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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A MARCHA DO RIO MACHO

Por Clerisvaldo B. Chagas, 22 de janeiro de 2016 - Crônica Nº 1.501

Foi muito bom saber notícias sobre os efeitos das últimas chuvas nos sertões nordestinos. Cansado da longa estiagem em Alagoas, o sertanejo regozijar-se-á vendo escorrer água barrenta pelas ribeiras do Ipanema, Traipu, Dois Riachos, Desumano, Riacho Grande e Capiá. A flora se enverdece, as abelhas se agitam, a terra se perfuma e o gado escaramuça. Nas serranias os matos se cruzam, murmuram os córregos, a lua se lava. Na planície os homens gargalham, chota a raposa, encolhe-se o carcará. O rio Ipanema se renova, incha, desfila e marcha pelas areias grossas e meandros infindáveis.


E, lá no cantinho de comentário do blog, vejo a Guardiã da Mata, Diva Correia relatar de Capelinha (povoado de Major Isidoro-AL): “Amigo Clerisvaldo, seu livro nos ajudou muito no Projeto Água para Futuras Gerações. Aqui em Capelinha, nós, Guardiões da Mata lemos seu livro sem parar e discutimos muito a riqueza de detalhes para que pudéssemos conhecer o Ipanema de montante a jusante. Deus o abençoe ricamente. Muito tem sido emprestado aos professores e alunos. Abraços. Diva Correia sobre Ipanema um rio macho”.


Quanta honra em poder servir a uma população inteira!

Passamos ao amigo leitor mais uma informação de outras tantas boas notícias por onde o livro “Ipanema, um rio macho” tem palmilhado. Poderá ajudar historicamente ao IPHAN a tombar a igrejinha de Nossa Senhora dos Prazeres localizada em um morro do rio São Francisco, na foz do Ipanema, Belo Monte; pois foi ele que deu origem também ao nosso mais novo livro escrito: “Barra do Ipanema – Um povoado alagoano”, cuja capa será da artista plástica filha daquele povoado, Girlene Monteiro. É esse o livro que poderá cooperar para o tombamento.


Enquanto isso, santanenses, cuidado com as novas águas da corrente, pois dizem os mais velhos: “Quando o Ipanema enche, o inverno é bom”;  Mas também: “Ipanema botou cheia, leva um”.
(Fotos: Arquivos do autor).


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OS GRILOS

Por Rangel Alves da Costa* 

Os grilos são os insetos noturnos mais insuportáveis que existem. Muito mais que as muriçocas, os pernilongos, as vespas de luz, os cascudos e tantos outros. A desaparecida Sinhá Senhora já dizia que abaixo do céu e acima da terra nada atormenta mais que os grilos. E mais ainda porque a pessoa nunca sabe se estão na cumeeira, nas frestas da casa, embaixo da cama ou mesmo do lado de fora. E já teve gente que endoidou atrás dos cricrilados dos grilos.

Com efeito, o que aconteceu com João Vicentino foi coisa de não acreditar. O coitado do homem armou sua rede na sala do casebre de barro e ripa e se acomodou com a barriga roncando. Quando já começava uma madorna, eis que o cricri começou a ecoar. Tão alto era que parecia bem acima de sua cabeça. Tentou adormecer e não conseguiu. O cricri se fez ainda mais alto. Então se levantou, resolveu que iria ali e voltava já para resolver o problema.

Foi até a birosca mais próxima e tomou logo duas doses de casca de pau, pinga legítima com quebra-pedra. E mais umas três. Voltou raivoso e pronto para o extermínio de todo e qualquer grilo que houvesse na sua morada. Nem bem entrou na porta e já ouviu o cricado, mais outro e tantos outros. Meio tonto das doses a mais, começou a dizer que se era guerra que eles queriam, então era guerra que iam ter. Então começou a cutucar por todo lugar, a bater nos paus e nas ripas, até que o pior aconteceu.

Uma madeira de sustentação desabou e parte do telhado caiu bem em cima do coitado. E sobre sua cabeça, na ripa apodrecida, os grilos surgiram em cantoria festiva: cricri, cricri, cricri. Depois disso o juízo do homem nunca mais foi o mesmo. Não se sabe se pela pancada recebida ou por outro motivo, mas a verdade é que depois disso outra coisa não sai de sua boca que não cricri, cricri, cricri. E vive procurando oco de pau para se esconder e cricrilar como todo grilo faz.

Realmente difícil conviver com tais insetos sempre ocultos, sempre nos escondidos, ecoando sons que ora parecem perto ora longe, com aquelas fricções estridentes e suas inafastáveis presenças. Por que eles sempre estão, sempre cantam, sempre estridulam, sempre chilreiam, sempre cricrilam. E assim porque na ação noturna e costumeira de atormentar, os grilos guizalham, trilam, tritinam, e tudo se resumindo em insuportáveis e intermináveis cricri, cricri, cricri, cricri, cricri...


Não pelo perigo que apresentem, pelos ataques ou possíveis vítimas que possam fazer, mas simplesmente pelo seu canto. Sim, o seu canto. Imagina-se que toda canção soa bem aos ouvidos ou ao menos não dilacera os sentidos, mas com a dos grilos é diferente. Na verdade, os grilos não cantam, não assobiam nem soltam pios, apenas cricrilam de forma aterrorizante. É o cricrilar que atormenta a vida de qualquer um, que faz qualquer sujeito perder o juízo, como aconteceu com o coitado do Vicentino.

Imagine-se que após o anoitecer, quando a pessoa supõe poder encontrar a paz para repousar, e de repente tem início aquele som contínuo, invisível e apavorante. Cricri, cricri, cricri, cricri, cricri... A pessoa olha pelos cantos e nada encontra, sai em busca de alguma toca, mas apenas ouve cricri, cricri, cricri, cricri, cricri... Sente que os sons estão próximos, que enfim encontrou os malditos insetos noturnos, e então bate nos paus, sacoleja tudo até silenciar. Mas quando imagina ter resolvido o problema, após o primeiro passo começa a novamente ouvir cricri, cricri, cricri, cricri, cricri... A verdade é que ninguém em sã consciência seria capaz de suportar quase dentro dos ouvidos, repetidamente: cricri, cricri, cricri, cricri, cricri, cricri, cricri... Deseja apenas um pouco de sossego, deseja apenas dormir ouvindo apenas o som da ventania açoitando as folhagens, mas não consegue. Apenas o cricri, cricri, cricri.

Mas os grilos não se contentam em serem apenas insetos noturnos e cricrilando nas brechas escuras e ocos de pau, pois uma espécie humana sai de suas tocas durante o dia para os mesmos sons repetitivos e insuportáveis. Quem suporta os grilos humanos repetindo as mesmas ladainhas políticas, as mesmas gozações de futebol, as mesmas fofocas, os mesmos assuntos o dia inteiro e perante qualquer um que possa encontrar? “Você soube...”, “Tá vendo, eu bem disse que...”, “Só tem ladrão e quero ver se ainda votam num cabra assim...”.
Não somente no reino animal os cricrilados ecoam intoleráveis. Além de ser grilo dos piores, os seres humanos têm de conviver com outros grilos tão incômodos quanto os insetos. As contas que chegam, os preços nos produtos, os enredos televisivos, o sangue jorrando nos noticiários, os crimes e as roubalheiras. Todo santo dia tais grilos se repetem para atormentar ainda mais a já tão difícil existência. Difícil mesmo é saber o que é mais difícil de suportar, se o cricri cri dos grilos ou cricri cri de Brasília.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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O RAPOSA DAS CAATINGAS É SUCESSO NACIONAL E JÁ ESTÁ NA 3ª. EDIÇÃO


Se você ainda não comprou este fantástico trabalho do escritor José Bezerra Lima Irmão adquira-o agora. Saiu a 3ª Edição. Lembre-se que quando lançam livros sobre cangaço os colecionadores arrebatam logo para suas estantes.Seja mais um conhecedor das histórias sobre cangaço, para ter firmeza em determinadas reuniões quando o assunto é "cangaço". 

São 736 páginas.
29 centímetros de tamanho. 
19,5 de largura. 
4 centímetros de altura.
Foram 11 anos de pesquisas feitas pelo autor 

É o maior livro escrito até hoje sobre "Cangaço". Fala desde a juventude  e namoro dos pais de Lampião. Quem comprou, sabe muito bem a razão do 
"Sucesso a nível nacional do Raposa das Caatingas" 
que já está na 3ª. edição. 

O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:

(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 

Pedidos via internet:
Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:

Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345

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A IRA DE JOÃO GABIRU

Por Antonio Carlos Olivieri
Grota do Angico - Local do cerco a Lampião e seu bando.

Sexta-feira, sete e meia da tarde, fazia muito calor. Eu andava pela Barra-Funda. A esmo, apreciando o que sobrou de antigo no bairro, despreocupado com o resto do mundo. Empapado de suor, pelo resplandecente sol do horário de verão, entrei num boteco de esquina, o primeiro que encontrei e pedi uma cerveja no balcão, urgente. – Uma Brahma, pelo amor de Deus! É pra já, meu querido – respondeu, do outro lado do balcão, o rapaz de avental, com esse modo íntimo, embora nunca tivesse me visto antes. – No capricho!


Depois do primeiro copo, um homem novinho em folha, respirei fundo e passei a apreciar o interior do botequim, que não via uma reforma desde os anos 60. Balcão e bancos de fórmica, azulejos, lâmpadas fluorescentes. A gente só se dava conta de estar em 2005 devido à opulenta nudez de Juliana Paes, nos cartazes da Antártica. Para não me apaixonar por uma mulher impossível, voltei à atenção para a conversa de dois tipos ao meu lado. Os dois também bebiam e se divertiam depois de um dia de batente, contando casos um para o outro, com delicioso sotaque pernambucano. Um deles, o mais velho, parecia mesmo um repentista, pelo vozeirão grave e a eloquência narrativa, que se traduzia em uma vasta gama de expressões e gestos.

O tema dos casos era sua terra natal, a que não iam há muito tempo. Inacessível às suas posses, porém, o sertão se franqueava às suas lembranças. Era quase ali (no bar em que os três bebíamos) o mais remoto cocuruto de serra, do sertão de Pernambuco. Mas não se tratava do sertão atual, “muderno”, cortado por caminhões de carga, bolsas-famílias e antenas de TV, mas de um sertão de outro tempo, mitológico, onde os versos épicos dos cegos jamais se calam e o cangaço é eterno. Nos alto-falantes pendurados nos quatro cantos do recinto, a voz de Luiz Gonzaga inspirava os narradores. As doses de cachaça com que intercalavam os grandes goles de cerveja tornavam-nos cada vez mais eloquentes. Os enredos se sucediam, agrestes. Um deles me chamou a atenção.

Major de patente comprada, o fazendeiro Luiz Antonio Feitosa, de Cajarana, sertão da Bahia, devia muitos favores a Lampião. Entre eles, o de ter aumentado em muitas léguas os limites de sua propriedade. O rei do cangaço o auxiliou em rixas, intimidou e eliminou vizinhos. Pressionou juízes a favorecê-lo em pendências agrárias. Em troca, o Major lhe fornecia mantimentos e munições, bem como o acoitava sempre que o cangaceiro atravessava o São Francisco, fugindo das volantes de Pernambuco e Paraíba.

Certa ocasião, o Major tomava a fresca da manhã no copiá da casa-grande, quando avistou um cabra batendo alpercatas na estrada, caminhando em sua direção. Feitosa apurou a vista e reconheceu o homem, ainda distante. Era o negro Vicente do Outeiro, um cabra do eito, gente sua, mas que só o procurava nas ocasiões em que Lampião aparecia naquelas paragens, trazendo recados do cangaceiro.

- Bom dia, Major Feitosa – saudou Vicente, sem subir os degraus da varanda, olhando de baixo para cima. – Tenho um pedido para vosmecê. 


– Pois se achegue aqui, homem de Deus, não faça tanta cerimônia – respondeu o fazendeiro, bonachão, embora remendasse, resmungando para si mesmo, entre dentes: – Os recados que você me traz, é melhor que sejam dados ao pé do ouvido. 

O negro aproximou-se, tirando o chapéu de palha. 

- Major, o Capitão Virgulino mais três cabras estão aqui perto, no sitiozinho que o senhor conhece, perto do Tanque, atrás do bosque de oiticicas. Os homens vêm de um combate danado que toparam há três dias lá para as bandas de Triunfo. Foi tiroteio de mais de cinco horas, que começou bem para o capitão. Até que apareceu, não se sabe de onde, uma tropa federal com 150 praças que deram sustento ao fogo da volante do tenente Maurício. Os cabras de Lampião estavam cercados.

- Não me diga... – fez o Major, apreensivo.

- Mas os cangaceiros conseguiram furar o cerco – prosseguiu o negro, impressionado com os fatos. – Se meteram na caatinga e conseguiram escapar dos macacos. Mas havia muitos feridos: Jararaca, Beiço Lascado, Cobra Verde... Lampião achou melhor separar seus homens, mandando cada grupo para um coito seguro, em lugares diferentes. Ele mesmo achou que era melhor atravessar para a Bahia e me procurou ontem à noite, para mode saber se pode acoitar-se uns vinte dias cá na sua propriedade.

Vicente se calou, aguardando uma resposta. O Major permaneceu em silêncio por não mais que um simples instante. No entanto, este lhe pareceu o maior dos instantes que conheceu em toda a sua vida. Só que não devia demorar em responder ao negro: 

- Vá dizer ao Capitão que me espere onde está – declarou, resoluto. – Vou encontrar com ele no início da tarde.

- Senhor, sim, Major Feitosa – obedeceu o outro e voltou pelo caminho por onde viera, batendo mais rápido as alpercatas, até desaparecer na distância da capoeira. A sinfonia de uma revoada de juritis encheu o céu de Cajarana. Os bogaris, plantados em frente aos esteios da varanda, adocicavam o ar do verão que, a essa altura, já estava quente como o inferno.

Em contraste com o sol que brilhava acima da casa-grande, a expressão que tomara conta do rosto do Major era sombria, grave, repleta de nuvens e trovoadas. Na verdade, naquele momento, a demanda de Lampião o colocava num impasse delicadíssimo. Uma rixa com o coronel Napoleão da Fonseca, de Queimadas, havia levado Feitosa a ingressar na política, filiando-se ao partido do governo. O Major tinha agora a pretensão de candidatar-se a deputado estadual e a proximidade com cangaceiros podia constituir uma montanha intransponível no seu caminho para a Assembleia do estado. Por outro lado, dizer não ao rei do cangaço era a mesma coisa que assinar um atestado de óbito para si mesmo, a mulher e os filhos. Sem falar nos agregados, que eram a cunhada dona Amelinha, o sobrinho Vitorino e o primo José Amaro.

Se em algum momento o sentido da palavra diplomacia lhe interessou na vida de mandos e desmandos, foi naquele. O que fazer?, ruminava, aperreado. Sua plataforma de campanha – que empolgava os eleitores – era justamente o combate ao banditismo, tanto o dos cangaceiros, quanto dos tenentes de volante que os perseguiam (além das obras de combate à seca). Puxou um charuto encorpado que lhe mandaram do Recôncavo, mastigou-o numa das pontas e o acendeu com uma pederneira. As nuvens azuladas de tabaco fertilizaram seu raciocínio. Em pouco tempo, ordenava para o afilhado Bentinho, o filho da comadre Vivi:

- Esse menino, me traga aqui o João Gabiru. Preciso conversar com ele, o mais rápido possível.

Gabiru era uma espécie de pau para toda a obra, na fazenda do Major Feitosa. Tinha um jeitinho para tudo. Nada ganhava com isso, exceto um teto, roupa e comida. Para ele, porém, era o que bastava. Mais uns goles de cachaça nos fins de semana e se dava por muito satisfeito. Além disso, dedilhava a viola e era um primor no repente. Quando ia a Cajarana, nos dias de feira, vinha gente de várias cidades das redondezas para ouvi-lo. Apesar de baixinho, franzino, cabeça grande e o rosto mal traçado, ao tocar a viola, conquistava a atenção até das morenas faceiras que acompanhavam as mães às compras.

Pouco depois do chamado, Gabiru chegou ao copiá, onde o Major Feitosa o aguardava, aflito. Ao vê-lo, o patrão nem lhe desejou bom dia e foi direto ao ponto: Lampião pedira coito, favor que naquela ocasião não estava em condições de prestar ao cangaceiro. Porém, como podia dizer não a Virgulino Ferreira da Silva, sem produzir consequências desastrosas? Gabiru matutou, matutou, mas não encontrava saída.

O patrão também não lhe concedeu muito tempo para pensar, ordenando em seguida:

- Vá imediatamente encontrar o Capitão. Tente explicar que aqui, neste momento, ele não estará seguro. Melhor que fique mesmo na caatinga, no sitiozinho onde já se instalou, pegado ao Tanque. Posso mandar-lhe mantimentos e tudo que for de sua precisão. Mas recebê-lo em minha casa é impossível. Invente que estou esperando a visita do governador, acompanhado por militares de alta patente e pelo próprio chefe de polícia. Sei lá! Assunte bem o terreno, veja lá como fala e dê um jeitinho. Senão, estamos todos desgraçados!

João Gabiru não aparentou medo, ao aceitar a tarefa. Acreditava que a solução de um problema assim era uma coisa que só se encontrava de repente, num estalo. Confiou-se a São Severino de Ramos. Colocou sobre a cabeça um chapeuzinho de couro, quase sem abas. Foi ao curral e arreou a mula ruça, que pisava macio. Montou, deu-lhe com o cabresto e seguiu caminho. Com a ponta dos pés descalços nos estribos, equilibrava-se sobre o trote da jumenta, gingando como um ginete das velhas ordens de cavalaria.

Sob a sombra de uma cajazeira, no sitiozinho do Tanque, os três cabras de Lampião matavam o tempo jogando dominós. Estavam muito concentrados, mas o instinto os fez interromper repentinamente a partida. Ao perceber à distância a aproximação de um cavaleiro, se fizeram nos rifles, espalhando-se aos pés das imburanas. Porém, à medida que João Gabiru se tornou visível, os cangaceiros serenaram e baixaram as armas.

A imagem equestre do moleque de recados nada apresentava que lhes pudesse provocar o menor medo. Ao contrário, parecia-lhes um motivo de provável diversão. De cartucheiras trançadas no peito, os três homens ficaram de pé, batendo as coronhas do rifle no chão, como autênticos militares. Receberam o recém-chegado, perfilados, com cortesia galhofeira. Ajudaram-no a descer da jumenta e perguntaram o que um homem daquele porte fazia naquele oco de mundo:

- Venho da parte do Major Luís Antônio Feitosa – respondeu Gabiru, sério, aparentemente sem perceber que mangavam dele. – Com um recado para o Capitão Virgulino Ferreira.

- Pois vossa incelência espere só um minutinho que vou ver se o Capitão pode te receber – respondeu o maior dos três cangaceiros, que era também o mais mal encarado, e entrou na casinha de taipa caiada, onde o chefe descansava.

Voltou poucos instantes depois e abriu a porta para o recém-chegado, com uma reverência que despertou a risada de seus dois companheiros. João Gabiru não fez caso disso, entrou na casa e deu de cara com a cozinha vazia, com um fogão de lenha num canto e uma mesa de pinho ao centro, onde pareciam repousar todas as armas do famigerado cangaceiro: um rifle papo-amarelo, uma carabina Comblain, três bornais de balas, dois revólveres Schmidt & Wesson, um punhal e um facão de mateiro. Mas o rapaz não teve tempo de observar o arsenal com mais atenção, pois uma voz vigorosa o chamou da camarinha.

João Gabiru entrou no dormitório onde Lampião, estirado numa rede, fazia sinal para ele se aproximar. Pela janela aberta, o sol do meio dia reluzia no quarto como se estivesse dentro dele. Iluminava a figura ridícula do mensageiro, em todos os seus pormenores. O único olho do capitão mirou o sertanejo com expressão furiosa, como se estivesse ofendido por deparar com semelhante moleque de recados. 
Como é que o major Feitosa lhe fazia uma desfeita daquelas? Não só mandava alguém em seu lugar, em vez de vir pessoalmente, mas mandava aquela figurinha de baralho lhe dar a resposta que ele, o Feitosa – não aquele cabrito desajeitado – lhe devia?!

Isso era uma desfeita que a majestade de Virgulino Ferreira da Silva não havia de engolir!

Lampião ergueu-se da rede, com a rapidez que – no gatilho – lhe valeu o apelido. Estava desarmado e completamente a vontade, com as fraldas da camisa para fora da calça de zuarte. Lentamente aproximou-se de Gabiru – a quem olhava de baixo para cima – e sem a mínima cortesia, nem pela mesma mangação dos comparsas, lascou-lhe na cara uma pergunta atrevida:

- Você sabe o que é a ira de Lampião? 

- Não senhor – respondeu Gabiru, sem deixar de encará-lo. 

- A ira de Lampião – explicou-se o próprio – é uma fazenda arrasada, muitas mulheres graúdas desonradas, dezenas de cadáveres e o sangue correndo como um rio por cem léguas de distância.

O sertanejo escutou, humilde, mas respondeu com outra pergunta: 

- Pois vossa incelência sabe o que é a ira de João Gabiru? 

O rei do cangaço riu-se da insolência e deu-lhe o troco na bucha: 

- A ira de João Gabiru há de ser o cipó-de-boi comendo no lombo dele, que acabará de volta à casa do Major, mais morto que vivo, se arrastando atrás de sua mula.

- É não – contradisse o outro e sacou zunindo uma peixeira que trazia escondida na cintura. – Quando João Gabiru fica irado, como agora, o máximo que pode haver é dois cadáveres, o sangue não corre mais que cinco passos, mas todo o cangaço há de ficar de luto. 

Com a ponta da lâmina a milímetros de seu pescoço, Lampião não piscou o olho nem moveu um dedo. Mas respirou fundo, antes de responder ao Gabiru: 

- É de cabra assim, com cabelo na venta, que eu gosto, não sabe? Abaixe essa arma e vamos conversar, meu camarada. Tem sorte o Major Feitosa de contar com um macho esperto como tu a seu serviço...

O final da história coincidiu com o fim da minha garrafa de cerveja. Durante algum tempo, esqueci do mundo, nocauteado pelo relato do velho. Ao voltar a mim, os danados dos nordestinos tinham simplesmente desaparecido. Cheguei a me perguntar se os dois haviam estado ali mesmo ou se eu os imaginara numa espécie de delírio. Não consegui chegar a uma conclusão. Fui interrompido pelo rapaz do balcão que queria saber:

Outra Brahma, meu querido?

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CRUCIFIXO DE LAMPIÃO QUE PERTENCEU À BARONESA DE ÁGUA BRANCA/ALAGOAS.


Esse objeto foi obtido durante o ataque promovido por Lampião e seu bando à casa da Baronesa de Água Branca/Alagoas no dia 26 de junho de 1922.

Nesse assalto roubaram da casa da Baronesa grande quantidade em joias e dinheiro.

Esse ousado ataque deu enorme notoriedade à Lampião e repercutiu em vários jornais de circulação na época.

Essa foi a primeira vez que Lampião comandou o bando de cangaceiros herdado de Sinhô Pereira.

Lampião dava início à construção de seu reinado no cangaço.

NAS QUEBRADAS DO SERTÃO.

Fonte: facebook
Página: Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)

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VESTIDO E CHAPÉU QUE PERTENCERAM A MARIA BONITA

Foto: Jornal “A NOITE” (Rio de Janeiro/RJ)

Vestido e chapéu que pertenceram a maria bonita e que foram encontrados entre seus pertences logo após a sua morte.

Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior
Grupo: O Cangaço administrado por Geraldo Antônio de Souza Júnior 

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SINHÔ PEREIRA E SUA COMPANHEIRA ALINA

Por Sousa Neto

Essa Senhora da foto é uma cearense que fugiu com Sinhô para Goiás e depois para Minas Gerais. O seu nome era Alina. Viveram maritalmente por algum tempo. Após a separação a mesma volta ao velho torrão onde morre tristemente. Sinhô se amasia novamente com a Senhora Maria Borges de Araújo.

Com relação às informações sobre o falecimento do pai de Sinhô, Nertan diz que ouviu desse que foi cinco anos após o seu nascimento, seria 1901 e o mesmo Sinhô recorda a morte de seu tio o Barão Andrelino que falecera dois anos após a morte de seu pai. Ué? Como assim? Depois foi morar com D. Chiquinha e Luiz Padre onde? Pois após a guerra desencadeada entre os clãs, por volta de 1916 D. Chiquinha e filhos, o Cel. Antonio Andrelino e muitos familiares vieram para o Barro.

Somente após a morte de Né Dadu é que Sinhô vem à procura de ajuda para se tornar o braço armado dos Pereira para efetivar as vinganças.

Outro sim... Constância Pereira Valões era segundo o que sei paralítica e Sinhô o filho caçula. Por qual razão haveria de deixar a mãe e morar com a tia?

Esse ano e no próximo, alguns trabalhos literários sobre o lendário Sebastião Pereira da Silva trarão novos fatos e alguns dados serão corrigidos para elucidar alguns equívocos de sua conturbada vida.


É só aguardar!
Um abraço

Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior
Grupo: O Cangaço
https://www.facebook.com/groups/ocangaco/?fref=ts

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LIVROS DO ESCRITOR ANTONIO VILELA DE SOUZA


NOVO LIVRO CONTA A SAGA DA VALENTE SERRINHA DO CATIMBAU
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AS 1.5OO – UM TROFÉU DIVINO

Por Clerisvaldo B. Chagas, 21 de janeiro de 2016 - Crônica Nº 1.500

A crônica é uma forma textual que acontece em nosso cotidiano. O texto é curto, a linguagem simples entre casos satíricos, históricos, humorísticos... Tendo como importância o registro dos fatos. Ela foi abraçada por nós, no princípio, apenas para preencher o espaço entre as publicações de livros. Assim também nos aconteceu com os livros documentários entre romances históricos e regionalistas. Acontece que estreando crônicas na Rádio Correio do Sertão no programa “A Crônica do Meio-dia”, na voz do radialista Edilson Costa, em Santana do Ipanema, facilmente chegamos às duzentas.

Imagem Divulgação

Estreando na Internet no site “Santana Oxente”, a convite de Valter Filho (que ainda hospeda nosso blog), expandimos essas pequenas peças literárias para outros sites como “maltanet”, “mendesemendes” (Mossoró, Rio Grande do Norte), “alagoas na Net” (Crônica do Dia) e o próprio blog: “clerisvaldobchagas.blogspot.com”. Carregadas de temas os mais diversos, resolvemos publicá-las diariamente das segundas as sextas chegando hoje à marca das 1.500 crônicas que tiveram seus natais fáceis, difíceis ou espremidos.

Muitos desses textos são episódios da história dos sertões, da minha terra e do meu estado. Várias noites e madrugadas de calor ou friorentas foram companheiras da arte de escrever e informar, principalmente à juventude sequiosa de Saber. Nunca foi fácil escrever uma crônica diariamente, desde a mais exuberante a mais chorada, sofrida e deficiente. É por isso que estamos comemorando hoje a marca gigantesca das mil e quinhentas crônicas que chegam também a alguns países da Europa, Ásia e América do Norte.

Agradecemos aos nossos leitores cativos e aos eventuais em qualquer parte do Planeta, por alimentar a nossa missão de escrever e semear cultura pelos mais diversos rincões da Terra. Foi por isso que recebemos nesta quinta-feira o mais importante e desejado troféu: o TROFÉU DIVINO DAS 1500 CRÔNICAS, recheado de saúde e amor do Pai Celeste.

Ah! O Troféu Divino!!!...


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VOLTA SECA E AS CANTIGAS DE LAMPIÃO [ÁLBUM COMPLETO]

André Teixeira

Publicado em 9 de outubro de 2014
Ano: 1957
Arranjos - Guio de Moraes
Autor: Ex-cangaceiro Volta Sêca

FAIXAS:

#1 - 00:00 - Acorda Maria Bonita
#2 - 01:59 - A Laranjeira
#3 - 04:29 - Ia pra Missa
#4 - 06:19 - Mulher Rendeira
#5 - 08:30 - Se Eu Soubesse
#6 - 11:48 - Sabino e Lampeão
#7 - 13:51 - Escuta Donzela
#8 - 16:17 - Eu Não Pensei Tão Criança
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HÁ 120 ANOS NASCIA SEBASTIÃO PEREIRA DA SILVA O CÉLEBRE CANGACEIRO “SINHÔ PEREIRA” ANTIGO COMANDANTE DE LAMPIÃO.

Sinhô Pereira e esposa
 
CONHEÇAM UM POUCO SOBRE A SUA HISTÓRIA.

Sebastião Pereira e Silva “Sinhô Pereira” nasceu em Vila Bela, atual Serra Talhada/PE, em 20 de Janeiro de 1896.

No dia 15 de outubro de 1907, o Padre Pereira é assassinado. A mãe de Luiz Padre, dona Chiquinha Pereira, clama por vingança.

O homem encarregado da vingança é o Né Dadu, irmão de Sinhô Pereira.

Poucos dias depois é assassinado membro do clã dos Carvalho. Em 1916 Né Dadu é assassinado por um membro do seu bando.

Dona Chiquinha convoca o seu filho para se juntar a Sinhô Pereira para vingarem a morte de Padre Pereira e Né Dadu. Vão para a região do Barro-CE e lá com apoio do major José Inácio de Souza, que tinha uma filha casada com um Pereira, formam um pequeno bando.

Ficam na região do Barro/CE de 1917 a 1919. Neste período conseguem matar os assassinos do Padre Pereira e de Né Dadu.

No final do ano de 1919, o Padre Cícero do Juazeiro do Norte/CE manda uma carta para o major José Inácio do Barro/CE pedindo para auxiliar Luiz Padre e Sinhô Pereira a abandonarem a região, e tentar nova vida.

Viajam em direção ao estado do Piauí, a certa altura da viagem Sinhô se separa de Luiz Padre.

Sinhô é perseguido e não consegue seu intento. Volta em janeiro de 1920 para o sertão de Pernambuco e recomeça a guerra contra os Carvalhos.

Em 1922, tenta pela segunda vez largar aquela vida. Passa o seu bando para o comando de Lampião, e deixa de vez a vida do cangaço.

Sinhô Pereira faleceu no dia 21 de agosto de 1979 na cidade de Lagoa Grande/MG, onde residia.

Sinhô Pereira e esposa (Foto)
Foto: Acervo de Antônio Amaury Corrêa de Araújo
Adendo: Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)
Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior
Grupo:O Cangaço

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