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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

LIVRO DO ESCRITOR GUILHERME MACHADO

    Por José Mendes Pereira


Recentemente o escritor e pesquisador do cangaço Guilherme Machado lançou o seu trabalho sobre o mundo dos cangaceiros com o título "LAMPIÃO E SEUS PRINCIPAIS ALIADOS". 

O livro está recheado com mais de 50 biografias de cangaceiros que atuaram juntamente com o capitão Lampião. 

Eu já recebi o meu e não só recebi, como já o li. Além das biografias, tem fotos de cangaceiros que eu nem imaginava que existiam. São 150 páginas. Excelente narração. Conheça a boa narração que fez o autor. 

Pesquisador Geraldo Júnior

Prefaciado pelo pesquisador do cangaço Geraldo Antônio de Souza Júnior. Tem também a participação do pesquisador Robério Santos escritor e jornalista. Duas feras no que diz respeito aos estudos cangaceiros.

Jornalista Robério Santos

Não deixa de adquiri-lo. Faça o seu pedido com urgência, porque, você sabe muito bem, livros escritos sobre cangaços, são arrebatados pelos leitores e pelos colecionadores. Então cuida logo de adquirir o seu! 

Pesquisador Guilherme Machado

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guilhermemachado60@hotmail.com

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LIVROS DO ESCRITOR JOSÉ BEZERRA LIMA IRMÃO

   Por José Bezerra Lima Irmão

Diletos amigos estudiosos da saga do Cangaço.

Nos onze anos que passei pesquisando para escrever “Lampião – a Raposa das Caatingas” (que já está na 4ª edição), colhi muitas informações sobre a rica história do Nordeste. Concebi então a ideia de produzir uma trilogia que denominei NORDESTE – A TERRA DO ESPINHO.

Completando a trilogia, depois da “Raposa das Caatingas”, acabo de publicar duas obras: “Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste” e “Capítulos da História do Nordeste”.

Na segunda obra – Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste –, sistematizei, na ordem temporal dos fatos, as arrepiantes lutas de famílias, envolvendo Montes, Feitosas e Carcarás, da zona dos Inhamuns; Melos e Mourões, das faldas da Serra da Ibiapaba; Brilhantes e Limões, de Patu e Camucá; Dantas, Cavalcanti, Nóbregas e Batistas, da Serra do Teixeira; Pereiras e Carvalhos, do médio Pajeú; Arrudas e Paulinos, do Vale do Cariri; Souza Ferraz e Novaes, de Floresta do Navio; Pereiras, Barbosas, Lúcios e Marques, os sanhudos de Arapiraca; Peixotos e Maltas, de Mata Grande; Omenas e Calheiros, de Maceió.

Reservei um capítulo para narrar a saga de Delmiro Gouveia, o coronel empreendedor, e seu enigmático assassinato.

Narro as proezas cruentas dos Mendes, de Palmeira dos Índios, e de Elísio Maia, o último coronel de Alagoas.

A obra contempla ainda outros episódios tenebrosos ocorridos em Alagoas, incluindo a morte do Beato Franciscano, a Chacina de Tapera, o misterioso assassinato de Paulo César Farias e a Chacina da Gruta, tendo como principal vítima a deputada Ceci Cunha.

Narra as dolorosas pendengas entre pessedistas e udenistas em Itabaiana, no agreste sergipano; as façanhas dos pistoleiros Floro Novaes, Valderedo, Chapéu de Couro e Pititó; a rocambolesca crônica de Floro Calheiros, o “Ricardo Alagoano”, misto de comerciante, agiota, pecuarista e agenciador de pistoleiros.

......................

Completo a trilogia com Capítulos da História do Nordeste, em que busco resgatar fatos que a história oficial não conta ou conta pela metade. O livro conta a história do Nordeste desde o “descobrimento” do Brasil; a conquista da terra pelo colonizador português; o Quilombo dos Palmares.

Faz um relato minucioso e profundo dos episódios ocorridos durante as duas Invasões Holandesas, praticamente dia a dia, mês a mês.

Trata dos movimentos nativistas: a Revolta dos Beckman; a Guerra dos Mascates; os Motins do Maneta; a Revolta dos Alfaiates; a Conspiração dos Suassunas.

Descreve em alentados capítulos a Revolução Pernambucana de 1817; as Guerras da Independência, que culminaram com o episódio do 2 de Julho, quando o Brasil de fato se tornou independente; a Confederação do Equador; a Revolução Praieira; o Ronco da Abelha; a Revolta dos Quebra-Quilos; a Sabinada; a Balaiada; a Revolta de Princesa (do coronel Zé Pereira),

Tem capítulo sobre o Padre Cícero, Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos, o episódio da Pedra Bonita (Pedra do Reino), Caldeirão do Beato José Lourenço, o Massacre de Pau de Colher.

A Intentona Comunista. A Sedição de Porto Calvo.

As Revoltas Tenentistas.

Quem tiver interesse nesses trabalhos, por favor peça ao Professor Pereira – ZAP (83)9911-8286. Eu gosto de escrever, mas não sei vender meus livros. Se pudesse dava todos de graça aos amigos...

Vejam aí as capas dos três livros:


https://www.facebook.com/profile.php?id=100005229734351

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franpelima@bol.com.br

Ou com o autor através deste:


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A MORTE DO CANGACEIRO VIRGÍNIO FORTUNATO "

 Por Cangaço Eterno

https://www.youtube.com/watch?v=lpoGG8YvgiA&ab_channel=Canga%C3%A7oEterno

NESTE VÍDEO EXTRAIO O ÓTIMO TEXTO DO LIBRO " LAMPIÃO NA PARAÍBA" NOTAS PARA HISTÓRIA DE SÉRGIO DANTAS. ONDE RELATO COM DETALHES OS ÚLTIMOS MOMENTOS ATÉ A MORTE DO AFAMADO CANGACEIRO VIRGÍNIO FORTUNATO VULGO MODERNO.

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ENTREVISTA COM SINHÔ PEREIRA - ANTIGO CHEFE DE LAMPIÃO.

 Por Cangaçologia

https://www.youtube.com/watch?v=WN9q2-s4NLA

O antigo chefe cangaceiro Sinhô Pereira no ano de 1971 durante visita realizada à cidade de Serra Talhada em Pernambuco, sua terra natal, concedeu uma entrevista ao seu parente, Luiz Conrado de Lorena e Sá e falou sobre seu passado e sobre sua vida após ter abandonado o cangaço no ano de 1922 e a respeito do seu envolvimento com Lampião e seus irmãos (Antônio e Livino). Uma história de vida fantástica envolvida em vinganças, sofrimentos e sangue. A entrevista realizada por Lorena, que a princípio foi publicada escrita, foi por mim narrada e transformada em um documentário, visando garantir assim uma maior inclusão, abrangência, acessibilidade e entendimento por parte dos interessados pelo tema. Espero que gostem desse novo formato de apresentação que criamos, porque daqui pra frente vamos publicá-lo com maior frequência. Agradeço a todos vocês pela aceitação aos nossos trabalhos e por nos acompanharem. Grato. Geraldo Antônio de Souza Júnior - Criador e administrador do canal.

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HAGAHÚS ARAÚJO COMEMORA 90 ANOS DE VIDA E LUTAS SOCIAIS

Hagahús Araújo é filho do ex-cangaceiro Luiz Padre.

O ex-deputado estadual por Goiás e federal pelo Tocantins, Hagahús Araújo e Silva, comemorou no último dia 28 de agosto seus 90 anos de vida e de lutas sociais. Considerado um dos homens mais influentes do Congresso Nacional na década de 90, ele movimentou os corredores do Congresso Nacional para pôr fim as mordomias dos congressistas, ao propor a extinção do Instituto de Previdência dos Congressistas (IPC), que dava uma aposentadoria a deputados e senadores com apenas 08 anos de mandatos, com salário integral.

Com uma excelente vitalidade e muitas histórias pra contar, Hagahús Araújo reuniu família e amigos para comemorar estas noves décadas de vida, sete delas a serviço do povo do então norte de Goiás, conhecido como corredor da miséria, sempre tendo sua Dianópolis, onde reside até hoje como centro das atenções do hoje Sudeste do Tocantins. Considerado um dos homens com a maior folha de serviços sociais prestados ao povo Tocantinenses e o maior número de páginas de históricos de bom proveito já visto no estadão do Tocantins.

"Poucos cidadãos, no país, têm uma trajetória de vida como Hagahús Araújo e Silva, servindo ao próximo desde a mais tenra idade. E se dedicando a servir a uma comunidade e ao país independentemente de ocupar qualquer cargo".

Ele teve a coragem, com apenas 25 anos de idade, de idealizar, construir e dirigir por mais de 10 anos uma obra social que foi considerada uma das melhores do país: o Instituto de Menores de Dianópolis (TO) que,  em mais de meio século, mudou a realidade de uma região, formando lideranças em seu meio e conseguindo garantir um futuro melhor para centenas de crianças e jovens.

E raros são os políticos, no país, que podem servir de exemplo, como Hagahús Araújo, para uma geração carente de valores morais, de referências éticas, de modelos que unem e pacificam em momentos difíceis, que são paradigmas de dedicação, honradez e realizações públicas em todos os cargos que assumiu: como prefeito, deputado estadual duas vezes, secretário de Estado e deputado federal.

Com apenas 22 anos, Hagahús Araújo foi o mais novo diretor, no país, de obras do então Serviço de Assistência a Menores (SAM), órgão do Ministério da Justiça.  Com 25 anos de idade, no então sertão de Goiás, funda o Instituto de Menores de Dianópolis, cidade natal da sua mãe, Amélia Póvoa.

Era o ano de 1953. A pobreza e a miséria do antigo nordeste goiano tocaram na alma do jovem que já se via em condições de ajudar aquela região a melhorar quadro tão desolador, através da educação. Nascido em Patos de Minas (MG) em 31 de agosto de 1928, Hagahús tinha apenas formação ginasial no Colégio/ Internato dos Padres Sacramentinos de Nossa Senhora, em Patos, mas tornara-se um autodidata e leitor voraz e compulsivo, dono de vastos conhecimentos para a sua pouca idade. Destemor e o dom da liderança já moldavam a sua personalidade, até como herança genética: o seu bisavô paterno, Andrelino Pereira da Silva, o barão do Pajeú, " foi um dos mais influentes e poderosos políticos pernambucanos do início do século XX", de acordo com reportagem do jornal O Globo de 2/9/1971.

O pai de Hagahús, Luiz Pereira da Silva, o "Luiz Padre", foi levado pela mãe, Francisca- filha do barão do Pajeú- a entrar numa guerra de famílias que disputavam a hegemonia do Poder e que atingia o nordeste brasileiro. O marido de Francisca e avô de Hagahús, coronel Manoel Pereira da Silva Jacobina, um ex-seminarista conhecido como "Padre Pereira", foi escolhido para morrer, pelo clã adversário, justamente por ser o " mais querido dos Pereiras", como retratam os historiadores. Era um homem pacífico, vivia para fazer o bem no sertão do Pajeú, principalmente entre os mais humildes- e havia assumido a liderança da família com a morte do sogro e tio barão.

Após anos de luta para vingar a morte do pai, o jovem Luiz Padre (Zeca), com pouco mais de 20 anos, atende ao conselho do Padre Cícero Romão e deixa o Nordeste rumo ao sertão de Goiás. Em Dianópolis se casa com Amélia Póvoa, filha de Benedito Pinto de Cerqueira Póvoa, " capitão da Guarda Nacional e rico fazendeiro da região ", que morreu na chacina de "O Tronco", um dos mais tristes episódios da história de Goiás, como registra o escritor Osvaldo Póvoa. Zeca e Amélia foram constituir família no interior de Minas Gerais, em um ambiente de paz e muito trabalho, onde nasceram todos os seus filhos: Antônio, Hagahús, Vilar e Wilson.

Quando visitou a terra de sua mãe, pela primeira vez, a malária era o maior flagelo à saúde do povo na região. Hagahús, com 17 anos de idade, não teve dúvidas em se deslocar para Salvador (BA), cidade que não conhecia e a mais de mil quilômetros de Dianópolis, e de difícil acesso. Mas foi informado de que a capital baiana tinha estoque de Metoquina, remédio que curava o impaludismo que estava matando naquele sertão goiano. Sabia que teria o apoio do grande médico de Dianópolis, Alexandre Costa- primo de sua mãe - que ocupava cargo importante na saúde, no governo da Bahia. Conseguiu com Dr. Alexandre dez mil comprimidos de metoquina, que trouxe em uma mochila nas costas, em um trajeto a pé da serra de Taguatinga até Dianópolis, pois não podia esperar pela condução que iria demorar mais uns dias. A metoquina curava o doente com uma só dose de quatro comprimidos. E o tratamento era gratuito.

De outra feita, preocupado com o surto de paralisia infantil que já matava em Dianópolis, atingindo principalmente crianças, Hagahús se deslocou para a capital do país, então no Rio de Janeiro, à procura de vacinas. Conseguiu até mesmo um avião da FAB para o transporte das primeiras vacinas distribuídas ao interior do país. E muitas vidas foram salvas por aquele jovem destemido.

CASAMENTO

Com a fundação do Instituto de Menores de Dianópolis, que contou com o apoio de toda a comunidade dianopolina, principalmente da Casa Póvoa- e do amigo João Rodrigues Leal para lutar por recursos federais - Hagahús precisava contar com pelo menos um médico na cidade, quando não havia nenhum. A cada dia aumentava o número de alunos da sua grande obra social. Já conhecia bem a burocracia da capital do país, que era o Rio de Janeiro, e com certeza conseguiria meios de trazer para Dianópolis o primeiro médico, Dr. Manoel Pinheiro, e logo depois o seu irmão, Alceu Pinheiro, que construíram ali toda uma história de vida.

Com a chegada de médicos, Hagahús também se tornou o maior doador de sangue do município, em todos os casos de emergência, e até- em idade avançada- já não ter condições físicas para essa doação.

Com pouco mais de um ano após iniciar as obras do Instituto, Hagahús sentiu a necessidade de uma mulher ao seu lado, até para ajudá-lo na difícil missão de educar tantas crianças e jovens. Em 16 de fevereiro de 1955, casa-se com Josa, filha de Aurélio Araújo e Custodiana Wolney Araújo, uma das Dianas que deu nome à cidade de Dianópolis e neta do coronel Joaquim Wolney, que foi o maior senhor feudal da região.

Na época, Dona Josa era uma das quatro normalistas (professoras formadas) da cidade de Dianópolis. Ela se converteu em vida e alma do Instituto. Assumiu as tarefas maiores de educação em sala de aula, aprendendo com os amigos, funcionários do Instituto e com os livros a fazer queijos, conservas, doces, os pratos da cozinha nacional, e até internacional. E   aproveitar tudo que se produzia e já sobrava nas hortas e pomares fartos daquela instituição.

"Hoje tenho a certeza absoluta que tomei a decisão mais importante e acertada da minha vida, ao me casar com Josa. Eu já tinha um filho, Pedro Jorge- depois médico- que estudava em Belo Horizonte. Com Josa tivemos Iara, Ubiratã, Moema, Aracy e Juçara. Vivemos felizes em meio a todas as dificuldades. Criamos nossos filhos e concorremos, ao longo dos anos, para a melhoria das condições de vida de uns 500 outros", enfatiza Hagahús.

ESTADO

Após 10 anos à frente do Instituto - já uma obra consolidada, de referência nacional, com centenas de crianças abrigadas e outras centenas à espera de uma vaga- Hagahús sentiu a necessidade de repassar aquele grande projeto social às mãos do Estado, para que assumisse  a contratação de servidores que cresciam a cada dia e as despesas que surgiam com a expansão do Instituto. Cobrado pela família, também precisava se voltar para os seus filhos de sangue.

Aquela obra social não tinha dívidas e seus alunos tinham orgulho de não depender da caridade da comunidade local, que também era pobre. Viviam do seu trabalho e do que conseguiam por órgãos e verbas públicos. Hagahús havia demonstrado aos governos federal e estadual que, mudando a política no trato do menor, tudo passaria a dar certo, fazendo das obras sociais que abrigavam menores, celeiros de lideranças e educação de qualidade, e não depósitos de crianças com o simples intuito de trazer paz aos adultos.

O Instituto foi doado ao Estado de Goiás, em 1963, sem nenhuma dívida, com víveres em grande estoque e com um patrimônio estimado em Cr$ 50 milhões (50 milhões de cruzeiros, à época) valor duas vezes maior do que a soma de todos os recursos que a instituição recebera. Teve como tesoureiro da sua Associação Mantenedora, desde a sua fundação, o comerciante dianopolino e rigoroso Afonso Carvalho, e como secretário o também íntegro Benedito Póvoa, depois prefeito de Dianópolis.

CEPAIGO

Preocupados em garantir a continuidade dos trabalhos daquela obra, pelo menos com a manutenção do seu padrão educacional e de disciplina, o governo e a comunidade se uniram no propósito de a direção do Instituto ficar com o também competente e preparado Dr.Wilson Araújo, formado em Odontologia, que ali já vivia com a sua esposa Celeste, sendo bastante queridos pelos alunos e por todos os funcionários. Wilson era o irmão mais novo de Hagahús.

Tempos depois, Hagahús recebeu do governador Mauro Borges o convite para dirigir o Centro Penitenciário de Goiás (Cepaigo). Ali poderia colocar em prática as suas ideias avançadas, e até revolucionárias, para a época, na administração de um presídio. Era como uma missão. E Hagahús aceitou.

Mas veio o Golpe Militar de 1964 e Mauro Borges, discordando dos rumos daquele movimento, tentou resistir a uma intervenção em Goiás. "Fizemos uma revolução para evitar uma ditadura da esquerda e não aceitaremos sem resistência, mesmo pacífica, que uma ditadura de direita se instale em definitivo, a tortura seja a norma jurídica do País, governadores de Estados sejam desrespeitados em suas prerrogativas ao se negarem a ser interventores, ou apenas áulicos ou bobos da corte, quer em palácios, quer em castelos", explica o ex-governador e senador goiano no seu livro O golpe em Goiás. Diante das ameaças de invasão do Palácio das Esmeraldas pelas Forças do Exército, com a destituição do governador legitimamente eleito, o jovem e destemido diretor do Cepaigo não titubeou: reuniu os presos e disse-lhes que, se o Palácio fosse atacado, iria ajudar a defendê­-lo. Ocupava um cargo de confiança e não iria trair quem nele confiou. Perguntou se alguém ali queria acompanhá-lo:

- Conte com a gente, diretor. Aqui não tem ninguém preso porque errou o tiro, gritou um dos presos, em meio ao tumulto gerado pelo excesso de voluntários.

Não houve a anunciada invasão do Palácio pelas forças revolucionárias, mas Hagahús acabou preso como subversivo, juntamente com outros políticos goianos. "De diretor-presidente do Cepaigo, passei à condição de preso", ironiza Hagahús.

DESTINO

De volta à Dianópolis, é posteriormente eleito prefeito da cidade (1966-1970) e as suas boas relações com o então governador goiano Otávio Lage contribuem para o êxito de uma administração inovadora, tida como exemplo em todo o Estado.

Com as trágicas lutas pelo Poder encetadas por sua família no sertão de Pernambuco e pela família da sua mulher, Josiniana Araújo, em Goiás Hagahús aprendeu que política não se faz com rancor e que o adversário de hoje pode ser o aliado de amanhã. Só nunca transigiu com a corrupção, como atestam todos seus atos e pronunciamentos durante toda a sua vida pública e privada.

Conciliador e decidido a suplantar animosidades políticas em uma região tão castigada por elas, convida para o controle das finanças do município um dos líderes e mentor intelectual do grupo adversário, Coquelin Leal Costa que, anos mais tarde, viria a ser o bisavô dos seus netos. (Iara, filha de Hagahús, casou-se com um neto de Coquelin, o advogado José Alencar Costa Aires). A mulher do candidato que havia disputado com ele a prefeitura, Dona Diran Rodrigues, é nomeada diretora de um dos grupos escolares construído por Hagahús e batizado por este com o nome daquele que foi um desafeto do seu pai na região, o coronel Abílio Wolney.

Hagahús era incapaz de cultivar o ódio. Nas horas vagas, e, quando rapaz solteiro vivendo em Dianópolis, se enfurnava na rica biblioteca que Abílio Wolney mantinha em casa, trocando informações com o anfitrião e tendo desta toda atenção. Jamais Hagahús recebeu qualquer admoestação ou repreensão do seu pai por frequentar a casa do coronel Abílio.

A mulher com quem Hagahús se casou em 1955, sobrinha-neta de Abílio Wolney, era tratada com mimo de filha pelo sogro, Luiz Padre (Zeca).

O êxito de Hagahús à frente da prefeitura de Dianópolis garantiu a eleição, como candidatos únicos, dos seus dois sucessores no cargo, numa época em que era proibida a reeleição: César Póvoa e Hercy Rodrigues, que haviam trabalhado com Hagahús no Instituto. Por mais de uma década, sempre colaborando para o desenvolvimento da região, Hagahús não aceitou postos no executivo e nem disputou mandatos eletivos. Dedicou-se à família e conseguiu formar um bom patrimônio, cuidando também das propriedades rurais herdadas pelo casal.

REVIDE

Desafiado pelas disputas políticas, aceita ser candidato às eleições de 1982, elegendo-se deputado estadual por duas vezes. Na Assembleia Legislativa de Goiás teve uma atuação destacada e surpreendente, desde a sua estreia da tribuna, em 1983: o seu discurso, na posse dos novos deputados, foi interrompido 29 vezes por aplausos, de acordo com reportagem do jornal "Diário da Manhã", de 2 de fevereiro daquele ano.

Tamanha empatia com o público vinha da linguagem fácil e fluente utilizada por ele nos seus pronunciamentos, escritos de próprio punho, assim como em todos os documentos e ofícios que ele mesmo redigia e redige agilmente, utilizando-se de uma velha máquina Remington, hoje substituída pelo teclado do computador que também domina, mesmo com 90 anos de idade.

Hagahús teve a sua vida pública marcada pela defesa da moralidade administrativa, da ética e da transparência no trato com a coisa pública; pelo compromisso com os setores mais carentes da população, pronto para atender, a qualquer hora, a todos que o procuravam e o procuram.

Sem vícios, exceto o trabalho, com porte atlético e muita saúde, sempre gostou de aventuras: no período em que ficou sem mandato público, e quando praticamente não existiam estradas, regularmente fazia viagens com a família, sempre de carro, por todo o país e até por vários países da América do Sul. Saindo de carro de Dianópolis(TO), chegou ao Uruguai, Paraguai e Argentina, percorrendo fábricas do Sudeste e fazendas dos pampas gaúchos. No início da década de 70, passando por Mato Grosso, enfrentou com a família o "trem da morte" (à época, era quase a morte) para chegar, de carro, às Cordilheiras dos Andes, rumo às maravilhas das ruínas de Machu Pichu e Cuzco, no Peru, indo até a Bolívia e ao Chile. Queria provar que era possível uma saída daquela região do Brasil para o oceano pacífico, de carro, o que foi feito tempos depois.

Foi um dos pioneiros nos acampamentos de pescaria do rio Araguaia. Mas era no rio do Peixe e no ribeirão do Inferno (nas imediações de Dianópolis) que exercia o seu esporte favorito, a pesca de mergulho, com arpão, mais adequada à personalidade de quem sempre exigia resultados rápidos em tudo e não admitia ficar à mercê da vontade ou dos caprichos de ninguém, muito menos de um peixe.

E nesses momentos de paz e de estreita convivência com os amigos, ou com a família, aflorava a figura do pai carinhoso, amoroso e dedicado; do companheiro solidário e sempre disposto; do bom contador de casos, de notícias do país, do mundo e de fatos históricos, produto do seu "vício" pela leitura diária e constante de jornais, livros, revistas e até de bulas de remédio, além da incrível capacidade de ouvir.

Citava, de memória, enormes trechos de livros como Os Sertões, de Euclides da Cunha, Guerra e Paz, de Tolstoi, Dom Quixote, de Cervantes, dentre outros. Era o líder carismático e sensível, com seus gestos largos de bondade e humildade, sempre à frente de tudo, mas se portando como se fosse o último dos últimos.

PIONEIRISMO

Era sempre o primeiro a chegar para socorrer carros e caminhões que quebravam ou atolavam pelas estradas precárias do antigo nordeste goiano.

Colaborou para que o primeiro hospital da sua cidade, o São Vicente, fosse uma realidade; fez parte da primeira Diretoria da Cooperativa local, ajudou a organizar as primeiras creches e abrigo de velhos da cidade; trouxe o primeiro trator, o primeiro telefone e, como já citado, os primeiros médicos do município de Dianópolis, entre outros atos de pioneirismo e abnegação.

Muito lutou por medidas concretas de combate à corrupção, o desvio de dinheiro e à malversação dos recursos públicos. "Para nossa vergonha, o roubo da coisa pública já é a forma mais segura de enriquecimento rápido e até prova de inteligência", enfatizou em um dos seus inúmeros pronunciamentos sobre o assunto, quando deputado. "O trabalho deixou de ser uma fonte geradora de riquezas para se transformar em uma aventura de resultados duvidosos. Hoje, calo nas mãos são sinais de pobreza. Calos que enriquecem são aqueles produzidos na consciência".

Foi Hagahús também, em toda a sua longa vida pública, um combativo defensor dos agricultores e produtores rurais, das aposentadorias rurais, dos menores carentes, do direito à educação e à alimentação. Através de uma ação parlamentar eficiente, muito conseguiu para reduzir o fosso social que separava o Goiás desenvolvido da sua parte mais pobre, carreando recursos para o que viria a ser hoje o promissor estado do Tocantins.

Hábil articulador político, principalmente nos bastidores, Hagahús se uniu aos seus correligionários e amigos, então no PMDB de Goiás deputados Brito Miranda e José Freire para, com um trabalho dedicado na Assembleia Legislativa- vencer resistências contra a divisão de Goiás.  Foram, os três, também secretários de Estado do governador Íris Rezende, um amigo acima de interesses político-partidários.

TOCANTINS

Na primeira eleição para o governo do novo estado, na chapa do PMDB encabeçada por José Freire para governador, Hagahús teve a sua candidatura lançada ao Senado. Naquela eleição, chegou a receber o apoio carinhoso e desprendido do filho do seu amigo Milton, o tricampeão de Fórmula I Ayrton Senna, que, na infância, frequentava a fazenda do pai, próxima à cidade de Dianópolis. Porém, já na sua primeira eleição para o governo do Tocantins, o governador Siqueira Campos fez também os três senadores.

Como deputado federal, Hagahús foi um dos parlamentares do Tocantins que mais garantiu recursos do Orçamento da União para o novo estado, principalmente para Centros de Assistência à Crianças, construção de escolas, obras de infraestrutura no aeroporto de Palmas, Hospital Geral, reforma de unidades de saúde, abastecimento de água etc.

Em 1993, foi o recordista na apresentação e aprovação de emendas ao Orçamento que beneficiaram o Tocantins, totalizando o maior volume de recursos destinados ao estado.

Na sua luta por mudanças na política de trato do menor, foi um dos poucos deputados, à época, a levantar a voz contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), comemorando como uma das maiores conquistas do país. Para o deputado tocantinense, o ECA era "uma aberração" que levaria milhares de menores a serem utilizados pelo crime, "pois a lei que os cobre de direitos até os 18 anos irá metê-los na cadeia quando, adultos, repetirem os mesmos delitos que se habituaram a praticar na adolescência e ficarem impunes". Triste profecia do grande educador do Tocantins que, só agora, começa a ser reconhecida por muitos educadores respeitados.

Como produtor rural, Hagahús sempre condenou as invasões de terra, embora defendesse uma reforma agrária responsável. Em 1991, apresentou o Projeto de Lei n° 1.917 proibindo "assentar, alienar e ceder a invasores, a qualquer título, imóveis rurais e urbanos". Após anos de discussão, a sua proposta acabou sendo encampada e adotada, "apenas com um palavreado difícil" como lembra o autor  pelo governo Fernando Henrique Cardoso com a edição da Medida Provisória n° 2.027-46, de 21 de dezembro de 2000. Em um dos seus artigos, esta MP proíbe o Estado de utilizar, para fins de reforma agrária, terra invadida, "imóvel rural objeto de esbulho possessório ou invasão motivada por conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo....".

Com o término do seu mandato de deputado federal, Hagahús não escondia o desapontamento com a política, com a impunidade, com os privilégios, com os negócios escusos envolvendo dinheiro da nação e com o roubo da coisa pública. Passou anos cobrando uma ação conjunta dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) para combater a malversação do dinheiro público, sob pena de todos se desmoralizarem. "Há três Poderes e nenhum é modelo de perfeição. São independentes. Têm em comum a ineficiência, a corrupção e o Tesouro para mantê-los", dizia.

Após anos em cargos públicos, recebe hoje uma única aposentadoria: menos de três salários mínimos, o resultado das contribuições feitas ao longo da vida sobre oito (8) salários mínimos. Mas tem orgulho de, como deputado estadual por Goiás, ter trabalhado para acabar com a aposentadoria dos deputados goianos.

A política levou também quase todo o seu patrimônio, mas não a sua esperança de ver, um dia, um país melhor. E, fora da política, voltou a trabalhar para também recompor as suas finanças e recuperar parte do que perdeu, sem jamais deixar de contribuir, com ações concretas, para o progresso e desenvolvimento da sua região e do seu Estado do Tocantins, com vistas a um país mais justo e fraterno.

Mais informações sobre a Vida e Obra de Hagahús Araújo os interessados poderão obter lendo o livro HAGAHUS ARAÚJO UMA LIÇÃOO DE CIDADANIA, disponível na Internet em PDF e e-book. Nesse livro, organizado pela jornalista Iara Araújo Alencar Aires, são apaixonantes os relatos feitos pelo próprio biografado sobre passagens e fatos da sua vida, reconstruindo um pouco da história e dos costumes do país, de Goiás e do Tocantins.

O QUE HAGAHÚS FEZ POR DIANÓPOLIS

CIDADÃO

Como simples cidadão e com apenas 25 anos de idade, idealizou, fundou, construiu e dirigiu por 10 anos aquela que foi considerada a melhor obra social do antigo Norte/Nordeste goiano e uma das melhores do país: o Instituto de Menores de Dianópolis. Centenas de crianças e jovens que passaram pelo Instituto são hoje homens capazes em diversos setores, como prefeitos, no comando de bancos, em altos cargos do Tribunal de Conta do Distrito Federal e da Defensoria Pública de Goiás, na direção de Cooperativas Agrícolas, diplomados com honra em universidades públicas ou privadas, bons pai de família, empreendedores ou funcionários exemplares por onde passam.

Quando na região inteira do antigo Norte/Nordeste goiano não havia transporte regular, foi a Salvador(BA)  em busca do remédio que curava o impaludismo. Trouxe às costas frascos de Metoquina, para distribuição gratuita no combate à malária, o maior flagelo à saúde do povo naquela época. Tinha pouco mais de 20 anos.

Trouxe os primeiros médicos para a cidade (Dr. Manoel, Dr. Alceu e Dr. Chagas); foi dentista prático, por dois anos, apenas para atender à população carente gratuitamente, enquanto convencia o seu irmão, Dr. Wilson, a se fixar na região após formado em odontologia.

Ajudou a equipar o Hospital São Vicente e ali sempre esteve presente para colaborar, até mesmo como um dos maiores doadores de sangue do município.

Quando um surto de paralisia infantil estava matando crianças do então Norte/Nordeste goiano, a cidade de Dianópolis, por seus intermédios, foi a primeira do interior do Brasil a receber vacinas contra a poliomielite. Conseguiu na então capital do país, o Rio de Janeiro, até um avião da FAB para o transporte dessas vacinas que salvou muitas vidas na região.

Construiu o prédio que deveria abrigar um Instituto de Meninas em Dianópolis, depois Fórum da Cidade, sede do Batalhão da Polícia Militar e da Universidade do Tocantins (UNITINS).

Por semanas seguidas, pessoalmente trabalhando, locou a estrada que liga, por asfalto, Dianópolis, Novo Jardim- Sete Placas, Luiz Eduardo Magalhães, BR 020, que estava sendo desviada para outra região, deixando a cidade de Dianópolis ainda mais isolada.

Terras de sua propriedade, hoje nos Bairros Brasil e Novo Horizonte perfeitamente documentadas desde o início do século XX foram loteadas e vendidas pela prefeitura de Dianópolis sem que o proprietário ou sua família recebesse qualquer indenização ou permuta.

PREFEITO

Com a gestão de Hagahús à frente da prefeitura de Dianópolis foi inaugurada uma nova era na administração pública, com o município se destacando e se desenvolvendo em todos os setores.

Na área da educação, uma verdadeira "questão de honra" para o grande educador, foi criada a Escola Normal (formando professores para a região). A cidade/município contava apenas com um grupo escolar. Foram construídos mais três: no Instituto de Menores, o Grupo Escolar Abílio Wolney (no centro da cidade) e o Grupo Escolar do Rio da Conceição (então povoado). No município, que contava com apenas sete Escolas Rurais, foram criadas mais 18: do Santo Antônio, Abreu, Limpeza, Vazante, na Guanabara, Alto Alegre, Olho d�??Aguinha, S. Pedro, Misericórdia, Boa Sorte, Claro Grande, Malhadinha, Rio de Areia, Santa Luzia, Mombó, Missões, Usina, Chapadinha. Todas contavam com material escolar e merenda diária de qualidade. E funcionavam muito bem, com alto índice de frequência de alunos e bom rendimento.

Foi iniciada a urbanização da cidade, construídos os primeiros jardins em praças públicas, bem cuidados e podados (antes, flores ornamentais só existiam nos canteiros de alguns quintais ou plantadas em vasos), foram feitas calçadas e meios-fios, criado o serviço de coleta de lixo, conquistas antes inexistentes e inéditas naquela região.

Com o crescimento e progresso da cidade, a velha usina hidrelétrica do Manoel Alvinho teve de ser inteiramente reconstruída pela prefeitura, em outro local;

Trouxe para a cidade, depois de muita luta e viagens, as agências do Banco do Estado de Goiás e Banco da Amazônia, vindo depois o Banco do Brasil, graças às suas gestões.

Em apenas 28 dias e com recursos da prefeitura (O banco deu prazo de 90 dias), foi construído o prédio para instalar a primeira agência do Banco da Amazônia (BASA), hoje Câmara Municipal.

Construído o primeiro Fórum e adquirida casa para o Juiz.

Construídas pontes pelos sertões.

Construídas as estradas da Beira DÁgua e do Rio de Areia;

O brilhante trabalho realizado pelo prefeito na sua cidade e em toda a região  com a seriedade no trato da coisa pública e a conquista de um ambiente de paz entre as famílias dianopolinas foi reconhecido pelos dianopolinos. Estes elegeram, como candidatos únicos indicados por Hagahús, os seus dois sucessores na prefeitura de Dianópolis, quando não havia reeleição: os prefeitos César Póvoa e Hercy Rodrigues, que trabalharam com Hagahús no Instituto, sendo que Hercy também havia sido o vice-prefeito de Hagahús.

DEPUTADO ESTADUAL

Eu preciso enfatizar que, como deputado estadual e federal  eleito majoritariamente pela região do antigo Nordeste de Goiás Hagahús tinha o compromisso de trabalhar pelo desenvolvimento e mais investimentos em todos os municípios da sua região, o que fez de forma correta, além de defender um plano integrado de desenvolvimento para o que viria a ser o novo Estado e garantir recursos para toda a região que representava.

O movimento de divisão do estado de Goiás e posterior criação do Tocantins limitavam os investimentos do governo goiano na área desmembrada. Mesmo assim, entre outras obras para Dianópolis, Hagahús conseguiu:

  • Ginásio de Esportes Sólon Póvoa Filho

  • Energia vinda do Balsa Mineiro;

  • Feira Coberta do Ministério da Agricultura;

  • Trator e implementos agrícolas para atendimento a pequenos produtores;

  • Recursos para a manutenção do Instituto, Associação Servir, Associação Feminina Maçônica, creches, entre outras.

  • Obras de recuperação de estradas por toda a região.

  • Trabalho diuturno na Assembleia Legislativa de Goiás, e em reuniões no Congresso Nacional, para viabilizar a criação do novo Estado do Tocantins.

DEPUTADO FEDERAL

Com um trabalho árduo e íntegro junto à poderosa Comissão de Orçamento da Câmara, foi o parlamentar do Tocantins que trouxe para o Estado, em 1993, o maior volume de recursos orçamentários, beneficiando praticamente todo o novo Estado carente de verbas. Dianópolis, entre outros benefícios, foi contemplada:

Repasse direto à prefeitura de um valor correspondente a quase US$ 1 milhão (um milhão de dólares) para saneamento básico. Foi a maior dotação de recursos públicos já repassada ao município, em toda a sua história, por ação de um representante

  • Um caminhão para o Instituto de Menores;

  • Construção da ponte de concreto sobre o rio do Peixe, entre outros inúmeros investimentos e obras.

  • Assinatura de convênio com o BIRD para asfalto de estradas na região, beneficiando Dianópolis.

  • Equipamentos do Hospital Regional.

  • Poços artesianos no Gerais.

  • Abastecimento dágua na Sucupira.

  • Abastecimento dágua no Bairro Nova Cidade.

  • Construção da Escola na Pontinha.

  • Reforma e ampliação do Fórum.

  • Reforma e ampliação do Instituto de Menores.

  • Construção do Posto Fiscal da Garganta.

  • Ampliação da Escola Antônio Póvoa.

  • Reforma do Grupo Escolar São José.

  • Reforma do Grupo Escolar Abílio Wolney.

  • Ampliação da rede elétrica urbana em 200 postes.

  • Quarenta mil metros quadrados de asfalto em convênio com a prefeitura.

  • Melhoria na estrada da Garganta.

  • Construção de sessenta e cinco (65) casas populares na Nova Cidade.

  • Ponte pré-moldada no Córrego Cedro, estrada da Garganta.

  • Ponte pré-moldada no Córrego Buracão, estrada da Garganta.

  • Ponte pré-moldada no Córrego Santa Maria, estrada de Taipas.

  • Ponte pré-moldada no Córrego Riachão, estrada de Taipas.

  • Ponte pré-moldada no Córrego Taboca, estrada de Taipas.

  • Construção de bueiro celular na Maria dos Reis e no Córrego São Martins.

  • Criação de vários cursos com equivalência ao 2º Grau.

  • Veículos para a PM e para a Delegacia de Polícia.

  • Ambulância.

  • Veículos para a FAIS, Delegacia de Ensino e para a Regional de Saúde.

E outras conquistas.

 https://jtinoticias.com.br/noticia/hagahus-araujo-comemora-90-anos-de-vida-e-lutas-sociais/2440

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045 - O CRATO DE ANTIGAMENTE.

 Por Antônio Morais.

O Beato José Lourenço.

O sinal para o fim do Caldeirão começou com a morte do Padre Cicero no dia 20 de Julho de 1934, aos 90 anos. A igreja católica reivindicou os seus bens e uniu-se as elites para destruir a comunidade.

Em 1936, uma reunião, em Fortaleza, de representantes da Diocese do Crato, da Ordem dos padres Salesianos, da Liga Eleitoral Católica, do Deops, da Policia Militar e do Governo do Ceará, buscava um pretexto para pôr o fim da comunidade.

Estavam todos assombrados pelo fantasma de Canudos, onde o exército brasileiro fora seguidas vezes derrotado, até que, em l.897, promoveu o massacre de milhares de camponeses. Os participantes alegaram, também, o risco de o Caldeirão cair nas mãos de líderes marxistas.

O ataque foi definido, mas na hora da invasão o beato José Lourenço fugiu a Floresta da Chapada do Araripe.

De lá fugiu para o Exu onde veio a falecer em 1946 vítima de peste bubônica. Na morte a humilhação final. Seus seguidores carregaram o caixão por 70 km a pé até Juazeiro do Norte. Monsenhor Joviniano Barreto disse que não celebrava missa para bandido e não permitiu a entrada do corpo na capela.

Os seguidores então enterraram o corpo no Cemitério do Socorro. O beato José Lourenço sobreviveu a tudo e hoje é referência de resistência popular e como defensor das mais simples aspirações do povo nordestino: a de fazer brotar a paz e fartura do solo árido do sertão.

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AS GRUTAS DA SERRA DO CATOLÉ

 Por Rostand Medeiros


ESCONDERIJO DOS GRANDES CANGACEIROS

Rostand Medeiros – Escritor e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

Os fatos relacionados ao fenômeno do cangaceirismo possuem em suas variadas narrativas, locais que são referências pelos acontecimentos ali ocorridos. Pontos que se tornaram conhecidos por batalhas, ataques a cidades, assaltos e outros episódios, quase sempre associados ao sangue derramado, a valentia apresentada ou a derrota sofrida..
Serras na fronteira entre a Paraíba e Pernambuco.Foto Sólon R. A. Netto

Na área onde as fronteiras entre os Estados de Pernambuco, da Paraíba e do Ceará se encontram, existem no lado pernambucano um destes locais. Trata-se de uma elevação natural, com altitudes que chegam a mais de 1.000 metros e conhecida como Serra do Catolé. Este ponto geográfico, localizado ao norte da cidade pernambucana de São José de Belmonte, se tornou conhecido dentro do chamado “Ciclo do Cangaço”, por ser apontado por consagrados autores, como o local onde existiam grutas que serviam de esconderijos a cangaceiros famosos, como os de Sinhô Pereira e Luís Padre, além do “aluno” do primeiro, Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião.

Junto com os amigos Sólon Rodrigues Almeida Netto e Alex Gomes partimos da cidade paraibana de Manaíra, na fronteira com Pernambuco, seguimos acompanhados do amigo Antônio Antas, que estava nos ajudando na função de guia na região. Conhecedor das histórias dos cangaceiros e dos inúmeros confrontos na região do Pajeú pernambucano, além de privilegiada fonte de informações, Seu Antonio é um homem da conversa franca, aberta e prazerosa.

Nosso guia na região e verdadeira enciclopédia do cangaço, Sr. Antônio Antas. Foto-Sólon R. A. Netto.

A Saga dos Pereiras

Ele nos conta como se deu a luta dos Pereiras, hoje um verdadeiro mito na região.

Sinhô Pereira ou Sebastião Pereira e Silva nasceu em 1896, na antiga Vila Bela, atual Serra Talhada, na região do Pajeú, Pernambuco. Era sobrinho-neto de um rico fazendeiro, que possuía o titulo nobiliárquico de Barão do Pajeú.

Desde os tempos que os primeiros brancos chegaram ao Pajeú, estes viveram principalmente da criação de gado. Como a pecuária requer uma larga extensão de terras, em meio a uma região de gente valente, com a quase total ausência do Estado, não era rara a ocorrência de conflitos sanguinolentos entre famílias, que chegaram a durar décadas.

Em 1848, quase cinquenta anos antes do nascimento de Sinhô Pereira, sua família entra em desavenças políticas com a família Carvalho. Em 1907, com o endurecimento deste conflito, foi assassinado o então líder dos Pereiras, Manoel Pereira da Silva Jacobina, conhecido como Padre Pereira, que era assim conhecido por ter estudado em um seminário em Olinda, Pernambuco. Terra de bravos e com a quase total ausência do Estado, Pouco tempo depois, em resposta, um dos chefes dos Carvalhos é morto.

Três irmãos de Sinhô Pereira assumem por parte da família o combate contra os Carvalhos. Em 1916, um destes irmãos, conhecido como Né Dadu é morto no conflito e Sinhô Pereira assume seu papel no conflito fratricida.

Sinhô Pereira e Luís Padre (em pé).

O falecido Padre Pereira tinha como filho Luiz Pereira Jacobina, conhecido como Luiz Padre e primo de Sinhô Pereira. Logo os primos estarão à frente de um grupo de cangaceiros, que não vão se caracterizar pela rapinagem franca e aberta contra alvos aleatórios, mas pela missão proeminente de destruir a tudo e a todos que pertenciam, ou eram ligados aos Carvalhos. Os primos utilizavam o vilarejo de São Francisco, na época crescendo em número de habitantes, como sua principal base de apoio.

A forma de combate dos Pereiras é a guerrilha sertaneja. Para eles não existe outra opção, pois além de poderosos e bem armados, as ligações políticas dos Carvalhos com o poder constituído de Pernambuco, colocava ao lado destes a força policial.

Os fatos envolvendo estas lutas se perpetuaram na região; em uma manhã de junho de 1917, à frente de sete homens, Sinhô Pereira e Luís Padre atacaram a fazenda Piranhas, em Serra Talhada. Apesar de perderem um dos seus companheiros e terem outros feridos, o saque foi alto e a destruição intensa.

Em outro caso, o grupo dos Pereiras chegou um dia antes do casamento de um aliado dos Carvalhos, que evidentemente não ocorreu mais, onde a lua de meu do noivo foi de rifle na mão e perseguindo os Pereiras no meio da caatinga.

A perseguição das autoridades aos Pereiras era intensa, as vezes absurda. Em abril de 1919, após um combate contra o bando onde morrerem nove soldados. Os policiais pernambucanos, comandados pelo Coronel João Nunes, como forma de quebrar a resistência dos primos cangaceiros, simplesmente decidiram saquear e queimar totalmente o vilarejo de São Francisco. E assim foi feito!

Em meio a estes conflitos, os Pereiras utilizaram o apoio de fazendeiros da região para terem proteção e aproveitarem os vários esconderijos oferecidos, ou “coitos”.

Segundo o livro do jornalista cearense Nertan Macedo, intitulado “Sinhô Pereira-O comandante de Lampião” (pág. 87, Ed. Artenova, 1975), afirma que Luís Padre possuía terras na Serra do Catolé, onde o bando se escondia. Teriam eles utilizado cavernas?

Para nós que estávamos na região pesquisando, a suspeita era pertinente, pois outras publicações clássicas sobre o cangaço narram que grutas da Serra do Catolé foram utilizadas como esconderijos por Lampião e seu bando (Optato Gueiros, in “Lampeão-Memórias de um oficial de Forças Volante”, 4ª Ed., Editora Livraria Progresso, 1956, págs. 83 a 92 e Francisco Bezerra Maciel in “Lampião, seu tempo e seu reinado-Livro II-A Guerra de Guerrilhas-Fase de Vendetas”, 2ª Ed., Editora Vozes, 1987, págs. 115 a 129). Como sabemos que muito do aprendizado de Lampião e seus irmãos no cangaço foi passado por Sinhô Pereira, era bem possível que este tenha ensinado ao “Rei dos Cangaceiros”, os principais locais de esconderijo na serra?

Para tirar a dúvida, bastava ir lá.

Até o encontro com o Senhor Antonio Antas, estas eram a únicas informações que possuíamos sobre a passagem do bando dos cangaceiros pela serra. Nosso informante confirmou tudo que fora escrito nos velhos livros e acrescentou outras informações, nos animando para continuar a jornada.

Indicações

Seguimos pela bela cidade serrana de Triunfo, em direção a Serra Talhada, depois pela BR-232, até o entroncamento em direção a São José de Belmonte, percorrendo mais de 50 quilômetros de boas estradas de asfalto.

A partir de São José de Belmonte o caminho para a Serra do Catolé segue por 25 quilômetros de estradas de barro, até o distrito do Carmo. Neste aglomerado urbano, soubemos da existência do Senhor Francisco Maciel da Silva que poderia nos dar boas informações.

Carmo, em São José de Belmonte, Pernambuco. Foto-Alex Gomes.

Vivendo em uma casa simples do lugarejo, idoso, mas lúcido, o Senhor Maciel é um homem de pequena estatura, lento nos gestos e que utiliza um par de óculos com grossas lentes para poder enxergar. Apesar disto, a firmeza da sua voz, a lucidez e o forte aperto de mão, não deixam transparecer que ele possui 97 anos de idade. E comentou que durante anos viveu no alto da Serra do Catolé e que na sua propriedade existe uma gruta que foi utilizada como esconderijos de cangaceiros.

Já sua filha Maria do Carmo Rodrigues da Silva, de 66 anos, informou que quando ainda moravam no alto da serra, muitas vezes seus filhos traziam desta cavidade, cascas de balas de fuzis detonadas ou ainda intactas e em uma ocasião, um deles achou uma espécie de chave de fendas, aparentemente utilizada para manutenção rifles. Dona Maria nos informa que estes fatos não se restringiram apenas a pequenos objetos. Em anos passados, ela não recorda quando, em outro sítio existente na região da serra, em uma ocasião em que trabalhadores capinavam próximos a uma pequena gruta, foram encontrados dentro desta, segundo suas palavras; “um mundo de rifles socados nas furnas”.

Devido à idade, o Senhor Maciel não pode nos acompanhar, mas informou que um amigo por nome de Luiz Severino dos Santos, morador do Sítio Catolé, saberia muita coisa sobre estes esconderijos.

Os Caminhos para A Serra do Catolé

Seguimos então para a serra por uma estrada de péssima qualidade.

No trajeto percebemos a pequena quantidade de habitações existentes ao longo do caminho, onde a maioria delas se encontra com as portas fechadas, sendo difícil acharmos pessoas quem possa nos dar alguma informação. Vimos pequenas estradas vicinais, seguindo para pontos ignorados, onde mesmo com a ajuda do GPS, acabamos nos perdendo em algumas ocasiões.

Ao buscarmos informações com as poucas pessoas que encontramos, estes se mostraram arredios, desconfiados com quatro homens em um jipe EcoSport. Este comportamento estranho, bastante diferente do que estamos acostumados a encontrar nas nossas andanças pelo sertão nordestino, se explica pelo isolamento do local e a proximidade de três fronteiras estaduais, por onde “passa todo tipo de gente e bicho” como nos disse um lavrador local. Se hoje é assim, imaginemos então no tempo do cangaço.

Apesar dos percalços, cada vez mais a serra surgia imponente.

Subindo a Serra do Catolé. A árvore que da nome a serra são as palmeiras a direita do carro. Foto-Alex Gomes.

A Serra do Catolé possui características interessantes; além de elevada, extensa, é coberta com uma imensa quantidade de palmeiras conhecidas como coqueiro catolé (Syagus cromosa). Esta árvore, característica dos cerrados, é igualmente vista em praticamente toda a região Nordeste do Brasil, principalmente em locais com maior altitude, chega a ter em media 7 metros de altura e fornece uma amêndoa que se produz um fino óleo que é utilizado na culinária nordestina. Da sua polpa, principalmente no Ceará, se produz uma bebida chamada aluá e antigamente o sertanejo encontrava nesta caridosa árvore um palmito de gosto amargo, utilizado para temperar carne.

Entre esta verdadeira floresta de coqueiros catolé, vemos uma grande concentração de enormes blocos de granito, sendo esta outra característica desta interessante serra. Foi devido à ação da erosão, ao longo de milênios, que estes blocos rolaram ao longo dos declives da serra, e, ao se juntarem a outros blocos, formaram as cavidades naturais que os valentes cangaceiros do bando de Sinhô Pereira utilizaram em meio as suas lutas.

O “Coito” dos Pereiras e a Gruta da Pedra de Dé Araújo

Em meio a tantas pessoas com o semblante desconfiado, foi uma benção encontrar o riso aberto do Senhor Luiz Severino dos Santos. Homem tranqüilo, forte para seus 66 anos, comenta que nasceu na serra e de lá, no máximo só saiu até Serra Talhada. Para nossa surpresa, no começo do nosso diálogo, ao ser perguntado sobre estes esconderijos, ele confirma a existência das grutas e comenta que elas foram esconderijos usados pelo bando do seu avô, o próprio Luis Padre.

Surpresos diante desta declaração, passamos a conversar e buscar novas informações.

Conhecendo a história. Foto-Alex Gomes.

Segundo o Senhor Severino, a família de Luís Padre era proprietária do Sítio Catolé antes mesmo do inicio das “brigadas” contra os Carvalhos. Entre uma pausa e outra da luta, Luis Padre, Sinhô Pereira e o bando seguiam para a Serra do Catolé, onde se refaziam para novos combates. Aparentemente, entre estas pausas, Luís Padre iniciou um relacionamento com a sertaneja Ana Maria de Jesus. Logo deste encontro nasceram duas filhas do célebre cangaceiro, Emília e Agostinha Pereira da Silva, a última foi a genitora do nosso informante, sendo ela quem narrou as peripécias e as andanças do seu pai no cangaço.

As características de isolamento e as dificuldades naturais de acesso a serra, proporcionaram aos cangaceiros um verdadeiro local de descanso e apoio, mas por medo da polícia descobrir estes locais, o Senhor Severino informou que a permanência do grupo era sempre rápida e controlada. Todos os acessos eram vigiados, ninguém entrava ou saia da serra sem que Luis Padre e Sinhô Pereira soubessem. Percebemos a importância estratégica da serra e do Sítio Catolé, pois estamos a somente 18 quilômetros da fronteira cearense e a 3 da Paraíba, mostrando que a partir deste local estas fronteiras poderiam ser ultrapassadas e outros locais de apoios e de combate poderiam ser alcançados.

Em relação às cavidades, Seu Severino comenta que existem várias na região, que o grupo se escondia nelas quando havia notícias das proximidades da polícia, ou quando algum dos cangaceiros estavas feridos.

No abrigo de “Dé Araújo”. Foto-Alex Gomes.

Devido ao nosso tempo curto, pedimos para conhecer a mais representativa em sua opinião. Ele escolhe para uma que sua mãe lhe contou ter ido a este local, ainda criança, levada pelo pai cangaceiro, para ver um dos seus companheiros de luta que se recuperava de um balaço recebido. Ela lhe contou que o cangaceiro se chamava “Dé Araújo”, que havia sido ferido no combate das “Piranhas”, sendo trazido nas costas dos companheiros, onde foi tratado com raízes e produtos naturais. Na medicina destes cangaceiros, eles utilizavam um cipó facilmente encontrado na serra, que chamavam “cipó de baleado”, onde o mesmo era pilado, colocado sobre a ferida da bala, que cicatrizava o ferimento.

A cavidade passou a ser conhecida na região como “Gruta da Pedra de Dé Araújo”, sendo formada por um matacão granítico rolado e internamente, no centro da cavidade existe uma área arenosa, plana, onde sua mãe lhe dizia ser o “leito” do cangaceiro “Dé Araújo”, que se recuperou plenamente e voltou a luta. O Senhor Severino não soube informar se este lugar “Piranhas”, fora a mesma fazenda Piranhas, atacada pelo bando dos Pereiras em junho de 1917.

Religiosidade do sertanejo. Foto-Sólon R. A. Netto.

Em 1919, com o endurecimento da luta, onde a vitória total era impossível, mas a honra da família estava mantida, o conflito entra em um impasse. Neste momento surge a figura do famoso Padre Cícero, da cidade de Juazeiro, Ceará. O sacerdote pede aos Pereiras que deixem a região, que sigam para “o Goiás em busca de paz”. Eles acatam o pedido do religioso e decidem partir separadamente, levando cada um deles, um número reduzido de homens, os de maior confiança. Luís Padre consegue chegar a Goiás, mas Sinhô Pereira entra em combate no Piauí e, sem conseguir ir adiante, retorna para o violento Pajeú.

Tempos depois, em 1920, um pequeno grupo de seis cangaceiros, comandado pelo caçula dos três irmãos Ferreira, de nome Virgulino, entra no bando de Sinhô Pereira. Eles buscam vingança contra um vizinho de propriedade e de um tenente da polícia alagoana que havia matado seu pai. Durante dois anos Virgulino Ferreira da Silva, seria tornaria braço direito de Sinhô Pereira e aprenderia muito com o chefe, inclusive os esconderijos da Serra do Catolé. Em agosto de 1922, atendendo a outro pedido do Padre Cícero e acometido de problemas reumáticos, Sinhô Pereira deixa o Nordeste em direção a Goiás, onde reencontra o primo e juntos vão participar de outras lutas.

A Gruta que salvou Lampião

Chico Barbosa, já falecido, foi um agricultor que possuía uma pequena propriedade na Serra do Catolé. Morava próximo ao Senhor Severino, de quem era grande amigo e lhe contou ter sido durante algum tempo, cangaceiro do bando de Lampião.

Lampião, o “Rei do Cangaço”.

A razão da entrada do bando, de onde ele veio, o “nome de guerra” que adotou no bando e como Chico Barbosa deixou o cangaço, ele nunca declinou ao amigo e nem o Senhor Severino perguntou.

Ocasionalmente, quando queria, Chico Barbosa comentava ao vizinho suas andanças “nos tempos dos clavinotes”. Em um destes relatos comentou que chegou à Serra do Catolé através da passagem do bando pelo lugar, quando Lampião foi ferido no pé.

O caso se deu assim; no dia 23 de março de 1924, por volta das dez da manhã, uma volante comandada pelo major da polícia de Pernambuco, Thoephanes Ferraz, teve um encontro com Lampião e dois cangaceiros em uma área próxima a Lagoa do Vieira, distante apenas cinco quilômetros da Serra do Catolé. Na luta, o chefe cangaceiro foi seriamente atingido no pé e sua montaria foi morta, caindo sobre a perna de Lampião. Apesar disto, o bandoleiro consegue fugir. Seu bando então segue para o alto de uma serra, onde o chefe passa por uma recuperação. Sobre este caso ver https://tokdehistoria.wordpress.com/2011/02/10/quando-lampiao-quase-foi-aniquilado/

Alguns dias depois, segundo o boletim oficial emitido pelo mesmo major Theophanes Ferraz, às cinco e meia da tarde do dia 2 de abril, uma tropa do seu setor de ação, ataca o acampamento dos cangaceiros e morrem dois perigosos bandidos, Lavadeira e Cícero Costa. Já Lampião, ao empreender fuga, abre o ferimento e tem início uma séria hemorragia.

O chefe se esconde nas moitas, por pouco não é descoberto pela polícia. Durante três dias Lampião padece no meio da caatinga sem água ou alimentos, com uma grave ferida aberta. Por sorte um garoto o encontra, este chama seu pai, que começa a tratar do cangaceiro. Após se recuperar, Lampião manda comunicar a seus irmãos, que chegam ao local com um bando calculado em cinqüenta cangaceiros, entre eles supostamente estaria Chico Barbosa. Neste ínterim, a polícia sabia do grave ferimento de Lampião e as buscas na região eram intensas. Sem condições de seguir para algum local aberto para um tratamento melhor, o grupo seguiu para a Serra do Catolé.

Gruta que salvou Lampião. Foto Alex Gomes.

Chico Barbosa comentou que primeiramente Lampião veio para a gruta da “Casa de Pedra da Boa Esperança”.

O Senhor Severino, com extrema boa vontade nos levou a esta cavidade natural. Seguimos de carro em torno de dois quilômetros, até um ponto onde subimos uma parte da serra a pé, seguindo no meio de uma plantação de milho. O que vemos a partir do ponto onde se localiza a gruta é estonteante, é possível visualizar parte do Ceará e da Paraíba.

Chico Barbosa comentou ter Lampião sido transferido para outras cavidades na Serra do Catolé, como a Furna da Onça, localizada na fazenda Ingá. Mas foi na Casa de Pedra da Boa Esperança que ele passou mais tempo se recuperando. A razão era o isolamento do lugar e sua localização privilegiada.

Um mês após esta peregrinação por cavidades, o chefe cangaceiro será protegido por ricos latifundiários da fronteira entre Pernambuco e Paraíba, aonde vai se recuperar plenamente combatendo por mais quatorze anos, até ser liquidado em julho de 1938, na Grota de Angico, em Sergipe. Durante a continuidade da sua luta, onde vão morrer todos os seus irmãos que aderiram ao cangaço, ele vai incorporar ao bando mulheres, como a sua Maria Bonita e vai participar de inúmeros combates. Apenas ocasionalmente, na região próxima a zona do rio São Francisco, e de forma ocasional, o “Rei do Cangaço” voltara a utilizar cavidades naturais como abrigo.

Conclusão

Ainda criança, Agostinha Pereira viu seu pai Luís Padre, fugir para terras distantes e dele então não teve mais notícias.

Nos anos 50, chega a Serra Talhada um jovem bem instruído, simpático, de fala tranquila e vindo do sul do país. Ele busca entrar em contato com parentes de Luiz Pereira Jacobina, o temido Luiz Padre.

Foto de Luís Padre (a direita), entregue pelo seu filho. Foto- Solón R. A. Netto.

Era o goiano Hagaús Pereira, ativo membro da sociedade da cidade goiana de Dianópolis, filho de Luiz Padre, que a seu pedido buscava entrar em contato com a família deixada na Serra do Catolé. O Senhor Severino nos conta que uma parte da sua família seguiu para Goiás. Ele foi convidado, mas na última hora as belezas da serra falaram mais alto e ele está por lá até hoje.

Luiz Padre faleceu em 1965. Do avô que não conheceu ficou uma foto.

Para os privilegiados moradores deste local, a utilização da Serra do Catolé pelos cangaceiros no passado é um momento da história que cada dia mais se perde diante da concorrência desleal da televisão, provocando o desinteresse dos jovens em ouvir dos mais velhos os “causos” do passado.

https://tokdehistoria.com.br/tag/luiz-pereira-jacobina/

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