Entrevistador: José Mendes - http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br
Entrevistado: Kydelmir Dantas
1. Quando a SBEC foi fundada, com
qual finalidade e quem foram os mentores da instituição? Quem são os membros da SBEC e quais os
critérios para nela ingressar? Durante esses anos todos de sua existência, que
eventos e publicações a SBEC tem realizado?
KD. A SBEC foi fundada em 13 de
junho de 1993, data aniversário que lembra a entrada de Lampião e seu bando na
cidade de Mossoró-RN. É uma entidade sem fins lucrativos que coordena um maior
entrosamento entre os pesquisadores, escritores e artistas brasileiros que
estudam e divulgam o Nordeste. Assuntos como Cangaço, Coluna Prestes, Canudos,
revoltas: Praieira, Balaiada, Cabanagem, Quebra-Quilos, Juazeiro, Padre Cícero,
Delmiro Gouveia e o progresso do nordeste, Quilombos, Luiz Gonzaga, Jackson do
Pandeiro e a Música Popular Nordestina; a Cultura e a Arte nordestinas são
prioridades nos estatutos da SBEC para debatermos e divulgá-los em eventos, no
Brasil e no exterior.
Quem e quantos são os
integrantes?
Escritores, Pesquisadores,
Poetas, intelectuais e alunos que se interessam pela pesquisa
histórico-sociológica do Nordeste e do Brasil.
Qual a abrangência dessa
entidade?
Inúmeros segmentos da sociedade
cultural, no âmbito das pesquisas em vários Estados do Brasil, com sócios
espalhados por este País continental.
O quê é necessário para se tornar
sócio da SBEC?
Precisa ter trabalhos
apresentados, artigos e/ou livros publicados, dentro dos diversos temas que
permeiam a mesma. O pretendente deverá ser apresentado por um sócio efetivo e
seu nome aprovado por, pelo menos, cinco outros sócios.
2. Há outras instituições e
núcleos de estudos do cangaço no Brasil?
KD. Acredito que há. Não conheço
uma com a abrangência da SBEC. O que sei é que há muitos pesquisadores e
escritores do tema Cangaço espalhados por este Brasil todo. Há grupos criados
na Paraíba, Ceará, Pernambuco e RN. Além de um grande evento formatado no
Ceará, pelo sócio e pesquisador Manoel Severo, que é o Cariri Cangaço, hoje
abrangendo CE, PB e PE.
3. Ainda há ex-cangaceiros de
Lampião, vivos?
KD. Até pouco tempo, sim.
Conhecemos Candeeiro, em PE; Aristéia e
Antonia de Gato, na BA; Moreno e Durvinha, em MG; Vinte e Cinco, em AL e Dulce,
em SP. Do nosso conhecimento, Dulce é a última cangaceira viva, e foi
companheira do cangaceiro Criança.
4. Quais são os livros e
documentários outros fundamentais para se conhecer o cangaço?
KD. Muitos livros são produzidos.
Poucos são criteriosos e imparciais. Destacamos uma lista pessoal, que
indicamos para quem quer conhecer mais a fundo o Cangaço no Nordeste
brasileiro: O Cabeleira de Franklin Távora; Sinhô Pereira, o Comandante de
Lampião de Nertan Macedo; Gente de Lampião: Corisco e Dadá de Antônio Amaury
Corrêa de Araújo; Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro Romântico de Raimundo Nonato;
Lampião, o Rei dos Cangaceiros de Billy Jaynes Chandler; Guerreiros do Sol e A
Estética do Cangaço, do Frederico Pernambucano de Mello; Lampião na Bahia de Oleone
Coelho Fontes; Nas Garras de Lampião de Antônio Gurgel & Raimundo Soares de
Brito; O Cangaço de Maria Isaura Pereira de Queiroz; Antônio Silvino: o
cangaceiro, o homem, o mito de Sérgio Augusto de Souza; Vingança não do Pe. Pereira
Nóbrega. Lampião, sua história do Érico de Almeida; Massilon, do Honório de
Medeiros; Lampião em Mossoró de Raimundo Nonato; A marcha de Lampião: assalto a
Mossoró de Raul Fernandes; Flor dos Romances Trágicos de Luís da Câmara
Cascudo; Lampião, senhor do sertão: vidas e mortes de um cangaceiro de Èlise Gruspan-Jasmin;
A Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão de Luitgarde
Barros; Os Cangaceiros – ensaio de interpretação histórica, do Luiz Bernardo
Pericás; O Incrível Mundo do Cangaço. Vol. 1 e 2, do Antonio Vilela de Souza; Cangaço,
uma ampla bibliografia comentada, do Melquíades Pinto Paiva. Considero os
principais.
5. Que avaliação você faz das
produções no cinema e na televisão, abordando o cangaço?
KD. Que nem os livros também há
muitos filmes realizados. Poucos, ou quase nenhum, seguem à risca os fatos
históricos. Há produções dentro dos diversos gêneros no cinema: Documentários,
comédias, seriados e pornôs. Destacamos, como principais: Lampeão, imagens
reais, de Benjamin Abrahão (1936); O Cangaceiro, de Lima Barreto (1953); Deus e
o Diabo na Terra do Sol (1964) e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro
(1969), de Glauber Rocha; Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry (1996); O Baile
Perfumado de Paulo Caldas e Lírio Ferreira (1996). No final dos anos 90 e
início do novo século foram produzidos vários vídeos documentários através da
SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço). Entre eles podemos destacar:
Sila, Ilda Ribeiro de Sousa (1999), Candeeiro de 2004, e Vinte e Cinco, Um
Cangaceiro de Lampião de 2005, todos eles produzidos por Aderbal Nogueira, de
Fortaleza – CE.
6. Lampião hoje é visto com certa
simpatia no meio universitário dos estudos sociológicos, como fruta da
sociedade de seu tempo. Enfim, ele é bandido ou herói?
KD. Veja bem. Virgolino Ferreira
e uma boa parte de homens de seu tempo, entraram no cangaço se dizendo
injustiçados. Acontece que Virgolino - que ganhou a alcunha de Lampião - transformou
o cangaço em meio de vida. Para seus amigos, era um herói; para os inimigos e
perseguidores, um bandido. Para os pesquisadores do tema cangaço, seu
capitão-mor e para os nordestinos, um mito!
7. Por que há certo fascínio pela
figura do cangaceiro nordestino?
KD. O cangaço foi um movimento
social daquela época. Alguns entraram nele para fazer justiça com as próprias
mãos; outros por espírito de aventura e outros por ter como se proteger da
Polícia fazendo parte de um grupo. Estes últimos eram bandidos consumados, sem
retorno nem perdão. O fascínio, certamente, vinha da maneira de viver daqueles
homens. Sem patrão, nômades e donos de seu próprio destino.
8. O que aconteceu de
significativo com Lampião e seu bando em Mossoró e o que a cidade faz para
cultuar essa memória?
KD. A 13 de Junho de 1927,
Lampião e seus cabras, juntamente com mais 3 sub-grupos (os de Sabino, Jararaca
e Massilon) tentaram invadir Mossoró e foram rechaçados pela população desta
urbe, devidamente comandada pelo seu prefeito, Rodolpho Fernandes de Oliveira
Martins. Este homem reuniu seus amigos, parentes e correligionários, juntamente
com a pequena guarnição comandada pelo Tenente Laurentino de Morais, e obteve o
que se considera, nas pesquisas do cangaço, a maior derrota de Lampião no
Nordeste, (afora sua morte, claro!). Hoje, 88 anos após este feito, a cidade
comemora a resistência, com um belo espetáculo denominado Chuva de Bala no País
de Mossoró. Além disto, há no Museu Histórico fotos e peças relacionados à
resistência e a presença da SBEC, desde 1993, que plantou esta semente da Resistência,
já que antes da criação desta entidade só se falava no ataque de Lampião a
Mossoró. Também, é claro, o Memorial da Resistência, que é um espaço dedicado à
vitória de Mossoró e seus heróicos defensores, sem deixar de mostrar o Cangaço,
representado pelos seus nomes principais e as imagens daqueles que combateram o
cangaço, as Volantes policiais dos estados do Nordeste brasileiro.
9. Você é um dos paraibanos mais
norte-rio-grandenses que conhecemos. Como se deu essa sua familiaridade com o
Estado potiguar vizinho?
KD. Nascido a 6 de setembro de
1958. Agrônomo, pesquisador e poeta de Nova Floresta - PB, filho da professora
Angelita Dantas de Oliveira (paraibana) e do agricultor Manoel Batista de
Oliveira (potiguar). Fiz o Curso Primário em Nova Floresta (PB), continuando os
estudos no Ginásio Agrícola de Currais Novos (RN) e no Colégio Agrícola de
Jundiaí, em Macaíba (RN). Conclui o curso de Agronomia na UFPB/CCA/Campus III –
Areia (PB). Sou pai de Joaquim Adelino e João Daniel e companheiro de Cecília
Monte (segunda esposa e potiguar). Portanto, pelo meu currículo já dá pra
perceber que a maior parte da minha vida foi no Rio Grande do Norte, sem deixar
de preservar o amor e a paixão pela Paraíba, como nos versos de Genival Macedo.
“morena brasileira do meu coração”.
10. Que cargo o sr. ocupa na
Petrobras e o que essa instituição tem feito em prol do fomento a Cultura no
Rio Grande do Norte?
KD. Desde abril de 1987, sou
funcionário da PETROBRAS, como técnico, trabalhando em Mossoró - RN, onde
resido e já tenho o título de cidadania, o que muito me orgulha. Então, há 28
anos estou na capital do oeste potiguar.
Com relação a esta grande
empresa, é uma das maiores fomentadoras culturais deste estado, investido em
teatro, literatura e música; há poucos dias encerrou-se o convênio com a
Fundação Vingt-un Rosado/Coleção Mossoroense, quando finalizou-se o projeto
Rota Batida, com a publicação de 12 títulos de livros de autores potiguares.
11. Quais entidades culturais
você faz parte e as suas considerações finais...
Somos sócios do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN;
Poetas e Prosadores de Mossoró –
POEMA; Academia Norteriograndense de Literatura de Cordel – ANLINC; Sociedade
Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC e da União Nacional de Estudos
Históricos e Sociais – UNEHS.
Agradecemos a oportunidade e o
apoio de sempre.
Mossoró – RN, junho de 2015.
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