Por José Cícero da Silva
De vez em quando eu aqui acolá ainda lembro, de como eram feitas as coisas e de como se davam aqueles acontecimentos festivos no lugarejo do meu tempo.
E de como as
novidades daquele pequeno mundo sertanejo mexiam tanto comigo. Embalando os
sentimentos e a imaginação matuta da minha cabeça de vento e de menino.
E eu confesso
que aprendia muito... observando tudo aquilo do meu jeito. Sentindo as coisas
diretamente no meu íntimo.
Eu passava
horas e horas abstraído só admirando o fenômeno da vida se processando o tempo
todo diante dos meus olhos...
Vendo, ouvindo
e pensando tudo.
Os sons dos
besouros e do sino. A música da banda cabaçal sob o campanário e a performance
bonita dos pifeiros, a tarde toda dando voltas em torno da capela de Santo
Antonio, o padroeiro. A brincadeiras dos meninos, o padre, o sacristão, o
entusiasmo povo, a festa do povoado uma vez por ano.
E agora mesmo,
me veio ao cérebro a imagem mental de como de fato era feito, por exemplo, os
antigos fogos de artifício confeccionados pelas mãos ágeis e calejadas de
tantos janeiros do velho artesão fogueteiro. Um homem admirável pelo fato de
conseguir chegar com seus inventos perto de Deus. Fazendo assim a lá ligação do
mundo com os céus.
Era uma
invenção sem par. Um rolete fino de taboca ou de bambu. Uma talisca de
palmeira, palha de coqueiro ou de milho, alguns talos secos do pendão da flor
dos pés de melão de São Francisco tirado no monturo do oitão de caso ou no
tabuleiro.
Tudo era
devidamente amarrado com capricho, fazendo uso de cordão de caruá ou de algodão
fiado no fuso de pau. Pólvora no canudo, tapado com sabão fresco ou mesmo com
lama fina de argila ou barro molhado da levada.
E era uma
alegria sem tamanho, nas noite de novenas e na festa do danto padroeiro... a
meninada correndo no amplo terreiro da capelinha daquele lugarejo perdido no
oco do mundo... A gurizada indo e voltando buscando recolher os restos dos
fogos usados pelo fogueteiro. Cheiro gostoso de pólvora e cordão queimado, além
da explosão a ribombear no céu do mundo chamando a matutagem da ribeira e os
anjos de Deus para os festejos.
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