Material do acervo do historiógrafo e pesquisador do cangaço
Rostand Medeiros
Edgar Feuchtwanger, um judeu
nascido em 8 de setembro de 1924, cresceu em um bairro rico de Munique,
Alemanha, sendo filho de Erna Rosina e Ludwig Feuchtwanger, um advogado,
palestrante e autor. Mas o que diferencia a história de Edgar, de tantos jovens
judeus daquela época, foi ele ter sido um vizinho próximo de Adolf Hitler por
nove anos.
Ele viveu ao lado perigo que
pairava sobre sua vida e sua família durante o início da década de 1930, perto
da residência privada de Adolf Hitler, na Grillparzer Strasse.
A primeira vez que havia visto o
futuro genocida, em 1932 – um ano antes de Hitler ser nomeado Chanceler – ele
havia saído para passear com sua babá, quando o viu de forma involuntária.
Segundo ele, Hitler teria passado, olhado diretamente para seu rosto, mas sem
esboçar qualquer emoção.
Em recente entrevista à
jornalista Christiane Amanpour, da rede CNN, ele contou que costumava sentir
que algo ruim iria acontecer. “Eu o conhecia muito bem, mesmo com apenas 8 anos
de idade, sabia que seria uma coisa muito ruim para nós”, lembrou.
Em 2012 Feuchtwanger foi co-autor
de um livro com o jornalista francês Bertil Scali descrevendo suas experiências
de infância com Hitler. Intitulado “Hitler, mon voisin – Loja juif d’un enfant”
(Meu Vizinho Hitler – Memórias de uma criança judia), contou que se Hitler
soubesse quem ele era, hoje não estaria vivo. Ele não se referia apenas a sua
condição de judeu, mas a família que pertencia. Edgar ela sobrinho de Lion
Feuchtwanger, um escritor de renome que havia se tornado um “inimigo pessoal”
de Hitler.
Segundo ele, Hitler teria mudado
para o mesmo bairro em 1929, quando sua carreira política estava em ascensão e
moraram lado a lado por nove anos. Apesar de Feuchtwanger, assim como outros,
começar a perceber as profundas mudanças que aconteciam no país, ninguém
imaginou o que viria a seguir. E embora ela não tenha se juntado à Juventude
Hitlerista, não pôde escapar do ensino de ideologia nazista durante sua
passagem pela escola. Seus professores “eram 150% nazistas” e foi pedido que
ele fizesse tudo o lhe mandassem. “Por isso eu não podia escapar da propaganda
exposta nos currículos escolares”. Até hoje ele guarda alguns cadernos em que a
suástica pode ser vista claramente diagramada.
Kristallnacht – Fonte –
katana17.wordpress.com
Mas em uma noite, tudo mudou para
sua família. Em 9 de novembro de 1939, ocorreu o que ficou conhecido como A
Noite dos Cristais (Kristallnacht). Nessa data histórica para a Alemanha, foram
executados ataques contra a população judaica orquestrada pelo governo central.
As ações nazistas incluíram detenções de 30.000 judeus na Áustria e na
Alemanha, a mortes de 91 destes e o saque generalizado de lojas de propriedade
de judeus e sinagogas. No outro dia após a Kristallnacht o pai de Edgar foi
levado pela Gestapo para o campo de concentração, em Dachau. Seis semanas mais
tarde ele foi libertado, mas sua vida a partir daí seria alterada para sempre.
Assim como milhares de judeus,
eles decidiram deixar a Alemanha. A maioria que ficou não tinha as mesmas
vantagens econômicas que os Feuchtwangers, embora eventualmente o estado
tivesse confiscado sua riqueza.
A família então escolheu viver na
Inglaterra para começar uma nova vida, acreditando que esse era o propósito dos
nazistas: expulsar todos os judeus da Alemanha. “Afinal de contas, coisas como
Auschwitz ainda não existiam. Não pensávamos que eles alcançariam esse extremo”,
disse.
O pai de Edgar Feuchtwanger.
A família conseguiu obter vistos
de entrada para a Grã-Bretanha e em fevereiro de 1939 Edgar embarcou em um trem
com destino a Londres. Seu pai acompanhou o jovem garoto até à fronteira
holandesa e, em seguida, retornou à Alemanha para terminar arranjos para ele e
sua esposa seguir para o novo destino.
Outros membros da família do
jovem vizinho de Hitler foram atingidos diretamente pelos nazistas. Dos irmãos
de seu pai um deles foi morto num campo de concentração e três irmãs tiveram
que se dispersar pelo mundo afora – Duas irmãs foram morar na Palestina após a
ascensão do Partido Nazista e uma se estabeleceu em Nova York, Estados Unidos.
Vivendo em Londres até o presente
momento, ele nunca mais retornou para sua terra natal. No Reino Unido, ele se
tornou um respeitado professor universitário de História e hoje afirma ter um
excelente relacionamento com seus atuais vizinhos.
FONTE – jornalciencia.com/conheca-a-historia-de-edgar-feuchtwanger-o-vizinho-judeu-de-hitler
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros. - https://tokdehistoria.com.br/2016/07/19/conheca-a-historia-de-edgar-feuchtwanger-o-vizinho-judeu-de-hitler/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com