Por João de Sousa Lima
Zé Soares,
primo de Aristéia, jovem de dezesseis anos, na companhia do amigo Pedro Tomáz
seguiam para roça quando avistaram alguns cangaceiros que deram com a mão
chamando-os. O irmão chamou Zé para correr. Zé falou que se corressem podiam
morrer. Os dois foram ao encontro dos cangaceiros. O cangaceiro pedra Roxa foi
logo identificado pelos irmãos. Pedra indagou aos jovens:
- Quem tinha na casa de Pedro Jaquinta?
- Tinha uma mulher!
- O que ela tava fazendo?
- Tava torrando umas pipocas !
- Volte e traga uma cuia cheia de pipoca pra gente !
Os rapazes voltaram e quando deram o recado à mulher, ela caiu assustada.
Zé Soares apressou-se
- Avia (se apresse ) Carolina!
Ainda no chão a mulher respondeu :
- Pegue ai, meu filho!
Zé pegou a cuia e levou até o cangaceiro.
- Oi só tem o torrero!
- Tá bom, ta bom! Volte e traga um machado pra eu tirar uma abelha que eu achei aqui!
Zé voltou, encontrando a mulher ainda no chão, tentando se recuperar do susto.
- Levanta, Carolina, me dá um machado que a coisa tá apertando!
- Pegue aí debaixo do banco!
Zé entregou o machado a Pedra Roxa e o cangaceiro obrigou Pedro Tomáz a tirar o mel. A empreita entrou pela noite, gastando o rapaz, duas caixas de fósforos para clarear e fazer fumaça, espantando as abelhas.
De repente um barulho foi ouvido e um farol clareou os cangaceiros e os rapazes. Era um caminhão abarrotado de soldados. Os cangaceiros se abaixaram e por muita sorte não foram avistados. Refeitos do susto os cangaceiros foram saborear o mel. Pedra Roxa se aproximou dos dois irmãos e alertou:
- Olhe, vão embora, mais se conversarem que me viram, passam por essa daqui (apontando a boca do mosquetão )!
- Eu por mim me garanto, só não garanto por este daqui! Falou Pedro Tomáz.
Diante do embaraço da resposta do irmão, Zé ficou sem palavras para se defender. O cangaceiro ameaçou o jovem :
- Qué dizê, rapaz, que você é assim? Você agora achou! Você agora vai aprender a viver!
No momento de angústia, Zé Soares se lembrou da padroeira do Capiá a quem ele venerava : “ Valha-me Nossa Senhora Divina Pastora “ Clamou Zé, silenciosamente.
Com pensamento na santa, as palavras vieram e ele disse:
- Mais Pedro como é que você diz uma coisa dessas comigo, eu tenho visto esses homens muitas vezes, estando com você e nunca falei nem pra minha mãe!
Foram as palavras salvadoras. O cangaceiro reconheceu que estava seguro.
Os jovens puderam seguir o caminho de volta. No trajeto Zé reclamou de Pedro.
- Mais Pedro como é que você fala uma coisa dessas comigo?
- Agente com medo não Sabe o que diz!
A escuridão da noite era testemunha de uma conversa de amigo cobrava de um amigo a sua lealdade e a justificativa do medo servia para pedir perdão e ser perdoado.
Nota: Relato colhido pelo autor, no dia 25 de janeiro de 2007, em noite festiva, na novena consagrada à Divina Pastora, no Capiá da Igrejinha. Canapí, Alagoas, Presente a ex-cangaceira Aristéia e o próprio Zé Soares.
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