, também conhecido como José Gomes (?), seria o irmão caçula de Lampião, muito novo na época do cangaço para empunhar armas.
Este pernambucano, da atual cidade de Serra Talhada, não teria dívida alguma com a justiça e vivia com outro irmão de Virgulino Ferreira, João Ferreira, onde tinham um pequeno comércio. Ezequiel, por sua vez, teria vindo de Picos (Piauí) para Valença por volta de 1980, vendendo, como ambulante, chapéu, fumo e alho.
Sem filhos, o irmão do cangaceiro passou a viver maritalmente com Dona Luzia até sua morte, no início dos anos 1990, sendo enterrado ali mesmo, em Valença do Piauí. Antes teria sido casado mas sobre sua primeira mulher, não sabemos nada. Em Valença teria vivido num sítio de propriedade de Dona Luzia.
“Como a senhora conheceu o irmão de Lampião?” – Indaguei.
“Conheci ele na feira de Valença” – respondeu ponderadamente a Sra.
“Ele não era valente como o famoso irmão? – Perguntamos
“Não senhor. Ele não gostava de armas de fogo. Ele só acompanhou o bando carregando armas e ajudando noutras coisas, pois era muito pequeno. Era um homem de faca...”
“E como a senhora soube que ele era mesmo irmão de Lampião? – Quisemos saber.
“Ele mesmo contou pra todo mundo ouvir.”
“E as pessoas acreditavam nele?” – Interrogamos.
“E ele era muito respeitado pelos vizinhos, pois era um homem calmo, e se dava bem com todo mundo.
Mas as pessoas diziam pra mim tomar cuidado com ele. As pessoas não acreditavam que ele era irmão de Lampião porque ele era moreno e não tinha olhos azuis como o cangaceiro.”
Obs: Lampião não possuía olhos azuis mas um deles (o direito) apresentava leucoma, com a característica cor clara.
“Durante todo tempo em que ele viveu em Valença do Piauí ele foi visitado por algum parente?” –
Quisemos saber.
“Um tempo veio um casal de filhos de João Peitudo, filho de Lampião que mora em Juazeiro do Norte (Ceará). Nessa época o Ezequiel estava muito doente. Depois, ele foi com João Peitudo conhecer a família em Serra Talhada. Lá inclusive conheceu antigos inimigos da família. Um deles o convidou para uma visita uma sua casa. Desconfiado, o Ezequiel não aceitou o convite.”
“E o que ele dizia sobre o famoso irmão?” – Perguntamos.
“Dizia que Lampião não fazia mal a qualquer um. Só perseguia os inimigos. Também não perdoava os “macacos” da volante (polícia) e os entregadores (dedos duros).”
“Mas o Ezequiel confirmou a morte do irmão em Angico (Sergipe) em 1938?
“Não! Lampião nunca morreu naquela emboscada. Nem ele nem Maria Bonita. Lampião mesmo morreu foi no Rio do Sonho (Sono?), em Goiás, há uns 20 anos. “Nessa época o Ezequiel já estava em Valença.”
Obs: Quem fugiu e morou em Goiás foi Sinhô Pereira [1896-1979], antigo chefe do bando que tinha como membro Lampião. Pereira chegou a convidar Virgulino para se acoitar com ele em Goiás, coisa recusada pelo cangaceiro.
“E os dois mantinham algum tipo de correspondência? – Indagamos.
“Não se comunicavam, não. Mas um dia o Lampião mandou uma carta perguntando se Ezequiel queria ir morar com ele lá em Goiás. Ezequiel respondeu que não, pois gostava da vida tranquila aqui em Valença.”
Esta é uma história que se mistura folclore, com tradições e elementos intrusos suspeitos e incoerentes, senão vejamos.
O irmão de Lampião, Ezequiel Ferreira da Silva, vulgo “Ponto Fino” era realmente mais novo do que Lampião, pois nascera em 1908. Porém integrou o bando como membro armado, como pode se ver numa das imagens desta matéria.
Lampião teve quatro irmãos homens além de quatro mulheres. Dos quatro irmãos homens, três acompanharam Virgulino no Cangaço: Antônio Ferreira, o mais velho [1895-1926] que morreu em 1926 num acidente bobo no qual numa brincadeira com Luiz Pedro seu fuzil caiu no chão e disparou acidentalmente. Livino Ferreira (1896-1925) que morreu em 1925 num combate noturno com uma força volante.
O caçula Ezequiel (1908-1931) foi abatido no dia 23 de abril de 1931 no tiroteio da Fazenda Touro, povoado Baixa do Boi, no Estado da Bahia, ponto conhecido como Lagoa do Mel. João Ferreira (1902-?) foi o único que não abraçou o Cangaço.
Assim, Ezequiel não pode ter vivido com dona Luzia nos anos 1980, já que morrera em 1931. Também não procede a afirmação de Dona Luzia de que estando vivo Ezequiel em Valença, moraria com outro irmão de Lampião, João Ferreira, o único que nunca entrou no Cangaço. João, ao que se sabe, foi morar em Osasco SP ou em Propriá, Sergipe.
Outro engano de Dona Luzia é que o tal João Ferreira da Silva, o João Peitudo (1942 - 2000), seria filho de Lampião, em que pese supostas provas apresentadas de sua filiação a Lampião e Maria Bonita (inclusive um DNA inconclusivo). Conhecido como João Peitudo por ter sido lutador de boxe, morreu de ataque cardíaco em Juazeiro do Norte-CE. Se nasceu em 1942 não poderia ser filho de Lampião e Maria Bonita, chacinados em 1938.
Longe de taxar dona Luzia como mentirosa, é possível que ela tenha ouvido narrativas de alguém que veio das bandas do cangaço, e talvez até de um parente de Lampião (mas nunca um irmão) esta história e nela tenha acreditado piamente, dentro de suas limitações intelectuais. Assim conviveu maritalmente e acreditou ter como companheiro um irmão do cangaceiro morto há décadas.
Em nenhum momento a velha senhora tentou me impressionar ou ser taxativa de maneira irredutível. Somente discorreu sobre o tema que lhe indaguei.
Quando o suposto Ezequiel esteve em Serra Talhada em 1984 para rever a família e tirar documentos para aposentadoria (?) conseguiu convencer alguns parentes e outros moradores de que era realmente o irmão do Lampião. Mas cometeu alguns escorregões quando, por exemplo, deixou de visitar sua única irmão viva na época, Dona Mocinha. No mais, nenhum pesquisador aceita esta versão de sobrevivência de Ezequiel Ferreira
Em 16 de janeiro de 1985, o Ezequiel de Valença deu uma entrevista ao jornalista Antônio de Pádua, do “Jornal da Manhã”, de Teresina, deixando-se fotografar ao lado do vereador valenciano Luís Rosa. Suponho que o alegado irmão de Lampião temia alguma repercussão jurídica negativa de sua entrevista, pois estava presente na mesma o afamado advogado piauiense Dr. Alfredo Cadena Neto, segundo a reportagem.
Garantindo que era o irmão de Virgulino. disse que havia fixado residência em Valença do Piauí por volta de 1980 e era analfabeto, sendo sua profissão “banqueiro”, ou seja, possuía uma banca de vender artigos regionais, como fumo de rolo, rapadura, farinha, calçador, livretos de cordel, remédios caseiros, etc. Disse ainda que frequentava a Cidade desde 1952 como ambulante.
O Ezequiel valenciano acrescentou que viajou constantemente como ambulante para as cidades nordestinas de Mossoró (Rio Grande do Norte), Bom Jardim (Pernambuco) e Catolé do Rocha (Paraíba), lugares onde era bastante conhecido. Mas não explicou se era conhecido como um vendedor valenciano comum ou como irmão do célebre cangaceiro Lampião.
Contou ainda sobre incontáveis anos do bando de lampião em escaramuças contra os “nazarezistas” (ferrenhos inimigos de lampião, os volantes nazarenos viviam no Povoado de Nazaré, próximo a Serra talhada). Disse ainda que não sabe quantas pessoas morreram no campo de luta mas que nunca matou ninguém, sendo apenas um rastejador, destinado a informar ao bando de Lampião a aproximação dos inimigos.
O que o Ezequiel Valenciano nunca explicou em suas entrevistas foi como escapou dos tiros que recebeu das volantes que, historicamente, causaram sua morte nem como escapou para o Piauí. Outro problema que observamos é que na entrevista, o repórter se refere a Ezequiel como sendo um senhor de 72 anos em 1985, tendo nascido no dia 6 de janeiro. Ora, tendo nascido em 1908, o verdadeiro Ezequiel deveria ter 77 e não 72 anos em 1985.
Na entrevista ao repórter Antônio de Pádua o Ezequiel valenciano fala do assassinato do pai e da mãe quando se sabe que somente o pai foi assassinado. A mãe morreu de desgosto dias depois. Mistérios, folclore, fantasia, elucubrações desenfreadas e afirmações desencontradas. Cada um faça seu julgamento.... ..........
Créditos Reinaldo Antiquário
Fontes: Coutinho, Reinaldo. Antiguidades valencianas. Teresina, 2000. "Irmão de Lampião diz que nunca Matou Ninguém". Matéria publicada por Antônio de Pádua, no Jornal da Manhã, Teresina 16 de janeiro de 1985.
Rostand Medeiros – Escritor e Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
Quando a Segunda Guerra terminou os comerciantes de Natal perceberam que logo os tempos de fartura proporcionado pela presença das tropas norte-americanas na cidade, com muitos dólares nos bolsos e nas mãos, chegaria ao fim. Fato que efetivamente aconteceu quando os últimos gringos partiram em 1947.
Mas muitos setores da cadeia produtiva da cidade aproveitaram a circulação dessa gente por aqui, principalmente o de bares e restaurantes. Que nutria expectativas positivas em relação ao futuro, pois nessa época Natal havia chegando aos 100.000 habitantes.
Apesar de todo esse movimento e otimismo, ao analisarmos os antigos jornais percebemos um elevado número de reclamações dos frequentadores dos restaurantes locais.
Lugares Para se Comer, dar Tiros e Brigar
No velho bairro da Ribeira existia um local que para alguns era apenas um café, para outros um restaurante, mas o certo é que no final da década de 1940 o “Cova da Onça” era um dos pontos mais tradicionais da cidade. Com bons quinze anos de funcionamento, ficava localizado na Avenida Tavares de Lira, bem próximo ao Rio Potengi, sendo um ambiente muito ligado às questões políticas da cidade. Basicamente era frequentado por homens, sendo também “um ponto de intercâmbio da grei intelectual da terra”, como certa vez comentou o escritor natalense Francisco Amorim.
Mas na década de 1930, como muita coisa que se relacionava com a política local era motivo para extremas violências, o “Cova da Onça” também teve seu momento de medo e tensão.
Na manhã do dia 29 de outubro de 1935 estava deixando Natal o bacharel em Direito Mário Leopoldo Pereira da Câmara, que desde 2 de agosto de 1933 exercia a interventoria federal no Poder Executivo do Rio Grande do Norte. Seu governo foi marcado por muitas obras, mas também por despotismo, radicalismo, extremismo e violência, até que a oposição local manobrou para lhe apear do poder e Getúlio Vargas o chamou de volta ao Rio de Janeiro.
Nesse dia Mário Câmara se dirigiu ao cais da Avenida Tavares de Lira para embarcar em um hidroavião da empresa aérea Sindicato Condor, sendo seu carro acompanhado por um grande número de membros da Guarda Civil, órgão de segurança pública criado por ele anos antes. Justamente ao passar em frente ao “Cova da Onça”, os adversários cobriram na vaia o ex-interventor e os membros dessa força policial. Diante da afronta esse pessoal armado não contou conversa e, em meio a tensão reinante, sacaram de suas armas e mandaram bala em direção ao restaurante. Na confusão teve até padre de Parabélum na mão que abriu fogo contra outros cristãos. Por milagre, só quatro ficaram feridos.
Não está acreditando que na bela e tão decantada Natal do passado existiam esses arroubos de violência política? Então veja essa foto acima, de uma das páginas do processo aberto sobre os fatos ocorridos naquele dia, com o depoimento do comerciante José Mesquita.
Voltando aos restaurantes…
Nesse final da década de 1940, quando a Ribeira era muito frequentada e o transporte ferroviário tinha uma atuação muito intensa, com linhas de trens chegando ao distante interior potiguar, dentro da Estação Ferroviária da Central, na Praça Augusto Severo, existia o “Restaurante Café-Central”, com serviço de bar e restaurante, onde se destacava um farto almoço e um gostoso “Café Expresso” para o público que embarcava e desembarcava dos vagões.
Nesse período o principal restaurante da cidade ficava na esquina das ruas João Pessoa e Princesa Isabel, no centro da cidade e pertinho da área conhecida pelos natalenses como Grande Ponto. O local se dividia entre restaurante e sorveteria e se chamava “Cruzeiro”, pertencendo a Afonso China, tendo a parte operacional ficado a cargo de Francisco de Assis Bezerra. Essa casa abriu em fevereiro de 1945, onde ali aconteceram muitos eventos importantes do “Grand Monde” da cidade.
Pertinho dali existia o “Bar e Restaurante Grande Ponto”, do qual consegui poucas informações. As mais relevantes foram duas e que nada comentaram sobre questões gastronômicas. Em maio de 1947, provavelmente por razões ligadas à política, os bacharéis de Direito Romildo Fernandes Gurgel e João Medeiros Filho saíram no bofete dentro desse local. Um ano depois estavam respondendo ao competente processo, que seguia tendo à frente o promotor Aderson Dutra Lisboa. A bronca judicial, como era normal, não deu em nada, mas o restaurante palco do pugilato de tão nobres figuras foi logo posto à venda [1].
Tempos depois um articulista desconhecido reclamou que esse local deixou de ser um restaurante para se tornar um salão de bilhar e sinuca e que tal fato também tinha acontecido anteriormente com uma popular sorveteria chamada “Rio Branco”, na avenida homônima, que deixou de vender gelados para se tornar um salão de esporte de tacos e bolas [2].
Havia o “Restaurante Rinder Bar”, também conhecido como “Restaurante de Areia Preta”, localizado na praia do mesmo nome, que tinha boa comida, principalmente frutos do mar. Mas naquela época o lugar era considerado tão longe da cidade que em maio de 1946, quando ali foi organizado um jantar para homenagear o Sr. José Anselmo, novo diretor dos Correios e Telégrafos, foi necessário disponibilizarem um ônibus no Grande Ponto para levar os convidados [3].
Na Rua João Pessoa, número 118, funcionava o “Restaurante Dois Amigos”, vizinho ao “Taco de Ouro” (outro bilhar), creio que na área da atual Praça Kennedy, antiga Praça das Cocadas. Era pequeno, mas muito conceituado e tinha ótima comida, sendo muito bem frequentado.
Na antiga Praça Pio X, onde hoje se ergue a Catedral de Natal, existia um restaurante, ou uma peixada, bem no meio da praça e que tinha uma arquitetura bem peculiar, sendo o prédio conhecido como “avião”. Era pequeno e aparentemente muito simples, mas existem inúmeras referências de encontros sociais e recepção de ilustres visitantes neste local. Como não tinha nada melhor pelo preço cobrado, levavam para esse mesmo. O lugar era conhecido nessa época como “Restaurante da Praça Pio X”, ou “Restaurante Noturno”, pois como a praça não tinha árvores e o calor era grande durante o dia, ele só abria a noite. Também encontrei referências que chamavam o local como “Peixada do Gabriel”. E como tudo nesse estabelecimento se ligava a Igreja, ele deixou a Pio X em 1955 e abriu suas portas na Praça Padre João Maria [4].
Muitas Reclamações
De maneira geral era isso que havia para degustar em Natal, com certo nível de qualidade. Mas quando lemos a quantidade de críticas sobre os restaurantes na urbe, percebemos que a situação era um tanto complicada nesse setor.
E críticas sobre essa questão vinham de todos os lados!
Começamos pelo Mestre Luís da Câmara Cascudo, que em uma “Acta Diurna” denominada “Natal precisa de cardápio…”, afirmava que Natal precisava “ter o direito de conquistar um cardápio brasileiro” e que era “preciso estabelecer dias certos para os pratos nacionais e divulgar na imprensa quais são esses dias”. O ilustre escritor, no alto dos seus conhecimentos sobre a alimentação no Brasil, afirmou que essa ideia não se tratava de “modificar o paladar, mas de ampliar os conhecimentos culinários e degustativos do cidadão natalense”.
Ele não reclamava de uma alguma possível invasão de comida yankee nos pratos natalenses, mas da “uniformização dos cardápios” existente nos restaurantes locais. Para ele isso era uma “catástrofe”. O interessante é que o exemplo que Cascudo apresenta para essa uniformização, ainda vemos a rodo nos “PFs” da vida. – “Fatalmente encontramos os mesmos pratos, com o mesmo arroz embolado e o mesmo falso churrasco com farinha amarela”.
Como referência do que poderia ser feito em Natal, Cascudo comentou que, através de informações que recebeu de oficiais norte-americanos servindo na capital potiguar, conheceu em Lisboa um restaurante maravilhoso e que se chamava “Farta Brutus”. O lugar era muito bem recomendado por não abrir mão da tradicional culinária lusitana, com muita variedade e alta qualidade do que era oferecido [5]. O interessante é que o “Farta Brutus” ainda funciona no mesmo local desde 1904, mais precisamente no Bairro Alto, Travessa da Espera, número 20. Atende com a mesma proposta do passado, mantendo a mesma qualidade e atraindo uma clientela fiel. Entre estes o escritor português José Saramago, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1998 e falecido em 2010, que tinha até uma mesa preferida no salão principal da casa [6].
Uns dois meses antes de Cascudo publicar essa “Acta Diurna”, no mesmo texto que um autor desconhecido reclamou da transformação do restaurante “Grande Ponto” em salão de sinuca, ele realizou uma severa crítica sobre os restaurantes de Natal. E o cidadão “rasgou o verbo”.
Afirmou que apesar de existirem muitos bares e restaurantes na cidade, nenhum deles “estava à altura do nosso progresso”. Reclamou da apresentação de pratos e talheres nesses estabelecimentos, onde existiam “xícaras de beira tiradas” e lamentava o “descuido” com a conservação desses lugares. Já as cozinhas normalmente estavam abertas, mas não primavam pela limpeza. Com uma péssima impressão em relação ao asseio [7].
Um outro articulista, sem declinar o nome, não reclamou da questão do estilo dos pratos preparados, ou da conservação e limpeza dos restaurantes, mas chiou com os preços altos e o péssimo atendimento. Afirmou que comer fora em Natal no ano de 1948 era caro, talvez “a cidade no Brasil onde se paga muito pela alimentação e a que pior serve”.
Essa pessoa comentou essa questão no momento em que Natal perdia alguns voos internacionais que aqui realizavam suas paradas para reabastecimento, embarque e desembarque de passageiros. Como nessa época a questão da autonomia e velocidade dos aviões de transporte não contava com as vantagens tecnológicas dos dias atuais, muitas das aeronaves dessas empresas realizavam paradas de algumas horas em Parnamirim e seus passageiros pernoitavam em Natal. Pernoitavam mal e comiam pior! [8].
Em meio a essas situações, a cidade oferecia a possibilidade de sucesso para um empreendedor que tivesse a iniciativa de abrir um bom restaurante.
Uma Família de Italianos Que Aprendeu Que em Natal “Se Paga 20, Para não Ver o Outro Ganhar 10”
Provavelmente após o fim da Segunda Guerra, talvez em 1946, foi quando Francisco Maiorana veio junto com sua família para a capital potiguar, oriundos de Recife, Pernambuco. Na realidade seu nome era Francesco, mas aqui teve o nome abrasileirado para Francisco. Acredito que nasceu no final do Século XIX, ou nos primeiros anos do Século XX. Era oriundo do sul da Itália, da cidade de Totora, região da Calábria, província de Cosenza [9].
Em Recife ele era conhecido como “comerciante”, sendo casado com Angelina Chiappetta Miorana, que provavelmente também nasceu no sul da Itália. Eles tinham um filho de nome Rômulo Elégio Dario Severo Miorana Chiappetta, nascido em Recife no dia 20 de outubro de 1922. Sabemos que Rômulo tinha um irmão chamado Francisco (ou Francesco?), que se formou em economia, mas dele não obtive maiores informações.
Descobrimos também que esse casal de italianos morava na região da Várzea, zona oeste de Recife [10]. Inclusive para corroborar a localização onde vivia essa família, existe uma notícia de 1928 informando que Rômulo Maiorana, quando tinha apenas seis anos de idade, se destacou nos quesitos de “comportamento e aplicação”, no curso infantil do Colégio Oratório da Divina Providência, no bairro da Várzea, comandado na época pelas irmãs Magdalena e Veronica [11].
Os jornais não esclarecem qual era a atividade comercial que Francisco realizava, mas trazem bastante informações sobre a movimentada e respeitada “Escola de Corte e Alta Costura de Mademoiselle Angelina Maiorana”, que funcionava no primeiro andar do número 76, na Praça do Mercado São José, também conhecida como Praça Dom Vital, vizinho a Basílica da Penha [12]. E o negócio andava tão bem que encontrei a informação que Dona Angelina e o jovem Rômulo, então com 16 anos, partiram de Recife no transatlântico Oceania, em direção ao porto de Nápoles, Itália [13].
Provavelmente foi nesse momento que Rômulo ficou na Itália para estudar e foi envolvido pela participação desse país na Segunda Guerra. Ele foi incorporado ao exército de Mussolini, mas ficou na retaguarda, com a função de datilógrafo. Já sua família passou por dificuldades no Brasil.
Segundo uma notícia do jornal recifense Diário da Manhã, de 21 de agosto de 1942, Francisco Maiorana foi preso em Maceió, Alagoas, juntamente com outros oito homens, todos acusados de serem “Súditos do Eixo”, ou seja, simpatizantes do nazifascismo. Não sei se pesou nessa decisão o fato do seu filho se encontrar na Itália, envergando o uniforme do exército desse país.
O certo é que em agosto de 1942 Francisco Maiorana esbarrou com o bacharel em Direito Ari Boto Pitombo, um dos mais severos e duros homens da lei em Alagoas durante o período da Ditadura Vargas.
Consta que após os afundamentos dos navios brasileiros nas costas dos estados de Sergipe e da Bahia, que levaram à morte de mais de 500 pessoas, o Dr. Pitombo mandou encarcerar mais de 30 “súditos dos países totalitários” e colocou esse pessoal todo para trabalhar de enxada na mão, abrindo valas nos bairros de Maceió para o “Serviço da Malária” e sob guarda fortemente armada [14].
Não sabemos a razão de Francisco Maiorana ficar preso na “Terra dos Marechais”, mas é importante ressaltar que em nossa pesquisa nos jornais disponíveis no Arquivo Nacional e na Biblioteca Nacional, não encontrei a menor referência que ele tenha atentado contra a integridade da nação brasileira em Estado de Guerra.
Tudo indica que para ele e sua família a situação foi muito pesada. Com o fim da Segunda Guerra e o retorno do seu filho Rômulo da Europa, eles decidiram se mudar para Natal.
Na capital potiguar Francisco Maiorana abriu as portas de um comércio na Rua Princesa Isabel e o batizou de “Casa Vesúvio”. O nome era em alusão ao Monte Vesúvio, um dos mais ativos e perigosos vulcões do mundo, que fascina os italianos do sul, fica a poucos quilômetros do centro da cidade de Nápoles e a cerca de 200 km ao norte de Totora.
Os Maiorana trabalhavam bastante no seu comércio, vendendo roupas, perfumarias, miudezas, bicicletas, plásticos, rádios valvulados, brinquedos e muito mais. Era uma típica loja daquelas “tem de tudo” e por preços em conta. Mas eu percebi que conforme os Maiorana cresciam, aqueles italianos começaram a incomodar.
Infelizmente Natal é uma cidade conhecida pela inveja e mau-caratismo para com os comerciantes que crescem trabalhando. Tanto que por aqui se criou uma expressão onde se diz que “fulano paga 20, para não ver o outro ganhar 10”. E logo os Maiorana aprenderam essa lição!
Uma pessoa que se identificou apenas como “Um leitor”, escreveu no jornal católico natalense A Ordem, que os proprietários da “Casa Vesúvio” não respeitavam do descanso dominical, trabalhando nesses dias e que durante a semana só fechavam o estabelecimento após as 19 horas e assim desrespeitavam a “legislação municipal” [15].
Eu não descobri se os Maiorana pagavam corretamente aos seus funcionários por horários extras, mas não encontrei reclamações desses trabalhadores junto ao Sindicato dos Comerciários, que era bem ativo e forte nesse período. E vale frisar que a reclamação desse dito “Um leitor”, em nenhum momento comentou qualquer preocupação com a situação dos trabalhadores de Francisco Maiorana.
O certo é que um ano depois esse mesmo jornal divulgava, até com destaque, que a “Casa Vesúvio” havia ofertado “10 saquinhos de pipocas” para um sorteio do “Suplemento do Boletim Católico”, a página infantil publicada semanalmente pelo jornal. Não sei se os Maiorana continuaram abrindo nos horários e dias que geraram a reclamação, mas o certo é que não surgiram mais publicações negativas para a “Casa Vesúvio” nesse jornal [16].
É fácil perceber que a firma dos Maiorana teve um crescimento e ascensão muito rápido na capital potiguar no final da década de 1940. Daí, quem começa a surgir nas páginas dos jornais é Rômulo, que se aproximava dos 30 anos de idade.
Três situações parecem ficar patentes em relação a Rômulo e sua convivência com Natal e sua gente – A sua paixão pelo carnaval, pelo América Futebol Clube e por cultivar bons relacionamentos e amizades. Talvez por essas razões (e outras que desconheço) ele decidiu abrir nos primeiros meses de 1950 um tipo de negócio que estava bastante carente em Natal – Um restaurante com um elevado padrão de qualidade.
O “Acapulco”
Aproveitando que o restaurante “O Cruzeiro” havia fechado na esquina das ruas Princesa Isabel com João Pessoa, Rômulo Maiorana negociou o ponto. No dia 30 de março de 1950, uma quinta-feira, abriu um novo restaurante que ele denominou “Acapulco”.
Consta que ele se aliou com um húngaro chamado Zoltan Fried, que havia deixado a cidade de Kisvárda em 1946, certamente quando começou a perceber que o seu país caminhava para se transformar na República Popular da Hungria, fato que efetivamente aconteceu em 18 de agosto de 1949. Aparentemente ele procurou refúgio na Itália, pois morava na cidade de Florença, na Via Pandolfini, número 27. Em 21 de outubro de 1946 conseguiu o visto no Consulado do Brasil em Livorno e veio para o nosso país. Certamente esse húngaro chegou em Natal após ter tido algum nível de contato com Rômulo na Itália.
Em Natal já existiam locais que ofereciam um “chá das cinco”, até bombonieres e charutarias bem sortidas. O que aparentemente o “Acapulco” trouxe de diferente foi reunir tudo isso em um único local junto ao atendimento implementado pelo húngaro Zoltan.
Os dois sócios começaram a oferecer sistema de “delivery”, além de quase 50 pratos diferentes, com destaque para o “Filé Acapulco”, e mais de 30 tipos de sobremesas. Eles tinham uma adega bem sortida com vinhos portugueses, franceses, italianos, chilenos e nacionais. Logo a classe política se fez presente no restaurante “Acapulco”, conforme podemos ver na nota abaixo.
Além dos políticos, os jornalistas eram frequentadores habituais do local. Uma noite Aderbal de França, o conhecido cronista “Danilo”, chegou acompanhado de Veríssimo de Melo e Waldemar Araújo. Gostaram do que viram, do que comeram e “Danilo não economizou nos comentários positivos ao restaurante – “Convenhamos que numa cidade onde praticamente não existem hotéis e as casas de pasto primam sempre pelo péssimo serviço que oferecem e pela mais absoluta falta de higiene, um restaurante e quem se esforça por servir bem a clientela tem o direito de sobrevivência”.
“Danilo” também comentou que no “Acapulco” foram todos muito bem atendidos por Rômulo Maiorana, que colocou um garçom chamado Menezes, que os frequentes fregueses do meio político acharam de chamá-lo de “Senador” [17].
O “Acapulco” se tornou a nova coqueluche de Natal e começou a ser frequentado até pelos artistas de renome nacional e internacional que vinham se apresentar na cidade.
Um ano depois de inaugurado chegaram ao restaurante as cantoras paulistas Hebe Camargo e Lolita Rodrigues, acompanhadas do cantor italiano Ernesto Pietro Bonino. Esse trio realizou três noites de apresentações no palco da Rádio Poti de Natal, a ZYB-5, com grande sucesso de público [18]. Mas, segundo os jornais locais, foi a cantora Ademilde Fonseca, potiguar de São Gonçalo do Amarante e conhecida como “Rainha do Chorinho”, que verdadeiramente roubou a cena. Ademilde morava no Rio de Janeiro desde 1941, sendo a primeira cantora nordestina a encantar o país com esse gênero gracioso, brejeiro e bastante difícil de ser cantado.
Logo o “Acapulco” se tornou o ponto de referência dos artistas locais. Em 28 de janeiro 1952 o teatrólogo Inácio de Meira Pires lançou uma peça chamada “Alguém chorou a perdida“, escrita por Jaime dos G. Wanderley. Meira Pires se apresentou sozinho, interpretando os dramas do personagem “Evaldo”, que ele apontou como sendo “um homem só, com o seu desespero”. A apresentação foi um sucesso, sendo o cenário e o cartaz criações do pintor Newton Navarro.
Depois da apresentação Meira Pires, Wanderley, Navarro e Celso da Silveira, que contribuiu para a apresentação teatral, chegaram por volta das 23 horas no “Acapulco” para comemorar. O jantar contou com a participação de várias personalidades, como Aldo Cavet, Diretor do Serviço Nacional de Teatro, que veio do Rio de Janeiro para o lançamento. Além dele políticos da terra como Aluízio Alves e seu irmão Garibaldi estiveram presentes. Otoniel Menezes, apresentado pelos jornais como “príncipe da poesia potiguar”, declamou versos no “Acapulco” que foram apreciados por todos.
No Pará
Apesar do sucesso do empreendimento, ainda em 1952 Rômulo Maiorana deixou a sociedade desse restaurante e logo se mudou para o norte do país, para a cidade de Belém, no Pará. Não descobri a razão para isso!
Lá ele esteve envolvido em vários negócios comerciais e se tornou dono de um jornal chamado “O Liberal” e anos depois criou o “Grupo Liberal”, que atualmente é o maior grupo de comunicação do estado do Pará e o 9.º maior grupo de comunicação do Brasil.
Nos jornais potiguares estão registradas várias visitas de Rômulo Maiorana a Natal e em várias ocasiões ele recebeu os muitos amigos natalenses que estiveram em Belém. Como foi o caso de Aderbal de França, que lá esteve em 1957 e lembrou essa visita anos depois [19].
Apesar de Rômulo Maiorana ser um homem de jornalismo muito respeitado no norte do país, ter muitos amigos em Natal e manter boas relações com os órgãos de imprensa do Rio Grande do Norte, quando ele faleceu aos 63 anos, no dia 22 de abril de 1986, me causou estranheza ter sido publicado praticamente nada sobre esse fato.
Se não fosse seu amigo Mozart de Almeida Romano ter mandado rezar uma missa de sétimo dia pelo seu falecimento e o jornalista Vicente Serejo ter publicado uma nota sobre essa missa na sua coluna “Cena Urbana”, do jornal dominical O Poti (ed. 27/04/1986), muita gente em Natal desconheceria sobre o seu passamento.
Atualmente uma rua no Conjunto Morada Nova, no bairro de Felipe Camarão, homenageia o jornalista Rômulo Maiorana.
NOTAS
[1] Ver Diário de Natal, edições de 14/03/1948, domingo, p. 12 e 11/04/1948, domingo, p. 7.
[2] Ver Diário de Natal, ed. 05/08/1948, sexta-feira, p. 3.
[3] Ver A Ordem, Natal-RN, ed. 01/03/1946, terça-feira, p. 4.
[4] Ver Diário de Natal, edição de 17/02/1950, sexta-feira, p. 6. e o jornal O Poti, 02/12/1955, sexta-feira, p. 3.
[5] Ver Diário de Natal, ed. 02/07/1948, sexta-feira, p. 2.
[7] Ver Diário de Natal, ed. 05/08/1948, sexta-feira, p. 3.
[8] Ver Diário de Natal, ed. 10/08/1948, terça-feira, p. 4.
[9] Ver Diário de Natal, ed. 21/11/1972, terça-feira, p. 8. Existe uma outra informação, não confirmada, de que Francisco seria da cidade de Aieta, ao sul de Totora.
[10] Ver Diário de Pernambuco, ed. 31/12/1930, quarta-feira, p. 3.
[11] Ver Diário de Pernambuco, ed. 05/12/1928, quarta-feira, p. 4.
[12] Ver Diário da Manhã, Recife-PE, ed. 07/02/1937, domingo, p. 3.
[13] Ver Diário da Manhã, Recife-PE, ed. 09/01/1938, domingo, p. 4.